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Círculos virtuosos são inclusivos
Na medida em que avançamos nas virtudes encontramos obstáculos, aqueles que estão nos vícios e na decadência tendem a tentar nos desanimar e mostrar que seus enganos estão certos, querem a nossa cumplicidade aos seus erros, porém não se trata de excluí-los e sim amá-los justamente com as virtudes que exercitamos: paciência, prudência, sabedoria e fortaleza.
Não é inclusivo aceitar as ofertas de facilidades que os vícios proporcionam, é sobretudo mostrar que as dificuldades e coragem de enfrenta-las que levam a um recomeço em virtudes e atitudes.
Todo vício já contém em si uma inclusão, é preciso reformar a crítica ao outro, tentar provar que estão errados aqueles que perdoam, que ajudam e que são solidários, pois estão paralisados na sua alma e assim precisam se alimentar e convencer a si próprios que seus erros têm fundamento.
Como afirmamos no post anterior, usando o livro de Philippa Foot, o Amor bastaria se fosse bem compreendido como síntese última de todas virtudes, mas não é assim, uma cultura que está no erro até mesmo palavras fortes precisam ser compreendidas com todos seus complementos, o amor eros não é senão um aspecto do Amor Ágape, e se mal compreendido é também um vício.
O mesmo para a generosidade, se não vista com prudência pode parecer altruísmo e podemos estar no intuito de ajudar, dando esmolas por exemplo, estar alimentando vícios de diversos tipos.
Também o Amor que não tem fortaleza (coragem) é mais fácil excluir, ignorar o diferente ou até mesmo agredi-los na ilusão que isto o tira dos vícios e erros, é muito comum na literatura atual os conselhos tirem de sua vida pessoas com problemas, com erros e que não constroem, enfim exclua.
A exclusão gera mesmo em que pensar estar num circulo virtuoso um novo vício, atitudes e comportamentos não inclusivos e não tolerantes, é preciso apontar os erros, mas com prudência.
Os níveis de agressividade e intolerância geram muitas divisões e no fim da linha vícios e erros que acabam por minar um circulo virtuoso, manter a postura moral, por exemplo, é fortaleza.
A privação de liberdade, de diálogo proveitoso, de escuta sincera em círculos virtuosos gera uma escalada ainda maior das virtudes, ao ponto de parecem lógicas e naturais, sem elas criamos as bolhas em que parecemos viver bem, porém sem a empatia e a resiliência para o convício social.
Assim grupos aparentemente inclusivos onde se auto-elogiam, se auto-ajudam ou se proclamam puros e virtuosos são na verdade círculos de exclusão e pouca vida, tendem a murchar e diminuir.
Verdadeiros círculos virtuosos atraem, inspiram e levam muitas pessoas a superar seus problemas, erros e dificuldades que são próprias da vida, este é um milagre que só as virtudes trazem, o fato que os valores estão sendo deteriorados é que quem os defendem não praticam.
Círculos viciosos e virtuosos
Mesmo estando num momento civilizatório com uma “policrise” (termo usado por Edgar Morin), onde estaríamos sem alguma ideia de justiça, de bondade e fraternidade? talvez numa barbárie ainda pior de guerra e violência cotidiana, mas alguém pode perguntar não estamos perto disto?
Ninguém questiona que a racionalidade adota comportamento que podem garantir o futuro da humanidade e o próprio, porém o descontrole das “virtudes” pessoais e sociais cria uma nova cultura, aquilo que alguns chamam de cultura deteriorada que gerou um brainrot coletivo.
O que a filósofa inglesa fala sobre virtudes é que a racionalidade deve acompanhar estes aspectos, que há algo de bom nisso, e isto é a razão dos fatos sobre a nossa própria natureza humana, e ela desafia duas premissas não-cognitivistas, que estariam amparadas em uma má compreensão sobre a racionalidade prática, as motivações humanas para agir no dia-a-dia e sobre uma gramática lógica subjacente a dizer que algo é “bom”, uma vez que o “algo” aqui é essencial para a determinação e a significação do bom.
