RSS
 

Arquivo para a ‘Museologia’ Categoria

Não violência e ágape

13 mai

A história contada até nossos dias é uma história de poder, onde a falta de respeito impera e por isso o amor agápe parece algo altruísta e heróico, e o é, porém é mais que isto é a segurança de uma humanidade mais pacífica, mais segura onde as nações e povos podem expressar sua cultura livremente.

Lembra Byung-Chul Han que a primeira palavra da Ilíada de homem é menin (cólera): “a primeira palavra da Ilíada é menin, a saber cólera, [Z o r n] . ´Cantem, deusas, a cólera de Aquiles, filho de Peleus´, assim começa a primeira narrativa da cultura ocidental” (HAN, 2018, p. 22)

Lembra logo de início que somente o respeito é simétrico (recíproco): “O poder é uma relação assimétrica. Ele se fundamenta numa relação hierárquica. O poder de comunicação não é dialógico. Diferentemente do poder, o respeito não é necessariamente uma relação assimétrica.” (Han , 2018, p. 18), assim somente poderá haver ágape, uma reciprocidade de amor sem interesses e sem condicionamentos, se for aprendido o respeito e o amor sem interesses.

De modo análogo o Ulysses de Joyce começa com “Buck” Mulligan e Stephen Dedalus na torre do Martello (foto) ao amanhecer do dia 16 de junho de 1906, o assunto é Haines o hospede de Mulligan e incômodo para Stephen, discutem nas entrelinhas, isto passa desapercebido para muitos interpretes, a filosofia protestante dos unionistas (os que querem a Irlanda unida a Inglaterra) e os católicos que querem a Irlanda independente, que Stephen se alinha.

Mulligan o chama ironicamente de jesuíta, e está logo no início da parte I: “Elevou o vaso (de barbear) e entoou: – Introibo ad altere dei.  Parando, prescrutou a escura escada espiral e chamou asperamente: – Suba, Kinch, Suba, jesuíta execrável” (Joyce, 1983, p. 6)

O filósofo Han começa seu livro sobre o que é a cultura de massas de hoje, a cultura do “shitstorm”, um bullying de massas, ou literalmente: “O respeito está ligado aos nomes. Anonimato e respeito se excluem mutuamente. A comunicação anônima que é fornecida pela mídia digital desconstrói enormemente o respeito. Também o Shitstorm é anonimo” (HAN, 2018, p. 14).

Byung-Chul Han acredita que uma sociedade do futuro é possível a partir desta massificação atual onde ainda a ideia da guerra e do ódio estão presentes, mas se modificarão: “A sociedade do futuro terá que contar com um poder, o poder das massas.” (Han , 2018, p. 25).

Um poder das massas deve ser pacífico e solidário, as guerras são disputas de poderes verticais.

Não se trata de definir uma superestrutura de poder e uma lógica de estado e sim um novo e verdadeiro humanismo agápico, aquele que pode ser definido como o amor divino do “novo mandamento cristão (Jo 13, 33-34):  “Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. 34Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.

HAN, Byung-Chul. No Enxame: perspectivas do digital. São Paulo: Trad. Lucas Machado. Ed, Vozes, 2018. 

JOYCE, J. Ulysses. Trad. Antonio Houaiss, Portugal: Difel, 1983. pdf

 

Uma leitura do Ulysses de Joyce

12 mai

Pode parecer complicado para um leitor desavisado a leitura de Ulysses de James Joyce, primeiro a sua divisão que pretende ter conexões com o Ulysses de Homero, assim por exemplo a Telemaquia (parte 1, capítulos 1 a 3) tem como foco os personagens (Telêmaco era filho de Ulysses) e Odisséia (parte II, capítulos 4 a 15) é o desenvolvimento da ação que se passa toda ela no dia 16 de junho de 1904, como já postamos depois de uma festa de amigos com Joyce tornou-se o Bloomsday.

Na parte I, são oito horas da manhã na torre Martelo, onde Stephen (filho de Bloom) mora com “Buck” Molligan, um inglês Haines amigo de Mulligan está presente, eles discutem a arte, que é o pano de fundo para posições éticas dos dois: a tensão entre os dois é porque Stephen de uma arte integra e que despreza as concessões (sociais) para o reconhecimento, enquanto Mulligan vê uma arte que cede a pressão social apoiado por Haines que pretende estudar o renascimento na Liteatura Irlandesa e admira o folclore, porém revela-se anti-semita, parte da xenofobia que os Blooms sofrem pela origem do pai Leopold Bloom, que é judeu-húngaro migrado.

