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Arquivo para a ‘Virtual’ Categoria

A ascensão humana e divina

27 mai

Muitos são os exercícios e as formas que prometem ascese, formas de manter as energias físicas e mentais são úteis e importantes, porém a ascensão espiritual que é fonte de uma ascese verdadeira requer um treino moral, ético, pessoal e coletivo que nos coloque em um círculo virtuoso.

Ao criticar a sociedade moderna, como sociedade do cansaço, Byung-Chul Han lembra que a vida ativa deve ser complementada com uma vida contemplativa, que não significa ficar olhando para o infinito ou para o céu, é a meditação e o exercício coletivo de incluir o Outro, saber escutar a partir de um vazio interior, ou como pensa a filosofia um epoché fenomenológico.

Introduz a contemplação como: “Se o sono perfaz o ponto alto do descanso físico, o tédio profundo constitui o ponto alto do descanso espiritual. Pura inquietação não gera nada de novo” (HAN,2015) e depois a define como: ”A dúvida moderna cartesiana dissolve o espanto. A capacidade contemplativa não está necessariamente ligada ao ser imperecível. Justamente o oscilante, o inaparente ou o fugidio só se abrem a uma atenção profunda, contemplativa” (idem), portanto não é um exercício racional, mas um “espanto”.

Dizemos que é fenomenológico pelo que segue a definição: “No estado contemplativo, de certo modo, saímos de nós mesmos, mergulhando nas coisas”, isso lembra Husserl “volta as coisas mesmas” sem predefinições ou pré-conceitos, um verdadeiro epoché.

Depois do espanto o repouso: “Sem esse recolhimento contemplativo, o olhar perambula inquieto de cá para lá e não traz nada a se manifestar. Mas a arte é uma “ação expressiva” (Ibidem), e sem ele nossa civilização, afirma citando Nietzsche: “Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto”.

Esta inquietação prova as guerras, as disputas políticas mais atrozes, a zombaria em vez do diálogo e a análise atenta das propostas e necessidades sociais, não há “repouso” para que isto seja feito.

A ascensão divina, depois da ascese cristã que chega a paixão e morte, nossa civilização parece passar por isto como um todo, aparecem anjos que perguntam aos discípulos que ficam olhando para o céu (Atos 1, 10-11): “… continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”, pararam um instante antes do “espanto” e do “repouso”.

A barbárie da pandemia, da guerra e uma escassez de alimentos que se anuncia exige “espanto”, aceitar que o mistério existe e o universo teve uma origem.

HAN, B.-C. A Sociedade do Cansaço (Burnout Society). Brazil, Petrópolis: Vozes, 2015. (pdf)

 

O Ser e a escuta na hermenêutica  

06 mai

Qualquer pessoa que tenha audição pode ouvir, porém é cada vez menos comum escutar com atenção o Outro, isto depende da concepção de Ser que intuitivamente temos, que em termos mais genéricos significam escutar com a alma e o coração aquilo que está sendo dito.

Toda a perspectiva da filosofia hermenêutica vai neste sentido e não por acaso tem como referência a obra Ser e Tempo de Heidegger, que entre outras coisas identifica a linguagem como “casa do ser”, assim escutar é ouvir com atenção o Outro, ou no caso da hermenêutica: o texto.

Esta desenvolvimento quando se trata de uma interpretação de texto (mas pode ser usado de modo mais amplo também para a comunicação oral) está expresso como círculo hermenêutico e foi mais completamente explicitado por Gadamer em sua obra “Verdade e método”.

Entre as etapas de “diálogo” hermenêutico está o reconhecimento de pré-conceitos, não no sentido negativo que é empregado no dia a dia, mas no sentido que temos um conjunto de conceitos pré-estabelecidos quando iniciamos uma leitura ou uma conversa, a leitura é uma escuta do autor pelo leitor.

A imediatez e os círculos viciosos das novas mídias impedem esta circulação e aceleram o processo que é chamado de “enxame” por Byung-Chull Han ou por “efeito manada” em diversos autores que não falam especificamente das novas mídias, mas de perigos decorrentes de processos como a guerra e o negacionismo diante de uma Pandemia ou perigos de contaminações diversos.

Na perspectiva bíblica isto significa “minhas escutam minha voz e me seguem” (Jo 10,27), no sentido atual é exatamente a leitura e interpretação de um texto, e a metodologia hermenêutica se aplica a isto, inclusive foi usada em seu início por Scheiermacher, mesmo antes de Husserl.