Deduz deste raciocínio que o que é logicamente vulnerável aos fatos, e fatos, por sua vez, são identificados e compreendidos, correta e mais completamente, à luz daquilo que é bom.
É o que preferimos chamar aqui de circulo virtuoso, porque é comum se dizer que o bom é frágil, mas só quando está inserido num círculo vicioso (cultural e social), o circulo virtuoso torna também o mal frágil se estamos inseridos nele, é facilmente repelido tudo o que é maligno.
O problema cultural é este não permitir que uma cultura se deteriore na medida que evolui, não é prejudicial nem vicioso que uma cultura evolua, porem suas raízes não podem ser perdidas sob a pena de modificar valores que a tornem a prática social, cultural e pessoal viciosa.
Interromper este fluxo não é simples, cultura do consumismo (na medida que temos mais objetos de consumo), cultura do imoral (na medida que há mais facilidades para pequenos roubos que se viciosos se tornam grandes), cultura da ignorância ecológica: desmatamentos e práticas que tornam a produção de materiais de consumo uma cultura de degradação insustentável da natureza.
Também os níveis desumanos de seguridade social, a pobreza estrema e a ausência de políticas sustentáveis de médio e longo prazo que retirem os bolsões de miséria que persistem no mundo.
A gramática lógica de Philippa Foot não há mudança nem adaptação no significado de “bom”, ela fala de “boas raízes” e quando falamos das “boas disposições da vontade humana” ela deve incluir as virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a prudência, a fortaleza e a temperança, elas compõe o amor ágape, porém sem estas virtudes a palavra pode ser usada em contextos não virtuosos.
Na foto: Allegoria della Virtù e della Nobiltà. Giambattista Tiepolo , 1740-1750.
Foot, Philippa. Natural Goodness. UK: Oxford University Press, 2001.
Dificuldades e paz possível
Na manhã do domingo Israel voltou a bombardear o norte da faixa de Gaza, matando 8 pessoas, devido o atraso na entrega da lista de reféns, o Hamas admitiu o atraso “por razões técnicas” mas ratificou o acordo, e emitiu a nota: “Como parte do acordo de troca de prisioneiros, decidimos libertar hoje: Romi Gonen, 24 anos, Emily Damari, 28 anos, e Doron Shtanbar Khair, 31 anos”, disse Abu Obeida, disse o porta-voz do Hamas.
Mais tarde houve a libertação, em comunicado o exercito de Israel declarou: “As três reféns libertadas serão acompanhadas pelas forças especiais das FDI (exército) e pelas forças do ISA (segurança) em seu retorno ao território israelense, onde passarão por uma avaliação médica inicial”, ficaram 471 dias no cativeiro.
Os reféns foram entregues a Cruz Vermelha (foto) e encaminhados para Israel, ainda haverão mais duas etapas até que o acordo seja cumprido, segundo vários especialistas (como Rubens de Siqueira Duarte, professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército) é um passo importante, mas a paz é ainda incerta.
As etapas são importantes porque o caminho da desconfiança (histórica) deve ser ultrapassado com cuidado e mostrando boa vontade de ambas partes, agora espera-se os prisioneiros que são militantes do Hamas serem soltos.
No outro front perigoso no leste europeu, a posse de Trump no dia de hoje, o cansaço da guerra que já está presente de ambos os lados, podem apressar um cessar-fogo, lá as forças envolvidas podem mostrar-se mais resistentes, porque envolvem questões territoriais difíceis de serem negociadas (a Rússia já domina 30% do território ucraniano, que tem apenas a região de Kursk tomada dos russos).
Acredita-se que Trump deverá deixar de dar apoio à Ucrânia e então seria forçada, na sua lógica nacionalista de que devem se envolver em questões “a América primeiro”, porém as ameaças à Groenlândia e ao Canadá são inaceitáveis para a paz mundial.
