RSS
 

Arquivo para a ‘Linguagens’ Categoria

Guerra intensa e reféns libertados

27 nov

A Rússia afirmou neste domingo (26/11) que derrubou drones nas quatro regiões em guerra, incluindo alguns próximos a Moscou e também dois mísseis foram interceptados, já a ucrânia afirma ter eliminado mais de mil soldados e 30 tanques russos nas regiões de guerra.

No sábado havia um forte ataque de drones contra Kiev, segundo Moscou o maior desde 2022.

As tratativas de guerra continuam, porém as sanções impostas pela Moldávia criou uma nova zona de conflito entre Moscou e o Ocidente, a Moldávia teme ser o próximo alvo da Rússia.

O mais grave do conflito Israel e Hamas é o uso de civis como reféns (foto).

Na faixa de Gaza segue a trégua entre o Hamas e Israel, a troca de reféns por soldados do Hamas continua, ontem foi o terceiro dia, no total o |Hamas libertou 58 reféns enquanto Israel libertou 117 palestinos, por ordem estes foram os números de reféns solto.

Primeiro dia de trégua 24 reféns, segundo dia (sábado) 17 reféns e terceiro dia (domingo) 17 reféns, embora o acordo seja apenas de 4 dias, e se encerraria hoje, a expectativa é que possa progredir até 4ª. feira.

O papa Francisco sempre otimista, falou em sua última referência a guerra que a humanidade (claro os que tomam as decisões políticas) optaram pela guerra em vez da paz.

Os conflitos já são uma grande tragédia humanitária e poderão se tornar uma grave crise tanto humanitária quanto civilizatória.

 

O exame de consciência final

24 nov

Podemos estar (ilusoriamente) construindo a felicidade (boa-vida na filosofia) pessoal sem se importar com o Outro, a sociedade vive hoje a negação do Outro e da dor, porém este é o caminho para as disputas, as rivalidades e em último estágio as guerras.

O mundo contemporâneo vive com a descrença, a falta de consciência individual e coletiva, o que importa é resolver o próprio problema, não faltam literatura para isto ou para o sucesso fácil ou para o consolo individual com os livros de autoajuda, não escapam as receitas tidas como “espirituais”, mas na sociedade de exercícios, trata-se de uma ascese desespiritualizada.

Como tratamos a dor significa como vemos a pobreza, o descaso com a saúde (nem os planos médicos resolvem mais), a falta de saneamento básico, os abusos púbicos da imoralidade, isso sem falar dos sistemas prisionais, a destruição das drogas e as diversas marginalizações sociais.

O exame de consciência, como diz a boa literatura é aquela consciência de algo, não a do conforto dos condomínios fechados, do isolamento social em refúgios, mas aquela consciência de si e do Outro, que outra para o conjunto social e suas enfermidades, não esquecendo as morais, a qual parece que se perdeu todas as referenciais.

Não falta literatura e pensamento sobre estas questões, mas a pergunta final é como se reverte estas questões, como evitamos o ódio crescente, as polarizações fanáticas e no final de tudo as tendências de guerras cada vez mais cruéis e envolvendo diversos povos?

O exame de consciência é este sim de que lado estamos, não da irracionalidade pública e até mesmo política, mas ao lado dos que sofrem, daqueles que perderam as esperanças, daqueles que por determinado motivo justificável ou não, olham para a vida como um fardo.

O Exame de Consciência final é aquele, que também é bíblico (Mt 25,34-35): “ ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36 eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’ “.

Portanto se trata de fazer este exame de consciência pessoal e socialmente, de que lado se está?

 

Doença, sistemas de saúde e abandono

23 nov

A doença faz parte da experiência humana, não é específica desta ou daquela classe, raça ou etnia, entretanto o modo como tratamos diferentes tipos humanos é muitas vezes um desrespeito e um sintoma de que algo vai mal na estrutura social.

Primeiro é claro deve haver um sistema que permita o acesso aos tratamentos de modo mais amplo possível e seguro, depois vem a questão da proximidade de familiares, amigos e em especial do próprio sistema que deve tratar do doente e não só da doença.