No caso bíblico é preciso atentar para a parte final do texto (Jo, 10, 29) onde se lê que o Pai (Deus) é que vai arrebata-las e “ninguém vai arrebata-las da mão do Pai”, neste sentido escutar é também ouvir o Espírito Santo através do qual entendemos melhor decisões e caminhos adotados.

 

Haverá humanismo depois da barbárie ?

17 mar

Guerras, peste (pandemia) e fome (crise na economia e no abastecimento) tudo parece indicar um caos eminente, e no cansaço as pessoas querem voltar a rotina (o antigo normal) e retomar a vida.

É preciso, entretanto, cuidado, rever o modo de viver, na verdade a verdadeira “Sociedade do cansaço” que vivíamos antes da Pandemia, tratar os problemas que emergem e não ceder ao ódio.

É o ódio, as guerras e a pouca preocupação com a vida que alimenta aqueles que perderam uma verdadeira perspectiva humanista, o poder autoritário, a força e o desrespeito a vida não é humano, nem significa de fato uma “normalidade”.

Atenas sobreviveu a guerra narrada na Ilíada e Odisseia de Homero, provavelmente parte é mítica, e esta era uma importante linguagem da época, mas o poderio dos persas não prevaleceu, a pequena Atenas unida aos guerreiros de Esparta venceram e foram eles que deram origem a civilização ocidental (figura), não por acaso chamado de período helenístico, já Páris, príncipe troiano desejava a Helena, filha de Zeus e rainha de Esparta, e este seria o motivo da guerra.

Sobrevivemos a peste negra e a gripe espanhola, é verdade não sem muita morte e em meio a guerras, porém a humanidade encontrou seu caminho, aliás justamente foi o humanismo da renascença que deu origem a modernidade, hoje em crise junto com a civilização ocidental.

Há o perigo nuclear e sem dúvida ameaça todo planeta, não é apenas a Ucrânia e sim toda uma civilização em cheque, e as únicas alternativas parecem ser a guerra total, mas sobreviveremos.

Mais do que as resoluções tomadas em meio a conflitos que deram origem a duas guerras, agora é preciso apresentar uma nova civilização, um novo humanismo capaz de agregar a família humana e ultrapassar o antropocentrismo e respeitar a diversidade, como diz Morin em buscado do “O Paradigma perdido: a natureza humana”.

Mahatma Ghandi, líder hindu que levou pacificamente a liberdade na Índia do império britânico, disse sobre os 7 pecados causas da injustiça social: “Os sete pecados são: riqueza sem trabalho; prazeres sem escrúpulos; conhecimento sem sabedoria; comércio sem moral; política sem idealismo; religião sem sacrifício e ciência sem humanismo”.

A humanidade sempre encontrou veredas em meio a eminente barbárie, encontrará agora também, nem todos cederam ao ódio, à indiferença e ao poder sem escrúpulos.

 

Do apenas humano ao sobrenatural

11 mar

Todas as forças que se concentram numa polarização veem apenas o aspecto humano de um conflito, como o atual na Ucrânia que pode a qualquer momento se tornar mundial, já com alguns sinais visíveis coma visita da vice-presidente dos EUA à Polônia e as reações Russas às sanções.

A esperança de paz e de uma solução para um conflito tão perigoso, felizmente alguns técnicos da Ucrânia poderão ajustar os problemas na Usina de Chernobyl, mas existem inúmeras outras na Europa, incluindo a já ocupada pelos russos, a de Zaporizhzhia, uma das maiores da Europa.

Existe um lado sobrenatural, como o de valores que traçamos no post anterior, porém há um mais profundo, muitas como as profecias de Medjugorje (ainda não são aprovadas pela igreja católica) que fala de uma aparição de Maria como “rainha da paz” acontecem a 40 anos, desde a primeira aparição vista por 7 videntes, que falava da guerra, castigos e um novo tempo na história.

O importante é acreditar em forças além das humanas que possam ser mobilizadas incluindo a luta pela paz e pelo respeito aos povos e nações, todos os que defendem esta posição estão de alguma forma cooperando com o aspecto sobrenatural da defesa da paz e da convivência humana.

