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Posts Tagged ‘peace’

Consciência humana e senciência maquínica

27 jan

Consciência envolve aspectos espirituais humanos (na filosofia idealista chamada de subjetividade) e aquela que faz o homem ter uma verdadeira ascese que eleva seu caráter, suas atitudes e sua moral numa escala progressiva de aprendizagem, onde é admitido o erro, mas corrigido de forma humana.

Senciência é o fato que temos percepção consciente de nossos sentimentos, é a capacidade dos seres (humanos, pois não acreditamos que uma máquina mesmo sofisticada possa ter esta ascese), e nos seres ela passa a sentir as sensações e sentimentos de forma consciente.

Na figura uma representação do século XVII, um dos primeiros estudos foi o matemático inglês Robert Fludd (1574–1637).

Quanto menos conseguimos ter consciência de nossos sentimentos, menos temos senciência e menos capacidade de entender nossos sentimentos, a tentativa de traduzir as sensações (os tipos de risos, alegrias, tristezas, etc. para a máquina), sempre estarão subjeitas a algoritmos, mesmo que muito sofisticados, e por isso chamo de senciência maquínica, já que a consciência maquínica está descrita de diversas formas, por diversos autores.

A verdadeira consciência humana é assim aquela que nos permite alcançar níveis de ascese de diversas formas: altruísmo, colocar-se no lugar do outro, viver uma vida justa e apreciar a justiça, enfim uma verdadeira espiritualidade que nos eleve como humanos, e também é aquela que está ao alcance dos que sofrem com injustiças e barbáries humanas.

Para os cristãos aquilo que nos faz alcançar uma verdadeira ascese está descrito nas chamadas bem-aventuranças (Mt 5,1-12) que fala dos pobres, dos aflitos, dos mansos, dos que tem forme e sede de justiça, dos que tem capacidade de perdoar e falaz com clareza do desejo da paz: “bem aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados de filhos de Deus”, assim em todos circunstâncias que se vive em dias sombrios é preciso promover a paz.

Os contornos de intolerância e violência, não só na guerra da Ucrânia, mas em quase todo o planeta deve preocupar os que defendem a paz.

 

Um ano de guerra e três de pandemia

23 jan

Em 31 de dezembro de 2019, a organização Mundial da Saúde (OMS) era alertada sobre casos de pneumonia na cidade de Wuhan na China, no Brasil embora tivessem casos sem diagnóstico preciso, lembro de um caso que foi noticiado em Minas Gerais, somente no dia 11 de março quando a OMS caracterizou o quadro como “pandemia” iniciou um processo de combate no Brasil.

Faltam dados precisos, entretanto a OMS continua falando de avanço dos números e da variante Kraken (outra chamada Orthrus apareceu na Inglaterra, já sendo 1/5 dos novos casos) e a China tem tido recordes de infecções.

Aos que não lembram 11 de março de 2011 foi também a data de um tsunami que afetou a usina de Fukushima (na foto o tsunami em Minamisoma, Japão), só para lembram que tanto desastres naturais quanto os de uma guerra podem afetar os 447 reatores nucleares em operação em 30 países (segundo dados da WNA, Associação Nuclear Mundial), além dos armamentos nucleares que crescem em todo mundo.

Em reunião na base aérea militar Ramstein na Alemanha, assinaram apoio a Ucrânia os membros da EU, Canadá, Japão, EUA, e entre os países da América Latina assinaram Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai, o Brasil não assinou.

Já o pedido de envio de tanques Leopard, os mais avançados e fabricados na Alemanha não foram decididos, a Finlândia poderá enviar 200 unidades que possui deste tipo de veículo militar, na próxima reunião entrará em pauta o envio de caças de 4ª. Geração, a Rússia possui os poderosos MIG-31 com capacidade de ataque e interceptação de aeronaves em combate.

Os alertas deveriam estar seriamente discutidos por aqueles que dizem lutar pela vida e pela paz, o uso da retórica não funciona mais devido as mídias sociais, a todo momento mentiras de campanhas eleitorais e declarações populistas são confrontados com a realidade cada vez mais bélica.

