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Posts Tagged ‘peace’

A paz possível

10 out

Enquanto a Ucrânia realiza avanços no sul, na região próxima a Kherson, e Putin oficializa a anexação das 4 regiões em disputa (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia), o empresário americano/sul-africano Elon Musk propõe um plano de paz, surpreendente para sua visão.

A ideia era a realização de referendos nas quatro regiões anexadas citadas acima, mas desta vez sob a supervisão da ONU, o fornecimento de água potável a Criméia (que depende da Ucrânia para isto) e a manutenção da Ucrânia como neutra em relação a OTAN.

Claro isto é para ser colocado numa mesa de negociação, surpreende porque o empresário até o presente momento era plenamente favorável a Ucrânia, e agora sofreu duras críticas do país, e por outro lado um aceno da Rússia para sua proposta.

Quanto valem as vidas humanas ali, de ambos os lados, o perigo de uma guerra nuclear, agora a tensão sobe também na Coréia do Sul com testes de mísseis e aviões na fronteira da Coréia do Norte, enfim é preciso tirar um pouco da pressão para fazer as mentes sadias respirarem.

O lado militar da guerra, teve pequenos avanços da Ucrânia no Sul e a explosão de uma ponte na Criméia, enquanto a Rússia prepara seus reservistas para novas ofensivas na região, os caríssimos mísseis HIMARS (high Mobility Artillery Rocket System) que tem dado exito aos avanços da Ucránia, são limitados em número e caríssimos, lembro que na guerra do Afeganistão eram lgo acima de 5 milhões de dólares, um afronto a pobreza e os níveis de vida de muitos povos.

O inverno chega no final do ano no hemisfério norte, e a corrida contra o tempo na guerra pode ser um mal sinalizador para ambos lados, a Ucrânia avançar a qualquer custo e a Rússia arriscar a vida de milhões de jovens numa guerra insana e a constante ameaça nuclear.

Já há testes sendo feitos, os possíveis alvos e que armas seriam usadas são pensadas por analistas de guerra, como se tratasse de um simples jogo de xadrez e não um risco civilizatório.

Pensar na paz é urgente, todos dizem querer, mas o que se vê em campo é uma crescente tensão e desafio aos limites do racionalismo humano (na foto acima é a rendição de um tanque russo, porém bem que poderia ser uma bandeira de paz).  

 

Não há neutralidade nem inocência presumida

04 out

O resultado eleitoral no Brasil foi surpresa para muitas pessoas, entre os partidos em disputa há sempre um triunfalismo, isto é até natural, porém dentro das regras e das leis eleitorais que incluem as regras para divulgação de pesquisas e esta é a maior surpresa da eleição no Brasil.

O pior resultado das eleições democráticas é sempre algum arranhão na democracia, já frágil.

O livre debate de ideias e de propostas políticas é essencial na política e na sociedade como um todo, estes limites quando são extrapolados criam lacunas de ódio e intolerância prejudiciais ao processo político, não há como dizer que as pesquisas erraram e muito, porém erraram apenas em um sentido e isto é além da neutralidade presumida dos institutos de pesquisa.

Não há só desinformação, portanto, há também má informação e mal trabalhada pelos órgãos que deveriam preservar os critérios científicos matemáticos e estatísticos, dizer que houve uma virada às vésperas das eleições, é possível em dois até 4 pontos porcentuais, acima da alegada margem de erro, porém chegaram a 10% e até mais, isto não contribui com a democracia e tumultua.

Até mesmo o STF e STE se isentam de qualquer culpa ou pedido de investigação, afinal todas as pesquisas devem ser levadas ao Supremo Tribunal Eleitoral para poderem ser divulgadas, ou seja, ele pode não referendar (não é ele que faz a pesquisa), mas autoriza a divulgação e é solidário.

Para que não haja exploração político-eleitoral é necessária uma resposta a sociedade, até mesmo pesquisadores e analistas sérios comentaram o fato, cito Pablo Ortellado da USP (veja entrevista à BBC) que deu entrevista afirmando que devem rever os “métodos”, entenda-se aqui método por metodologia, penso que é pouco é preciso ter critério de neutralidade científica e política.

Para o bem da democracia, para um percurso pacífico e democrático no segundo turno é preciso sim esclarecer a sociedade como um todo, dizer que as pesquisas não influenciam é sofisma.

É preciso salvaguardar o processo eleitoral democrático e respeito as regras do jogo, no Brasil é muito difícil, mas a frágil democracia precisa disto e espera-se uma resposta à sociedade.

