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Posts Tagged ‘Noosfera’

Os filósofos, o Amor e o Advento

18 dez

Os filósofos gregos conceberam três maneiras distintas de entender a existência, cada pessoa responde com uma destas três questões: sentindo, conhecendo e amando.

Sobre a existência escreveu Martin Heidegger nas suas notas de aula sobre as Confissões de Santo Agostinho: “Cum inhaesero tibi ex omni me (…) et viva erit vita mea” [quando estiver unido a ti por todo o meu ser (…) e viva será a minha vida] (Agostinho, Confissões, X, 28). “Minha vida é a vida autêntica (eigentliches Leben), eu existo (…). O existir significa viver radicalmente na possibilidade” (Heidegger, Estudos sobre a mística medieval, p. 106).

No sentimento resistirá sempre um dualismo, que poderá romper-se em dualidade, oposição fatal que criam no interior do homem “uma crise existencial”, falta de sentido da vida e outras coisas.

O dual é a oposição de sentidos, como o paladar que sente mais um doce se a língua estiver amarga, mas ela já estiver doce, não sentimos a “doçura” do alimento.

Já a possibilidade do conhecimento e podemos dizer a necessidade de informação no homem vai depender justamente do oposto ao sentimento, compreende-se algo quando se reconhece uma semelhança nas coisas que vem a nossa lembrança e o que nos aparece como algo novo não é por nós “conhecido” e isto é essencial para entendermos o Amor, por que ele tem características além do sentimento e do conhecimento, ele é exatamente um “advento”, algo existencial que vem !

Neste sentido do Amor, aqui com A maiúsculo para lembrar o Ágape, diferindo dos sentimentos de afetividade, sexualidade ou até mesmo repulsa, há quem veja nisto Amor, mas algo tão nobre que poetas, artífices dos sentimentos, e pensadores, artífices do conhecimento, não ignoram-no.

Sobre ele escreveram muitos filósofos e artistas em geral, mas destaco Agostinho, Kierkegaard, Heidegger e Hannah Arendt.

O advento é o Amor que vem como Sujeito, poristo está composto de sentimento, cognição (Sabedoria) e Amor, mas é insólito, por que é essencialmente Amor.

HEIDEGGER, M. Estudios sobre mística medieval (Phänomenologie des Religiösen Lebens). Tradução de Jacobo Muños. México: Fondo de Cultura Ecónomica, 1997.

 

A reciprocidade, o Mana e o passo antropológico

14 dez

Mauss foi criticado por que valorizou muito o seu mana, ele percebeu que a matriz do laço entre as almas, o mana, se encontrava na obrigação de retribuir, na obrigação de reciprocidade.

Mas a crítica que se pode fazer a Mauss é justamente que se limitou apenas à reciprocidade das dádivas e isto não o conduziu a uma teoria da reciprocidade que levasse a aspectos práticos.

Ora mas existe a reciprocidade entre indivíduos isolados, como mafiosos e corruptos, e também em comunidades fechadas, mas isto é troca.

O mana expressaria o sentido dado ao homem ou criado pelo homem quando entra numa relação recíproca:

“O mana é o valor da reciprocidade, um Terceiro entre os homens, que não está ainda aqui, mas para nascer, um fruto, um filho, o Verbo que circula (a Palavra), que dá a cada um seu nome de ser humano, e a sua razão ao universo” (Mauss, 2003, p. 15).

Mas estudos seguintes, de Temple e Chaba (1995), por exemplo, mostram que há algo além do Mana do Ensaio… de Mauss, estes autores mostram que há um crescimento da consciência de ser, não apenas a consciência de que terá autoridade e de fama o doador.

Dar não é mais oferecer algo de si, mas adquirir esse “si”, não se trata só ao doador de constituir seu nome, sua fama, seu “renome” (Mauss, 2003, p. 258), mas algo além, nesse sentido:

“… a materialidade e a espiritualidade não estão mais ligadas a um estatuto comum de objeto, são opostas mediante dois estatutos, conjugados por uma relação de contradição: o espiritual aparece adquirido pelo doador, enquanto o material é adquirido pelo donatário. O uso da noção de troca não é mais necessário” (Temple e Chabal, 1995, p. 26).

Podemos entender a partir de Mauss, o que significa superar a relação sujeito-objeto de modo muito direto e claro:
“Mas, por ora, é nítido que, em direito Maori, o vínculo de direito, vínculo pelas coisas, é um vínculo de almas, pois a própria coisa tem uma alma, é alma. Donde resulta que apresentar alguma coisa a alguém é apresentar algo de si” (Mauss, 2003, p. 200).

Eis o passo antropológico, sem o fetiche da “troca” a relação de coisas entre seres é também uma relação entre os seres, podemos fazer de qualquer coisa um “mana” e isto por ser apenas estar na presença o outro, “puro mana”.

 

O rosto do outro, o poder e Jesus

12 dez

Esta é a preocupação e Lévinas, que aproxima-se muito de Buber, mas com conceitos e formulação próprias, uma delas é o rosto do Outro

A antropologia filosófica de Lévinas pode ter como chave de leitura uma crítica radical ao “cogito” de Descartes, contra o qual afirma a primazia do outro como uma verdade fundamental do homem e como lugar das dimensões metafísicas e religiosas, afirmando que “metafísica é ética”, e sem ela não encontraremos relações mais fraternas entre os homens.

Uma sentença de Lévinas é fundamental: encontrar-se cara a cara com seu próximo é encontrar-se perante Deus, que exige ser reconhecido na exigência de reconhecimento objetivo do outro: “A dimensão divina abre-se a partir do rosto do outro” (Lévinas).

