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Escalada de conflitos, um apelo à paz

30 out

É incrível que a polarização se aproprie até mesmo dos discursos da paz, como a questão do Outro e o significado do que significa “terror”, já o discurso antissemita está esvaziado e a ideia de forças “nazistas” também, a polarização atingiu escala mundial e pode crescer.

Também a guerra Ucrânia e Rússia se agrava, com novos equipamentos bélicos americanos de longo alcance e a chegada do inverno torna dramático e poderá ter desde já uma escalada.

Elogios e defesa do Hamas colocaram a própria ONU em posição de polaridade, há também um discurso que tenta descaracterizar matança de civis e inocentes como aquele que quem faz é o Outro, então não há espaço para o diálogo e a paz, tudo pode ter uma narrativa inversa.

O socorro humanitário enfrenta dificuldade tanto daqueles que querem atendimento a população como dos próprios governos que dificultam a passagem dos civis e da abertura de fronteiras, a guerra por terra em Gaza só agravará as condições humanitárias.

Também o posicionamento da Turquia a favor do Hamas, pode conturbar a região e escalar a guerra, este posicionamento é muito complicado porque a Turquia faz parte da OTAN e tem sido importante no posicionamento sobre a passagem de grãos lembremos que no estreito de Bósforo, a passagem por Istambul a cidade com território na Europa e no Oriente Médio é estratégica.

Na guerra são os civis que perdem, e os limites de civilidade são quase sempre extrapolados por todos lados, não há acordos que possam estabelecer limites claros e que sejam respeitados.

Uma verdadeira filosofia da paz deve condenar os lados em conflito, a tentativa equivocada de cada um dos lados de estabelecer uma narrativa aceitável, a polarização não permite.

Quais forças poderão pedir a paz? o que acontecerá em uma escalada de guerra crescente, com envolvimento do Irã ? e se a China e países do oriente se envolverem, lá já há questões de tensão entre os países.

A esperança é que venha um clamor sufocado dos que realmente desejam a paz, as forças que são de verdadeiro humanismo poderiam recuperar a esperança de um mundo menos perigoso.

 

O amor na literatura ocidental

26 out

No post anterior comentamos um exemplo pouco comum na literatura que é o amor humano visto de um ponto de vista da narrativa cristã, há outros é claro, porém este pela repercussão da obra de Francine Rivers e sua recente transformação em filme (2022) e a crítica aplaudiu.

Na história podemos relembrar algumas obras que marcaram a literatura: O Banquete de Platão, A arte de amar de Ovídio e Sobre el Amor de Plutarco, destacaria no período medieval O Romance de Tristão e Isolda e Correspondências de Abelardo e Heloísa.

O estilo filosófico do Banquete onde há uma predominância de elementos mitológicos que explicam ou denotam o amor, talvez daí a ideia de amor platônico, mas que nada tem de sublime ou não carnal, o que dizem comentaristas é que há relações homoeróticas que fazem parte do diálogo entre parceiros nas relações.

Se há algo de elevado é no diálogo de Sócrates que define o chamado amor filosófico, este fora da esfera sentimental e inserido num idealismo (sempre lembro aqui que eidos para os gregos que lembrar o Ser em sua essência, e não algo que vive só na mente), é um amor que está relacionado com a beleza e o bem.

Já Ovídio (45 a.C. – 18 d.C.) não está interessado em alcançar esta ascese a um amor divinizado, procura encontrar as ferramentas necessárias para realizar um amor mais sensual num mundo carnal.

Ovídio não encerra o amor restrito a esfera conjugal, já Plutarco (45 – 120 d.C.) o vê dentro de uma instituição social e política, é um “caminho” dentro do casamento em direção à felicidade, como uma ascese do tipo que os gregos a concebiam, assim não é uma ascese espiritual.

O romance de Tristão e Isolda e as Correspondências de Abelardo e Heloísa devem ser entendidos numa realidade de domínio da filosofia cristã na Europa medieval, onde o Amor a Deus é indiscutível, mas já o amor como união de dois corpos é ainda suscetível de debates.