 

A escalada da guerra

26 set

Alertamos na semana passada que o risco de um avanço ucraniano provocaria a ira russa e é de fato o que está acontecendo, o governo convocou 300 mil reservistas, e o órgão OVD da ONU, informou que houveram protestos em 38 cidades e 1,4 mil pessoas foram detidas (Fonte RTP Portugal).

A guerra no leste da Ucrânia começa a inverter a tendência, as vésperas de um plebiscito feito pelo governo russo, as tropas ucranianas avanço na região de Donetsk, estratégica porque possui estradas e ferrovias para da Rússia se alcançar as regiões ao leste, incluindo Mariupol e Kherton.

Quais serão os próximos passos dependerá da gravidade do avanço ucraniano, a princípio estes jovens e pais de famílias que estão sendo convocados irão para o fronte então a ideia de esperar o inverno e tentar conter o avanço das tropas da Ucrânia parece uma primeira estratégia, mas as provocações de uso de armas nucleares prosseguem e os canais de imprensa dos EUA noticiam que o governo Biden teria feito uma ligação reservada ao governo russo.

O governo chinês pediu neste final de semana que não haja “transbordamento” da guerra.

Putin manteve até agora os protestos e oposição a guerra sob controle, a custa de prisões e certo cerceamento de liberdades de imprensa, também a maioria das regiões é governada por autoridades pró-Kremlin, porém é possível que a situação interna se agrave (foto de protesto).

Um agravamento que é incomodo para o governo russo, são as disputas fronteiriças entre Armenia e Azerbaijão, e, também Tadjiquistão e Quirquistão e a própria Rússia tem uma disputa de território com a Georgia, além dos vários conflitos fronteiriços (Finlândia, Moldávia, etc.), na prática a Rússia gostaria de voltar a ser a grande federação soviética, mas o cenário já é outro.

A questão russa é que a OTAN se aproveite destes conflitos para ter novos aliados, além da expansão territorial que teve no pós-guerra, sendo esta a principal razão alegada para a guerra com a Ucrânia.

O cerco de Leningrado, hoje São Petersburgo, foi não permitir que os comboios russos chegassem até a cidade e havia um cartão de racionamento da comida, quando uma pessoa morria a primeira coisa que faziam era roubar-lhe o cartão, também se alguém transportava comida na cidade era roubada, a cidade tinha cerca de 3 milhões de habitantes e a única passagem para a Rússia era o lago Ladoga.

 Veio o inverno e o lago tornou-se congelado e possível de ser usado como rota, enquanto a situação do exército alemão é que enfrentava dificuldades de abastecimento e condições de suportar o frio.

A situação atual da Ucrânia é que há todo o outono para retomar as regiões do Dombass, e evitar a batalha do inverno, enquanto os russos querem sufocar a retomada, primeiro através de um referendo que garanta o apoio a anexação russa e depois com o envio de mais tropas.

Novas derrotas russas poderão agravar a questão nuclear e a própria Ucrânia pode sofrer com o frio se for obrigada a desligar sua usina Zaporijia.

Enquanto isto a Europa depende do gás russo para passar o inverno, já voltou a usar combustível fóssil e várias usinas nucleares foram desligadas em acordos feitos para evitar o uso de energia nuclear, estrategicamente nem a Otan nem a Rússia vão esperar o inverno para suas investigadas.

Há possibilidades de acordo de paz, mas falta uma pauta razoável para eles, a polarização minou as possibilidades.

 

O inverno e a guerra

20 set

A Ucrânia anunciou uma contraofensiva na região do Oskil onde conquistaram pontos importantes e começa uma contraofensiva em Kherson prometendo chega até mesmo a região ocupada da Criméia.

Como o Russia poderá reagir e qual a importância desta retomada da Ucrânia? Antes de qualquer análise é preciso reconhecer que o colapso das forças russas na frente de Kharkiv são séria derrota e é pouco provável que Putin não reaja, o problema é qual é a reação.

As notícias de diversas fontes são que as tropas ucranianas fizeram importantes incursões na frente de Kharkiv, por exemplo, o Institute for War, com sede nos EUA, alo em torno de  2.500 quilômetros quadrados foram recuperados das forças russas.

As forças ucranianas empurraram a linha de frente de Kharkiv cerca de 70 km para o leste até o rio Oskil, conquistando vários pontos estratégicos importantes, em especial na região de  Izyum, onde os corpos estavam em falas comuns com marcas de torturas e na margem ocidental de Kupyansk.

O inverno está chegando, e a Rússia além de controlar fontes de energia, também a usinas nucleares que estão sobre seu domínio, pode cortar o gás e sufocar não só a Ucrânia, mas boa parte da Europa.

