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O ser em sua autenticidade
A incursão de Heidegger sobre o que é a vida social, é que ela é regida por uma noção obscura do que seja convivência, onde não há sujeitos e sim um império do impessoal, do império que a tradução para o português fica muito boa, império do “a gente”, é uma sociabilidade truncada, não é apenas o individualismo, mas um lugar onde nem o eu nem o nós se distinguem.
Este espaço individual é aquele que tudo nivela por baixo, uma perda do Dasein no espaço aberto da “opinião pública” (Öffentlichkeit]), uma sociabilidade truncada, até o nós não inclui o Outro.
Neste estar aí do Dasein em que medida ele lida com outras pessoas do seu meio ambiente cotidiano, para isto Heidegger dá um passo na determinação da analítica existencial, que é responder como o mundo se abre para o Dasein, independente se seja o mundo de coisas ou de homens, isto pode ser compreendido por como ele vê a abertura para o mundo.
A vê como como uma abertura primeira e fundamental de modo triplo: a disposição, a compreensão e a interpretação, entendendo que isto o torna envolvido com o mundo.
Então primeiro o ser humano é tomado por estados da alma que abrem para ele irrefletidamente o mundo, geralmente por meio de um certo desvio, uma disposição, compreende o mundo não como uma teoria ou conceitos, mas como o próprio Dasein está com-preendido numa situação.
Assim a disposição torna-se compreensão, mas não é o homem que compreende o mundo e sim o mundo compreende o homem de modo totalizante, onde o ser humano inteiro é compreendido e isto o remete ao conceito de projeto (Entwurf) num sentido essencial: ele é projetado no mundo.
Este projeto dá ao homem possibilidade de interpretação, e só então consegue traduzir o mundo no discurso e na linguagem, tendo em vista que a proposição e o enunciado sempre implicam em um momento posterior na existência do Dasein.
São estas aberturas ao mundo no discurso e na linguagem, porém que devem levar em conta a proposição e enunciado como implicando um momento, sempre posterior, na existência do Dasein, porém a tendência de encobrimento no Dasein é sempre forte para que se torne livre.
Este traço fundamental de encobrimento e de fuga de si mesmo se fazer valer e determinar o ser-no-mundo do ser-aí (Heidegger, 1989) põe a questão sobre a possibilidade do ser-aí sair de sua inautenticidade.
HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá Cavalcanti. Petrópolis: Vozes, 1989
De que humanismo falamos
É comum estabelecer uma conexão entre os estudos de ontologia e a questão da existência, o filósofo Paul Sartre o fez, porém nem a tradição ontológica da escolástica, nem Heidegger fazem esta conexão, este último ressaltou: “O enunciado principal do existencialismo não tem nada em comum com aquele enunciado de Ser e tempo” (HEIDEGGER, 1996a, p. 329).
Em sua Carta sobre o humanismo, de 1947, Heidegger vai afirmar que o que distingue o homem é a sua relação com o ser e o modo como ele resguarda o ser, e não na medida em que é definido como um ser dotado de razão, e ele próprio critica esse humanismo, pois para ele o que há é um esquecimento do ser, que é diagnosticado em toda tradição filosófica ocidental, começando em Platão e se estendendo até Nietzsche, com todas suas injunções políticas e epistemológicas.
O tema do ser caracterizado no pensamento ocidental que tem raízes incipientes nos pré-socráticos, são já que são anteriores a “episteme”, é novamente retomado a partir de Heidegger como uma “ontologia fundamental”, isto é, com a possibilidade de questionar o ser em sua essência, e como este questionamento o humanismo de todo homem, assim a essência é coexistente com o ser.
É preciso enquanto se discute a ontologia, entende que o Dasein, o ser-aí de Heidegger, está preocupado em examinar como se dá a primeira, a original compreensão do homem em sua essência mesma, até mesmo antes do momento de formular uma teoria ou de ter consciência, a teoria chegar num momento posterior e a consciência de dá após a abertura do homem ao Ser.
Para entender o que Heidegger caracteriza como existência pode-se ler: Que é metafísica? (1929), onde se lê: “A palavra existência designa um modo de ser e, sem dúvida, do ser daquele ente que está aberto para a abertura do ser, na qual se situa, enquanto a sustenta” (Heidegger, 1989b, p.59).
