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Arquivo para a ‘Jornalismo’ Categoria

Ricardo Pereira e José Simão ?

03 abr

Lendo Ricardo Araújo Pereira, apesar do nome comum que em Portugal é quase sempre comum, descobri que ele é o José Simão daqui, mas raramente apela, há apenas um “post”, já expliquei que o que ele escreve poderia ser um blog, mas não ganharia dinheiro, apenas um fala da palavra “f.” mas logo em seguida esclarece ironicamente: “ estamos perante alguém que deseja dizer um palavrão e não consegue – o que prova que é preciso ter formação para ser malformado”, depois fazendo galhofa culpa o Ministério da Educação e o corretor.

Mas no restante do livro apela pouco, apesar do livro todo ser uma crítica as rabugices dos novos puritanos e agelastas, subtítulo do livro , aproveito para explicar que agelastas, é aquele tipo sério que nunca ri.

Lembrei-me do título e do Ministério da Educação ao viajar com uma professora muito culta, aposentada a 20 anos e professora de Português e Francês, nossa igual ao Brasil era chic ensinar francês aqui, quando perguntei do uso de dois cês (eles continuam usando), ela logo desconversou e se disse preocupada com a educação e pessoas que leem cada vez menos.

Ricardo Pereira, em todo o livro vai citando autores de Shakespeare a Lewis Carrol (o seu texto Contra a mariquice política, onde fala do livro Sylvie e Bruno onde a multidão gritava: menos pão mais impostos), passando por Cervantes, George Minois que escreveu a “história do riso e do escárnio”, onde diz Ricardo está escrito: “O riso é um assunto sério demais para ser deixada só para os cômicos”.

Mas fiquei pensando quase no fim deste livro é preciso sim um pouco de riso, mas talvez não o escárnio, talvez este seja o mal da comicidade brasileira, muito escárnio, humor sem graça, muita apelação, e o que é pior só podemos rir de determinado partido, o politicamente correto, ai que saudade da Dilma, ela sim tinha frases “celebres”.

Melhores que a Trump citado por Ricardo Pereira, que ao ser encontrado um drone americano no mar da China escreveu no twitter que era uma“fato sem presidente”, para depois corrigir para “sem precedente”, mas não vou deixar de citar José Simão que esclareceu que a grande diferença entre o Presidente da Coréia do Norte e o Trump é “quem tem o topete mais belo”.

Não é alienação rir um pouco relaxa o ambiente tenso não apenas nacional mas mundial, ri aos montes com um colega de Portugal ao dizer que tenho problemas coma “paternidade” deles.

Mas ler é importante, cito aqui outro trecho do Ricardo Pereira em que ironiza Angola onde cidadãos foram presos por lerem livros em inglês, soube  que há este tipo de reação também nos Camarões e na Costa do Marfim.

Esclarece num dos textos que o que escreve tem a intenção de fazer os leitores lerem, embora em nota de rodapé diz que isto possa ser uma ironia, é uma espécie de “mise en abyme” que em nota de rodapé diz que pode ser encontrado no Wikipedia, claro outra ironia mas está lá sim, usado por André Gide para dizer de narrativas que podem ter outras dentro delas, ao pé da letra “narrativa em abismo”.

Talvez um pouco de piada faça isto e permita ao leitor fazer outras leituras fora do “dogma”.

 