 

Insanidade na guerra e indefinições na Pandemia

16 jan

As noticias da Guerra no leste europeu são que a luta pela conquista da região de Soledar teve um custo militar alto e a cidade ficou praticamente destruída com pouco mais de 10 mil habitantes tem um significado estratégico militar e a consolidação de posições russas na região de Donetsk, enquanto a fragata com misseis Zircon navega pelo Atlântico.

A defesa ucraniana nega o domínio na região, enquanto a russa comemora em meio a uma polêmica com os mercenários do comando Wagner que afirmam que eles lutaram na região.

O significado desta batalha é de uma guerra que cada pedaço de território significa batalhas sangrentas e indicam ainda um longo período, a menos de uma estratégia mais agressiva e mais perigosa.

Os habitantes da vizinha cidade de Sirversk sonham com paz, porem poderá ser o próximo combate, assim como a cidade de Bahkmut estratégicas para a guerra terrestre.

A pandemia vive dias de incertezas, não são claros nem os diagnósticos nem a gravidade das novas variantes, porém é sabido que a “kraken” é altamente contagiosa.

Embora a politica da OMS seja de não fazer alarde e deixar pouco claro as medias a serem tomadas, o quadro tem contornos alarmantes (veja o mapa)+ e a variante kraken comprovadamente tem maior índices de contagio e não é clara a efetividade das vacinas da primeira linhagem.

O que se espera na guerra e na pandemia é que se encontrem medidas afetivas para salvar vidas, evitar uma radicalização ainda maior que a do quadro atual e dar esperança as pessoas simples de um futuro com paz e segurança.

 

As causas da paz

12 jan

Este é o subtítulo do capítulo 7 “Porque somos assim (2)?” do livro de Theodore Dalrymple que é analisado esta semana, o tópico 1 que trata em especial da transcendência, deixamos para a ultima análise, embora o livro não termine ai, embora este título vá até “Porque somos assim (7)?” e depois fala das consequências, porém penso que devemos pensar primeiro porque pensamos assim e onde foi nossa cultura, que é o propósito essencial do autor expresso em outros livros de sua autoria.

Já abordou-se no tópico anterior o aspecto das causas do relativismo contemporâneo: empírico e abstrato, porém sem superar a fundo a dicotomia sobre a verdade lógica (abstrata) e o empirismo científico (válido em laboratórios para específicos casos) que também já tem seus questionamentos tanto na filosofia quanto na própria ciência, vejam o caso anacrônico do vírus, não se pode prevenir porque as mutações não podem ser controladas e a natureza revela sua força também em aspectos negativos, esperamos que o positivo seja reequilibrar a ação desastrosa humana.

É interessante a abordagem do autor, porém ela se restringe à esfera europeia, não há análise nem neste autor nem e outros europeus não há análise da disputa colonial, também na análise mais à esquerda de Slavoj Žižek (escreverei sem os acentos no Z porque para não-eslavos isto é demasiado extravagante), porque a meu ver todas se concentram no poderio do estado e suas soluções paliativas.

A análise da paz, parte da ideia que as duas últimas guerras foram causadas basicamente pelo conflito entre Alemanha e França (iniciadas na guerra Franco-Prussiana, figura), e a União Europeia poderia ser uma “causa da paz” uma vez que uma maior harmonia na Europa poderia destruir as razões dos dois primeiros grandes conflitos. Pensava-se então que ninguém acredita que “a França atacaria a Alemanha, e não o contrário. A conclusão resultante seria seguinte: sem este vasto aparato europeu de contenção, o huno [nome dados aos alemães durante as guerras] voltaria á velha forma” (Dalrymple, p. 111).

O cenário da época do livro parecia estável, e embora seja plausível pensar que uma maior “união” entre as nações signifique menos guerra, não se pensava na possibilidade de saída da Inglaterra da União (o Brexit, iniciado em plebiscito em 2017 e finalizado em 2020), nem numa guinada soviética da Rússia mais recentemente.