A experiência da fragilidade humana em diversas situações, e também numa doença grave, é a que deve despertar maior solidariedade e harmonia entre as pessoas que estão próximas e aos sistemas de saúde, a pandemia revelou uma grande fragilidade, embora os sistemas tenham funcionado, o grau de solidariedade e responsabilidade permaneceu em patamares sórdidos.

Não melhoramos humanamente com um flagelo tão grande que abalou todo o planeta, a expectativa que sairíamos mais solidários desta experiência não se confirmou.

O filósofo coreano-alemão expressou em uma palestra na universidade …., expressou assim seu sentimento do pós pandemia: “dramático que não sejamos capazes de tocar em outra pessoa, pois isso transmite uma energia incrível”, “não nos tocamos mais, nem contamos histórias entre nós” (referência ao seu último livro “A crise da narração”), e sentenciou: “estamos mais sós do que nunca”.

No livro “A sociedade paliativa” Byung-Chul citando Ernest Jünger escreve: “Dize tua relação com a dor, e te direi quem és!”, nossa relação com a dor na sociedade mostra como vivemos hoje, os que falam de paz, muitas vezes torcem e até desejam a guerra, não todos claro.

HAN, B.C. Sociedade Paliativa: a dor hoje. Trad. Lucas Machado. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2021.

 

Perspectiva de diálogo e América Latina

20 nov

Algumas mudanças no cenário mundial dão esperança de paz, a trégua de 5 dias e troca de reféns na Palestina, a Alemanha volta a dialogar com a Rússia e já há pressão popular para uma paz na Europa, na América Latina tensão entre Venezuela e Goiânia e eleição do ultra liberal Javier Milei na Argentina, por uma margem maior que apontavam as pesquisas.

Aquilo que poucos ou nenhum analista dirá, porque a polarização vai da periferia dos países até o jornalismo mais independente, é que não há solução única para nenhum dos polos e há erros de análise e de princípios nos dois polos, a própria polarização já é um contrassenso.

O diálogo Alemanha e Rússia, é certamente o que mais chama atenção, o último diálogo que foi realizado entre os dois países foi no dia 2 de dezembro de 2022, e esta retomada pode ser uma ponta de esperança de uma virada na escalada de guerra Ucrânia e Rússia.

Por outro lado, a maior esperança do mundo no momento, é um possível acordo de paz que pode liberar parte das 240 pessoas feitas como reféns numa investida do Hamas em território de Israel que matou cerca de 1.200 israelenses, com sinais de crueldade e barbárie, Israel reagiu também com brutalidade e força e grande parte da população civil da Palestina sofreu.

O embaixador de Israel nos EUA, Michael Herzog foi quem anunciou a emissora de tv ABC que haviam “esforços sérios” para uma trégua de 5 dias em troca da libertação de reféns, também o governo do Qatar costura um possível acordo.

A eleição de Milei, um candidato com 52 anos se deu por uma margem que nenhuma pesquisa apontava, teve 55,95% dos votos na disputa contra o governista e Ministro das Finanças do atual governo Sergio Massa com 44,04% dos votos, indicando que o povo argentino, embora Milei seja pouco conhecido, apostou numa mudança bastante radical, a Argentina está em crise econômica profunda.

Vários governos reconheceram a vitória de Milei porém a divisão ideológica é profunda, e há uma tensão entre Venezuela e Guyana (antiga Guyana inglesa, com rica história de povos indígenas e lutas internas de emancipação)  e embora seja uma região que já foi pauta na história, a razão da disputa agora é porque houve a descoberta de petróleo na região do rio Essequibo, que chegou a ser chamada de Guyana Essequiba, com forte presença indígena.

Após vários acordos, em 1904, 19.630 km2 foram entregues a colônia da Inglaterra e 13.570 k2 foram acordados com o Brasil e até hoje tudo que estabelece os limites entre estes três países, houveram vários acordos anteriores, em 1966 a Guiana se tornou independente do Reino Unido.