Qualquer acordo deve também, como no caso Hamas/Israel, ter concessões bilaterais.
A paz é desejável, o cessar foto é um passo, porém para ser duradoura deve ter aspectos fundamentais de direitos dos povos e condições humanitárias respeitadas.
Urgente: gabinete de Israel aprova acordo de paz
O gabinete dos ministros de Israel votou a favor de cessar-fogo que entra em vigor a partir de domingo, inicialmente durará 42 dias, prevê a devolução em etapas dos reféns e a retirada de Israel, também gradativa da faixa de Gaza.
Segundo o jornal Times of Israel, 24 ministros votaram a favor, enquanto oito votaram contra a aprovação, o ministro das comunicações Shlomo Karhi não compareceu, a nota diz: “o governo aprovou a estrutura para o retorno de reféns”.
O primeiro-ministro do Qatar Sheik Mohammed bin Abdulraham al Thani, que mediou o acordo, afirmou a “necessidade de ambas as partes se comprometerem com a implementação de todas as fases do acordo” para evitar o “derramamento de sangue civil”, os detalhes da segunda e terceira fase serão conhecidos após a implementação da primeira fase.
Que esta paz se espalhe para outras regiões em conflitos e ameaças graves de forças bélicas imperialistas.
O mal e nossa mente
Não gosto do gênero de terror, mesmo assim fui assistir no filme argentino O mal que nos Habita (foto), dirigido por Demián Rugna (Aterrorizados, the last gateway) e me fez reflexões sobre o mal que pode ser encontrado em regiões e locais onde percebem algo errado e saem a procura de explicações, no caso do filme, após encontrarem um corpo mutilado.
São muitas as mutilações contemporâneas: drogas, embriaguez, pornografia barata, roubos e tudo o que acompanha uma sociedade em crise, no caso do filme eles acabam descobrindo um homem com o corpo infectado pelo diabo e que está prestes a dar a luz a um demônio real.
Não cabe aqui a discussão sobre a realidade da existência desta entidade, pessoalmente creio, porém, o interessante do filme é a comunidade se reunir diante de um caos já instalado para tentar combate-lo e o tempo parece não estar a seu favor.
A metáfora que vejo é não apenas as guerras, como também diversos pensamentos e males já instalados e a população em busca desta “entidade” do mal, porém sem conseguir encontra-la, estamos num limiar civilizatório perigoso e o pior é aquilo que aprisiona a mente e a alma.
Ausência de perdão, fechamento em grupos concêntricos, mais do que bolhas são correntes culturais equivocadas onde um grupo procura eliminar o outro sem qualquer possibilidade de trégua e se pudéssemos denominar este “mal” seria o que Freud chamou de “mal estar civilizatório”, no caso do filme, não eliminar, mas tratar daquele “homem” infectado.
A exclusão e o combate ao “outro lado” parecem as respostas mais evidentes, porém ela só nos encaminha para um mal maior: a guerra, a exclusão e suas consequências.
Reconhecer nossos erros é o primeiro passo, mas deve ser complementado com o perdão aos que por algum motivo nos prejudicaram ou ofenderam e o terceiro é verificar a origem do mal social, este o mais difícil porque a maioria, sem a sabedoria necessária, prefere a exclusão.
Não se trata de tolerância ao mal, nem mesmo a inocência perante ele, é preciso testemunhar vivendo a esperança de um recomeço pessoal, dos que estão a nossa volta e social, vemos no caso do acordo de paz de Israel este passo difícil, pois os espíritos continuam armados, ontem houve novo bombardeio de Israel.
O mundo espera a paz, não haverá com espíritos armados, incapazes de dar o primeiro passo, pois de alguma forma estamos todos infectados por um clima de hostilidades.
Paz ou trégua no Oriente Médio ?