Deste modo o objetivo da ontologia fundamental de Ser e Tempo é o ser que que se colocado como ente privilegiado e que é capaz de questionar o ser, que possui compreensão do ser [Seinsverständni], e este ente é o homem, e a partir dele que pensamento o humanismo.
É certo que há uma crítica de Peter Sloterdijk em “Regras para o parque humano: uma resposta a cartas sobre o humanismo”, que questiona o antropocentrismo, nossa relação com a natureza.
Heidegger, M. Ser e Tempo Tradução de Márcia de Sá Cavalcanti. Petrópolis: Vozes, 1989a.
______. Que é metafisica? Tradução de Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1989b. (coleção Os Pensadores).
Ação sem conexão, a vida “activa”
Ao criticar a “Sociedade do cansaço”, do eficientismo que Byung Chul Han retoma em seu ultimo livro, no post seguinte comentaremos, ambos apontam o dedo para o activismo, ou a palavra que Sloterdijk gosta: “agitacionismo”.
A noção de praxis que Sloterdijk defende não é a noção de praxis como um agir que considera o mito central da modernidade – o “agitacionismo”, que é, no fundo, apenas uma inversão da poesis e da teoria –, mas como um “deixar-fluir”, um tipo de contemplação activa.
Desmistificar esta noção de praxis como correlativo necessário da razão-acção, a filosofia prática teria de tomar consciência de que se deixou iludir pelo mito da acção e de que a sua aliança com o constructivismo e o activismo a impediu de se dar conta de que o conceito mais elevado do comportamento não é a acção, mas o deixar-acontecer, o ser capaz de largar as coisas que passam por si e que agem através de si, para ser mais fiel as palavras do autor.
Para entender o que ele quer dizer com Critica da Razão Cinica, uma de suas obras mais hermética, ele diferencia o cinismo clássico do moderno, que vem da origem do trmo grêmio “kŷőn“, do cinismo moderno que se tornou uma “falsa consciência iluminada”.
O iluminismo pressupunha que se vivia nas trevas onde se praticava o mal, mas que este mal seria fruto da ignorância, assim sua tentativa de iluminar aqueles desprovidos da luz da razão, mas isto criou uma “falsa consciência”, uma visão deturpada da realidade,
O iluminismo pressupunha as trevas onde se praticava o mal, que era tido como o fruto da ignorância. A crítica tentava iluminar os antros desprovidos da luz da razão. Daí o conceito básico de ideologia como “falsa consciência”, como uma visão deturpada, e por isso, falsa, da realidade, e para que não se pense que isto é só filosofia, também o pensador “engajado” Slovoj Zizek, vai dizer que ela está inscrita nas próprias coisas.
De modo diferente era o que também propunha Husserl, do qual é herdeiro toda a afiliação da fenomenologia moderno, voltar a consciência das coisas mesmas.
O cinismo moderno, também se tornou uma forma de ideologia no qual uma máscara continua a se transformar em ação construindo grandes teorias que tanto “no sentido figurado” como “no sentido literal agem como se não soubesse ou desconhecessem a realidade, tudo é narrativa só para usar a palavra atual.
Daí a crítica da razão cínica defender um procedimento crítico-ideológico-clássico que tornou-se obsoleto, sendo que esta crítica agora contraponha uma leveza de humor ao excedo de teoria.
Dirá o autor: “[…] O grande pensamento da Antiguidade tem a sua raiz na experiência de serenidade entusiasmada, quando, no auge do ter-pensado, o pensador se põe de lado, deixando-se penetrar pela ´revelação´ da verdade”, é bem próximo do distanciamento proposto por alguns autores “activos” porém com as diferenças da serenidade “entusiasmada” e da vista do “Ser”.
Esta visão é a que na antiguidade se tinha do cosmos, diz o autor: “baseia-se para os Antigos em “passividade cósmica” e na observação de que o pensamento radical pode recuperar o seu inevitável atraso em relação ao mundo dado podendo, em virtude da sua experiência do ser, atingir o mesmo nível que o “todo.”