Neste caso é extremo, pois a própria civilização pode estar em jogo em caso de uma guerra nuclear, os limites começam a ser ultrapassados de um lado bombas até em maternidades e de outro uma russofobia que quer abolir até clássicos da literatura como Dostoievski que teve um curso gratuito cancelado na Itália, não podemos confundir crítica radical a atitudes ditatoriais como prática que são também autoritárias.

Para os cristãos o momento de revelação do aspecto sobrenatural de Jesus é no monte Tabor, onde ele para apresentar a sua realidade sobrenatural aos apóstolos escolhe três: Pedro, João e Tiago, a escolha em si já é interessante: Pedro apóstolo chamado a fundar Sua igreja, João o apóstolo que Jesus amava e Tiago chamado de apóstolo de menor, porém foi grande apóstolo.

Um episódio bíblico conhecido Jesus “Andando sobre a água” foi retratado no quadro de Ivan Konstantinovich Aivazovskii (1817-1900) nascido na Criméia, justamente uma região de conflitos.

Diz a leitura que ao chegarem ao Monte Tabor, enquanto orava (Lc 9,29-30): “seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias”, claro aos que creem, ali Jesus revela-se como Deus.

Não importa a crença, importa mais a ideia de uma humanidade capaz de viver a paz e viabilizar o processo civilizatório que nos afaste das injustiças, dos flagelos e do ódio.

 

O poder e o servir aos povos e nações

09 mar

As guerras trazem o pior da humanidade, mas trazem o melhor também: a solidariedade, o desejo maior de viver em paz e respeitando direitos individuais, coletivos e culturais de todos os povos.

A lógica do poder quando é dominada por uma visão não humanista procura interesses pessoais ou de grupos, a ideia é apenas a de submeter o outro pela força e conquistar mais poder, não há o predomínio da ideia de liderar e servir as pessoas que mais precisam de ajuda, a sua nação e a toda humanidade por extensão e respeito.

A lógica é da força, e a lógica da força levada ao extremo leva a guerra, ao conflito pessoal, dos povos, das nações, das culturas e dos interesses pessoais apenas sem uma regra coletiva razoável.

Surgem também os verdadeiros líderes e as pessoas que realmente querem servir, não apenas pelo espírito generoso, mas pela coragem, pela determinação que só pode vir de valores humanos e sociais, há até quem pense na preservação do patrimônio cultural, nos animais enfim em tudo.

O princípio da autoderminação dos povos, no qual cada nação, grupo cultural ou religioso tem o direito de existir e a liberdade de poder exercer seus valores, é claro que fica fora não-valores de extermínio ou intolerância com princípios de outros grupos culturais, porque estes servem só ao poder e aos autocratas que os lideram.

Há gente que pensa em paz e solidariedade mesmo na guerra (foto soldado russo que não lutou recebe alimento e manda mensagem emocionado a parentes).

Alertamos em vários posts a crise civilizatória em curso, com a guerra alguns aspectos tornam-se claros, mas sem a iluminação da consciência individual é difícil perceber os caminhos pelos quais a lógica da guerra, da intolerância e da discriminação avança, cada um deve refletir sobre isto.

Não faltam pessoas e grupos que aderem a este tipo de pensamento e raciocínio, quando o poder se torna exacerbado fica mais claro, mas há estruturas de micropoder onde estes valores se manifestam.

Assim existem estruturas do ódio, da intolerância, e, em última análise da guerra, que põe em cheque a vida, os valores e até pode por a própria civilização me perigo, como armas nucleares.

 

Sem acordo e Kiev cercada

08 mar

A guerra segue horrenda e sem perspectiva de um cessar-fogo, a terceira rodada de conversa no dia de ontem não resultou nem mesmo num cessar fogo para o corredor humanitário que permitiria a saída de civis, em especial de regiões onde a luta está mais sangrenta.

A Rússia declarou uma série de ações hostis pela sanções adotadas que estrangulam sua economia, entre eles: EUA, Canadá e os 27 países da União Europeia, em ordem alfabética os outros países: Austrália, Albânia, Andorra, Reino Unido, Islândia, Japão, Liechtenstein, Macedônia do Norte, Micronésia, Mônaco, Montenegro, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, San Marino, , Singapura, Suíça, Taiwan e Ucrânia.

O Brasil ficou fora, talvez pela fala do presidente explicando as razões da “neutralidade” no domingo, conseguiu unir direita, centro e esquerda: no mínimo um desconforto diplomático uma vez que grande parte do mundo já condenou e impõe sanções a Rússia, a própria China inclusive e ela teria mais razões que o Brasil para aderir: a ideológica.