Um acordo de paz foi comemorado onde no Oriente Médio, mas ainda pairam dúvidas sobre as reais condições deste acordo, maus acordos apenas protelam ódios e reorganizam forças.
Um acordo de cessar-fogo apenas significa um novo balanço militar na região, conforme avalia Binyamin Netanyahu primeiro-ministro de Israel, na prática com os Estados Unidos dando as cartas na região e um recuo do Irã, a queda de uma longa ditadura na Síria contribuiu para isto, mas haverá paz sem a reconstrução das condições humanitárias na região e no Iêmen
Antes do ataque de 7 de outubro feito pelo Hamas em território israelense, o Irã dava as cartas na região, incluindo terroristas bem treinados espalhados na faixa de Gaza, onde moram os palestinos com constantes hostilidades de Israel, isto escalou depois de 7 de outubro.
É preciso restabelecer as condições humanitárias na região, e entender que a pobreza no Iêmen é uma das mais graves do mundo, assim não basta a trégua é preciso ir a raiz da guerra.
Em mais de 40 anos poucos acordos foram bem-sucedidos e a crise segue na região, desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, acordos firmados entre Israel e Egito, entre Israel e Jordânia, a questão central entre palestinos e israelense não foi resolvida, é preciso um acordo direto.
O acordo anunciado oficialmente no Qatar pelo primeiro ministro Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, foi feito entre negociadores do Hamas e de Israel, o que é por ser direto entre as partes, um bom início.
Suas palavras “esperançosamente, está será a última página”, é muito significativa, mas não se pode subestimar as condições no médio e longo prazo, ou seja, restabelecer as condições humanitárias na região e não pensar o Iêmen como um capítulo a parte, é sede dos Houthis, eles atacaram um posto “vital” em Israel no dia de ontem, antes do acordo.
Sobre os reféns que devem ser soltos em breve, dos 251 capturados pelo Hamas no 7 de outubro de 2023, acredita-se que 94 continuam em Gaza, 60 estejam vivos e 34 mortos.
É preciso agora desarmar os espíritos bélicos, não só na região, mas em todo planeta.
Urgente: Segundo a Associated Press, o gabinete de Israel ainda não ratificou o acordo, diz que Hamas impôs “novas” concessões: “O gabinete não vai se reunir até os mediadores notificarem Israel de que o Hamas aceitou todos os itens do acordo”, disse Netanyahu, lutem, orem ou pensem positivo pela PAZ.
A paz de quem ama
Eu vos dou a paz, mas não como o mundo dá, diz a sabedoria bíblica (João 14,27), e que tipo de paz é esta, claramente não é aquela que chamamos de paz entre nações e povos.
Já citamos aqui, a chamada paz ibérica, na na Sassânida (527-531), que tornou-se sem retorno a guerra, e em períodos sombrios para a paz humana seria altruísmo ou inocência pensar na paz
Dizer o que pensa, manter a coerência em ações e palavras, a justiça e os valores não valem apenas para seu grupo ou nação, devem ser valores coerentes e que sejam práticos sempre e com todos, independem de narrativas e polaridades políticas e sociais, é preciso ter sabedoria no que diz e prudência no que faz, e a pura liberação de sentimentos não é saudável e exige de quem faz sempre uma dose de empatia e amor.
Se corrige, corrija por amor, se fica calado cale-se por amor, muitas vezes é sábio calar, e não significa sempre indiferença ou omissão, é também sabedoria e prudência, as virtudes que já discorremos aqui e que foram tratadas com propriedade pela filósofa Philippa Foot.
O amor contem todas as virtudes, mas a palavra se esvaziou na contemporaneidade, ela é até sinônimo de hipocrisia e exclusão, faz-se maldade e se diz “fiz por amor”, por isto é necessário hoje compreender as outras virtudes que estão embutidas no amor verdadeiro.
Há também o apelo a ignorância, mais que apelo há um desconhecimento, a desinformação é apenas uma consequência da falta de sabedoria, e não é apenas de um lado da narrativa.
