Arquivo para setembro 6th, 2016
O Tu como encontro com o Eterno
É notável que Martin Buber profundamente judeu e profundamente influenciado pelo Hassidismo, que afirma que Deus faz morada no homem e dialoga com a criação, que tenha desenvolvido uma cultura horizontal onde tudo aquilo que é essencial, acontece entre os seres humanos e entre o homem e Deus.
Mas o núcleo de seu pensamento acontece precisamente no problema que o homem tem com o ser de relação, isto é, aberto ao diálogo com o TU, mas numa abertura total.
Em sua análise da sociedade e dos pensamentos atuais faz uma síntese interessante, nem individualismo nem coletivismo, o primeiro entende o homem só como uma parte e o segundo o homem só como parte, não há em nenhum dos dois o alcance da totalidade.
O primeiro coloca o homem sob uma máscara, que vive hoje grande parte da sociedade, mas em ambos há um abandono do sentido cósmico e social, o medo do universo e da vida, sem uma constituição existencial do homem que não o coloque fora da solidão.
Para Buber o indivíduo somente conhece o outro em toda a sua alteridade como hmem, a experiência que se realiza ao partir em direção ao outro, é que rompe a solidão, e realiza um encontro estrito e profundamente transformador, não é um agregado, mas algo novo.
Há em toda relação existencial com o profundo do outro algo existencial, mais profundo que um “nós”, não é um coletivo ou individualismo em grupo, é a relação, a instalação feita por Monique Allan em um parque de Buenos Aires de 2010 (Foto) lembra isto.
O sujeito humano atinge o seu ser através do “proferir Tu” (Dusagen) e não do “proferir Isso”;
O homem atinge o fundo do seu ser ao “proferir Tu” (Dusagen) e não ao “proferir isso”, ou seja, é na relação EU-Tu que se integrando completamente com o mundo, descubro o Eu verdadeiro, no dizer de suas palavras: “A palavra-princípio Eu-Tu só pode ser proferida pelo ser na sua totalidade. A união e a fusão em um ser total não pode ser realizada por mim e nem pode ser efetivada sem mim. O Eu se realiza na relação com Tu; é tornando Eu que digo Tu” (BUBER, 1977: 13).
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BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Newton Aquiles von Zuben. São Paulo: Cortez e Moraes, 1977.