Este tipo de romance inserido na tradição trovadoresca, é imbuído de um elemento “cortês”, encontramos na obra de Denis de Rougemont, uma interessante descrição deste amor:

O que amam é o amor, é o próprio fato de amar. E agem como se tivessem compreendido que o que se opõe ao amor o garante e o consagra em seus corações, para exaltá-lo  ao infinito no  instante  do obstáculo  absoluto que  é a  morte.  Tristão gosta de  sentir  amor,  muito  mais  do  que  ama  Isolda,  a  loura.  E  Isolda  nada  faz  para  retê-lo  perto  de  si: basta-lhe  um  sonho apaixonado. 

Destacaria entre os romances modernos entre os mais característicos: Eugénie Glandet de Honoré de Balzac, Madame Bovary de Gustave Flaubert e Anna Karenina de Leon Tolstoi, enquanto Eugénie Grandet mostra a realidade do interesse material em torno do romance, Madame Bovary vai mostrar a falta de lucidez, o excesso e egoísmo humano, Anna Karenina mostra as cores trágicas da infidelidade dela com o marido Vronsky, porém há outros dois casamentos:  um casamento feliz (Levin e Kitty) e outro que apenas se suportam (Stiva e Dolly).

 

ROUGEMONT,  Denis  de.  A  História  do  Amor  no  Ocidente.  Trad.:  Paulo  Brendi  e  Ethel Brandi Cachapuz. São Paulo: Ediouro, 2003. 2ª Edição reformada.

 

Amor de Redenção

25 out

O livro foi inspirado na narrativa bíblica do profeta Oseias, uma mulher, Angel, que se considerava arruinada, sem chance de salvação, descrente do amor humano, descobre o amor inabalável de Deus, mas o contexto é a corrida do ouro na Califórnia de 1850.

A época é aquela que os homens vendiam a própria alma por um punhado de ouro e as mulheres vendiam o próprio corpo por um lugar para dormir.

Angel vendida como prostituta desde criança, odeia os homens que a usaram e é invadida por desprezo e medo de si mesma, até que conhece Michael Hosea, um homem que busca o divino em todas as coisas, e acredita que tem um chamado de Deus para se casar com Angel.

Amor de redenção é um clássico atemporal, romântico, épico ou trágico, é uma história capaz de transformar o sentimento humano num amor incondicional, redentor e absoluto que está ao alcance de todos os que ainda pensam num amor verdadeiro, duradouro e profundo.

Mas Angel vítima de sua história, como muitos são hoje da ideologia erótica e de desprezo a verdadeira felicidade, foge e volta para a escuridão, para longe do amor resiliente do marido, do novo que é sua cura definitiva de um mundo de sombras e desprezo pela vida.

O livro de Francine Rivers, longe de ser apenas uma ficção cristã, é um apelo ao amor humano de fato, aquele capaz de preencher o vazio de almas que não aceitam o passageiro, o uso do corpo como mera mercadoria ou “instrumento” de prazer, onde é possível encontrar paz e felicidade, claro com todas as tribulações naturais da vida: contas, acidentes e envelhecer, etc.

O livro foi transformado em filme em 2022, com roteiro e direção de D. J. Caruso, tendo no elenco: Abigail CowenFamke JanssenLogan Marshall-Green.

RIVERS, F. Amor de redenção (Redeeming Love), trad. Alyda Sauer, R.J.: Verus; 14ª edição, 2021.

 

Ucrânia se defende e Israel ataca

23 out

Os dois maiores fronts de guerra do mundo que ameaçam a paz mundial que pode entrar num ciclo ainda pior, pode ser resumido assim a Ucrânia se defende conseguinte responde ao único forte avanço russo na localidade de Adviivka (foto) e bombardeando aeródromos táticos militares da Rússia, enquanto Israel ataca a faixa de Gaza e abre novas frente contra o Hezbollah e a Síria.

O envolvimento americano já é total e inquestionável, o que cria uma polarização mundial, na qual poderá chamar o Irã para a guerra do Oriente Médio, a costura de tratados de paz com os árabes que vinha sendo feita poderá cair por terra e tornar a região o epicentro de uma guerra.