The Oscar goes to …

03 mar

Os Estados Unidos da América, sem dúvida, mas esperamos que as indicações de The post,aFORMAEdaÁGUA o filme que revelou os bastidores do jornal The Washington Post, em 1971, sobre a guerra do Vietnã, com as indicações, entre elas, da já laureada Meryl Streep, o discurso mais caloroso do Globo de Ouro deste ano, que ficou famoso pelos vestidos e trajes de negro, talvez a alusão ao Globo de Ouro branco de anos atrás, mas que na verdade foi mais pela questão da mulher que dos negros.
Já comentei a decepção de 13 indicações para a “A Forma da Água” (foto), mas a boa surpresa da atriz Mary J. Blige com duas indicações melhor atriz coadjuvante e melhor canção original em “Mudbound”.
Blade Runner 2049 só prêmios de consolação, se saírem: arte, fotografia, efeitos especiais e edição e mixagem de som, eu esperava mais, mas vi que mesmo o público não acolhe o que é para mim, e muitos estudiosos da ficção moderna, a matriz dos filmes de ficção atuais.
Surpreendentes, fui assistir e não penso que seja tudo isto, “Dunkirk”, do britânico Christopher Nolan (oito indicações), e a produção independente “Três Anúncios para um Crime” (com sete), e  “O Destino de uma Nação”, filme politico centrado na figura de Winston Churchill, com seis indicações, mesmo número do drama “Trama Fantasma”, também não são isto tudo.
Para nós brasileiros duas consolações, a presença do diretor Carlos Saldanha de “O touro Ferdinando” indicação de melhor animação e o produtor Rodrigo Teixeira está envolvido na co-produção: Brasil-Itália-França na indicação do filme: Me Chame Pelo Seu Nome  .
Ah quase me esqueci, fui assistir e gostei do filme: O rei do Show surpreendeu e emocionou.
Parafraseando Bauman, espero que o Oscar não seja líquido, a premiação acontece na madrugada do domingo.

 

Os bas-fonds e o Carnaval

13 fev

Caminhando pelas ruas centrais de minha cidade natal, Bauru de São Paulo, passo por uma moçaaoCarnavalMedieval já com um feijão e corpo de uma senhora, com uma sandália com amarras e peças de couro prateadas, vestindo um short que mal se fecha na grossa cintura, uma camiseta escura com a torre Eiffel e a palavra Paris estampados em dourado, lembrei-me do livro de Dominique Kalifa: Os Bas- Fonds: História de um imaginário (edUsp, 2017).
O livro comprei por engano no final de ano achando tratar-se da origem das Boas-Festas, os tradicionais cumprimentos de final de ano, mas ao abrir o livro entendi tratar-se das “cidades em crise”, o sujo, o seboso e o disforme, o Reino dos Indigentes, Sodoma, Roma e Babilônia, enfim alguns dos capítulos do livro de Dominique Kalifa.
De fato o centro das cidades tornaram-se periferias, ao menos nas cidades médias, e os centros foram para os shoppings em alguns condomínio fechados para dentro dos condomínios, onde há clubes, bares, lojas e até mesmo capelas, privatizando o footing.
Diz o autor, “os bas-fonds … se compreende instantaneamente” (Dominique, 2017, p. 11), talvez no francês, no português demorei para ligar a periferia (que hoje frequente o comércio central) e as fantasias do Carnaval (ao menos o brasileiro, feito por gente da periferia).
Encontro já no início do livro a ligação com o carnaval: “os bas-fonds se estendem por um terreno móvel, vago, em que a realidade, a pior das realidades, está em conluio com o imaginário, um terreno em que o ´social´ é constantemente redefinido pelo ´moral´, em que os seres de carne e osso se misturam com personagens de ficção.” (idem, p. 11).]
Esclarece que da figura ´positiva´ do filósofo grego Diógenes “o pobre de Deus, o “pobre do Cristo”, “o pobre com Pedro” da idade Média, surge no séc. XIII “na França e na Inglaterra, os termos de vagond e de vagrant” (pag. 69), que o autor chama da “invenção do mau pobre”.
Percorrendo a história, Dominique vai citar inúmeros autores: “a comparação dos proletários ameaçadores aos índios da América constitui um motivo recorrente, que explica, em parte, o imenso sucesso [na época] dos romances de Fenimore Cooper.” (pag. 109), cita ainda: Balzac, Sainte-Beuve, Dumas, George Sand, Maxime du Camp, Eugène Sue, Bérange e outros citados em páginas anteriores, se apaixonam pelo “Walter Scott dos selvagens” (de Henri Couvain).
Só para dizer o quanto é universal, lembro também “Bola de Sebo” conto de Guy de Maupasanti, e o filme Rale (Donzoko, 1957) cuja tradução para o francês foi Bas-fonds, filme pouco conhecido do diretor japonês Akira Kurosawa, sem falar do épico “Les miserables”.
A origem do carnaval entretanto é mais controversa, o Carnaval de Veneza ou talvez a festa dos loucos, descrita em 1445  como “festa dos loucos” feita na faculdade de Teologia de Paris (gravura moderna acima).
A transformação da alegria do imaginário de pobres, tornou-se quase todos lugares, uma festa privativa em que se assiste o desfile do imaginário dos bas-fonds. .
Kalifa, Dominique. Os bas-fonds: História de um imaginário, trad. Márcia Aguiar, São Paulo: Edusp, 2017.

