RSS
 

Posts Tagged ‘Noosfera’

Comunicação, Noosfera e Corpus Christi

30 mai

A ideia que o universo tem uma alma ou um espírito, (noon – mente ou alma),  trazem novas reflexões sobre o sentido do nosso Ser, reflexões que a filosofia atual jNoosferaPlakovaá acolhe, como em Morin:

A noosfera não é apenas o meio condutor/mensageiro do conhecimento humano. Produz, também, o efeito de um nevoeiro, de tela entre o mundo cultural, que avança cercado de nuvens, e o mundo da vida. Assim, reencontramos um paradoxo maior já enfrentado: o que nos faz comunicar é, ao mesmo tempo, o que nos impede de comunicar”. (MORIN, 2001).

Em termos etimológicos, religião é o que nos “religa”, ou seja, aquilo que nos impele a comunicar com o outro, no significado cristão, aquilo que nos leva a “Amar o outro” e é exatamente isto que nos religa na Noosfera, em Teilhard Chardin que cunhou esta palavra, é justamente esta comunicação de Amor (A maiúsculo de Ágape) que nos “religa” ao Outro e a todo o Cosmos, que para ele, sacerdote católico, é o Cristo Cósmico, todo o seu corpo cósmico, interligando tudo e todos.

Então todo Ser ôntico e o universo estão ligados ao Sumo Ser que é o Ser em essência, e justamente este Ser que nos impele a comunicar, a manifestar esta “religação” ao Outro e ao Cosmos.

O sonho e visões de Juliana de Liège da Belgica (1193-1258) manifestado ao seu páraco e futuro papa Urbano IV, que criou a data de Corpus Christi, talvez valesse uma releitura para uma ideia de sociedade-mundo para a qual a sociedade caminha em meio ao nevoeiro atual, e um cosmos cada vez mais conhecido e misterioso ao mesmo tempo.

MORIN, E. O método 4: As ideias: habitat, vida, costumes, organização. RS: Sulina, 2001.

 

Novo design do blog e noosfera

20 mai

Esta postagem é comemorativa ao lançamento do novo design do blog e do site, Noosphereuso a arte digital de Tatiana Plakhova.

Assim como existem a biosfera, desenvolvida em milhões de anos em torno da esfera terrestre, segundo Teilhard de Chardin, o Homem surgiu como uma espécie simples sobre na Biosfera terrestre, respirando em uma Atmosfera, mas sujeito à um reino “nem mais nem menos que uma ´esfera´ – a Noosfera (ou esfera pensante) sobre-imposta coextensivamente (mas quanto mais ligada e homogênea) à Biosfera” (Chardin, 1997, p. 102).

Chardin descreve o desenvolvimento da Noosfera em duas fases uma de ocupação da Biosfera, ou de extensão como ele a chama, onde “dilata-se na primeira metade do trajeto (até o ao Equador [pensando dos polos ao centro])  … num ritmo bem parecido, se processa historicamente o estabelecimento da Noosfera” (Chardin, 1997, p. 103), e só ultimamente … é que aparecem no Mundo os primeiros sintomas de enovelamento definitivo e global da massa pensante no interior de um hemisférico superior … “ (Chardin, 1997, p. 104) e afirma que a primeira fase teve três características distintas: “Povoamento, Civilização, Individualização” (idem).

Este movimento de contração, por ele chamado de “planetarização”, nos faz surgir “um medo essencial do elemento refletido perante um Todo, aparentemente cego, cujas camadas imensas se dobram sobre ele como que para o reabsorver bem vivo … como se a Vida, depois de nos conduzir pela mão até à luz, se deixasse cair para trás, esgotada ?“ (Chardin, 1997, p. 126).

“Deste ponto de vista … não sala aos olhos que nossos receios de ´desumanização por planetarização’ são exagerados; pois que essa planetarização, que tanto nos assusta, não é mais (a julgar pelos seus efeitos) que a continuação autêntica e direta do processo evolutivo de que historicamente saiu o tipo zoológico humano?” (Chardin, 1997, p. 127). 

Chardin reafirma sua certeza que o complexo “econômico-técnico-científico-social” … “comporta-se como um corpo que irradia, sendo a irradiação formada por uma Energia livre, cuja natureza e metamorfoses deve ser objeto de um breve estudo” (Chardin, 1997, p. 130).

