Arquivo para maio 12th, 2016
Ainda coalizão: o diálogo como cinismo
Quando se esperava um governo de “notáveis” que pudesse redirecionar a política nacional, assistimos a uma continuidade onde até mesmo alguns ministros que ontem eram do governo anterior, e agora serão ministro de Temer.
Um dos grandes nomes da filosofia contemporânea, Peter Sloterdijk (1947) divide em duas cenas a filosofia do ocidente, aplicáveis aos fatos do Brasil de hoje: cinismo descrito em seu profundo e de difícil leitura Crítica da Razão Cínica (1983) e ira em um livro mais recente Ira e Tempo (2006), lançado recentemente no brasil pela Estação Liberdade, e já está no prelo na mesma editora três volumes de Esferas, considerada já sua obra magna.
O cinismo onde recupera o seu sentido antigo (kynismos) e sua troca para um sentido moderno, que significa uma “troca de lado”, que aplicável ao momento atual no cenário brasileiro significa uma lógica “dos senhores”, que ele divide em 4 seções: fisionômica, fenomenológica, lógica e história, que desvela como construiu-se o pensamento moderno.
Usando a literatura que vai de Fausto a Heidegger, sua análise fenomenológica fecha com a anatomia do República de Weimar, raiz para ele dos “totalitarismo” ao menos do ocidente.
O cinismo é uma “divisão de consciência”, que confunde autonomia e alienação, em três formas bastante claras: a mentira, a ilusão e a ideologia. Foi assim, para o filósofo, que ideal do Esclarecimento estagnou-se numa crítica ideológica da sociedade, e com a qual fez seu pacto silencioso.
Com o problema universal, uma espécie de bolha do cinismo a única arma que nos teria restado seria a Ira, mas não é, há também um herói entre o inimigo e uma substância sutil fora do mundo (vale aqui lembrar o conceito de substância em Espinosa e Leibniz), fazendo uma curiosa transcendência da ira, para ele Deus, para nós um deus hegeliano.
Como esse deus-ira pode fazer uma interface divino-humana ? ele cria um conceito chamado thymos, uma espécie de conflito interior da consciência heroica que leva a violência.
Esta “revolução timótica”, leva-nos a investir em auto-estima, guerras coletivas de reconhecimento, e ideologia e pseudo-políticas sociais podem mobilizar estas iras.