Assim as causas da paz, como já defendemos esta tese em outros posts quase sempre resulta de maus acordos de paz, não apenas as tréguas, mas aquilo que prometa um futuro estável, pois foi assim que o mau acordo entre Alemanha e França após a primeira Guerra Mundial, resultou na Segunda, ainda que o estopim tenha sido o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do já frágil Império Austro-húngaro e vejam que esta região pode ser de novo estopim uma vez que Bósnia e Sérvia acenam ao governo russo, e a segunda guerra termina com maus acordos entre a Otan e o Império Soviético.

A entrada de países do leste para a União Européia deveria ser distinta da adesão a força militar da OTAN, este por exemplo é o caso da Turquia, embora a ameaça de sair da comunidade permaneça.

Porém o autor aponta o calcanhar de Aquiles da União europeia, um “fundo de pensão” para políticos cansados e que querem manter seu clientelismo: “depois de terem sido derrotados ou de perder a disposição para passar por rigores do processo eleitoral” (p 117),

Em comparação com o estado soviético, o autor diz que é possível identificar o sujeito alimentado pela EU a um quilômetro e meio de distância: “é um tipo de sujeito que desenvolveu aquele semblante típico dos antigos membros do Politburo soviético”, tendência dos estados atuais a esquerda ou a direita, dentro de uma proposta que é razoável que é uma maior união entre as nações, que deveriam diferir dos estados onde o apetite dos seus membros são satisfeitos por aqueles que melhor sabem gerenciar seus apetites, e isto não leva a uma verdadeira cogovernança nova e verdadeiro gerenciamento do bem público.

Assim a causa da paz que aparentemente viria (em 2010) de uma maior integração de países, as nações continuam em suas diferenças culturais, infelizmente não se realizou, o modelo da Pax Eterna está falido.

DALRYMPLE, Theodore. A nova síndrome de Vicky: porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo. Trad. Maurício G. Righi. Brazil, São Paulo: É Realizações, 2016.

 

Há algo de podre

10 jan

Este é o título do primeiro capítulo de Theodore Dalrymple do livro “A nova síndrome de Vicky – porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo” (É realizações, 2016), para quem não sabe a frase de Hamlet sobre o reino da Dinamarca do qual era príncipe, a tragédia escrita em 1559 a 1601, que fala do assassinato do rei, pai de Hamlet pelo irmão Claudius que quer o trono e a rainha Gertrude (o cartaz ao lado o filme Hamlet direção e roteiro de Michael Almereyda, de 2001), cuja adaptação foi criticada porém gostei: “o idealismo de um jovem destruído pela corrupção existente no mundo” diz uma sinopse.

Fala de uma Europa mais rica e com maior expectativa de vida, lembra que Keats, Schubert e Mozart morreram novos (25, 31 e 35 anos respectivamente), que “o aumento de riqueza e do padrão de vida físico foi impressionante na Europa das últimas décadas” (Dalrymple, 2016, p. 17), e apesar disto “há um disseminado sendo de iminente obliteração, ou ao menos de declínio, a permear a Europa” (p. 18) e acrescento, de uma guerra com a Rússia ou de um conflito social cada vez mais possível, agora também na Inglaterra e França.

Para não divagar por ideias culturais psicológicas e filosofias, alguns fatos citados por Dalrymple, depois de 12 anos de seu livro (o original em inglês foi publicado em 2010), parecem corresponder aos fatos, apesar de seu conservadorismo cita um “belo exemplo” do livro de Patrick Besson chamado Haine de la Hollande.  Besson simpatizante dos sérvios quando a Otan lançou uma ofensiva contra a Sérvia “quanto ao subsequente julgamento de Slobodan Milosevic como grandes equívocos” e diz que a Otan “recorreu aos mesmíssimos crimes dos quais a Sérvia fora acusada” (pg. 13), a isto refere-se o post anterior quando digo usar gasolina para apagar o fogo, e refere-se a Holanda porque o júri foi em Haia.