SLOTERIJK, P. Crítica da razão Cínica, trad. Marco Casanova. BR, São Paulo: Estação Liberdade, 2012.
A trindade na perspectiva antropotécnica
Toda a filosofia de Sloterdijk deve ser precedida de uma boa leitura de Heidegger, tentando simplificar o que é per-si impossível, explicamos a categoria “ser-em” que será bastante utilizada no seu discurso sobre a relação trinitária, de onde desvela a “cossubjetividade imbricada da díade Deus-alma” (Sloterdijk, p. 490), onde o “surrealismo teológico oculta-se, como mostraremos, o primeiro realismo das esferas” (idem).
Sloterdijk não usa epígrafes apenas para decorar o texto, no capítulo 8 “mais perto de mim que eu mesmo: propedêutica teológica para a teoria do interior comum”, na epígrafe explica: “… quer dizer ´ser-em´[In-sein] ?… Ser-em … significa uma constituição ontológica da existência (Dasein)” citando o § 12 de Ser e Tempo de Heidegger.
Esclarece na outra citação da epígrafe que “talvez o Em seja o reino pressentido de toda a vida (de toda moral) de Deus”, citando Robert Musil no seu livro “O homem sem qualidades”, que o é hoje o homem moderno.
Antes de penetrar na questão da trindade, explica que o amor humano “não existe de maneira nenhuma antes de se produzir” … “na perspectiva da modernidade individualista – duas solidões que se desenraizam pelo encontro” (pag. 491), e irá retornar a incidente do paraíso perdido perguntando se não foi ele “um doloroso fosso de estranhamento?” (idem).
Foi Agostinho, esclarece nas “Confissões” que levou “a dialética do reconhecimento a partir do desconhecimento” (pg. 492), em sua “obra-mestra críptica” De trinitate (em particular os livros VIII e XIV) “que tratam da acessibilidade de Deus através dos traços deixados no interior da Alma” (p. 493), e embora trace suas contradições com o discurso teológico, afirma “ele pode ser considerado como o grande lógico da intimidade da teologia ocidental” (idem).
A longa análise que vai da página 494 até a 524 em que penetra nas contradições do discurso religioso, passando por citações bíblicas, Nicolau de Cusa, o duque João da Baviera, um Cardeal erudito e não autorizado na literatura da tradição cristã, chega a um veredito final, este sim importante, que é como o dualismo platônico provocou “efeitos secundários … em doutrinas deste tipo [que] rompem também o sentido de ser-em” (pg. 524).
Ilustrada com a pintura de Juan Carrero de Miranda “A fundação da Orden da Trindade” (óleo de 1666), o autor passa a fazer a repartição “topográfica dos Três no Um”, destaca no quadro a “quase-quaternidade clássica abrange a Trindade e o Universo” (destacamos com um pequeno círculo vermelho), seria bom que a fizesse.
Dentro de sua esferologia, Sloterdijk explica que “ecos característicos da filosofia da natureza, mesmo que se trata há muito tempo, da coabitação de entidades espirituais”, assim estamos mais próximos de outras cosmovisões “animistas” do que imaginamos, numa teológica dualista.
Analisando o discurso do Pseudo-Dionísio Aeropagita, esclarece que “o páthos da diferença dos diferentesno interior do Um já era conhecido do neoplatonismo, e a “justificação mútua dos princípios das pessoas da Trindade” (pag. 130) se beneficiará dele.
Conhece bem a pericorese dos padres capadócios (São Gregório de Nissa, São Basílio e São Gergório de Nazianzeno) (pag. 540-541) além de Agostinho usado fartamente, não deixa de citar João Damasceno (pag. 538, 544-546) e cita Tomás de Aquino.
SLOTERDIJK, P. Esferas I: Bolhas, trad. José Oscar de Almeida Marques, São Paulo: Estação Liberdade, 2016.
O pensamento trinitário em autores não cristãos
Compreender o mistério de serem três pessoas, mas um só Deus, é claro que seja penetra na mística cristã em sua profundidade, porém se imaginamos que aí pode estar a chave da relação humana onde duas pessoas se põe numa relação simétrica, isto é, de respeito e amor mútuo, um é indissociável do outro, pode-se entender que é possível um autor não cristão entender a questão.