Sem perspectiva de paz agora as atenções e tensões se voltam para Kiev, próximo a cidade há pequenas cidades e florestas como o Parque Nacional Zalíssia que apresentaram algumas formas de resistências, no entanto foram rechaçadas com denuncias de violações e crimes de guerra, não houve nenhuma negociação que permitisse a retirada de civis, assim muitos civis estão nas cidades.

O governo russo divulgou que há rotas de fuga permitidas, mas se trata de ir para Russia ou Bielorussia, com objetivo de fazer propaganda. 

Nas noites vem o toque de recolher e as pessoas vão para os abrigos antiaéreos improvisadores, tuneis de trem, porões de hotéis, edifícios e até igrejas (as criptas), são os refúgios costumeiros.

Seja qual for o final desta luta, o povo ucraniano e seu presidente ganharam respeito e admiração no mundo todo, enquanto Putin e a Rússia sairá como vilã, mesmo tendo ocorrido protestos pela paz, a posição de Putin é forte dentro da Rússia e há um rígido controle das mídias e da narrativa.

Kiev vive de esperança e de uma motivação para defender seu povo (na foto uma nuvem que parece um anjo fotografada pela moradora Oksana Kadiivska, do distrito de Darnitsa de Kiev).

Aos que tem alguma forma de crença resta a esperança de tempo melhor, também nas mentalidades, uma vez que o belicismo, a intolerância e a pouca empatia andam pelas ruas.

 

Amar os inimigos e evitar as guerras

18 fev

Falamos na semana passada de como a fome, as pestes e as guerras tinham estreita correlação, no post de ontem demonstramos como foi a “divisão” da Europa no pós-guerra, aparecem logo abaixo os primeiros países do norte da África que estavam sob domínio a França (Líbia e Tunísia) e da Espanha (Marrocos), e discorremos sobre as guerras que ainda hoje ocorrem lá devido a mineração de fosfato.

Praticamente toda África era colonial, exceto a Libéria e a Etiópia, este último que é manchete até hoje de fomes e guerras junta-se a ele agora a Somália, que foi colônia italiana, no pós-guerra a influência russa nas lutas de libertação aumentaram a influência em diversas regiões, como Angola, Moçambique e Guiné Bissau, mas praticamente toda a África entra neste processo de ebulição, e as forças aliadas que haviam formado a Organização das Nações Unidas, o Japão vencido na guerra teve que reconhecer a independência da Coréia (até então unificadas) e a concessão das ilhas Curilhas para a União Soviética, mas que recentemente alimentaram a tensão entre a Rússia e o Japão.

Assim as Nações Unidas não foram capazes de promover a independência sem grandes e sangrentas guerras na África, algumas ainda persistem, a descolonização é apenas uma nova maneira de dependência, assim como na América a dependência das lutas ideológicas, estas culturais e internas, nunca permitiram uma real paz e fim da guerra fria.

A queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, com vários países se tornando independentes e voltando a sua cultura original, é mera ilusão achar que elas são soterradas pelas ideologias, parecia fazer surgir um mundo onde a diversidade política, cultural e religiosa seria tolerada, embora a tensão árabe nunca tenha acontecido, a primavera árabe foi um alento, mas as forças que continuam vivas dentro destas nações ainda atuam de forma vigorosa, veja-se tensões na Líbia, no Congo, no Saara e muitas outras, também a América Latina vive uma polarização ora para um lado ora para outro.

A força econômica e política que a China ganhou, as novas influencias geopolíticas da Rússia, a tensão hemisférico norte e sul pobre, as crises das democracias tudo isto parecem acelerar um processo de estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial, algumas correntes mais fatalistas a chamam pela sigla NOM, porém de fato tudo isto é só a ebulição de questões que o pós-guerra não resolveu, as Nações Unidas ainda não são aquilo que prometeram ser um real “concerto de nações” que vivam em paz e negociem os conflitos.

Assim vivemos uma tensão bipolar em vários sentidos, norte-sul (foto), colônias e colonizadores, tensão ideológicas que atuam hoje mais internamente do que externamente, e uma pandemia que acelerou todo este processo, se o mundo poderia ser polarizado poderia ser unipolar, há uma perspectiva positiva que seria o real “concerto de nações” e outra ruim que é a polarização em um dos perversos fatores que já atuaram sobre a humanidade.