Faz uma sentença curiosa e inteligente sobre a história, que parecem confirmar fatos atuais: “o fanatismo é o ressentimento em busca do poder; o consumismo é a apatia em busca da felicidade” (pg. 15), falamos na semana anterior do que entendemos por alegria e aqui fica mais claro que ela não pode se comparar ao sucesso dos fanáticos ou a apatia melancólica dos que buscam prazeres do consumismo.

Tudo isto é prefácio e antecede ao capítulo 1 “Algo de podre” que explicamos a origem no início, já citados do segundo parágrafo uma breve síntese da opulência e a queda daquele que Peter Sloterdijk chamada de “Império do Centro” e também ele descreve o descaminho da Europa em “Se a Europa despertasse”, já fizemos algumas pontuações em posts aqui neste blog.

Entre diversos aspectos que o livro aponta, os tópicos sobre Ansiedade e Fraqueza devem ser lidos inteiramente para serem bem compreendidos, sua sentença do o que está “podre” pode ser lida quando aponta que há uma consciência que a diferença “entre a Europa e boa parte do resto do mundo, nos aspectos tanto da riqueza quanto das realizações em outras esferas, diminui dramaticamente, e, em algumas áreas, inverteu- se, provocou o aparecimento de um grande incômodo, mesmo que fosse considerado inevitável a longo prazo*”( aqui a nota de rodapé cita Disraeli de 1838), e finaliza: “ninguém gosta de perder posições na hierarquia das coisas” (Dalrymple, 2016, p. 21).

A citação de Disraeli em 1838, quando antevia que a “não tolerará que a Inglaterra seja a fábrica do mundo”, e isto agora pode estender-se para a Europa e o resto do mundo em relação a produtos alimentares.

Cito aqui uma obra que tive contato quando estive em Portugal e para a qual escrevi dois textos: “Repensar Portugal”, quando o culto e eclético padre Manuel Antunes dizia de Portugal pós Salazarismo, que devia se voltar ao continente europeu e esquecer as ex-colônias, isto deveria valer-se para todo continente Europeu agora em uma crise dramática e com ameaças de totalitarismos e guerra.

DALRYMPLE, Theodore. A nova síndrome de Vicky: porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo. Trad. Maurício G. Righi. Brazil, São Paulo: É Realizações, 2016.

 

Guerra, intervenção e pandemia

09 jan

Embora o governo russo tenha decretado um cessar fogo unilateral devido ao Natal que lá é comemorado no dia dos Reis (que foi ontem), o cenário de guerra é muito preocupante: uma fragata (almirante Gorshkov oficial, mas podem haver outros movimentos) que navegará pelos oceanos Atlântico, Indico e Pacífico, com mísseis Zircon nucleares, que são hipersônicos e difíceis de serem captados por radares antimíssil.

O governo americano e a Otan disseram que podem bombardear o território russo, embora a Ucrânia já tenha feito de modo cirúrgico atingindo pontos de armamentos ou tropas militares, agora a ameaça é geral.

No Brasil após um dia de manifestações com invasões do Palácio do Planalto, STF e Assembleia Legislativa o governo federal decretou intervenção federal no Distrito Federal, usando o Art. 34 da constituição brasileira, que no Inciso terceiro diz: “manutenção da ordem pública”, a intervenção é quando uma instância superior intervém numa inferior que em situação normal goza de autonomia, ou seja, é um ato excepcional.

A intervenção no Distrito Federal vale até o dia 31 de janeiro deste ano, porém já se fala em 6 meses.

A pandemia embora goze de estabilidade no país, registra uma alta de 25% no mundo todo, assim ser tratada apenas como covid-19 é um eufemismo, ainda que os sintomas sejam mais leves, também devido a vacinação, as novas variantes são muito mais transmissíveis que as anteriores e começa a se destacar a Kraken (XBB.1.5), uma subvariante da Omicron já presente em 25 países, com o primeiro caso registrado no Brasil a três dias.

A declaração da OMS foi “A XBB.1.5, uma recombinação das sublinhagens BA.2, está aumentando na Europa e nos Estados Unidos, foi identificada em mais de 25 países e a OMS está monitorando de perto”, disse o seu diretor geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Seria necessário aumentar a vacinação, no Brasil as crianças tem uma defasagem alta, e começar a inserir rapidamente as vacinas de segunda linhagens, já que as atuais não são eficazes para as novas variantes.