As forças humanitárias conseguiram finalmente entrar ao sul de Gaza para envio de socorros as vítimas palestinas, Egito e Israel finalmente concordaram em abrir a passagem de fronteira em Raffah, o que permite tanto alimentos como ajuda médica, mas sem nenhum aceno a paz.

O voo de Joe Biden a Israel ajudou este acordo, um adia após a explosão de um hospital em Gaza e o envio de mais armas torna o seu envolvimento na guerra ainda mais perigoso, na Europa existem temores de atos de terrorismo, enquanto a Palestina, que não é o Hamas, se torna o lado frágil e vitimizado da guerra.

Uma escalada da guerra no oriente médio por enquanto é inevitável e uma eventual entrada direta do Irã na guerra, o Hezbollah já em guerra com Israel é aliado e recebe ajuda do Irã, pode dar um contorno dramático ao conflito do Oriente Médio.

O quadro mundial se agrava, e apesar da uma aparente paz no oriente China e a Coréia do Norte, tem interesses conflituosos com Taiwan, Coréia do Sul e Japão.

O conselho de segurança que tentou duas moções de paz para o Oriente Médio, se mostra dividido e incapaz de apontar soluções a curto prazo para esta guerra.

 

Os vossos pais rejeitaram os profetas

20 out

Terminado o período dos Juízes, que foi um período realmente teocrático, o povo de Israel começa a pedir Reis (Samuel 8,6-8), os reis governaram de 928 a.C. até a destruição do primeiro templo de Jerusalém (586 a.C.), porém o povo já havia ido para o cativeiro da Babilônia em 722 a.C., mais de 100 anos depois foi destruído o reino de Judá.

Já no último período dos juízes, Samuel que foi também profeta, via o povo se desviando, e até mesmo seus filhos não seguiam mais as leis divinas, a própria divisão entre Israel e Judá (é preciso dizer que é aí que aparecem o nome de judeus), e foi o segundo rei de Israel, Davi que uniu os dois reinos e nomeia a capital Jerusalém, ali seu filho Salomão, fará o primeiro templo.

Foi o profeta Ezequiel que viveu no exílio babilônico, entre 593 a.C. a 571 a.C. que profetizou a destruição do templo e falava das infidelidades do povo hebreu, também o profeta Isaías havia pregando que o pecado chegara de tal modo a Israel e Judá, que a maldição atingiria o povo hebreu, a maior delas é claro, foi o exílio da Babilônia.

Quando Ciro se torna rei da Pérsia e toma Babilônia em 538 a.C. permite ao povo hebreu retornar à sua terra e a possibilidade de reconstruírem o seu templo, o segundo, porém os desvios do povo continuam a ocorrer até o último e maior dos profetas João Batista, aquele que Herodes pediu a cabeça em troca da dança de Salomé, que pede por sugestão da mãe.

Jesus era rejeitado por contestar os fariseus e mestres da lei de seu tempo, também haviam aquele que queriam uma posição de líder na guerra contra o império romano, após a morte e ressurreição de Jesus no ano 70 d.C., o segundo templo foi destruído pelo general romano Tito e dele restou somente o muro das lamentações (foto).

Jerusalém foi incendiada e o povo judeu disperso, os judeus que se estabeleceram no leste europeu foram chamados de Ashkenazi e os da Península Ibérica de Sefarditas.

A posição de Jesus sobre o império romano era clara, uma vez que os romanos também o temiam, Herodes especialmente, e Pilatos lavou as mãos em sua crucificação, quando os fariseus preparam uma cilada perguntando se era justo pagar impostos, Jesus pega uma moeda e ao ver a figura de Cesar sentencia: “Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,34-40) esta cilada permanece no meio religioso até os dias de hoje.

 

Origens religiosa e histórica de Israel e Palestina

17 out

Embora Noé não seja uma figura registrada na história, seus filhos Cam e Sem estão registrado pois são a origem dos povos camitas (ou caimitas) e semitas, estes últimos se destacam por serem hebreus e árabes e assim compartilham tanto origens culturais como religiosas, mas também haviam arameus e fenícios.  Os filisteus eram um povo que veio do oeste e habitou mais tarde ali. 