Porém o que preocupa mais é a reação da Rússia se as derrotas se prolongarem, o uso de armas nucleares estratégicas pode provocar uma reação em cadeia da OTAN e um cenário difícil pode se desenhar.

Entraremos no Outono da Europa, que corresponde ao nosso inverno no hemisfério sul, e as tensões tendem a se agravar.

É preciso que forças pacificadoras se mobilizem e evitem uma crise que possa levar a atitudes drásticas e a um horror ainda maior.

 

A liberdade do mercado contra o mercado

13 set

Um dos principais motores da atual crise cuja guerra é uma consequência antes de ser uma causa é a chamada crise de mercado, diversos produtos enfrentam barreiras de tentativas de controle de preço contra a alta demanda das commodities: gás, petróleo, ferro e até silício (não a areia é claro, mas os produtores manufaturados).

Assim enquanto a União Europeia discute o controle do preço do gás, tenta aumentar o estoque devido a guerra na Ucrânia, uma vez que a Rússia é o principal fornecedor, o que é contraditório pois se compram mais para manter o estoque com o inverno a vista (novembro), o custo deve aumentar e assim não é possível controlar os preços.

Também o total desligamento da maior usina nuclear da Europa, a Zaporizhzhia, que está sendo desligada, poderá ampliar ainda mais a crise energética, a Rússia continua a apontar os perigos das armas e bombardeios de Kiev a região, que pode levar a consequências catastróficas,

A crise da China com Taiwan também esconde uma crise de mercado, por um lado o poderio da ilha rebelde na produção dos chips de silício, e por outro uma crise interna agravada pela falência da Evergrande, a maior construtora do país, que era particular e agora será estatizada na tentativa de conter a crise.

A gigante imobiliária chinesa não conseguiu entregar o plano de reestruturação da dívida conforme prometido até 31 de julho e de lá para cá o governo chinês além de descobrir os malefícios do capitalismo, também recorre a estatização para evitar uma quebra mais grave, a dos bancos que financiaram o calote.

A empresa deixou de pagar os títulos em dólares em dezembro do ano passado, segundo estimativas divulgadas pela CNN, os valores chegariam a 300 bilhões de dólares em passivos, o que gera uma onda de falta de crédito em empresas que atuam no mercado imobiliário chinês.

Assim a China comunista conhece agora o efeito perverso do livre mercado.

O setor é responsável por quase ¼ do PIB chinês, e a atividade que mais contribuiu para o crescimento recente da economia lá, agora enfrenta uma forte desaceleração que também preocupa o mercado ocidental, que fez muitos e novos investimentos neste mercado.

Dependência do gás russo (gráfico) pode afetar gravemente a economia mundial, por exemplo, mesmo o Reino Unido sendo independente já é afetado.

 

Crise energética e tensão no oriente

06 set

A retaliação de Moscou às sanções impostas após a invasão da Ucrânia, começam a causar impacto na economia europeia e no Reino Unido causou a renuncia do primeiro ministro Boris Johnson, embora o problema seja mais amplo de inflação que em 2023 pode ir até acima dos 20%, o principal impulso é a alta do gás natural em toda Europa, a Rússia acusa a Alemanha pela crise.

Os países da União Europeia procuram estocar gás natural para o período de inverno que virá.

Tomou posse a primeira ministra Liz (Elizabeth) Truss, em eleição interna do partido Conservador contra o ex-ministro do Tesouro, Rishi Sunak, ela é conhecida por ser camaleão, adotar discurso conforme o contexto, na verdade parecida a muitos líderes da atualidade.

Foi contrária, por exemplo, ao Brexit e depois de ter sido adotado tornou-se a favor.

A população de Taiwan observando a guerra da Ucrânia sempre citada em noticiários locais, atentam para uma possível guerra com a China, e preparam-se para eventuais crises com exercícios, treinamentos de primeiros socorros e logística para fugir de bombardeios.

Na semana passada um drone foi derrubado viajando em território Taiwanês, segundo notícias da Deustche Welle, reproduzida no portal G1, desde março uma ONG chamada Forward Alliance além de oferecer treinamentos de defesa civil procura melhorar a resiliência nacional.

Segundo Enoch Wu, fundador da Forward Alliance: “O objetivo é manter as comunidades funcionando, e os treinamentos ajudam a preparar os cidadãos contra crises naturais ou provocadas pelo homem”, mas o pano de fundo é uma possível guerra com a China.

A tensão sobe entre China e EUA devido o anuncio da venda de 1,3 bilhão de dólares de armamentos para Taiwan, a China promete resposta ao que considera “destruição da paz”.