Como conviver com diferenças culturais e políticas tão grandes, não basta um princípio de amizade ou de paz sempre ameaçada, é preciso aceitar e defender a diversidade, ultrapassar o conceito de “inimigo” dentro da forma de ódio e intolerância (escrevemos vários posts para explicar isto), aquilo que em termos da cultura cristã é chamado de “amar o inimigo”, diz a leitura Lc 6,27-28: “A vós, que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”, em outras palavras nem unipolar nem bipolar, mas um mundo multipolar.

 

O ódio e a intolerância na história

17 fev

É preciso conhecer o processo histórico para entender as bases em que uma polarização mundial e uma pretensa nova ordem mundial, um termo bastante vago e sujeito a muitas interpretações, que levaram a polarização no período da guerra fria e que parece retornar com moldes novos, onde o fermento do ódio pode florescer.

As razões que levaram a formação do Eixo, aliança com os nazistas na segunda guerra mundial, foram: a expansão territorial com a criação de impérios com base em conquistas militares e a derrubada da ordem internacional do período pós Primeira Guerra Mundial, e a destruição e neutralização do comunismo soviético.

A Alemanha e Itália assinaram em 1º. de novembro de 1936, uma semana depois de anunciarem um pacto de amizade, a criação do Eixo Roma-Berlim e depois em 25 de novembro de 1936 o Pacto Anti Internacional Comunista (Comintern) em oposição à União Soviética, a Hungria, a Bulgária e a Eslováquia entraram no eixo no mês de novembro de 1940, mais tarde entraria a Croácia, a Finlândia em 1941 se associaria a URSS e em abril daquele ano a Iugoslávia foi invadida e desmembrada pelas forças do Eixo e depois a União Soviética.

No início da guerra, em 1º. de setembro de 1939, os aliados eram a França, Polônia e o Reino Unido, assim como os estados dependentes da Coroa Britânica: a India, a Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul, após a invasão da Bélgica, além dela os Países Baixos e a Grécia se uniram aos aliados, a União Soviética apoia a invasão da Polônia, porém percebendo que seria traída pelos nazistas se torna também aliada, os Estados Unidos entrariam totalmente na Guerra após o ataque a Pearl Harbor (7 de dezembro de 1941), apoiavam com dinheiro e armamento até então, em dezembro de 1941 se torna um membro aliado com tropas e envio de armamento pesado para a Europa.

A China tinha uma prolongada guerra com o Japão desde o Incidente da ponte Marco Polo em 1937, que foi um incidente do sumiço de um soldado e de tropas aquarteladas dos dois lados desta ponte que é próxima da Manchúria (região em disputa), por isso a China juntou-se oficialmente aos Aliados em 1941.

Com o Eixo praticamente derrotado, foi realizada a Conferência de Teerã com as primeiras divisões territoriais das tropas de ocupação em cada país, isto é importante para compreender os avanços soviéticos constituindo o leste europeu, o Dia D do desembargue das tropas na Europa foi realizada no dia 7 de dezembro de 1941.

As conferências de Potsdam e Yalta foram realizadas respectivamente 17 de julho e 2 de agosto de 1945, antes da bomba de Nagasaki e Hiroshima dias 6 e 9 agosto.

Duas atitudes devem ser analisadas nos acordos pós-guerra, um é a reintegração do território alemão a guerra nos limites anteriores a primeira guerra, com a ressalva que o local onde estava a antiga Königsberg depois Stalingrado e hoje Kaliningrado foi tomada pela URSS e os alemães foram expulsos, o negativo foi a bomba nuclear sobre Nagasaki e Hiroshima quando a guerra estava praticamente terminada, e os efeitos da bomba marcaram a história da humanidade para sempre, lançada em agosto de 1945.

Analisaremos no próximo post o avanço e o quase final da guerra fria e aquilo que pode causar um desequilíbrio e criar uma Nova Ordem Mundial, sigla usada de diversas formas.

 

Covid: início de uma provável queda

14 fev

Enquanto a média móvel e o número de infecções se mantem em patamares ainda altos, já há indícios de uma tendência de queda, 58.056 casos nas últimas 24 horas, no entanto o número de mortes permanece em alta na maioria dos estados (880 mortes na média móvel), estando em estabilidade apenas em 4 estados: SC, AM, RR, GO, não divulgaram TO e DF, é necessário ressaltar que estados dados sempre se referem a “casos conhecidos” pois não existe uma política de testagem em massa.