 

A política líquida

12 fev

Incapaz de fazer uma leitura correta do processo atual de mundialização, a política em todoAGeringonçaPortuguesa globo se desenvolve numa falsa dicotomia direita-esquerda, pois só é de direita de fato (defesa do mercado, volta ao conceito de riqueza das nações, defesa do trabalho braçal sem as máquinas, etc) num estilo cômico de Trump, e só é de esquerda de fato (defesa da intervenção sagrada do estado em toda econômica e todas áreas humanas, tais como arte, religião e escolaridade), a modo do infantilismo do ditador da Coréia do Norte:  Kim-Jong Um.

O Brasil não é diferente, o quadro que se movia no eixo do Lulopetismo e militarismo a moda Bolsonaro não é senão uma repetição da história, aliás a corrupção e os golpes não foram outra coisa senão a repetição da história, desde a proclamação da república, o getulismo, o tenentismo e o golpe militar são antecedentes de uma classe dominante que se apossa do Estado Brasileiro desde a Proclamação da República de forma institucional estamentária (conceito de Estamento de Max Weber), e, talvez antes no período monarquista, mas sem esquecer as reformas pombalinas.

No Brasil as reformas pombalinas são importantes por que são a presença do Estado Iluminista mais profunda e talvez a mais radical da América Latina, mas historiadores e políticos se esquecem disto, aliás uma demonstração clara é o lema positivista “Ordem e Progresso” (e o Amor, era o lema positivista) estampado na bandeira e o lema do governo Temer.
A modernidade líquida de Bauman, em seus últimos escritos praticamente a abandonou, é conveniente a religiosidade política brasileira que permanece no dualismo, sem a possibilidade de encontrar uma resposta na terceira via, esperamos que ela aparece, e não seja o Hulk.
Sem compreender que mais do que um mal estrutura como quer a esquerda religiosa, ou o mal líquido como quer pensadores da modernidade, o processo de uma nova mundialização é já necessário, sem ela não haverá fim da corrupção, redistribuição de renda, tolerância religiosa, racial e principalmente política, para dar resposta ao mausoléo modernista, que só não é mais líquido porque a vida continua a pulsar no planeta.
A política líquida não tem forças para impulsionar esta mudança, está presa numa falsa dicotomia dualista, não tem fundamento humanitário apela para o Estado-Providência porque o Estado é sua crença, e não o homem concreto, aquele que sofre com esta política líquida.
Talvez de onde menos esperamos venha uma resposta, a geringonça portuguesa (foto – representação da coalisão que governa Portugal), enquanto isto vamos embalando uma falsa alegria em meio ao carnaval, mas a quarta-feira vem aí.

 