Pode ser um despiste, mas os principais treinamentos que a primeira-ministra de Taiwan participa estão na ilha de Penghu (Pescadores), ela é pequena e embora possua uma estrutura de defesa é isolada e distante da Ilha Formosa que é de fato o território de Taiwan.

 

A aflição e a salvação

03 set

Ao contrário do que pensa o senso comum, os aflitos não estão entre os desgraçados, mas entre os injustiçados, é preciso então pensar na vida do justo e na sua salvação.

Conforme escrevemos anteriormente: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados, bem aventurados os mansos porque possuirão a terra”, e, versículo 9: “bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” e estes são os justos e sofrem afliação.
Mas a ajuda fundamental de Kierkegaard é sobre a questão da identidade, definições enquanto ser-em-si e ser-no-mundo, e, o conceito de eterno que é um lançar-se no “infinito” que é onde está a salvação, ainda que o filósofo não o declare exatamente assim.

Assim é preciso ser que o cálculo que fazemos quando enfrentamos injustiças está entre uma conta que só diante do infinito e das consequencias ela pode ser definida, e como postamos ao contrário a queda se poderia colocar os trechos bíblicos do novo testamento as bem aventuranças em Mt 5,1-12, do versículo 5:“bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.

Assim é preciso entender este cálculo quando feito ao se referir ao cálculo da salvação feito em Lc 14,28-30: “Com efeito, qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a caçoar, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’”.

Esta paz é diferente da “paz perpétua” proposta por Kant e pelo idealismo (veja nosso post), ela resultou em duas guerras e na crença que o estado poderia resolver todos conflitos.

 

As bibliotecas e as guerras

31 ago

Na década de 50, logo depois da Segunda guerra Mundial, a revista brasileira de documentação traduziu e publicou um artigo de Carl Hastings Milan sobre as Guerras e as perdas de documentos e de bibliotecas.

Ele havia sido diretor da Biblioteca Pública de Birmingham, onde abriu o primeiro ramo de serviços para autores e leitores afro-americanos, o artigo está disponível online e mostra uma face da guerra para as bibliotecas em alusão ao post anterior que fizemos neste blog.

As transcrições para o português foram feitas por Sylvio do Valle Amaral e o artigo original é logo em sequência da guerra em setembro de 1944, publicado no The Annals of The American Academy of Political and Social Science da Filadelfia.

O artigo começa indicando a interrupção e descontinuidade de revistas e publicações em períodos de guerra, além da perda material e a falta de intercâmbio de muitos documentos.

O autor enfatiza esta perda onde: “os editores e  livreiros  de  Londres  perderam  milhões  de  volumes,  em  1940-41.  Várias famosas  bibliotecas  britânicas  de  erudição  e  dezenas das  públicas,  foram  danificadas  ou  destruídas.  Diversos  países  europeus,  a  Rússia,  a  China,  além das Filipinas,  sofreram ou estão agora experimentando destino semelhante, porém, o mais  triste está para  vir” (MILAN, 1950, p. 50).

Antecipadamente muitas obras foram tiradas ou escondidas das bibliotecas alemãs, mas a destruição e os saques representam um ataque cultural segundo o autor “infamante” que foi creditado a Hitler, é importante olhar isto para a história para que ela não se repita agora.

Entre as denúncias do autor está que também na derrota: “Os jornais,  recentemente, noticiaram  a  queima  de  livros  em  Nápoles,  antes  da  retirada  do  exército  nazista” (idem, p. 50), e assim uma parte da história é apagada, independente do que aqueles documentos representam, eles são importante testemunho cultural de um tempo, que por ser ultrapassado está sujeito a crítica, mas não há o direito de apagá-lo, são documentos culturais.

Restabelece o papel das bibliotecas, agora também em crise em função de uma visão deformada da tecnologia digital que aqui também postamos, porém diz o autor para aquela época: “Básica  ao  restabelecimento  da  atividade  intelectual  em  todo  o  universo,  é  a  reorganização das bibliotecas” e ignorar isto é um crime contra a preservação cultural e da memória dos povos.

Depois de enfatizar a cooperação e apoio às bibliotecas da américa latina e de outros, países discorre sobre a formação de bibliotecários:

“A despeito  de  comum  reconhecimento,-  nos Estados  Unidos  e  no  exterior,  das  imperfeições  de nossos  métodos  no  preparo  de  rapazes  e  moças para  o  trabalho  nas  bibliotecas,  número  surpreendentemente  grande  de  estudantes  do  exterior  vem a  êste  país  em  épocas  normais  a  fim  de  obter  o que  as-escolas  dessa  especialidade  podem  oferece” (MILAN, 1950, p. 53)

 

MILAN, C. H. As bibliotecas, os intelectuais e a Guerra, trad. Sylvio do Valle Amaral. Rio de Janeiro:  REVISTA  DO  SERVIÇO  PÚBLICO, AGOSTO  DE 1950.