CHARDIN, Teilhard. O lugar do homem na natureza. Lisboa: Instituto Piaget , 1997.

 

Pontes, paradoxos e tecnologia

03 mai

Numa guerra os primeiros alvos são as pontes, porque elas “ligam” lugares e pessoas que uma vez isolados, começam a servir aos interesses bélicos de destruir e isolar.

Mas o isolamento cultural, religioso e político pode ser causado por um isolamento físico natural, terras longínquas de difícil acesso e comunicação, ainda há regiões assim no planeta.

A tecnologia entra aí para unir, facilitar o acesso e construir pontes entre povos de culturas diferentes, mas nem tão distantes quanto se imagina.

Re-assisti um filme de Win Wenders sobre as transformações culturais da capital do Japão no pós guerra, e da Tóquio recente, e podemos perceber mudanças na cultura da família, dos costumes, de certa forma muito parecida com a cultura ocidental, devido a tecnologia, como ressalta o filme.

O filme (Tokyo Ga, 1985) na verdade é quase um documentário sobre o diretor japonês Yasujiro Ozu, de que filmou o cotidiano japonês desde a década de 20, quando ainda havia o cinema mudo.

A internet era nascente e a Web não existia, mas ele conta os salões de jogos sempre cheios e vai filmar um prédio onde pessoas ficam horas jogando golfe sozinhas, mas aos milhares, eram os games desta época.

A TV e de certa forma o cinema criaram em nós uma cultura uniformizada, com falsas pontes porque nos traziam de volta ao mesmo terreno comum, o da indústria cultural e seu interesse pelo consumo.

Ao mesmo tempo paradoxalmente nos colocou “numa aldeia global”, e na aldeia como dizia Honoré de Balzac, se vive em público, então começamos a enxergar “desfocadas” as culturas de todo o mundo.

Desfocada porque nossa visão, passada por jornais e TVs era centralizada na cultura ocidental dominada pelos interesses econômicos e políticos, interligados e financiados pela cultura política vigente.

Com a mundialização é possível enxergar a cultura dos outros continentes, que agora nas novas mídias, se posicionam numa nova ponte, defender a cultura local e olhar a cultura do outro, mas pelo olhar da multidão em fotos, vídeos e textos compartilhados nas redes sociais.

 

Superficialidade e os algoritmos

27 abr

Muitos entre os que não são da chamada geração Y (agora Z) criticam o uso de email e a Web como fuga ou medo dos problemas cotidianos.

Sempre que ouço falar de geração superficial, termo cunhado por Nicholas Carr, sobre o que a internet fez com nossos cérebros, imagino que é tudo muito novo para alguma conclusão realmente final sobre o processo que estamos vivendo, mas não existe planeta B: estamos vivendo assim no planeta A.

Mas posso dizer sobre minha experiência pessoal de todo este período mergulhado em computadores, tecnologias e principalmente em ideias que possam solucionar problemas.

Aprendi a programar no tempo dos grandes computadores, quando o acesso as máquinas era difícil e a primeira que aprendi foi resolver problemas e criar algoritmos, passos consecutivos para solucioná-los e depois de muitas etapas de depuração do algoritmo (a palavra em inglês era debugging acho que daí veio a ideia do bug, defeito no programa) chegava ao programa que só então ia ser passado para a máquina.

As etapas eram: identificar o problema, estabelecer passos para resolvê-lo, otimizar cada um dos passos a permitir a melhor operação com menos tempo e custos, encontrar os possíveis erros e finalmente testar o algoritmo final.

Muitas vezes nem chegavamos ao programa de computador, mas haviam ideias e soluções geniais.

Quando surgiu a internet isto ficou mais interessante, porque era possível compartilhar com milhares de programadores, listas de discussão e havia uma tremenda sinergia nas redes.

A Web ficou mais interessante ainda, porque não programadores se aproximaram deste universo aumentando esta sinergia e universalizando problemas e soluções.

Penso que a superficialidade é justamente o oposto: jamais enfrentar os problemas usando subterfúgios (culpar os outros, dizer que não há soluções ou apenas fugir), enfrentando o problema não conseguir estabelecer passos para enfrentá-lo, conseguindo os passos não admitir que possa ter erros ou falhas, passando os erros e as falhas, nunca testar o algoritmo todo e finalmente, por saltar uma destas etapas, voltar ao problema inicial que só cresceu.