É preciso sair, mas de corpo e alma

02 fev

A ideia de que o ócio venha dos gregos, e há até literatura exaltando-a para uma falsa sabedoria, aFadiganão corresponde a verdade, vejam o que diz Aristóteles sobre o assunto: “exaltar a inércia mais do que a ação não corresponde à verdade, porque a felicidade é atividade”, claro de outro lado o ativismo impede a reflexão e o descanso para uma atividade profícua.
Byung-Chul Han alerta que nossa cultura atual é de uma “Sociedade do cansaço”  (editado no Brasil pela Vozes 2017): “A sociedade do cansaço e do desempenho de hoje, apresenta traços de uma sociedade coativa, cada um carrega consigo um campo, um campo de trabalho. A característica específica desse campo de trabalho é que cada um é ao mesmo tempo detento e guarda, vítima e algoz, senhor e escravo.  Nós exploramos a nós mesmos.” (Han, 2017, p. 115)
Não damos trégua nem ao nosso corpo (claro outros dão demais), “malhar” e outras formas de exercícios (Sloterdijk vai chamar de “ascese desespiritualizada”), encherem-se de remédios e vitaminas (o princípio da imunologia em ambos os autores), e não se trata de uma busca, mas apenas de ir enchendo-se de bobagens até a auto exaustão.
Também o excesso de cursos (estou me referindo a cursos sem conteúdos e proveito), palestras motivacionais que custam 100 a 1 mil reais, fazem parte de uma nova onda.
É uma busca humana, compreensível, todos querem achar o novo, mas se observarem bem este conjunto de coisas não passam de ideias e atitudes velhas maquiadas, para “vender”.
Reeducar o pensamento, os relacionamentos e até mesmo o que pensamos de espiritualidade, que significa dar sentido as coisas subjetivas (já disse que não há nelas desapego ou crítica às objetividades que seria um dualismo), significa estruturar a alma humana e claro num corpo.
É preciso sair da rotina, da burocracia da vida cotidiana, sem atender aos apelos midiáticos.
No evangelho de Marcos que narra a cura da sogra, exaltada em muitas pregações por ter ido servi-los, mas há um detalhe também precioso que diz que Jesus saiu de madrugada para orar e nele quando os apóstolos dizem (Mc 1,37,38) “Todos estão te procurando” Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim.”
O comodismo e a inércia precisam de cura, é preciso mover aqueles que têm um espírito novo devem sair a busca, devem sair para escutar os outros, para viver uma vida sã.

 

Globo de Ouro: estes são eles

09 jan

É uma brincadeira com duas premiações: melhor ator de série drama: Sterling K. AKirkDogulasBrown (“This is us“) e melhor canção de filme: “This is me“, de “O rei do show”, uma premiação de consolo para um filme genial sobre o dono de um circo que fez sucesso nos EUA, esperava mais para este filme.
Desconhecido para muitos de nós, apesar da ganhadora de melhor atriz para minissérie ser Nicole Kidman (Batman Forever, The Others, Molin Rouge e outros), “Big little lies” deverá permanecer conhecida só numa restrita elite cult brasileira, poucos irão assistir ou se interessar, para a crítica americana foi a grande ganhadora do dia 07 último do “Globo de Ouro”.

Big little lies, ganhou também melhor ator coadjuvante, para Alexander Skarsgård, e atriz coadjuvante, para Laura Dern.
O crescimento das series na TV paga domina a indústria do cinema, posso entender o interesse dos jovens por youtubers e produções independentes.
No cinema o prêmio de melhor filme  comédia ou musical (é a mesma coisa?) foi para “Lady Bird: é hora de voar”, venceu entre outros o meu favorito “O rei do show”.
Melhor diretor foi para Guillermo del Toro do filme: “A forma da água”, melhor ator coadjuvante para Sam Rockwell em “Três anúncios para um crime”, que ganhou também melhor filme drama.
O filme “Três anúncios para um crime” ganhou também o prêmio de melhor atriz para Frances McDormand, e que ganhou ainda melhor roteiro para filme com Martin McDonagh, pode-se dizer o segundo maior ganhador da noite.
Melhor ator filme drama foi para Gary Oldman “O destino de uma nação”,  enquanto melhor ator comédia ou musical foi para James Franco em “Artita do desastre” derrotando da impecável atuação de Hugh Jackman em “O rei do show”, o Oscar talvez corrija isto.
Nenhuma novidade na premiação da animação “Viva: a vida é uma festa!” da Disney que comprou os estúdios da Pixar alguns anos atrás.
Sobrou pouca coisa para comentar, a atriz Oprah Winfrey recebeu o prêmio pelo conjunto da obra, trabalhou nos filme “A cor púrpura” (1985), “O mordomo da Casa Branca” (2013) e “Selma: uma luta pela igualdade” (2014), fez um discurso forte sobre a questões da igualdade feminina e dos negros (muitos vestidos eram negros em sinal de protesto), e Kirk Douglas, aos 101 anos foi homenageado ao lado da nora  Catherine Zeta-Jones mulher de Mike Douglas.