Percorreremos três autores, Giorgio Agamben, Peter Sloterdijk (em conjunto com seu discípulo Byung Chul Han) ambos não cristãos e como não poderia deixar de ser um cristão, Piero Coda, que nos introduz de uma forma nova neste mistério, típico de um carisma do século 20, que propõe a unidade da família humana, aquilo que parece difícil e de certa forma trágico (o próprio autor o afirma), é na verdade uma abertura teológica nova.
Para compreender Agamben, é preciso entender que parte de uma hipótese bastante interessante, mas ao nosso ver não suficiente, que a história da cultura ocidental resulta de um paradigma resultante da teologia cristã, que vê a história contínua de separações e cruzamentos entre esses dois paradigmas: o político e econômico, formando um sistema bipolar.
Isto está descrito em duas obras suas: “Estado de exceção” (2003), que de fato sempre ronda o ocidente entre auctoritas e potestas* e, na obra O reino e a Glória (2011), que pode assumir a fórmula: Reino, Gloria e Oikonomia. (*em sentido oposto, o legítimo e o poder).
Porque a obra de Agamben de fato é válida, porque a Oikonomia, que tem sua origem na antiguidade clássica, que significa organização da casa pode e seria até interessante que de fato fosse a “organização” dos bens domésticos, porém a própria origem grega significa já não-cristã.
Onde é que elas se confundem, no grego, oikos (casa) e nomos (lei, regra, norma), foram usadas por Xenofonte e Aristóteles (na Grécia Antiga politeísta) este termo designava o “o conjuntos de preceitos que regem, ou devem reger, a atividade do ‘senhor da casa’ na obtenção dos recursos necessários à vida da família”, e na teologia cristã todos sendo irmãos, estamos na mesma “casa”, mas para aí, pois o argumento que Agamben usará do monoteísmo não é válido para os gregos.
Embora Agamben compreenda que no livro L da Metafísica de Aristóteles já está marcadamente presente a distinção entre Reino e governo, mesmo livro que outro crítico do monoteísmo Erick Peterson escreveu contra a teologia política.
Deus aparece ali como o motor imóvel de todas as coisas que significaria em última instância uma “categoria” cristã, que de fato poderia ser para alguns autores, mas certamente não é o Deus cristão, há nEle um rico movimento chamado pericorése.
Porém este não é o Deus cristão, não há uma interpretação trinitária de fato em Agamben, mas uma adaptação da visão Aristotélica, dualista, o ser é e o não ser não é, para a visão do trinitário.
A grande contribuição de Agamben está na sua obra magna: Homo sacer: o poder soberano e a vida nua, onde aborda o conceito de vida nua, como aquela que se encontra em uma zona cinzenta da vida política, entre o zoé e bíos, o conceito de homem como animal político de Aristóteles explicado, aprofundado e atualizado.
AGAMBEN, Giorgio, Homo sacer. O poder soberano e a vida nua I. Trad.: Henrique Burigo. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
Idealismo e sua religião
Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar toda a essência do divino na vala comum do Idealismo.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, não há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não do objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, resulta em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos e então está ligado sempre.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar todo a essência do divino na vala comum do Ideal.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, n]ao há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não do objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, resulta em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar toda a essência do divino na vala comum do Idealismo abstrato.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, n]ao há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não da relação com o objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, que no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, já para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno e sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, que resultam em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos e então está ligado sempre.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar todo a essência do divino na vala comum do Ideal.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, n]ao há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não do objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, resulta em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.
O cosmos e a ira divina
O modelo de universo racional/idealista era de um cosmos funcionando como um relógio, a realidade e o cosmos se mostraram além da ideia dos modernos (o eidos grego é outra coisa), se mostrou como um modelo quântico onde existe um terceiro incluído (modelo de Barsarab/Lupasco) e no qual o tempo e o espaço não são mais absolutos e matéria é energia.
Assim o antigo modelo de harmonia foi modificado pela física atual, chamada de Física do Modelo Padrão que a partir da física das partículas desenvolveu um modelo unificado para as forças que atuam sobre a matéria, e inclui as forças fundamentais forte, fraca e eletromagnética e gravitacional unificando-as a teoria quântica dos campos, a mecânica quântica e da relatividade especial.