O pesquisador Raphael Guimarães da Fiocruz defende que a adoção de políticas públicas de controle coletivo da pandemia, além das medidas de higiene que são mantidas, podem levar o país ao controle da pandemia já no primeiro semestre de 2022: “Neste momento, o Brasil reúne algumas condições favoráveis para bloquear o vírus”, explicou o pesquisador a órgãos de imprensa.

A manutenção do distanciamento, por exemplo, e a limitação em número de pessoas em eventos coletivos são importantes quando adotadas, mas o que se observa é que o distanciamento não é o comportamento coletivo da população e a fiscalização deixou de existir na maioria dos casos, salvo raras exceções, o resultado são hospitais ainda lotados, une-se a isto a vacinação da influenza que é ainda pequena e a vacinação de crianças que tem ainda apenas a primeira dose.

Enquanto na Europa a tendência de queda já observada, na América Latina 63% das pessoas já estão vacinadas, porém a cobertura continua desigual, dados de órgãos de saúde da região (OPAS) indicam que 14 países já vacinaram 70% da população enquanto os demais não conseguiram atingir nem 40% desta cobertura, informa a diretora da OPAS: Carissa F. Etienne: “Estes dados são cruciais para projetar campanhas de vacinação direcionadas, maximizar o impacto das doses e salvar vidas”, que agradeceu a países doadores de vacinas.

A diferença entre Europa e o hemisférico Norte com o sul tem fatores sazonais como o clima, lá estão no final do inverno, aqui estamos no final do verão e o período de frio é favorável aos vírus. 

Os doadores que “ajudaram nossa região a garantir doses quando os suprimentos eram limitados”, citando as doações dos Estados Unidos, Espanha, Canadá, Alemanha e França, que totalizaram 26 milhões de doses, mas espera neste início de ano atingir o patamar de 100 milhões de doses de doação.

As políticas públicas devem ser mais afirmativas e não renunciar à necessária fiscalização, assim podemos imaginar um segundo semestre mais tranquilo quanto a Pandemia.

 

 

Avançar para uma verdadeiro pensamento

04 fev

Nenhum pensamento é completo se não possui uma espiritualidade, aquilo que a modernidade chama de subjetividade porém que está separada da objetividade como é próprio do dualismo, cria duas realidades e nenhuma delas é parte do todo.

Contemplar o todo significa considerar a profundidade do nosso Ser e entender que fazemos parte de um imenso universo cheio de mistérios, e que nossa alma anseia pelo infinito e é para lá que caminha uma verdadeira espiritualidade, que não está separada da substancialidade da vida (o que é chamado na modernidade de objetividade, que é só a parte) e que sem ela não contemplamos e vivemos o todo, vivemos uma vida segmentada.

Substituí-la por uma pequena parte, pequenos vícios e prazeres, é caminhar na frivolidade, na superficialidade, nenhuma ascese verdadeira prescinde de uma espiritualidade, e não há espiritualidade sem contemplar a alma humana como parte do todo de nosso Ser, assim ultrapassar a antropotécnica e chegar uma onto-antropotécnica que olha para as coisas e também para a alma.

Muitos exercícios, do físico ao espiritual, são feitos buscando esta ascese, neste ponto Sloterdijk tem razão quase todas elas são “desespiritualizadas” porém sua explicação é incompleta porque não há em suas esferas uma escatologia, este raciocínio é feito especialmente em Esferas II, qual é o todo para o qual caminhamos, é possível ir até Ele.

Sim é possível se avançamos para águas mais profundas, buscar a completitude de nossa substancialidade superando o antropocentrismo e entendendo a Terra e o Universo como nossa casa, nossa morada, mas principalmente caminhando e lançando as redes para pensamentos e espiritualidades mais profundas, há em alto mar, ainda que revolto, aquilo que nossa alma anseia: o eterno.

Diz a passagem bíblica Lc 5,4-5, logo após Jesus ensinar as multidões e Pedro (Simão) reclamar que não haviam pescado nada, Jesus lhe responde: “quando acabou de falar, disse a Simão: “avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”, Simão responde que trabalhou a noite inteira e não pescou nada, mas obedeceu e lançou as redes.

O resultado foi uma grande pescaria, vale aqui a substancialidade dos alimentos e também a espiritualidade de avançar “pra águas mais profundas”.