 

Vereda da salvação e o advento

12 dez

O livro escrito por Jorge de Andrade entre os anos 1957 e 1963, foi levado paraaVeredaDaSalvação o cinema em 1965 numa adaptação do texto para o teatro de Jorge de Andrade, conta a estória da opressão no campo, e como tem uma saída mística, uma montagem feita em 1964 sob a direção de Antunes Filho foi questionada tanto pela direita como pela esquerda e na época foi um fracasso, uma montagem mais tarde em 2003 dirigida pelo professor-diretor Marcelo Bones, com formandos do Palácio das Artes, todos atores iniciantes.

O filme dirigido por Anselmo Duarte conta de produtores rurais pobres do Nordeste que entram para um grupo messiânico liderado por Joaquim (feito pelo ator Raul Cortez) que acredita ser a reencarnação e Jesus cristo e promete aos seus seguidores o caminho para o paraíso, que é a “vereda da salvação”, mas como todo falso messias se complica aos poucos.

Exercendo poder sobre os camponeses, Joaquim persegue Artuliana (Ester Mellinger), que está grávida, e pede aos seus seguidores que tirem o filho dela, acusando-a de estar perseguida pelo demônio.

O filme acompanha produtores rurais pobres no Nordeste brasileiro que entram em um grupo messiânico, liderado por Joaquim (Raul Cortez), que acredita ser a reencarnação de Jesus Cristo. Joaquim promete a seus seguidores que lhes mostrará o caminho para o paraíso, a “vereda da salvação” do título do filme.

Com poder sobre os camponeses, o personagem de Raul Cortez começa a perseguir aqueles que não lhe prestam obediência, em especial Artuliana (Esther Mellinger). Joaquim ordena que seus seguidores tirem o filho de Artuliana, que está grávida, acusando-a de estar possuída pelo demônio.

O filme além de Raul Cortez tem a participação de Lélia Abramo, José Parisi e Maria Isabel de Lizandra, e a história do messianismo não é outra coisa senão a história do Brasil, em tempos pré-eleitorais não custa prestar atenção em milagreiros e falsos profetas que juram “defender o povo” e promete falsas veredas.

Roland Barthes, em seu livro Crítica e Verdade observa que o termo francês fait divers estrutura-se a partir de uma ideia de busca de uma notícia geral, algo como um encontro.

As veredas são caminhos escondidos, que caminhos pode ser pensado para o país nos próximos anos, que esperar para um ano eleitoral ? .

 

Questões administrativas do Brasil

14 nov

A já afirmada incompetência do Estado para cumprimento de seus deveresaoEstadoBrasil no campo da garantia aos direitos fundamentais, com alternâncias de propostas de modelos para boa administração em situações de regimes jurídicos justos, parecer ser ideia nova, mas não é.

O problema de nosso novo milênio é velocidade própria de surgirem soluções salvadoras, que não se permitem às ideias dos benefícios conquistados ao longo dos tempos, tanto para a aplicação correta das ideias, quanto para a avaliação justa do que foi feito.

O estado não admite um manual de “boas práticas” porque ele muda com o tempo e de acordo com o contexto social, e neste aspecto não se podem negar a influência das novas mídias que impulsionam as redes sociais para o bem e para o mal, por isto os Tribunal Eleitorais e também os sistemas de governança devem admitir novas “práticas”.

A Era Vargas por exemplo, propunha-se a consolidar uma nova configuração do aparelho de Estado, criar novas instituições como a manifestação das bases da formação da sociedade brasileira, é de Lustosa da Costa (2008, p. 843)

É de García de Enterría (1998) a indicação da importância do período pós-Revolução de 1930, para consolidar nova configuração ao aparelho do Estado, ao criar novas instituições como manifestação das bases da formação da sociedade moderna, onde a regulação jurídica, seria um instrumento de contenção do poder e de estabelecimento de uma potência governamental ativa, forte e universal, capaz de concretizar o projeto de reestruturação de sociedade.