A recente descoberta da Bóson de Higgs, incorretamente nomeada partícula de Deus supondo que ela seria responsável pela atribuição da matéria aos corpos, este modelo explicou a atração magnética dos planetas, a luz e os diversas formas e dividiu a matéria em muitas partículas.
Após a criação o universo e sua expansão determinadas leis desenvolveram corpos, planetas e sistemas planetários em formação e ocaso, estudos atuais mostram o desenvolvimento das estrelas vem de gás interestelar e poeira cósmica e hidrogênio que a baixas temperaturas entram em colapso e formam moléculas que dão origem a protoestrelas, estas sob pressão e rotação formam as estrelas.
Além do nosso conhecimento este universo em expansão age de forma muitas vezes surpreendente e hoje sabemos que não apenas aquilo que ocorre no planeta tem influência interiores como também exteriores, as explosões solares e a aproximação de corpos celestes por exemplo, enfim somos um minúsculo grão de areia num universo muito mais complexo e errante.
Todo este corpo celeste age com sua harmonia própria e não necessariamente como são pensadas as leis atuais que conhecemos então sempre é possível uma surpresa, por exemplo, hoje se procura o nono planeta (Plutão foi rebaixado para planeta anão) que teria uma órbita externa ao nosso sistema planetário e estaria agora em aproximação do sistema, afetando por exemplo o Cinturão de Kuiper, e teria uma orbita de translação de 14 mil anos e existiriam outros corpos externos do Sistema Solar.
Dentro desta nova lógica do universo, movimentos aorgicos (do inorgânico sobre a vida orgânica) não apenas é possível como facilmente explicável, o ambiente em torno da biosfera é um organismo vivo e este está dentro de um universo mais amplo e sujeito as suas leis.
Aquilo que acontece na esfera humana também tem seus equilíbrios instáveis e desequilíbrios, assim não se podem mais pensar em tudo como uma “harmonia”, no sentido cartesiano, e sim como aquilo que tende a favorecer ao funcionamento do universo como um todo e para o qual as forças tendem a empurrar perante suas próprias leis e determinações aos olhos humanos podem ser a ira divina, ou a “perfeita harmonia divina”, porém diferente daquela explicada como movimento preciso de relógio.
A carta de Paulo aos Corintios (Cor 1,1, 22-25) dizia que os gregos pediam sabedoria e os judeus sinais, mas que para Deus isto era insensatez humana, o universo esconde o amor e a ira divina.
A noosfera: da matéria primária ao pensamento
Teilhard Chardin descreve assim a complexificação a partir dos primeiros desenvolvimentos da vida, a passagem crítica da vida das células para uma vida ultracomplexa:
“Provavelmente jamais descobriremos (a não ser que, por sorte, a ciência de amanhã consiga reproduzir o fenômeno no laboratório) – a História por si só, em todo o caso, jamais descobrirá diretamente os vestígios materiais desta emersão – aparição – do microscópico para fora do molecular; do orgânico para fora do químico, do vivo para fora do pré-vivo.” (Chardin, 1965, p. 63)
Embora possa parecer que a natureza teria feito esta preparação sozinha, chama a atenção a originalidade essencial da célula produzindo algo inteiramente novo, e compondo uma multiplicidade orgânica num mínimo espaço, embora o processo possa ter levado anos, cada célula foi longamente prepara para ser algo original.
Será através de discretas, mas decisivas mutações que ocorreram durante milhares e milhões de anos, que a complexidade de células e seres vivos foram se formando sendo possível perceber “os irresistíveis desenvolvimentos que se ocultam nas mais frouxas lentidões, a extrema agitação que se dissimula sob o véu de repouso, o inteiramente novo que se insinua no íntimo da repetição monótona das mesmas coisas” (Chardin, 1965, p. 8).
Foi pela complexificação da vida que surgiu o humano, na origem Deus o fez de matérias inorgânicas, metaforicamente a Bíblia diz do barro, porém é certo que o universo nasceu antes.