Abraão, que era Caldeu, um povo que habitou ao sul do rio Eufrates, era filho de , na linhagem de Sem, vem de seu filho Arfaxade, que gerou Salá, que gerou Héber, que gerou Pelegue, que gerou Réu, que gerou Serugue, que gerou Naor, que gerou Terá, pai de Abrão (só depois será chamado de Abraão devido uma sua descendência).

O pai e o irmão de Abrão falecem na Caldéia, e seu sobrinho Ló que viajará até Canaã, entretanto subindo o rio Eufrates e depois descendo pelo norte do Oriente médio, antes se separam dividindo as terras, ficando Ló com as mais férteis ao oeste e Abrão com as terras do sul.

Os descendentes de Ló ficaram povos conhecidos como Amonitas, devido ao deus Amon, e que são filhos do incesto de Ló com sua filha mais nova, conta a narrativa bíblica que ao saírem de Sodoma é dito que não deveriam olhar para trás e a mulher de Ló olha e se transforma em sal.

Ao leste até o Mediterrâneo fica Abrãao, agora chamado assim por Deus, depois de ter seu Filho Isaac (prometido por Deus) com sua esposa Sara, e Ismael com Agar, sua escrava.

Enquanto Isaac será o “filho da promessa” e através dele nascerão as doze tribos de Israel, no Alcorão pode se ler: “No Alcorão; “Deus deu dons a todos IsmaelEliseuJonas e Lot favor acima das nações”, assim Ismael não é preterido.

De Isaac nasceram os gêmeos Esaú e Jacó, Esaú nasce primeiro, porém através de um disfarce, Jacó se veste de peles de animais, ajudado por sua mãe Rebeca, pois seu irmão era mais peludo e seu pai Isaac estava quase cego, percebe a voz diferente, mas abençoa o filho, na tradição hebreia o filho mais velho, o primogênito, tinha prioridade em liderar a família.

Jacó lutará com um anjo para conseguir a benção divina, antes de um confronto com o irmão, e na narrativa bíblica é aí que ele recebe o nome de Israel, que significa “aquele que lutou com Deus” (todo sufixo el do hebraico significa Deus), os Gabriel (fortaleza de Deus) e Miguel (ninguém como Deus) são duas hipóteses possíveis da luta de Jacó, agora Israel.

Os filhos de Israel formarão as 12 tribos: de Helena: de José (que foi vendido aos egípcios pelos irmãos) ficarão seus netos Benjamin e Manassés, de Lia (primeira esposa): Ruben, Simeão, Judá, Issacar, Zebulom e Levi (que eram sacerdotes e não tinham terras), da escrava Bila: Dã e Naftali, e da escrava Zilpa: Gade e Asser.

Na verdade seriam treze tribos, porém as tribos Benjamim e Manassés, filhos de José, formaram uma só tribo. 

 

Tensão no Oriente Médio

16 out

Apesar de iniciar uma fase crítica (o inverno) a guerra da Ucrânia e Rússia saem do foco, com o aumento da tensão entre Israel e a Palestina que reivindica um território próprio.

Depois de uma incursão ousada e cruel no território israelense, o grupo militar fez vários reféns e Israel respondeu atacando áreas da faixa de Gaza e cortando água e energia do território israelense como forma de pressionar a entrega dos reféns.

A situação humanitária fez que vários organismos internacionais apelassem para Israel permitir a ajuda humanitária, enquanto Israel dá a opção de se deslocarem para o sul onde seria restabelecida o abastecimento de água e energia, dando um prazo curtíssimo e um ultimato.

Há um ponto ao sul onde é possível uma passagem para o Egito, que é o campo de refugiados de Rafah, negociações entre o secretário de Estados dos EUA, Antony Blinken e o presidente do Egito Abdel-Fattah El-Sisi indicam que esta passagem seria aberta para a ajuda humanitária.

Israel se prepara para uma luta em três frente, já que no sul do Líbano houveram ataques de outro grupo antissemita, o Hezbollah e já há tensões e tomadas de pontos de combate com a Síria, também através do Hezbollah.