As narrativas modernas estão em moda, os instrumentos de mídia social ajudam a propaga-las com raciocínios e frases rápidas, trata-se apenas de negar o que o Outro diz, é fruto de um longo processo de desconhecimento.
A paz que almejamos é a paz do amor, mas ele deve vir contendo as virtudes cardeais: justiça (a divina), prudência, temperança e coragem (fortaleza).
Porque o mal se espalhou
É verdade que o mal é ausência do bem, assim interpretou Agostinho de Hipona sobre a essência do Ser que é o bem e sua falta como a produz, em nossos posts anteriores também discorremos sobre as virtudes cardeais afirmando que além da Justiça, que é relativamente pensada nos dias atuais, existe a prudência e a sabedoria que deveriam acompanha-las.
As virtudes teologais: fé, esperança e Amor devem acompanhá-las, porém também elas foram comprometidas pela ausência de sabedoria, mais do que desinformação e pós- verdade, é tempo de desconhecimento e ignorância, até mesmo escolar, primária.
Também o poder, através de valores estruturais e formas autoritárias de exercê-lo, contribui para a intolerância e o desprezo pelo conhecimento e valores morais, isto levado a um limite social e estrutural chegamos a guerra.
A prudência e a tolerância entram então não como virtudes secundárias, mas essenciais.
Não há esperança, nem amor e nem fé, onde a intolerância e a exclusão fazem parte do dia-a-dia e infelizmente este discurso está até mesmo na boca daquele que falam do Amor, do respeito ao Outro e da inclusão.
Isto acontece porque as relações são dualistas e não trinitárias, além de mim e o Outro deveria haver um terceiro incluído, na física quântica isto já foi descoberto como um princípio até mesmo da matéria, portanto não é apenas divino, é a própria realidade.
Assim em diversas épocas de nossa história foi por meio da violência que impérios e ditadores impuseram suas vontades e ideologias, não sem o consentimento de boa parte da população, por isso lembramos da má educação, seja através de campanhas de propaganda, seja pela própria escolarização empobrecida e malformada, as duas questões estão ligadas.
É preciso por isto estar atentos a gestão em todos os níveis, desde as nossas casas, bairros e condomínios até as estruturas de poder, pequenas ações ilegítimas, educação para empatia, convivência, limpeza e até mesmo o lazer devem ser observadas e orientadas pelos gestores e órgãos públicos no sentido de preservar o espaço comum e os bens públicos.
O zelo pela honestidade, pela transparência, pelo diálogo respeitoso entre opiniões que não são necessariamente opostos, mas diferentes ainda que em direções completamente divergentes não deve ser motivo de ódio e violência, é sempre possível o diálogo.
O mal precisa da polarização, da radicalização dualista (na negação, há um sentido bom que é ir a raiz de um problema), porém a pura desavença como forma de justificar e propagar a violência é só uma forma arrogante de poder.
Entre a guerra e a esperança
Crescem em todo o mundo rumores de novas guerras, até mesmo os pacíficos Canadá e Groenlândia foram ameaçados por falas incompreensíveis do novo governo dos EUA de Donald Trump que toma posse em breve, a queda do governo Trudeau no Canadá, que foi comemorada pela população, demonstra as recentes fragilidades do país.
A guerra no leste europeu segue com pesadas baixas e agora já há muitos bombardeios em território russo: campos de petróleo e localizações estratégicas militares como as de Engels, a base aérea de Rostov do Don e da região de Lipetsk, enquanto a Ucrânia perde soldados e territórios.
Também as bases dos rebeldes Houthis no Iêmen foram bombardeadas por Israel, gerando protestos em vários países árabes, o conflito segue com várias denuncias de organizações humanitárias e aliados antissemitas.