 

Guerra e paz

30 ago

Li um comentário recente sobre Leon Tolstói (1828-1910) que outro escritor russo Ivan Turguêniev afirmou que conhecer e ler Tolstói é melhor que do que se lêssemos centenas de obras de etnografia e de história” para conhecer o caráter e temperamento do povo russo, conservadores como a Alexander Soljenitsin (1918-2008) que chegou a ser considerado seu sucessor, e Vladimir Lenin líder da revolução soviética que o considerava um dos maiores escritores russos.

Muitos de seus livros foram para o cinema, recentemente (2012)  Anna Karenina foi reescrito para o cinema, sob a direção de Joe Wright, e concorreu ao Oscar e ganhou o de melhor figurino, porém uma obra prima de Tolstoi é o livro Guerra e Paz.

De Guerra e Paz lembro impressões e algumas frases soltas, e do contexto do livro que fala das guerras czaristas de seu contexto e tempo, porém que é revelador do pensamento russo sobre a guerra, e que não se ignoram os seus flagelos.

O livro trata da vida de 5 famílias aristocráticas, no período que vai de 1805 a 1820, em meio a marcha de tropas napoleônicas e seu impacto brutal sobre a vida de centenas de personagens.

Ali destacam-se figuras como os irmãos Natacha e Nikolai Rostóv, do príncipe Andrei Bolkónski e de Pierre Bezúkhov, filho ilegítivo de um conde cuja busca espiritual serve como uma espécie de fio condutor do romance e transforma-o num personagem complexo e intrigante do século XIX, e cuja busca será um complemento para a paz em meio a guerra.

Uma espécie de refúgio parecido ao da Menina que rouba livros, que neste caso é no contexto da Alemanha nazista e ela vai encontrar nos livros um refúgio para o ambiente sombrio da ascensão do nazismo na Alemanha.

Vejo um traço comum nestes dois livros que é este “refúgio”, algo entre o espiritual e o de leitor, porém ambos conseguem criar num ambiente sufocantemente odioso, lacunas e espaços de paz e de elevação espiritual.

Se a guerra vier, qual será nosso refúgio, em que patamar de vida espiritual e de conhecimento desejamos colocar nossas vidas que estarão em risco, creio que são leituras contemporâneas.

TOLSTÓI, L. Guerra e Paz, trad.Rubens Figueiredo, São Paulo: Cia das Letras, 2017. (Vol 2 pdf)

 

A assimetria negativa: humildade

26 ago

Se todas relações são de certa forma assimétrica, isto é, envolve algum poder e alguma forma de dominação ou ao menos uma tentativa, a única forma de se contrapor a ela é a humildade, que não é autoflagelação, a desvalorização ou a resignação, é uma forma de não se opor ao poder imposto, como tirar o corpo de uma ação violenta e assimétrica.

Ela é assimétrica no sentido negativo, porque o poder e a comunicação o é no sentido positivo, como poder significa evitar que o espírito de dominação, vingança e depreciação do Outro passe por você, como comunicação significa ouvir com atenção e esperar para discordar do que é não simétrico, que é mais geral que o assimétrico, demonstra a assimétrica positiva, por isso a nega.

Assim uma resposta a violência com violência é uma assimetria positiva, a resposta com a bandeira da paz é desmoralizadora e eficiente contra um inimigo violento, Ghandi a usou para libertar a Índia do domínio inglês.

Também quando a violência é arrogante e desumana, por exemplo a morte de civis, crianças e idosos nas guerras, faz a máscara do poder cair e demonstra toda sua assimetria e arrogância.

Para inverter a lógica da guerra e instaurar a lógica da paz é preciso sim vencer as injustiças e o desrespeito as diversidades sociais, porém a guerra é exatamente o oposto: a contraposição ao respeito da diversidade, a imposição de uma visão unilateral e o agravamento das injustiças.

Assim o que devemos buscar e o banquete dos humildes, a glória dos últimos e a paz daqueles que não tem armas e preferem a comida da mesa ao alimento metálico dos poderosos.

O verdadeiro cristianismo não se une ao poder, mas que estão na base da pirâmide, diz o Evangelista Lucas (Lc 4,12-14): “quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir.”

Parece uma lógica equivocada, porque não é a lógica imposta pelo poder, mas é a lógica dos justos.