A tensão maior fica para um possível envolvimento do Irã, que financia estes grupos contra Israel e lideranças do Hamas já foram até o Irã conversar com autoridades do país, entretanto os EUA advertem que uma entrada do Irã na guerra provocaria forte tensão com o Ocidente, já que os EUA enviaram porta aviões.

O envolvimento do mundo árabe pode tornar a crise ainda maior, já há conversas unilaterais.

A Rússia é uma aliada tradicional da Síria, e com uma aproximação militar do Irão pode criar um eixo de aliados com inimigos comuns, o que traça um quadro geopolítico perigoso.

A paz parece distante, e os elementos para uma guerra de consequências trágicas vai se desenhando, mas não deixam de existirem forças localizadas para a paz.

 

Nova frente de guerra e semana perigosa

09 out

Desde que Israel havia desenvolvido um forte esquema de baterias antiaéreas chamado de Domo de Ferro, os ataques com mísseis na região haviam diminuído, porém no final da semana um novo ataque do grupo Hamas aconteceu e mais de 700 pessoas foram mortas, mostrando que há fragilidades neste sistema, Israel respondeu com mísseis no território palestino.

Os militares de Israel foram apanhados de surpresa no sábado (07/10) e apesar de décadas em que o país se tornou uma potência tecnológica com forças armadas mais impressionantes do mundo e uma agência de inteligência de primeira linha, tudo isto simplesmente não funcionou e isto cria uma nova fronte de guerra numa geopolítica já com problemas delicados.

O Hamas tem como forte aliado o Irã, que forneceu drones para a Rússia, e embora tenha desmentido que isto continue ocorrendo, o Irá deseja fazer parte do BRICS e do lado de outra guerra invisível, segundo palavras do Medvedev, o vice-presidente do conselho de Segurança da Rússia e ex-presidente do país, esta guerra está ocorrendo.

Ele se referia a boa safra de grãos de trigo da Rússia, a qual pretende tornar moeda de troca com países aliados, fornecendo inclusive suprimento para países aliados da África que não tem recursos para esta compra de grãos.

A semana é delicada na Ucrânia e Rússia, porque de ambos os lados espera-se um novo ataque surpresa assim como o do Hamas em Israel, do lado Ucraniano os mísseis de longo alcance, e do lado russo a destruição de fontes de energia na Ucrânia que tornaria o inverno que se aproxima cruel com a população e enfraquecimento do exército militar da Ucrânia, que já tem dificuldades com as munições para as regiões de conflito.

Espera-se algo novo no aspecto da paz, não faltam acenos da Rússia, mas sem negociar os territórios já conquistados, enquanto o lado ucraniano quer a posse de volta incluindo a polêmica Criméia, um dos alvos principais na contraofensiva.

Todas as pessoas de boa vontade e que sabem os perigos da guerra desejam algum alento.

 

Porque o mal cresce

05 out

O senso comum é dizer que o mal cresce porque o bem se omite, em parte isto é verdade, pois o mal é ausência do bem, mas esta ausência pode ser por aporia (desconhecimento), pela má educação que forma mentes sem iluminação e por fim por puro orgulho e poder.

O poder é uma forma de legitimar tanto o bem como o mal, isto só é possível pela violência, e a violência generalizada é a guerra, assim esta é a forma mais clara e inequívoca do mal, nela a intolerância, o desprezo pelo diferente, a imposição de ideias e de injustiças é facilitada.

Assim em diversas épocas de nossa história foi por meio da violência que impérios e ditadores impuseram suas vontades e ideologias, não sem o consentimento de boa parte da população, por isso lembramos da má educação, seja através de campanhas de propaganda, seja pela própria escolarização empobrecida e malformada, as duas questões estão ligadas.

É preciso por isto estar atentos a gestão em todos os níveis, desde as nossas casas, bairros e condomínios até as estruturas de poder, pequenas ações ilegítimas, educação para empatia, convivência, limpeza e até mesmo o lazer devem ser observadas e orientadas pelos gestores e órgãos públicos no sentido de preservar o espaço comum e os bens públicos.