Stephen vê em Haines o colonizador uma vez que o unionismo de Irlanda e Inglaterra domina o cenário irlandês conservador do início do século, enquanto Stephen defende a independência embora veja o provincianismo irlandês como pequeno e critica também seu catolicismo.

Proteus (deus dos mares e filho de Oceano na mitologia grega) revela a reflexão de Stephen sobre o visível e o invisível, o mundo objetivo como sinais que exigem interpretação (e contextualização), a transformação de tudo no tempo e no espaço, na própria mente.  Desenvolve aqui de modo subliminar os temas da mãe, da mulher e da fertilidade, o Amor Filia.

Em Calipso o romance vai para a rua Eccles, n. 7 onde Leopold Bloom toma seu café da manhã e o prepara para si, para a mulher e para o gato, resolve comer rim de porco e vai ao açougue paa comprar, no caminho vê uma mulher que desperta devaneios, volta para casa recolhe a correspondência e vê uma carta da filha Milly, outra de Blazes Boylan endereçada a Molly.

Blazes havia organizado uma turnê de concertos para Molly e desconfia que a mulher o trai com Blazes, come o rim tostado, vai ao banheiro e fora da casa lê um jornal.  Este capítulo prepara uma encarnação e Odisseu, pai espiritual de Stephen, o monólogo interior prevalece, mas agora o devaneio vai para os problemas do sionismo e o erotismo, no todo, é um espaço do Amor Eros.

Bloom lê uma carta endereçada a Henry Flower, seu pseudônimo, o nome remete a florescência ao desejo sexual que aflora (a correspondência direta em Homero é com os lotófagos, o povo que come Lótus (figura) e que são uma região de perigo na Odisséia), enfim revela a tensão moral de Bloom.

No final deste tópico está Molly na cama, refletindo sobre o marido, o encontro com Boylan, o passado, as esperanças, também ela suspeita de uma amante do marido, aspira grande futuro, é interrompida duas vezes pelo apito do trem (uma espécie de tempo passando) e outra por um início de menstruação, pensa no médico, nos filhos Stephen e o falecido, lembra o primeiro sexo feito com Bloom.

Há preocupações éticas e estéticas, especialmente com Stephen no livro, que traça o cenário da Irlanda do início do século, porém há uma ausência de o Amor Ágape, exceto na concepção de arte de Stephen, e esta é a ligação que James Joyce tenta fazer entre o seu Ulysses e o de Homero.

JOYCE, J. Ulysses, Trad. António Houaiss. Portugal: Difel, 1983. (pdf)

 

A sociedade paliativa ou a ausência da dor

13 abr

A sociedade paliativa explica Byung Chul Han nada tem a ver com a medicina paliativa, pois explica o filósofo coreano-alemão: “Assim, cada crítica da sociedade tem de levar a cabo uma hermenêutica da dor. Caso se deixe a dor apenas a cargo da medicina, deixamos escapar o seu caráter de signo” (Han, 2021).

Lembra um ditado de Ernest Jünger: “Dize tua relação com a dor, e te direi quem és!”, assim não é possível uma crítica sociedade sem uma hermenêutica da dor, a relação com cada sofrimento não só o produzido pela história, mas aquele que está na particularidade de cada Outro.

“A sociedade da sobrevivência perde inteiramente o sentido para a boa vida. Também o desfrute é sacrificado à saúde elevada a um fim em si mesmo” (Han, 2021, p. 34).

Lembra e cita Agamben na sua visão de homo sacer e via nua: “Sem resistência sujeitamo-nos ao o estado de exceção que reduz a vida à vida nua” (Han, 2021, idem).

Na sociedade paliativa “A arte de sofrer a dor se perdeu inteiramente para nós … A dor é agora, um mal sem sentido, que deve ser combatido com analgésicos. Como mera aflição corporal, ela cai inteiramente fora da ordem simbólica” (Han, 2021, p. 41), os grifos são do autor.

Assim hoje remove-se a dor qualquer possibilidade de expressão, ela está condenada a calar-se, e “a sociedade paliativa não permite avivar, verbalizar a dor em uma paixão” (p. 14), grifo do autor.

HAN, Byung-Chul. A sociedade paliativa: a dor hoje. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.

VARGAS, Cecília.  Systems of Pain/Networks of Resilience project in one gallery. Curated by Cecilia Vargas, Dickson Center at Waubonsee Community College, June 2018 (foto).

