Arquivo para maio 17th, 2016
O que é a paz ?
Repousa sobre nossa mentes o conceito da “paz eterna”, ou talvez “paz duradoura” que são os conceitos desenvolvidos na modernidade, mas foram sempre assim ? precisam de atualização ?
Para responder a questão o que é a Paz deve-se enumerar, ao menos didaticamente enumerar três conceitos separados historicamente: a Pax Romana, que vai do fim das guerras civis anunciado pelo imperador Augusto (27 a.C.) e que durou até a morte do imperador Marco Aurélio, em 180 d.C., que na verdade é a ausência de guerra; a paz como tolerância cujo modelo é o Tratado da Vestfália (1648) e a paz “duradoura”, o nosso modelo atual.
O período chamado de guerra dos 30 anos (1618-1648), cujo pano de fundo era o conflito religioso nascido da reforma, no qual o Sacro Império Católico-romano da família austríaca dos Habsburgos se contrapôs a União Evangélica, surgida dos reformas religiosas de Martinho Lutero e João Calvino, que queriam a maior vivência bíblica, o Sacro-Império se fragmentou em três religiões: a católica, a luterana e a calvinista, ao final das guerras foi feito um tratado de paz na província de Vestfália, cujo tratado recebeu este nome em 1648, embrião do conceito atual.
Podemos chamar este tipo de paz do respeito e da Tolerância, sobre a qual escreverão John Locke (1632-1704) na Carta sobre a Tolerância (coleção Pensadores) e Voltaire, no seu Tratado sobre a tolerância (1763), ainda faltavam princípios republicanos de “democracia” e “pessoa”.
O modelo de paz que temos hoje nasceu com Kant que pode ser visto como “pelo uso e predomínio da razão, pela constituição da esfera individual – a construção do indivíduo moderno –, pelo estabelecimento do espaço público para o debate e resolução dos conflitos sociais”, defendido por alguns juristas e teóricos, que é o que chamo de paz “duradora”.
As nossas principais críticas a este modelo é primeiro a histórica, porque trata de um modelo fundado no momento de criação de um conjunto de nações, com culturas e interesses diversos, e a segunda crítica o conceito modelo de “indivíduo”, que não é a pessoa concreta.
Entendo idem como o Mesmo do indivíduo singular, e o ipse como identidade da pessoa.
A nossa proposta de uma ontoética consiste em pensar uma pátria mundializada, com interpretações variadas e difusas sobre a pessoa humana, seus direitos e deveres perante a presença do Outro, a partir de uma ética que propõe autores como Emmanuel Levinas, para quem o indivíduo abstrato tende “para uma coisa inteiramente diversa para o absolutamente outro” (Lévinas, 1989, p. 21), e Paul Ricouer que ao escrever “O si-mesmo como Outro” afirma que “não podemos pensar até o fim o idem da pessoa sem o ipse, mesmo quando um recobre o Outro”, indicando de onde deve partir a ontoética (RICOEUR, 1991, p. 147).
Referências:
RICOEUR, Paul. O si-mesmo como um outro. Trad. Luci Moreira Cesar. Campinas: Papirus, 1991.
LEVINAS, E. Totalidade e Infinito, Edições 70, Lisboa, 1989.