 

Contemplar e o Ser

16 nov

Byung-Chul Han em seu ensaio sobre a contemplação, dá uma sentença cruel ao saber ocidental eurocêntrico: “o saber não consegue retratar inteiramente a vida. A vida inteiramente consciente é uma vida morta” (Han, 2023, p. 29) e se apoia em nada mais que Nietzsche no âmbito de um “novo esclarecimento”, aquele que para Heidegger abre uma clareira do Ser, embora em uma perspectiva diferente.

Citando Nietzsche escreve Han: “não é o bastante que compreendas em que tipo de ignorância seres humanos e animais vivem; precisas também ter vontade de não saber e aprendê-la. É-te necessário compreender que em esse tipo de ignorância a vida mesma seria impossível, sob a qual o vivente se conserva e floresce: um grande e sólido sino de ignorância deve estar ao seu redor” (citando Nietzsche, pag. 29-30).

Esclarece que o objetivo último de um “mestre” é “alcançar um estado no qual a vontade se resigna. O mestre se exercita de modo a eliminar a vontade.” (pag. 31)

Afirma na página seguinte cita uma parábola feita por Walter Benjamin “Não esqueça o melhor” no qual ele esboça a ideia de uma vida feliz, trata de um homem de negócios que sempre realizou sua vida com precisão e zelo, porém em certo momento joga seu relógio fora.

Então começa a chegar tarde e as coisas começam a se realizar sem sua intervenção, e o alegram, revela-se agora um “caminho para o céu”, as coisas acontecem agora quando menos esperava, “amigos o visitam quando menos eles pensavam nele” e lembra da lenda de um rapazinho pastor que é permitido em “um domingo” entrar na montanha com seus tesouros, com uma instrução enigmática: “não te esqueças do melhor” (pag. 33).

A parábola da inatividade de Benjamin termina com estas palavras: “Nessa época ele estava bastante bem. Concluía poucas coisas começadas, e não dava nada por concluído” (pag. 33).

A época da hiperinformação, do cansaço não é um tempo de busca da verdade do ser, daquilo que realmente somos cultural, social e espiritualmente; é um tempo da busca do nada, em tempos assim, surgiram profetas, oráculos, monges e sábios que fugiam deste vazio temporal, para se encontrarem numa totalidade infinita, aquela que contempla todo o ser.

Escreveu Byung-Chul Han: “quem é realmente inativo não se afirma. Ele descarta seu nome e se torna ninguém”, não é niilismo, é um reencontro com a verdade que todos procuram nas coisas e não as encontram se não olharem para si, para o seu vazio interior e sua inatividade.

Haverá um tempo em que todos estarão procurando a verdade, dirão está aqui ou ali e não mais a encontrarão, não será um fim, mas sim um “novo esclarecimento”.

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2023.

 

In-formar, vincular e o simbólico

15 nov

O que faltou no texto da Crise da Narração, também tem algo equivocado na “Infocracia: digitalização e a crise da democracia na filosofia” (Vozes, 2022), a ideia que a informação é em si incompleta, está presente em outro livro intitulado de Byung-Chul Han “Vita Contemplativa” (Vozes, 2023), porque ali retornando ao ser pode- se encontrar como a forma se torna narração no interior do ser, e se in-forma.

Diz um trecho deste livro: “A perda do sentimento compartilhado acentua a falta do ser. A comunidade é uma totalidade mediada simbolicamente. O vazio simbólico narrativo leva à fragmentação e à erosão da sociedade.” (HAN, 2023, p. 91-92). (grifo nosso)

Assim reconhecendo esse aspecto da necessidade do ser enquanto um vazio simbólico, que a narrativa contemporânea em geral não contempla por seus vícios informacionais, ao mesmo tempo afirma o autor: “O ser humano, como symbolon, anseia por uma totalidade sagrada e restauradora” (pag. 92).

O termo symbolon aparece em destaque porque o autor usa-o a partir de uma leitura de O Banquete de Platão, onde Aristófanes lembra que este pedaço partido do ser, que para ele inicialmente era esférico e foi partido, tem este pedaço partido com um “symbolon”.

Ora se símbolo é uma parte, unido a outra parte formamos uma totalidade, não apenas numa comunidade, mas em toda “totalidade sagrada e restauradora”, ali onde há homens unidos por uma causa boa e justa.