 

A linguagem e a empatia

21 jan

José Saramago expressou assim sobre a opinião que as pessoas têm sobre diversos assuntos: “O problema não é que as pessoas tenham opiniões, isto é ótimo. O problema é que tenham opiniões sem saber do que falam”, em tempos de mídias sociais é muito comum repetir ilustres desconhecidos porque disseram uma frase de impacto, porém quando se coloca num contexto adequado ou se penetra no assunto em questão, pode-se ter uma opinião mais sensata.

Tudo é polêmico hoje e de certa forma quase tudo tornou-se mera opinião, a doxa dos gregos, neste contexto o problema da linguagem se extrapola e a empatia é cada vez mais rara na linguagem cotidiana, se o problema na origem da sociedade moderna na antiguidade clássica era o sofisma, tudo se argumentava apenas para agradar o poder vigente, o problema hoje é ver isto disseminado na linguagem cotidiana, o cuidado com a linguagem, o respeito ao outrem e a escuta respeitosa devem fazer parte da linguagem empática.

Não é a política central apenas que se deteriorou, ou a democracia que entrou em crise, as escolhas de líderes salvadores da pátria, a pouca discussão dos problemas de fato que atingem a população, em plena expansão pandêmica pouco se fala de medidas efetivas contra ela, só para dar um exemplo grave, todo o problema parece ser a vacinação das crianças, que é urgente sem dúvida, porém todos tem diversos casos de infecção familiar ou próxima nas vizinhanças onde mora.

Reeducar a linguagem cotidiana, reintroduzir o respeito a qualquer cidadão, de qualquer raça, cor ou religião, deveria ser um esforço comum para melhorar a empatia social.

Até mesmo na linguagem religiosa, antes extremamente respeitosa e amorosa parece evoluir uma concepção mais separatista e isolacionista onde o diferente é isolado e malvisto.

É preciso encontrar espaço, tempo e local onde as verdades primeiras possam ser ditas, onde as culturas originárias possam se manifestar e serem ouvidas.

Em muitas culturas, religiões e teorias há um nó central lá onde as verdades mais profundas estão ditas.

A passagem bíblica em que Jesus revela quem de fato é e a que veio deveria ser o ponto central de análise de sua linguagem e sua missão, foi a Nazaré cidade onde fora criado e podia ser visto como uma pessoa comum, uma atitude empática, indo a sinagoga em dia de sábado deram o livro do profeta Isaías (Is 61,1-2) e ali Ele leu: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação dos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos, enviou-me para proclamar um ano de graça da parte do Senhor”, fechou o livro e depois surpreende a todos ao dizer: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 1,14-21).  (Na foto a assinatura do profeta Isaías, National Geographic).

 

Linguagem verbal, mista e mística

20 jan

Linguagem verbal é aquela que encontramos somente palavras (pode ser a oralidade primária, secundária ou a escrita), enquanto a linguagem não verbal envolve gestos, signos visuais, imagens, figuras, desenhos, fotos, cores e até mesmo música, porém a comunicação pode se realizar além do gesto e então torna uma comunicação mística.

Não é específica das religiões, pessoas próximas, amantes e mesmo crianças podem se comunicar com esta perfeição sem o uso exclusivo da linguagem verbal ou escrita, ela é além da autossugestão envolve o tema que desenvolvemos mais atrás da empatia, o vigor de uma relação amorosa ou simplesmente uma abertura grande de alma.

Porém a linguagem mística para se fazer revelar para muitos e ser compreendida usa de recursos míticos, figuras de linguagens, parábolas e até mesmo a poesia, como já pensava Heidegger que considerava ela uma “outra função” da linguagem, os versos são ricos em metáforas, símbolos e estórias como a da passagem do samaritano que socorre uma pessoa que foi assaltada e agredida na estrada para explicar que o socorro ao Outro, a misericórdia com quem sofre e a ajuda é sempre uma “vontade” divina para o homem.

Porém ocorre que muitas passagens são lidas e analisadas fora do contexto ou fora do significado hermenêutico de sua realização, se no passado foram necessários vários recursos linguísticos para ler documentos místicos, entre eles a Bíblia, o Alcorão ou o livro de Vedas, não significa que eles possam ser lidos sem a hermenêutica necessária.