Na verdade, o impulso ao capitalismo industrial, associado ao prestígio ao racionalismo, resultou em um ambiente que demandava da nova burocracia “…uma função econômica essencial: a coordenação das grandes empresas produtoras de bens e serviços, fossem elas estatais ou privadas…” conforme afirma Bresser Pereira (2001),   mas que só iria se concretizar com o apoio americano no período de esforça de guerra “dos aliados” com a Companhia Siderurgia Nacional, criada em apoio aos americanos na II Guerra Mundial.

O desenvolvimentismo, entretanto, viria no início da gestão de Juscelino Kubitschek encontra a proposta de reforma administrativa, originária ainda do período Vargas, que depois criou neste governo a Comissão de Estudos e Projetos Administrativos (CEPA), que era “paralela”.

O nome “paralela” foi dado por Lima Junior (1998) para o projeto “50 anos em 5”, onde as autarquias, sociedade de economias mistas e outras estruturas em choque com o Congresso.

As ações administrativas de seu projeto de “50 anos em 5” de Juscelino, reservando-se a atuação executiva propriamente dita às autarquias, sociedades de economia mista e outras estruturas, num emprego daquilo que Lima Junior (1998, p. 10) qualifica como verdadeira “administração paralela”.

Pulamos o Regime Militar, merece uma discussão a parte devido a ditadura e pouco diálogo, no início do governo José Sarney, a Nova República, a pensada nova Lei Orgânica da Administração Pública Federal, para substituir o Decreto-Lei 200/67, e implantar-se ainda a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), de nítida inspiração francesa.

A compreensão do que é o estado, o tipo de Administração Pública que se queria no Brasil redemocratizado envolveu uma prévia compreensão do modelo de Estado que nele se pretendia ter, na perspectiva da Lei Maior de 1988, a chamada Constituição Cidadã.

GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo.  Revolución Francesa Y administración contemporânea. 4ª ed., Madrid: Civitas, 1998.

LIMA JUNIOR, Olavo Brasil de.  As reformas administrativas no Brasil: modelos, sucessos, fracassos.  in  Revista do Serviço Público, Ano 49, Número 2, abr-jun 1998, p. 5-32.

LUSTOSA DA COSTA, Frederico.  Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformas. Revista de Administração Pública,  Rio de Janeiro 42(5):829-74, set/out. 2008,Disp em: < http://www.scielo.br/pdf/rap/v42n5/a03v42n5.pdf> Acesso: nov 2017

 

Além da sociedade disciplinar e do controle

07 set

A análise da Sociedade do Cansaço de Chyul Han aponta a mudança “deAnSocietyControl paradigma da sociedade disciplinar para a sociedade do desempenho aponta para a continuidade de um nível. Já habita, naturalmente (eu poria entre aspas), o inconsciente social, o desejo de maximizar a produção.” (HAN, 2015, p. 25).

Entenda-se a sociedade disciplinar como sociedade da negatividade, que é não-ter-o-direito, “A sociedade do desempenho vai se desvinculando cada vez mais da negatividade. Justamente a desregulamentação crescente vai abolindo-a”.. no estilo do “plural coletivo da afirmação Yes, we can expressa precisamente o caráter de positividade da sociedade do desempenho.” (HAN, 2015, p. 24)

O conceito de Foucault (e outros como Deleuze), da “sociedade do controle”, explica o autor, não dá mais conta de explicar esta mudança, muito menos o uso de tecnologias digitais, pois este fato é muito anterior a elas, o que se dá agora é o uso na “vida activa” com as tecnologias.