A tensão também ficou elevada com a pose do ditador Nicolas Maduro na Venezuela que segue sem qualquer possibilidade de solução pacífica por uma crise que já está além do ideológico, os governos do Chile e da Colômbia também contestam as fraudes nas eleições de lá, e o governo que aparentemente foi eleito Gonzales Urrutia chegou a ameaçar que iria à Venezuela para a posse, mas recuou após a prisão e soltura de sua vice Maria Corina Machado.
Também a guerra comercial entre China e EUA ganham novos contornos com o bloqueio de envio de materiais chineses para 28 empresas consideradas de uso suspeito de serviram tanto a propósitos civis quanto militares, em especial, aquelas que ajudam Taiwan a se armar.
Há esperança num quadro tão belicoso? e a resposta sempre será sim, é bom lembrar que nestes momentos sempre surgiram líderes que proclamaram a paz: Mahatma Gandhi, o líder americano Martin Luther King, lideres religiosos sinceros (os que promovem a guerra devem ser colocados sob suspeita) e todos os milhões de pessoas que sabem que a guerra não traz benefícios e que em última instancia querem sempre o domínio de um povo sobre o outro.
Ainda que estas pessoas pareçam “idiotas” e ingênuas, a literatura é farta destes personagens, como já citamos na semana passada os personagens de Dostoiévski, lembro também de um filme dirigido pelo argentino Sebastián Boresztein (Um conto chinês, foto) que fala de uma amizade inesperada entre um ranzinza vendedor de ferragens e um migrante chinês chamado Jun.
A paz é sempre desejada em corações generosos e serenos, o conflito vive na cabeça de pessoas que olhar a todos com suspeita, veem inimigos onde não existem, ainda que falem de paz, o que querem é subjugar os que tem visões de mundo, cultura ou religião diferente.
As vozes no deserto
Em tempos de crises há um reduzido número de vozes que vê além das forças em embate, não são nem os apocalípticos nem os integrados (diria Umberto Eco), mas aqueles que entendem o panorama e as raízes das crises temporais e vem além do temporal, veem o civilizatório divino.
A figura do idiota de Dostoiévski é uma destas figuras que via na sociedade da época, um feudalismo decadente na Rússia, uma crise e imaginava uma sociedade com ética e moral, não apenas uma mudança estrutural, mas uma mudança no modo de ver a sociedade e o Outro.
Os integrados que vivem sobre o domínio de ideias já comprovadamente ultrapassados, quase todas oriundas do idealismo europeu, que imaginou uma paz eterna (Kant) sem entender a base dos conflitos que era uma visão de estado bélico e intercessor na vida cotidiana.
Também um quadro parecido é tratado por David Flusser ao analisar o quadro social da época de Jesus no primeiro século da era cristã, seu livro Jesus fala dos conflitos sociais, políticos e religiosos da época, como judeu traça um quadro visionário de Jesus na época.
Uma verdadeira profecia se realizava, e o profeta Isaias falava bem antes daquele tempo sobre um profeta que viria (o último e o maior, por isso verdadeiro) conforme Marcos (Mc 1,2-3): “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho. Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas! ”.
João Batista era o “idiota” de seu tempo, poucos compreendiam claramente o que dizia da vinda do messias, alguns queriam interpretar politicamente como um guerreiro salvador e outros como um louco que vivia no deserto se alimentando de mel e gafanhotos.
A vida ascética de João Batista, era uma verdadeira ascese, os religiosos e apocalípticos de nosso tempo são incapazes de compreendê-lo e por isso são fariseus e falsos profetas, em meio a crise anunciam riquezas e abundâncias inatingíveis para o povo simples que por eles é explorado.
Salvadores da pátria são diferentes de salvadores que preparam um caminho divino para um futuro pós-guerra, pós-crise e pós-religiosidade belicista e de “sócios” (em referência a Paul Ricoeur citado em posts anteriores), é preciso uma visão de mundo que veja com clareza as virtudes cardeais e não separe delas a justiça e sabedoria.