A narrativa e a informação neste contexto, onde a parte está unida, com dizia um princípio importante defendido por Edgar Morin: “É preciso substituir um pensamento que isola e separa por um pensamento que une e distingue”, assim união de “símbolos” distintos e que fazem parte das culturas e povos contemporâneos.

Assim o in-formar ontológico (próprio do ser) ligado ao contexto da narração em seu tempo e objeto de pensamentos dentro de uma diversidade, não são razão para fragmentação e sim para um universo que nos une e faz mais “inteiros” dentro de nossas comunidades.

A hiperatividade contemporânea, que não só, mas também o mundo digital pode nos levar é ela própria um mundo que rejeita a interiorização, a meditação e assim, a própria narração.

Escreve o autor sobre esta interioridade: “A vida activa, com seu pathos da ação, bloqueia o acesso a religião” (pag. 154), a ação faz parte da vida religiosa tanto quanto da vida leiga, o que diferencia é que além da prudência, nossas reflexões da semana passada, podem levar a uma ação diferencia, justa e que leva a uma felicidade e plenitude diferente da pura “ação”.

Pathos, esclarecendo, faz parte da tríade grega “ethos, pathos e logos”, enquanto o ethos nos persuade pelo caráter, ou por quem narra, se este é digno de fé, o logos nos persuade pela razão lógica (ampla) e o pathos pelos sentimentos causados de tristeza ou alegria, amor ou ódio, e assim muitas vezes sem passar pela razão e pela ética.

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2023.

 

Recortes iniciais da crise da narração

14 nov

Boa parte da crítica ao excesso de informação de Byung Chul Han é situada no desenvolvimento do universo digital, este ensaio recente que vê a informação como fragmentada e oposta a narração, é visto tanto na histórica como naquilo que pode ser chamado de “crise da narrativa”, lê-se no texto.

Diferentemente de outras críticas à informação, situadas no período da informação digital, Byung-Chul Han busca na história o início da crise da narrativa (traduzida como narração):

Segue na mesma página, falando da perda de aspectos históricos:

Ela cede lugar a informação, deve-se esclarecer aqui que este conceito é para ele aquela atual sem contexto e fragmentária:

Assim para a ensaísta coreano-alemão “A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção”, e isto se inicia com o jornalismo contemporâneo e não com a informação digital.

HAN, Byung-Chul, A crise da narração, Vozes, 2023.

 

A parábola das virgens prudentes

10 nov

A parábola é uma parábola, portanto não deve ser vista ao pé da letra, pode parecer referente a sexualidade, o fato que 5 virgens tem óleo para a noite toda e outras 5 não tem óleo suficiente, indica que devemos nos preparar bem quando o “noivo” chegar, no caso bíblico é o encontro com Deus, e o óleo significa o “hábito” que desenvolvemos na vida para chegar lá.

Discorremos vários aspectos da prudência, e diferenciamos uma “boa vida” (felicidade num sentido mais amplo) da felicidade passageira (eudaimonia) que não mantém as lâmpadas acesas, e aqui não só para a vida eterna, mas para o decorrer de nossas vidas.

De certa forma tem algo haver já que é prudente entender que deve haver prudência também neste ponto, relações tóxicas, machistas, sexistas, etc., porque também estas podem nos preparar para uma vida futura, mesmo que ainda terrena, equilibrada e sensata, lembra-se que tanto Aristóteles quanto Tomás de Aquino, veem também motivos racionais para o exercício da prudência.

Assim uma sociedade que age pelo impulso, pelo domínio das paixões sobre a razão, e uma longa e duradoura boa vida (no sentido grego) depende do exercício das virtudes, e evitar muitas situações de risco e irracionalidade depende do exercício de virtudes.

Para quem não conhece, a parábola das virgens prudentes é esta, onde o noivo é o encontro com a vida eterna (Mt 25,1-7):

“O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram imprevidentes e as outras cinco eram previdentes. As imprevidentes pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. As previdentes, porém, levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas.  O noivo estava demorando, e todas elas acabaram cochilando e dormindo. No meio da noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!’  Então as dez jovens se levantaram e prepararam as lâmpadas”.