Espera-se no mundo, e em especial no Brasil neste momento de tensão, maior serenidade e diálogo, o barbarismo não resolve nada, é como apagar incêndio com gasolina.

 

Viragem da virada: 2023

31 dez

Para onde iremos depende de nós, de um ambiente mais saudável, mais fraterno e onde os homens desejem e construam a paz.

Não apenas pena pandemia, pela economia e pelas guerras o ambiente social torna-se tóxico, é nas micro-relações, na propaganda cultural e até mesmo falsamente espiritual, que o novo se constrói ou se destrói.

Falamos da violência, indicamos algumas leituras para compreender aspectos culturais (indicamos Zizek e Darlymple), tecnológicos com a brevíssima introdução de Margarete A. Boden e espirituais (indicamos Anselm Grün), porém há muitos outros autores sérios (é preciso separar supersticiosos, fatalistas e adivinhos neste campo), muitos que indicam um perigo civilizatório grande a cada ano que se inicia.

Anselm Grün cita em seu livro Aristóteles: “A alegria é uma expressão da vida plena” e diz ela é própria “daquelas cujas atividades não são bloqueadas por fatores internos ou externos” (Grün, 2014, p. 15) e assim encontramos também alegria em tempo de tensões e ira, e damos espaço para as esperanças que só podem brotar da vida plena e de seu exercício social.

Zizek num pensamento mais amplo, muitas vezes defende a violência de modo, afirma de uma maneira mais consciente que: “Nem no campo da política devemos aspirar a sistemas que explicam tudo e a projetos de emancipação global; a imposição violenta de grandes soluções deve dar lugar a formas específicas de intervenção e resistência”, disse também em uma entrevista que “Não precisamos de profetas, mas de líderes que nos incentivem a usar a liberdade”.

No campo da tecnologia, que está sujeito a crítica sim e muitas vezes citamos o lúcido e crítico das mídias digitais Byung Chul Han, há muito devaneio e tentativas de explicações de ensaístas (que é o que de fato são) que escrevem sobre tecnologia, mas por não conhecerem suas entranhas navegam por problemas e questões que não são nem desmistificadoras nem esclarecedoras e fazem aquilo que mais criticam que é o fanatismo político e religioso, por ignorância tecnológica.

O texto de Margarete A. Bodan proposto (Inteligência Artificial – uma brevíssima introdução), embora seja histórico e pouco profundo (no aspecto tecnológico) é esclarecedor e pode ajudar aos críticos.  

Por ultimo apontamos um texto que pode nos ajudar a detectar de modo melhor o problema que vivemos de uma crise civilizatória, abordando os aspectos sociais e psicológicos (Theodore Dalrymple é na vedade o médico e psiquiatra Anthony Daniels) e indicamos seu livro “A nova síndrome de Vicky – porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo” mostra o fundo cultural e psicológico deste momento social.

Tudo isto não é por causa da pandemia e da crise econômica, que são só novos elementos nocivos, mas principalmente porque não introduzimos na vida pessoal e social mais empatia, mais alegria.

Feliz 2023, segunda tenho nova operação da visão e ficaremos alguns dias sem acesso aos meios e dispositivos digitais, é um bom começo com esta pausa forçada.

GRÜN, A. Viva com Alegria. Trad. Luiz de Lucca. Petrópolis: Vozes, 2014.

 

2022 alerta e esperanças

29 dez

O balanço de 2022 começou com o sucesso do lançamento do observatório James Webb (no Natal de 2021, mas chegada em 2022), suas primeiras imagens e dados científicos impactaram a astronomia e já balançam as teorias físicas atuais, novas concepções até do próprio universo, a formação de galáxias, a matéria escura e os buracos negros e é previsível mudanças nas leis físicas a partir destas observações.