Também atualizá-los apenas para fazer uso política, seja qual for a tendência ideológica que o realize é uma hermenêutica suspeita porque depende de determinada concepção histórica, e sabemos que o texto sagrado, salvo sua leitura contextual, deve remeter a uma realidade divina atemporal e aespacial (embora o termo não exista), mas considerando a vida terrena de todos que a leem, é nisto que deve-se fundamentar uma boa hermenêutica.

A Bíblia não significa outra coisa senão aquilo que foi escrito a partir de uma palavra verbal, os evangelhos cristãos representam uma revisão e uma releitura dos fatos e relatos verbais dos primeiros tempos dos cristãos que se iniciou com a vida pública de Jesus, período de domínio do império romano e no qual além dele muitos outros se diziam profetas.

A linguagem mística encontra correspondência quando determinada alma está em sintonia com a “vontade divina”, no dizer cristão, atenta ao Espírito Santo e tendo uma graça especial para isto, o que é muito diferente de influenciadores comuns em nossos dias devido aos poderes midiáticos e aos apelos as nossas necessidades humanas, deve-se estar atendo ao divino, claro que isto é para aqueles que creem, embora também uma comunicação não verbal perfeita possa perfeitamente acontecer entre os que não creem, mas será desprovida de qualquer revelação divina.

 

A iluminação de Natal no Brasil

23 dez

São Paulo e Rio de Janeiro se destacam tanto pela criatividade e tradição, quanto pelo investimento que em grande parte veio da iniciativa privada, para a iluminação de Natal.

Toda estas duas populosas cidades tem a iluminação espalhada e é possível fazer um tour de turístico natalino, tão grande são as novidades e curiosidades, em São Paulo, por exemplo, a Avenida Paulista e outras inúmeras avenidas: São João e Avenida Brasil, por exemplo, o parque Vila Lobos que recebeu uma iluminação especial, porém o destaque fica com a iluminação do Ibirapuera, tradicional parque de passeio de São Paulo, que recebeu uma iluminação especial do lago, que já tem um chafariz que dança das águas, ao ritmo conforme toca a música, e todo entorno está iluminado com mais de 200 árvores decoradas com um milhão de lâmpadas de Led.

O especial do Ibirapuera este ano é a iluminação do lago com um brilho e decoração especial muito criativa, destaque embaixo na foto acima, porém todo o parque está iluminado e é um grande destaque na iluminação da cidade de São Paulo.

No Rio de Janeiro todos os bairros da orla marítima estão iluminados, além das iluminações especiais de restaurantes e hotéis, porém o grande show é os fogos de final de ano no beira-mar, financiado pela iniciativa privada, não foi cancelado apesar de uma crise de gripe que o Rio de Janeiro vive, na foto é possível ver a queima a partir da imagem do Cristo Redentor (também iluminado) de onde se vê a queima de fogos (photo abaixo).

A iluminação de Natal de Salvador também merece destaque, no ano passado já foi um sucesso com mais de 1.3 milhão de visitantes, em ano de pandemia é bom lembrar, com praças e avenidas iluminadas, algumas formam um verdadeiro túnel de luzes, com shows e atrações, inclusive apresentações feitas com drones.

Norte e Nordeste também têm várias capitais e suas atrações, Maceió a vários anos já vem se destacando por suas iluminações de Natal, no sul se destacam a tradicional região turística Gramada e Canela (são próximas), Blumenau e Curitiba.

É difícil traçar todo o cenário de Natal no país, várias cidades do interior dos estados têm atrações, como Campos do Jordão (SP), Petrópolis (RJ) e Monte Verde (MG), o importante é que todas sempre há uma intenção e resgatar o espírito natalino de amor e paz.

 

O Natal em Lisboa

22 dez

Lisboa é a capital portuguesa e o Natal lá é um destino especial para brasileiros, português vivia uma explosão de turismo quando entrou a pandemia, um campeão de vacinação da Europa reabriu o comércio, mas estes dias voltaram a ser dias de incerteza e preocupação como nova medidas de restrição sanitária

A praça do comércio é seu ponto central, onde sempre se faz uma iluminação com uma bela árvore de natal (foto 1) e ilumina o arco triunfal (homem ao rei D. José I), ele inicia sua principal rua de comércio e restaurantes indo até a praça do Rossio, e ela dá passagem para a praça da Figueira, outro ponto característico e Central.

Da praça do comércio se tem uma vista do rio de Tejo onde se liga ao mar, a região chamada de “baixo Chiado” ou simplesmente a “baixa” pode-se subir através das escadarias, do metrô ou pelo elevador histórico e turístico Santa Justa até o Chiado.