Assim o mundo da physis (Chardin vê sua física no sentido grego da palavra) estaria ligada a biologia, e pensa:
“Poderíamos hesitar um só momento em reconhecer o parentesco evidente que liga, na sua composição e nos seus aspectos, o mundo dos proto-vivos ao mundo da física-química ? Quer dizer, não estaremos ainda, neste primeiro escalão da vida, senão no âmago, pelo menos na própria orla da ´matéria´?” (Chardin, 1965, p. 66)
Ao nascimento da vida humana, após bilhões de anos depois da formação do universo, uma grande e decisiva mutação ocorrerá, o nascimento do pensamento e da consciência, e do que Chardin chama de interiorização, que em termos religiosos significa a alma individual que é também ligada ao coletivo, o princípio da associação desde as primeiras células.
Ao pensamento e à consciência desenvolve-se a noção de pessoa, esta experiência foi dada graças ao desenvolvimento cerebral do homem, e aos desenvolvimentos do que Chardin chama de Noosfera, a última etapa depois da Biosfera, a criação e desenvolvimento da vida.
Desenvolver e explicar a cosmogênese chardaniana é um longo processo que nem mesmo em vida ele desenvolveu completamente, muitos avanços da astrofísica atual (muitas descobertas tentam explicar a origem da vida) ajudam a compreensão, o que importa é ressaltar que o panorama de evolução do próprio cosmos, não apenas a Terra, está ligado ao desenvolvimento da consciência e da capacidade humana de ligar-se a harmonia da vida.
CHARDIN, T. O fenômeno humano. BR, São Paulo : Herder, 1965.
A primeira mutação aórgica
Como se originou exatamente a vida é ainda uma especulação, uma das teorias mais elaboradas foi feita por Lynn Margulis (1938-2011) primeira esposa de Carl Sagan famoso pela série Cosmos, a teoria dela chamada de Endossimbióse.
Nesta teoria as mitocôndrias e cloroplastos tornam-se organelos em uma célula, os primeiros por energia química e o segundo por fotossíntese, embora a teoria nunca foi comprovada em laboratório é interessante, Teilhard Chardin as chamava de “cadeia de moléculas carbonadas” (O fenômeno humano) e ATP (adenosina trifosfato) molécula transportadora de energia nos seres vivos, há outras teorias é claro.
Fundamentalistas de plantão fiquem calmos, também no Genesis da Bíblia está que Deus fez o homem do barro e depois soprou-lhe nas narinas, assim também a vida surgiu em determinado momento (Genesis 2,7), e o texto anterior diz que “mas subia da terra um vapor que regava toda a terra” (Gn 2,6), esse vapor bem que podia ser o CO2.
Talvez nunca saibamos exatamente como isto aconteceu, porém é certo que a Terra e a Natureza vieram antes que os organismos vivos e certamente depois deles (ou da maioria deles) apareceu o homem, porém a mutação aórgica não parou ai.
As mutações gênicas, embora raras podem acontecer, elas podem fazer surgir novos genes numa determinada população, por mecanismos de adaptação natural, se determinadas características forem favoráveis à sobrevivência e à reprodução em determinado ambiente, portanto se o ambiente muda as mutações podem tornar-se estáveis no novo ambiente.
A terra passou por diversas mudanças ambientais, e talvez a que estamos passando seja a que mais profundamente afeta a estabilidade do meio ambiente, pássaros e animais foram extintos e florestas e ambientes naturais devastados, assim é de se esperar que alguma mutação ocorra, porém será o ambiente o primeiro a mudar e reagir, assim fenômenos naturais podem ocorrer.
Isto levam muitos anos para ocorrer, mas de repente rompem-se numa cadeia de mutações, assim a descreve Teilhard Chardin: “os irresistíveis desenvolvimentos que se ocultam nas mais frouxas lentidões, – a extrema agitação que se dissimula sob um véu de repouso, – o inteiramente novo que se insinua no íntimo da repetição monótona das mesmas coisas” (Chardin, 1965, p. 8).
Em tempos de riscos pandêmicos, olhar ao universo da cosmogênese que vivemos é essencial.
CHARDIN, T. O fenômeno humano. BR, São Paulo : Herder, 1965.