São inúmeros os problemas da superficialidade moderna, mas o pior de todos é não enfrentar os problemas e não admitir os erros, é um sistema pedagógico e psíquico falido, ninguém aprende e quem ensina assim ensina errado !

 

A liquidez, a modernidade e a Web

26 abr

Uma coisa muito comum é associar a liquefação de algumas instituições e das relações sociais com o mundo digital, nada mais equivocado, porque este processo se inicia no final da idade média.

Primeiro deve-se esclarecer que modernidade, termo surgido no final da idade média e início da idade moderna, com as transformações clássicas e um conjunto de “ideais” aparentemente estáveis de valores e modos de vida cultural e político: o liberalismo, o iluminismo e concepções de sociedade que seriam duradouras, mas que o tempo mostrou que não são.

Na modernidade líquida, tudo é volátil, as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto, familiar, de grupos de amigos, de afinidades políticas e assim por diante, perde esta consistência e estabilidade, mas quando tiveram ? Referiam-se a quais valores “sólidos” ?

O estabelecimento da autonomia da razão, com suas extraordinárias influências na filosofia, a cultura e as sociedades ocidentais, e até mesmo nas teologias atuais.

Em Descartes já se liquefazia o sujeito moderno, ao desenvolver a sua dúvida sistemática, moderno conceito sobre o que seria “científico” afirma: “usando de sua propria liberdade, suponha que nenhuma coisa, de cuja existência tenha a menor dúvida, exista”, e já na primeira meditação dizia: “me aplicarei seriamente e com liberdade a destruir em geral todas minhas antigas opiniões” sobre o que diria mais tarde Husserl, que introduziu outro método (pós-moderno?) colocando entre parentesis o que se considera certo.

O fracasso na construção do discurso de diversas escolas e saberes, a crise atual do conceito de “autoridade” e sobre a falibilidade dos sentidos, em que se baseia o empirismo, incitaram Descartes a evidenciar a desconexão moderna dos sujeitos dos seus objetos do conhecimento.

A magia e o argumento do sonho, importante tema no barroco e nos neo-clássicos, entre os que têm um ou mais possíveis paralogismos com a razão moderna, ao desvincular-se dos objetos, dando a eles um campo do imaginário e do irreal, que não é o virtual, possibilidades inúmeras.

Estava quebrada a concepção e a possibilidade sólida de um realismo plano ou de uma ligação em certa medida material ou homogênea entre as coisas exteriores e o sujeito que deseja conhecê-las.

O que a Web tem a ver com isto, tudo e nada, tudo porque nasce e vive nesta época, e nada porque é no mínimo um equívoco atribuir a ela os 500 anos da modernidade e os seus problemas, ela só tem 13 anos, ou 30 anos se pensarmos a internet.

 

Dia da terra e a tecnologia

22 abr

Hoje é dia da terra, casa comum de todos habitantes deste planeta, ainda que alguns tentem privatizar aquilo que nos foi dado de graça, a ideia do crescimento dos “commons” cresce.

Já há alguma coisa a comemorar pela luta de anos de ambientalistas, povos da floresta, naturalistas e todos que amam sua própria casa: o planeta terra.

No ambito das fontes renováveis de energia que incluem: eólica, hídrica, solar, biomassa e geotérmica, crescem em todo mundo, nos EUA por exemplo, a energia eólica bateu um record de 13,1 Gigawatts (GW) de capacidade instalada, o que é suficiente para 15 milhões de residencias, pensando numa média de 3,5 habitantes por casa, isto significa mais de 50 milhões de pessoas que podem ser abastecidas pela energia do vento.

Mas a instalação de torres meteorológicas e turbinas eólicas são passos críticos para um desenvolvimento de parques eólicos, são ainda passos lentos e muitos recursos organizacionais são disperdiçados, no caso do Brasil, a ferrovia inacabada Norte-Sul e portos mal instalados (que desperdiçam combustíveis e alimentos pelas estradas).

Também o respeito aos povos indígenas é importante, até mesmo a comissão da verdade reconhece graves violações de direitos humanos dos indígenas, mas não se apura nada.

Segundo o IBGE 36,2% dos brasileiros que se declaram índios, num total de 896.917 brasileiros, moram em aldeias, destes apenas 37,4% falam a lingua de sua etnia.