O chiado é ponto de um comércio mais antigo, com sua famosa praça de Camões de onde se tem acesso a ruas de comércio e a bares e restaurantes famosos como o “cantinho do Avilez”, chef conhecido internacionalmente e que faz a tradicional comida ibérica com bom gosto e criatividade, há no Chiado muitas coisas para se ver e comer, além e ser um ponto tradicional dos bondinhos (elétricos como são chamados lá).

Também a praça do Rossio e a praça do Comércio são pontos de elétricos, no caso da praça do Rossio também há uma estação de trem (comboios em Portugal), dali pode-se ir até Belém, onde há a famosa torre e o tradicional “pastel de Belém”, ou ir para a parte mais moderna de Portugal, indo até a praça Marques de Pombal por metrô ou autocarro (ónibus, os elétricos modernos são bons e confortáveis).

Infelizmente as restrições sanitárias voltaram, tanto para viagens quando para a circulação, então o passeio no Natal e ano novo está limitado por lá também.

 

Algumas cidades europeias iluminadas no Natal

21 dez

Muitas cidades europeias são iluminadas e enfeitadas no natal, há uma onda de negar a festa cristã, mas o clima de amizade e paz permanece em muitos locais.

Cidade com fortes traços culturais, está ao norte da Suiça, entre a Alemanha e a França e portanto com fortes influencias de ambas, tem aproximadamente 200 mil habitantes, sendo então a terceira maior cidade Suiça, atrás de Zurique e Genebra.

Na Basiléia suíça, seja no mercado de mercado de Barfüsserplatz ond fica a Christmas Pyramid (foto abaixo), uma torre decorada com figuras do presépio, ao redor existe diversos quiosques de bebidas quentes e comidas típicas como o biscoito Basel Läckerl e a Taclette, outro museu famoso da cidade também se enfeita é o Münsterplatz, com workshops e árvore decorada pela loja Johann Wanner, ali também há uma pista de patinação e concertos na Catedral.

Em Estrasburgo, desde 1570 há um onde maiores mercados de Natal na Europa, acreditasse até que algumas tradições nasceram ali, como as decorações natalinas nas casas em estilo enxaimel, no Centro Histórico com suas ruas de paralelepípedos (foto acima).

Nos próximos posts citaremos outras cidades. 

 

O deserto sem vida interior

30 nov

Viver só na exterioridade, projetado sobre o mundo levou a um tipo de angústia especial, a angústia é um aspecto da filosofia, aquela que se liga ao conceito do vazio, um certo tipo de filosofia e algumas formas do conceito “Deus está morto”, sim porque existem outro, um deles é os homens tentam em vão mata-Lo como se fosse possível, como se fosse possível negar alguma intencionalidade na criação do universo, sim ele pode ser multiverso, mas também para ele deve haver uma intencionalidade.

O movimento filosófico que deu voz ao sentimento de “alienação e desespero”, veio justamente do “reconhecimento do homem de sua solidão fundamental em um universo indiferente”, as frases destacadas são de Anthony Downs, um economista político americano, falecido em outubro deste ano.

A razão pela qual devemos conhecer a origem e o desenvolvimento de certos conceitos que parecem apenas palha e sem substância (porque não são observados a fundo), é que eles passam a dominar grande parte da vida contemporânea, é o caso do idealismo que dominou quase todos os ismos de nosso tempo, incluindo socialismo e certo tipo de cristianismo (na foto a obra de Albert György).

Os ismos de nosso tempo não são senão a racionalização de alguma forma de idealismo presente na cultura ocidental de Descartes, passando por Kant até Hegel, a sua rejeição partido do existencialismo de Kierkegaard que insistiu na irredutibilidade da dimensão subjetiva e pessoal da vida humana, o existencialismo tomou diversas formas, porém é o retorno a questão do Ser e a ontologia que considero parte essencial de redescobrir o fio de ouro do espírito humano, ou da dimensão pessoal e subjetiva como foi pensada por Kierkegaard, parte de uma pergunta essencial que é “porque existe tudo e não o nada”, e o nada é claro é o vazio.

Porém Kierkegaard trabalhou também a questão da angústia, que pode ser associada ao vazio ou ao sentimento moderno de uma forma de alienação, seu conceito é outro, é a vertigem da liberdade, preconizada pelo homem moderno, é através dela que o homem sente repulsa e atração, pode-se tudo, mas nem tudo é conveniente.