Ele chegou ao seu destino um ponto de equilíbrio na atração gravitacional do Sol chamado de ponto de Lagrange L2, e mandou as impressionantes primeiras imagens somente em junho, e sempre acompanhados aqui no nosso blog mostramos as 5 primeiras imagens no dia 12 de julho e disponibilizamos o link  ferramenta de zoom disponível  que permite que você escolha o alvo de visualização no universo.

Outro aspecto de alerta foi a guerra da Ucrânia, acompanhamos as evasivas da Rússia que não invadiria o país, depois a invasão com a desculpa que era para combater o nazismo e a militarização, porém a guerra foi se tornando mais cruenta e embora tenham chegado a Kiev, depois de inúmeros revezes retrocederam, o número de mortos e refugiados é enorme, além da destruição física do país, a reação da Ucrânia foi uma grande surpresa e a guerra irá completar em fevereiro um ano, ainda com poucas expectativas de negociação e paz.

As tensões entre China e Taiwan, que envolvem os EUA e Japão também estão em pauta, as tensões internas nos países islâmicos também preocupam.

No Brasil o destaque foi a corrida eleitoral, envolta numa polarização ainda maior que a anterior, como denuncias e provocações ainda piores que as anteriores, a intolerância e a falta de diálogo construtivo foi uma das marcas da eleições, com a vitória da esquerda unida em uma frente ampla, e com uma reação ainda dos resultados das urnas.

O novo governo, entretanto, acena para setores conservadores com ministro de centro-esquerda e até pessoas respeitas no agronegócio, a fragilidade ainda é uma proposta clara na economia, o congresso e o senado teve uma avanço no número de cadeiras de conservadores.

Em toda América Latina é visível o avanço das forças de esquerda, Colômbia e Chile foram as vitórias mais impactantes, além do Brasil é claro, mas o quadro geral ainda é um pouco conservador.

A Covid deu sinais de trégua, volta ao trabalho e ensino presencial, mas no final do ano volta a preocupar com uma grave crise sanitária na China e o aumento de casos e mortes em vários países, que podem voltar a crescer a níveis preocupantes.

Ah o Brasil perdeu a copa e a Argentina ganhou.

O ano que vem não deixa de ter esperanças e preocupações, o quadro não é bom para a economia mundial, o aspecto sanitário e humanístico chama a atenção e deve ser tratado com maior profundidade, a reunião do G7 para janeiro, a expectativa de alianças que devem surgir na América Latina devem tornar o quadro geopolítico bastante modificado para 2023, há sempre esperanças e forças que lutam para a paz.

 

Ira e poder

28 dez

Toda literatura ocidental contemporânea desemboca na leitura de duas coisas que aparentemente não são opostas, mas se opõe frontalmente: amor e poder.

A violência é tema comum desde que o homem é homem, o confronto visava inicialmente como os animais o domínio de um território, a demarcação de países, nem sempre significa nação e sua cultura, é imposta pelo poder dominador, assim nasceu os primeiros impérios babilônico, persa, romano sua etapa de decadência, as monarquias medievais, o império mongol e depois o turco-otomano.

Desde as discussões de Thomas Hobbes, David Hume e John Locke, e Jean Jacques Rousseau, os chamados contratualistas, que divergiam sobre a origem violenta do homem: o homem é mau, o homem é bom e é a sociedade que o corrompe e o homem natural é bom, o chamado bom selvagem, o certo é que o estado moderno, diferente da polis grega, é aquele que tem direito a violência.

Na República de Platão não era assim, a ideia desta escola filosófica era educar o homem para ser político, deveria ter sabedoria e virtudes (aretê), sendo a sabedoria a maior das virtudes, porém é preciso lembrar a polaridade entre Athenas, cidade dos sábios e Esparta, cidade dos guerreiros, assim a ideia da violência permanecia no cotidiano, e Aristóteles não só caminha nesta direção como se torna preceptor de Alexandre, o grande, imperador da Macedônia.

Assim a Ideia de Platão permanecia influente na Grécia, e a tentativa de aliança entre gregos e macedônicos para derrotar o império persa não aconteceu, mesmo assim o império se estende por toda Asia Menor chegando a Índia, mas não a conquista, sem herdeiros e com disputas entre seus generais o império se divide e enfraquece, logo no período seguinte o Império Romano começa a se formar.