E isto não está distante de nós, São Paulo é a cidade com maior número de indígenas, 11.918 brasileiros, seguida por São Gabriel da Cachoeira 11.016, no Estado do Amazonas.

O planeta e o respeito pelos povos ainda tem solução, é preciso vontade política para isto.

 

Novas mídias acompanham novo papa

13 mar

Já havia um aplicativo chamado “The pope app” que pode ser baixado no iTunes, que dá acesso a “todo o material oficial relacionado com o Papa em vários formatos: notícias e discursos oficiais, galerias com as últimas fotos e vídeos, acesso ao seu calendário e ligações para outros serviços da Santa Sé”.

O cardeal Jorge Mario Bergoglio, um cardeal argentino de Buenos Aires, agora o papa Francisco I, é um homem que faz suas próprias refeições, anda de transporte urbano e não por acaso escolheu o nome de Francisco, lembrando o santo pobre de Assis.

Também o fato de ser escolhido um latino americano indica a tendência de olhar para os pobres e para os problemas sociais, tão caros em nosso continente.

Ao contrário da exploração da imprensa oficial, um homem simples e humano é o novo papa.

 

Dia 8 de março e duas atividades

08 mar

Em 8 de março de 1857, tecelãs de Nova York realizaram uma marcha por melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária e igualdade de direitos.

Na época, a jornada de trabalho feminino chegava a 16 horas diárias, com salários até 60% menores que os dos homens.

Há duas versões uma que as manifestantes teriam sido trancadas na fábrica pelos patrões, que atearam fogo no local, matando cerca de 130 mulheres, outra é que a interrupção da passeata pela polícia, que dispersou a multidão com violência.

A versão do incêndio é, provavelmente, uma referência a outra tragédia da fábrica Triangle Shirtwaist Company, em 25 de março de 1911, onde o fogo matou mais de 150 mulheres, com idades entre 13 e 25 anos, na maioria imigrantes italianas e judias.

Entre as atividades do dia destaco a exposição já iniciada de Claudia Firmino, no Espaço Cultural V Centenário, na assembleia legislativa do Estado de São Paulo, com 26 telas desenvolvidas durante sete anos que homenageiam mulheres fortes de 23 culturas diferentes, entre elas mulher africana, árabe, argentina, boliviana, chilena, colombiana, cubana, espanhola, francesa, mexicana, palestina, russa, entre outras.

O local da exposição é Av. Pedro Álvares Cabral, 201 – Ibirapuera – São Paulo – SP.

Outra que destaco é uma celebração em homenagem a Ginetta Calliari, falecida justamente neste dia em 2003, e cujo processo de canonização será finalizado nesta data, Ginetta dedicou-se aos pobres e a unidades entre os povos, religiões e culturais, tinha como lema de vida: “Aquele que crer em mim, ainda que morra, viverá” que é João, capítulo 11 e versículo 25. A celebração acontecerá as 20 hs na Catedral de Osasco.

 

Os papas e a tecnologia

14 fev

Diferente de alguns católicos conservadores, os papas se deram bem com a tecnologia, claro nunca deixaram de salientar possíveis exageros e aspectos negativos (há em quase tudo que é humano), em ordem cronológica, lembrando os principais fatos, mas começando pelo atual:

1-O exemplo mais recente de Bento XVI e a tecnologia, quando ele configurou uma conta no Twitter com o endereço @ Pontifex, a palavra latina para papa, desde então o papa já tem 234 mil seguidores;

2- O papa Leão XIII, que esteve a frente da igreja de 1878-1903, apareceu num filme preto e branco no início do cinema, o filme era intitulado “Sua Santidade papa Leão XIII”, foi dirigido por William Kennedy Dickson, o inventor escocês da câmera de movimento parecida a de Thomas Edison, há ainda áudio dele cantando Ave Maria em latim, mas dizem que foi adicionado em 1903 quando de sua morte. No filme ele abençoa a câmera.

3-O papa Pio XI viveu o início do rádio e foi o primeiro a usar esta mídia para transmitir um discurso aos fiéis, ele falava inglês, latim, italiano, francês, alemão, espanhol, português, holandês, eslovaco e húngaro. Em um dos seus discursos declarou pela primeira vez, diz Frankel. “Há séculos a doutrina permanece e dá a impressão de que a igreja ficará para trás com os tempos”, disse ele, mas isto colocou novas pressões no Vaticano até este fundar sua rádio.