Nomeando elefantes (ou bois) e visão de mundo
Falecido em fevereiro do ano passado, o americano e filósofo cristão James W. Sire (1933-2018) fez uma ampla pesquisa por trás da questão da visão de mundo, disse que levou 30 anos, publicado em 2004, provavelmente começou a se debruçar sobre o tema em 1974.
Também sua visão de mundo deve ser relida, quero dizer que de 1974 a 2004 o mundo passou por transformações que ele não aprofundou, a queda do Muro de Berlim, o fim da guerra fria que parece agora renascer, a queda de ditaduras que parecem voltar em todo o planeta e mais recentemente ainda a pandemia.
Não li o livro, mas um de seus capítulos que encontrei na Web e também alguns de seus comentaristas que me ajudaram a formular uma ideia, ainda que imprecisa, do seu principal livro “Nomeando elefantes: visão de mundo como um conceito” (Naming the Elephant: Worldview as a Concept, editora IVP Academic), e o capítulo que referencio é o Definições de Cosmovisão: de Dilthey a Naugle, que já no título é sugestivo de algum idealismo o que o texto confirma logo no início, está disponível no google Books, sendo leitor de Dilthey está ao meu ver no fio da questão.
Diz no início do capítulo 2 que a origem do termo Weltanschauung teve origem com Kant (1724-1804) (pasmem! idealistas), “mas somente de passagem”, e cita textualmente Dilthey: “to denote a set of beliefs that underlie and shape all human thought and action” (Sire, 2004, p. 23), em tradução livre: denotam um conjunto de crenças que sustentam e moldam todo o pensamento e ação humanas, elas estão no cerne do que desejo analisar.
Embora apropriada a análise, talvez a mais completa sobre o termo, falta a leitura de Heidegger que atualizou e desenvolveu o tema num sentido mais amplo que o de Kant e Dilthey, e Hans Georg Gadamer irá criticar justamente a concepção de Dilthey como idealista.
Para fazer o caminho do conceito de Weltanschauung cita Nietszche, Wittgenstein, com digressões a Platão e Descartes, Foucault e até Rorthy de passagem, e ai começa a discorrer sobre autores cristãos evangélicos (reformados é o nome no exterior), James Orr, Abraham Kuyper, Herman Dooyeweerd, Ronald Nash até chegar ao que chama de nova síntese que seria David Naugle, entretanto, jamais foge do idealismo, diz passar da ontologia a hermenêutica (não seria o contrário) e diz que esta visão sintética é caracterizada por um “sistema semiótico de signos narrativos” (Sire, 2004, pag. 42) citando Naugle do qual fez tal síntese.
Entretanto a verdadeira síntese escondida atrás do texto, de clara visão nominalista veja-se a ideia de sistema semiótico, se revela ao citar o texto bíblico “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim, referindo-se a passagem bíblica de Jo 14:1, pois ignora em seguida o texto que diz: “na casa de meu pai há muitas moradas”.
A ideia de signos, mitos e símbolos embutidos em narrativas que representam uma visão de mundo não é desprezível, e é mesmo importante, entretanto qualquer visão que se prenda unicamente a narrativa não faz o trabalho de retirar a visão antropológica e a real visão “histórica” do acontecido, sendo a visão do historicista de Dilthey idealista e irreal.
Há outra passagem mais significativa, a chamada volta do filho pródigo (Lc 15,10:32), que alguns autores e exegetas idealistas não gostam do nome, procurando idolatrar o filho mais velho que ficou em casa com o pai, sendo este mais conservador portanto, mas também o filho pródigo teu seu defeito, foi ao mundo fazer experiências, o fato que retornou é louvável, mas que visão de mundo ele trouxe de seu desvio, na verdade o pai de ambos é que é o misericordioso com os filhos conservador e rebelde.
É preciso recuperar esta visão de verdadeira misericórdia, e as leis dizem mais ainda: “pedi e vos será dado” (Mt 7,7) e porque parece que Deus não nos atende, é simples algo a ser corrigido.
Sire, J. W.Naming the Elephant: Worldview as a Concept, editora IVP Ademic, EUA: Illinois, 2004.