A prudência não limita nossa felicidade, mas nos prepara para a vida futura, já aqui no plano terreno.

 

O que era felicidade para os gregos

09 nov

Os gregos definiam felicidade como Eudaimonia sobre as diversas condições humanas: para quem tem fome, a felicidade é comer, para quem tem frio, roupas aquecidas, para quem é ambicioso, dinheiro, para o vaidoso, honrarias, para quem está doente, a saúde, etc.

Por isto como definimos anteriormente uma felicidade racional era chamada de “boa vida”, e se assim for, não como sustentar que a felicidade seja o bem para os homens, uma vez que ela deve trazer consigo que sejam comuns a todos e a possibilidade real de vida para todos.

A finalidade da vida para cada homem pode variar muito de pessoa a pessoa, existem os que relacionam a felicidade ao agradável, ao prazer, ao gozo, sem nenhuma dor, porém é preciso reconhecer a finitude e a limitação destes valores e entender que a vida plena exige equilíbrio, dai as virtudes necessárias, em grego o arethé, Aristóteles não recusava os prazeres, porém alertou que este tipo de vida visa apenas o imediato e é preciso que olhar o que permanece.

A felicidade é autossuficiente, isto é, não é desejável por causa de outra coisa, e ela é desejável em si, assim ao longo da vida, devemos desviar o olhar do exterior para o interior e olharmos dentro de nós aqueles apegos e apegos em coisas temporárias que são apenas prazeres temporais.

Foi a partir da análise das virtudes e do exercício prático da ética, Aristóteles conclui que a felicidade é uma atividade, daí não poder encontrar-se em potência no homem, ela não é considerada uma virtude, embora não ocorra sem ela, existe esta potencialidade em nós.

 

Prudência e felicidade

08 nov

Quebrar regras ou sair da caixinha, há até livros incentivando jogar tudo para o alto, é diferente do que pensavam os gregos, claro uma vida que vai mal precisa ser analisada.

Usei a palavra felicidade, porque a palavra usada pelos gregos é “Boa vida”, que na conotação atual significa comer, beber, gastar e dormir, mas não era a concepção de Aristóteles e outros filósofos da antiguidade.

Na Ética a Nicômaco, o filósofo demonstrar que para se alcançar a “boa vida” devemos levar em conta nosso instinto, sensibilidade e inteligência e, através da conjunção destes três elementos cultivarmos nossa melhor parte, porque, por exemplo, instinto pode ser um traço de personalidade que não leva ao equilíbrio, aí entra a ideia da prudência.

No livro X da Ética a Nicômaco, o filósofo de Estagira, acredita que somos possuidores de uma centelha divina (os deuses gregos não são os cristãos), que é a inteligência, de onde se desprendem duas energias: a sabedoria (sophia), que rege a ciência, e a prudência (phónesis) que rege a ética, entretanto os gregos acreditava numa ciência absoluta, capaz de conhecer a estrutura mais profunda do Ser.

Tal núcleo é eterno, imutável, absoluto, e a ética que é consequência disto é ciência prática.

Nela a prudência rege a temperança que é aquilo que irá reger nossos instintos, é ela que determina o bom exercício da temperança, o sábio nas decisões éticas é aquele capaz de encontrar o meio termo (ne quid nimis: nada em excesso), isto é uma das práticas.

Nela está a virtude (arethé) e na alma há três tipos de funções: as irracionais (nutrição, crescimento, etc.), as motivacionais (geradoras das ações) e as racionais (ligadas à nossa capacidade cognitiva que nos torna capazes de alcançar a verdade).

Só para dar um exemplo prático, quem controla as finanças pessoais poderia incluir um campo de descrição em entradas e saídas, uma explicação do Motivo do gasto ou obtenção do recurso.

Para Aristóteles a virtude é algo que se dá na alma, ou seja, nossa interioridade, então divide as virtudes entre éticas (coragem, generosidade, amizade, justiça, etc.) e dianoéticas (sabedoria, temperança, inteligência, etc.).

Assim podemos mudar um ditado e agora afirmar que “o hábito faz o monge”, agora não como veste exterior, mas com veste interior, as virtudes criam em nós “círculos virtuosos”.