4-João XXIII, levou a TV a filme sobre o dia-a-dia do Vaticano, haviam programas de TV do dia-a-dia de famosos e, em 1961, ele estava a frente de seu tempo quis mudar os rumos da igreja, algumas que ainda hoje experiementamos, como a mudança nos ritos, a participação dos leigos na igreja, enfim mudanças que ainda hoje não aconteceu.

5-O papa Paulo VI, poucos sabem, foi o primeiro a usar o termo papamóvel, em 1965, para sua viagem a Nova York, mas o termo “papamóvel” só entrou em uso no reinado do Papa João Paulo II, quando em 1979, usou um carro no chassi de um Ford Série D de caminhão para sua viagem à Irlanda.

6-João Paulo II foi o papa da mídia, ator quando jovem, esportista, tinha uma voz bela para o canto, atraiu jovens e demonstrou bom humor e presença de espírito, sua imagem é ainda hoje guardada com carinho por fiéis e pessoas de boa vontade.

7- O papa Bento XVI que se despede, falou com blogueiros, twittou de um tablet, abençoou 12 astronautas que circundam a Terra no ano passado e disse “Vocês são os nossos representantes que lideram exploração da humanidade de novos espaços e possibilidades para o nosso futuro”.

Espero que o próximo papa seja moderno, apoie os espaços criados pelas novas mídias, como a liberdade de expressão da pessoa comum, seja aberto a todas culturas e religiões, ao futuro da humanidade, as novas descobertas e ao progresso do homem.

 

Hannah Arendt, Filosofia e Amor

19 dez

Hanna Arendt é, a nosso ver, foi instigada no drama existencial, e dentro dele tomou a questão do Amor, desde cedo com uma questão essencial:

“Em começos de 1924 chegara a Marburg uma estudante judia de 18 anos querendo estudar com Bultmann e Heidegger. É Hannah Arendt. Vinha de uma boa família judia assimilada de Könisberg, onde crescera. Aos 14 anos, sua curiosidade já havia despertado. Leu a Crítica da razão pura, de Kant, dominava grego e latim tão bem que aos 16 anos fundou um círculo de estudos e leitura de literatura antiga. Antes mesmo de suas provas finais no liceu de Könisberg, passou uma temporada em Berlim, onde leu Heidegger e tomou aulas com Romano Guardini (especialista em Kierkegaard)”, escreveu Safranski sobre Hannah.

Ainda adolescente, a pensadora que já havia formado um círculo de filosofia ainda adolescente, escreve suas primeiras preocupações, Hannah Arendt redige o poema Consolo (Trost):

“As horas correm, Die Stunden verrinnen / Os dias passam, Die Tage vergehen, / Resta uma graça Es bleibt ein Gewinnen / O simples persistir. Das blosse Bestehen.” (Young-Bruehl, Hannah Arendt, Por amor ao mundo, p. 53).

Numa carta de Heidegger a ela, “E o que podemos fazer além de nos abrirmos, além de deixarmos ser o que é? Deixar ser de tal modo que o amor se torne para nós uma alegria pura/ casta (reine Freude) e a nascente de cada novo dia de vida. Ser elevado ao que somos. De qualquer maneira, seria possível que um de nós ‘dissesse’ e se abrisse ao outro. Só podemos dizer, contudo, que o mundo não é mais meu nem seu, mas nosso”.

Pensar o mundo como “nosso” e não meu é uma necessidade de nosso tempo, um passo essencial para nossos problemas mundiais.

A tese de doutorado de Hannah foi “O conceito de amor em Santo Agostinho” (ARENDT, 1998).

Ao ler santo Agostinho, objeto de sua tese de doutorado, ela observa a separação entre Amor e gozo: “essa alegria está em amar o amor sem inscrevê-lo em algo particular e passageiro”, e então enfatiza: “O amor espera encontrar com a eternidade a sua própria realização” (Arendt, O conceito de amor em Santo Agostinho, p. 35).

ARENDT, H. O conceito de amor em santo Agostinho. Tradução de Alberto Pereira Dinis. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.
SAFRANSKI, R. Heidegger, um mestre da Alemanha entre o bem e o mal (biografia). Tradução de Lya Luft. Apresentação de Ernilto Stein. São Paulo: Geração Editorial, 2000.