Enquanto a sociedade disciplinar do não tinha esta sua negatividade “gera loucos e delinquentes”, a sociedade do desempenho produz “depressivos e fracassados” (pag. 25)

O computador aceita o desafio do desempenho e faz  cálculos “de maneira mais rápida que o cérebro humano, e sem repulsa acolhe uma imensidão de dados, porque está livre de toda e qualquer alteridade.” (HAN, 2015, p. 56)

É data nacional, para não inventar uma narrativa, cito os três últimos fatos gravados no país e faço perguntas.

Foram encontradas malas com dinheiro no valor de R$ 51 milhões, num apartamento na Bahia, que já ficou provado que era de uso do ex-ministro Geddel Vieira Lima, primeira pergunta: Este dinheiro era só dele?, a segunda notícia são gravações de Joesley Batista que se apressa em dizer na gravação: Vamos fazer tudo, mas nós não vai ser preso”, e sobre o padrinho de suas delações e do acordo que dava exílio ao Joesley diz: “O Janot sabe de tudo … a turma já falou pro Janot”, pergunta: Qual turma?

Um terceiro episódio, sim é uma série que pelo visto será bem longa, é relativo ao empresário do Rio de Janeiro chamado Arthur Soares, apelidado de Rei Arthur pelos contratos milionários com o governador Sérgio Cabral agora preso, ele tinha uma conta chamada Matlock no Caribe que foi onde a França começou no início do ano a investigar, porém esta compra teria envolvido o Comitê Olímpico, será que o governo e o Ministério dos Esportes não sabiam de nada ? São só perguntas. Há ainda o caso do Palocci, será que disse tudo pressionado pelos juízes ?

Não foram máquinas que fizeram tudo isto, mesmo o gravador do Joesley era de péssima qualidade, ou agora pensamos talvez apagasse trechos importantes por encobrir alguém.

HAN, B.C. A Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.

 

Um inimigo do povo

01 mai

O ministro Edson Fachin citou Henrik Ibsen (1828-1906) a semana passada,UmInimigoDoPovo após ser voto vencido contra a soltura de pecuarista Bumlai e o ex-tesoureiro do PP Genu, disse que pensou em reler Um inimigo do povo, onde o escritor norueguês narra um certo Dr. Stockmann que sendo médico afirma que a água da cidade estava contaminada, mas esta água era a principal fonte de renda daquela comunidade.

Assim narra as contradições entre a consciência do trabalho a favor do bem comum e o desejo de conseguir a unanimidade, fato que fez o Dr. Stockmann entrar em choque com os interesses mesquinhos da cidade.

Ibsen, cujas ideias anarquistas teve grande influencia em intelectuais e políticos da sociedade de sua época, talvez seja uma das razões que estes países nórdicos gozarem de boa reputação em relação a corrupção, a distribuição de renda e políticos que não se servem da política, mas fazem dela um serviço.

Os ideais anarquistas, estão presente quando o médico do balneário, Dr. Stockmann afirma: “somente o pensamento livre, as ideias novas, a capacidade de um pensar diferente do outro, o contraditório, podem contribuir para o progresso material e moral da população”, anarquismo a parte, é a dificuldade para uma verdadeira dialogia.

Não havia lido, li seu livro mais famoso é Casa de Bonecas, obra concluída em 1979, e encenada pela primeira vez em Copenhagne na Dinamarca no teatro “Det Kongelige Teater”, que provocou polêmicas por denunciar a exclusão das mulheres na sociedade moderna, e que deu destaque ao pensamento de Ibsen não só na Escandinávia, mas em todo mundo.

O que Fachin quis apontar ao citar “Um inimigo do povo” é o perigo real que provavelmente a operação Lava-jato solte todos os implicados nos escândalos de corrupção no Brasil, deixando de fazer um importante ajuste na nossa história e jamais seremos uma Suécia ou uma Noruega porque não há líderes capazes de apontar um caminho de “ficha-limpa” e fim de enriquecimentos ilícitos a partir do abuso do erário público.

No dia do trabalho seria importante não apenas fazer média com a classe operário, mas mostrar quais são as águas poluídas que de fato minam a saúde de seus salários e dos serviços públicos a ela oferecidos.