O zelo pela honestidade, pela transparência, pelo diálogo respeitoso entre opiniões que não são necessariamente opostos, mas diferentes ainda que em direções completamente divergentes não deve ser motivo de ódio e violência, é sempre possível o diálogo.

O mal precisa da polarização, da radicalização (no mal sentido, há o sentido bom que é ir a raiz de um problema), da pura desavença como forma de justificar e propagar a violência.

Assim como sementes de uma boa árvore, também as ervas daninhas e plantas venenosas tem raízes, cresceram meio a uma plantação saudável e o fato que devem crescer juntas pode ser um equívoco porque poderão sufocar as sementes boas, as pestes e doenças em plantas.

Também a cura destas pestes deve-se tomar cuidados, na agricultura diversos pesticidas já foram condenados, e até plantas resistentes as doenças podem ser questionadas, a mutação genética pode inserir um mal maior que o esperado, há muito diálogo ético a respeito.

Assim três cuidados devem ser considerados: a educação ética de valorizar o que é bom, o zelo para que o erro e a maldade não se propaguem e finalmente os métodos de correção devem ter o cuidado de não realizarem um mal ainda maior.

 

As religiões e o mal

04 out

Um dos grandes equívocos, já desenvolvidos em alguns dos posts, é a dualidade maniqueísta mal x bem, sem entender que o mal é justamente a ausência do bem, grande pensador cristão, Agostinho de Hipona se converteu justamente abandonando o maniqueísmo.

Conceito religiosos há muito esquecidos, ou que ficam submersos em pregações equivocadas impedem aquilo que seria o “fluxo natural da humanidade em direção a iluminação da alma”, o mal tem fontes arraigadas em forma de pensamentos antigos e cargas emocionais do passado e, apesar de obsoletas, ainda persistem impedindo o progresso das almas.

O remédio seria muito simples, quanto mais próxima da iluminação da alma menos o mal está presente, e mais almas iluminadas torna o mundo mais empático, harmônico e sem injustiças.

A ética e a moral que deriva da necessidade de progresso civilizatório não encontra espaço se não houveram almas e pessoas em posições de destaque com iluminação clara e convincente, é por isto que o mal tornou-se uma questão social, teológica ou ideológica, e as vezes ambas.

Não são só pensadores cristãos que afirmam isto, Hannah Arendt fala da Banalidade do Mal, Nietzsche da “morte de Deus” (ou como “matamos” Ele, claro impossível), Paul Ricoeur e Lévinas sobre o Outro e Byung Chul Han sobre na “Sociedade do cansaço” fala da vita contemplativa em complemento da vita activa (das quais Hanna Arendt também falou), lembrando inclusive pensadores cristãos.

A volta de ameaças de uma guerra, a crise social de valores morais (tudo é permitido!), antes que uma verdadeira crise civilizatória aconteça é necessária uma nova iluminação das almas (no quadro (na pintura: São Francisco expulsando demônios de Arezzo*, de Benozzo Gozzoli).

A ausência de compreensão da subjetividade e do imaginário humano, ou sua submissão a valores pouco iluminados, a ausência de compaixão com os semelhantes, a incompreensão do progresso como tendo aspectos positivos fundamentais, até mesmo para salvar o processo civilizatório, leva a sociedade a exaustão, a descrença ou a fatalidade de guerras e ódios.

Não é difícil encontrar em jornais e mídias sociais encontrar posições favoráveis ao processo de exclusão de pessoas de determinada opinião, religião ou mesmo simples discordância de valores morais duvidosos (veja o caso do aborto no Brasil nesse momento), os debates são estéreis e ao invés de argumentos as reações são de sarcasmo e ironia.

São sementes do processo mais amplo de crise civilizatória em andamento e detectada por grandes pensadores desde o século passado, creditá-las as novas mídias, ao ressurgimento de nacionalismos e correntes autoritárias é olhar apenas a consequência, a raiz é a ausência de alma iluminadas que ajudem a humanidade a contemplar seu futuro com maior grandeza.

*  Quando Francisco foi a Arezzo, havia o maior escândalo e uma guerra quase na cidade inteira, de dia e de noite, por causa de duas facções que havia muito tempo se odiavam.