A violência moderna antes das guerras concentrou-se na divisão dos reinados, com a reforma protestante e também a anglicana no Reino Unido, até estabelecer-se a Paz de Vestefália.

A grande teoria sobre o Estado moderno e o poder será elaborada por Hegel, ela é dominante hoje independente de posições ideológicas, afinal Karl Marx era também hegeliano (novos, com ele se denominava), porém é o estado moderno o detentor do poder para causar a Paz, a Pax Eterna como pretendia Kant, mas que resultou em duas guerras e estamos a beira de uma terceira, que esperamos não aconteça.

Porém olhando a literatura atual, boa parte dela trata do barbarismo, os dois livros que indiquei e lerei no próximo ano vão nesta direção, embora com tendências políticas opostas, Zizek e Dalrymple se debruçaram sobre o tema, mas há muitos outros: “Ira e tempo” de Peter Sloterdijk, “Violência” de Slavov Zizek e “Comunicação não violenta” de Marshall Rosemberg entre outros.

De Byung Chul Han lembro a citação do seu livro No enxame, que analise a violência das novas mídias, onde afirma que só o respeito é simétrico, ou seja, os dois lados são não violentos.

O romance/ficção de Gabriel Garcia Márquez “O amor nos tempos do cólera” ele arriscou um happy end, diferente de outros livros ele quis tornar a felicidade possível, criar uma espécie de fábula moderna ou uma esperança desesperada, onde “uma utopia de vida, onde o amor de fato seja verdadeiro e a felicidade possível” (Márquez, 2005).

Márquez, Gabriel Garcia. O amor nos tempos do cólera. Rio de Janeiro, Record, 2005.

 

Ainda a guerra e ainda a pandemia

26 dez

As noticias da guerra na Ucrânia são de um esgotamento das forças militares,em meio ao inverno,ainda que Moscou fale em negociação de paz, um ataque novo a Kiev é previsto pelo comando militar da Ucrânia, enquanto a Rússia teve um ataque a Criméia, o que é visível é que cada um dos lados começam a gastar suas forças de reserva e o cenário é de esgotamento.

AS perdas humanas, militares e materiais são enormes, assim como o desafio de manter a iniciativa com o arsenal a disposição, é a análise de muitos observadores de guerra, como Igor Gielow da Folha de São Paulo.

A Rússia não cede os territórios conquistados, que representam seu controle sobre o mar de Azov e o Mar Negro, passagem para o Mediterrâneo, ainda que tenha que passar por Istambul, membro da OTAN e que controla o estreito e a passagem de Navios.

Do lado da Ucrânia e da Otan os territórios conquistados são inegociáveis, assim o acordo possível seria voltar a 2014 quando a Criméia foi anexada à Rússia.

Outro cenário preocupante neste final de ano é o da Pandemia, embora alguns anunciem o fim as máscaras, a explosão da Pandemia na China e um aumento significativo nos casos, ainda que a maioria sejam leves, parece estar longe o fim da Pandemia, e a trégua inspira cuidados ainda maiores.

Em entrevista na véspera do Natal à CNN, a infectologista Raquel Muarrek, da rede D´Or, afirmou que especialistas estão trabalhando com uma nova expetativa onde o Brasil deve ter nos próximos dois meses “maior incidência de casos da Covid-19”, e diz eu a origem é a alta transmissão que já está ocorrendo na China, onde o controle agora gera inclusive uma crise social, pois a população está esgotada.

Resta saber qual será a atitude dos novos governantes no país, uma vez que os estados gozam de certa autonomia para o enfrentamento da grave crise, o certo porém é que não poderemos conviver com o descaso neste início de ano, e esperamos atitudes preventivas dos governos.

Segue-se um cenário de incertezas, o Fórum Econômico de Davos promete muitas controvérsias, é provável que os países de esquerda não compareçam, incluindo o Brasil que está com novo governo no mês de janeiro, quando o evento se realiza.