Em “O conceito de angústia”, Kierkegaard escreve: “” uma determinação do espírito sonhador (…) é a realidade da liberdade como puro possível” (KIERKEGAARD, 1968, p. 45).

Soren Kierkegaard nasceu na Dinamarca em 1813 teve uma vida sofrida com problemas pessoais e familiares, em um espaço de vinte anos viu a morte de dois irmãos e três irmãs e depois a mãe, a decepção amorosa com a noiva Regina Olsen culmina na sua própria vida aquilo que expressou na filosofia.

O conceito de angústia tornou-se central no desenvolvimento da filosofia existencialista, ele está presente em Heidegger, Jaspers e Sartre, mas não ficou de lado em filosofias anteriores como a fenomenologia de Husserl e antes na psicologia social de Franz-Brentano.

É Heidegger que torna a questão da angústia como um problema da vida cotidiana, escreve: “O ser-para-a-morte é, essencialmente, angústia. Isso é testemunhado, de modo indubitável embora “apenas” indireto, pelo ser para-a-morte já caracterizado, no momento em que a angústia se faz temor covarde e, superando, denuncia a covardia da angústia. (HEIDEGGER, 1998, P. 50).

Por isso para Heidegger a angústia é um determinante existencial e ela se manifesta na cotidianidade do estar-no-mundo, no dizer de Hanna Arendt é uma “condição humana”.

A questão volta a tona pela forma patológica que tomou na Pandemia, justamente a privação da liberdade, vejam que o conceito de Kierkegaard faz sentido.

Heidegger, M. A origem da obra de arte. In: CAMINHOS de Floresta (Holzwege). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998.

Kierkegaard, Soren. O conceito de Angústia. Lisboa: Hemus editora, 1968.

 

O grito dos aflitos

04 nov

Em muitos momentos de dificuldades pessoais, conflitos mundiais e tragédias naturais sempre aparente um grito de desespero e dor, porém o nosso tempo é de um grito silencioso daqueles que perdem a razão de viver, também a pandemia provocou em muitos angústia, solidão e desespero.

O famoso quadro O grito do norueguês Edvard Munch (figura) representa uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero, tendo ao fundo o fiorde de Oslo ao pôr do Sol, caracteriza bem o que significa aflição em nosso tempo, além da miséria e da falta de solidariedade, a angústia e ansiedade da figura pode ser do próprio autor, a frase escrita no alto do quadro: “só pode ter sido pintado por um louco”, analisada pelo Museu Nacional de Oslo concluiu que era mesmo do autor.

O aspecto de ansiedade permaneceria velado, não fosse esta análise, uma vez que o autor declarado em certa ocasião: “tenho sofrido um profundo sentimento de ansiedade que tentei expressar em minha arte”, e isto reflete nossos medos contemporâneos.

A TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) é um dos sintomas deste quadro, que pode ser também bipolaridade ou algum outro tipo de descontrole, este tipo foi chamado genericamente por Freud de Ansiedade Neurótica, mas há outras duas: a Realista e a Moral.

A ansiedade realista refere-se ao medo de algo existente no mundo exterior, então a pandemia ou uma catástrofe natural (furacão, terremotos, alterações bruscas no clima, etc.) são no fundo um tipo de medo de algo real acontecendo porém que nos coloca numa adrenalina diferente.

A moral é aquela que refere-se ao sentimento de culpa, que desencadeia um medo de ser punido, e isto leva a uma situação de conflito na interioridade, assim a pessoa perde aspectos sensíveis do seu interior: o inconsciente ameaçando adentrar o consciente o que significa na prática uma perda do autocontrole.

Mas os aflitos são também os desamparados, os abandonados e os rejeitados da sociedade, os diversos tipos de preconceitos sobre os quais nascem polêmicas atuais.

Na leitura cristã, o texto de Mateus (5,4) embora algumas traduções coloquem como “aflitos”, a tradução que preferimos aqui: “”Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!”, porque além do aspecto da “doença” existe o mal estrutural e o mal social que empurram muitas pessoas a este estado, e culpá-las apenas significa acrescenta a qualquer tipo de “aflição” a ansiedade neurótica que nasce de um sentimento de culpa desproporcional, e este é o grande tipo de pressão social atual.

Mas qual seria o consolo de que fala a bíblia, o consolo dos que creem é que o único mal que devem temer é o da alma, assim ao contrário do que diz muitas interpretações moralista, é uma moral equilibrada e sem o exagero da culpa que leva a um estado interior sem este tipo