Isto é importante também porque “religa” religião e racionalismo humano, reunifica physis (natureza) e meta-physis (além do natural, o divino), razão e fé podem neste terreno conviver sem ser escândalo uma para a outra pessoa.
Lévinas desvenda o que é o poder sobre o outro dentre do racionalismo: “A razão que reduz o outro é uma apropriação e um poder”.

Neste sentido ultrapassa Heidegger, onde o Dasein é ainda a medida que conserva uma “estrutura do Eu”, a concepção do “morrer por um outro” de Lévinas rompe com a ontologia tradicional, e abre a possibilidade da compreensão da compreensão da vida de Jesus.

Alguém capaz de “dar a vida” é a compreensão suprema do Amor, só assim de perde todo o poder e domínio sobre qualquer outro, e pode ser puro Amor.

LÉVINAS, Emmanuel. Humanismo do Outro Homem. Petrópolis: Vozes, 1993.

 

Antropologia, presentes e Natal

11 dez

A antropologia de Marcel Mauss, herdeiro filosófico e sobrinho da filosofia de Durkhein, estuda profundamente a teoria antropológica da “dádiva” (dom ou presente, mas fico com o original em francês ‘don’) sobre as trocas gratuitas, típicas do Natal, mas que existem em muitas outras realidades humanas.

Mauss, ao cunhar o termo não deixou desconhecido um tema que para nós é muito importante, a relação objeto e sujeito, dentro da tradição histórica, como nos nossos posts anteriores, estudando tribos de ameríndios, observou:

O prestígio nasce da dádiva e relaciona-se àquele que toma a iniciativa: ao doador, para constituir seu próprio nome, sua fama, o valor de ‘renome’ (Mauss, 2003, p. 258).

Mas isto tem sim ligação com o Natal e com espiritualidade, mas relembra o autor o problema de nosso tempo que separa sujeito e objetos, materialidade e espiritualidade:

[…] a materialidade e a espiritualidade não estão mais ligadas a um estatuto comum de objeto, são opostas mediante dois estatutos, conjugados por uma relação de contradição: o espiritual aparece adquirido pelo doador, enquanto o material é adquirido pelo donatário. (Temple e Chabal, 1995, p. 26)

Inúmeras são as pessoas que são tomadas por esta forma profundamente humana e esquecida pela sociedade atual, que lembra só a materialidade, o econômico, em uma palavra: o dinheiro.

Mas o ‘don’, o presente, o sentimento e a generosidade humana estão aí presentes, e convenhamos é bom dar e ganhar, aliás Jesus também ganhou presentes.

TEMPLE, Dominique & CHABAL, Mireille. La réciprocité et la naissance des valeurs humaines. L’Harmattan: Paris, 1995.
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. Cosac e Naify: São Paulo,2003.

 

Antropologia, o Natal e as tecnologias

10 dez

Antropologia como discute questões da natureza humana, sempre esteve ligado a parte criativa, religiosa ou “mágica” do homem, a publicação, de “As formas elementares da vida religiosa” (1912) por Durkheim, que discute o evolucionismo, antes ainda o Esboço de uma teoria geral da magia (1903) de Marcel Mauss e Henri Hubert, em 1903, que criam o conceito de mana (nome polinésio para troca), mais tarde nasce a Antropologia estrutural de Levy-Strauss.

Mas Martin Buber, na sua obra Quem é o Homem?, como antropólogos fenomenológicos e existenciais, afirmou que tão importante quando a resposta de quem é o homem ? é a pergunta: O que é que o homem pode ? daí a tecnologia surge como importante para novas possibilidades.

As grandes mudanças por que passava a antiguidade clássica, as escolas gregas já haviam se consumado, aristotélicos e platônicos agora eram estudados por estóicos e neoplatônicos, o início promissor da escrita e as dificuldades romanas de manter a dominação, entre elas a Judeia, onde despontavam inúmeros líderes, muitos “messias” este era o quadro sociocultural no qual nasceria um homem importante para a cultura ocidental.

Usou a cultura de comunicação que ainda era a de seu tempo, a tradição oral, mas seria o único fundador de uma nova mensagem “escrita”, poderíamos dizer o antecessor das revistas e jornal, mas que só seus discípulos escreveriam o “primeiro livro”, o “Biblos” ou Bíblia, mas como uma “Boa notícia”, ou “Boa Nova”, tradução da palavra Evangelho.

Esta versão tinha também uma nova tecnologia, além da palavra escrita, e ser uma extensão do Torah, as leis judaicas das quais era herdeiro.

Seus discípulos escreverão o “Evangelho” e a colocarão no formato do Códex (formato retangular, com algum tipo de costura prendendo as páginas), que no final da idade média será perpetuado no formato impresso, não por acaso, foi a Bíblia foi o primeiro “livro” nesta tecnologia.

Como afirma McLuhan “o meio é a mensagem”, ou seja, uma forma nova exige uma nova forma de comunicação e a tecnologia sempre acompanhou o homem.

 

Neo-Humanismo e o Advento da sociedade-mundo

07 dez

A crise ou noite cultural do ocidente (oriente e mundo árabe estão em outro processo), não pode ser compreendida senão entendermos o contexto do renascimento e o pensamento humanista decorrente.

A análise de Edgar Morin em “Cultura e Barbárie Europeias” (2005), retoma “esta tradição do humanismo europeu presente as Cartas Persas de Montesquieu e irá perpetuar-se até Claude Levy-Strauss” (pag. 37) e complementa que “a época das luzes, a racionalidade é crítica sobretudo as religiões”, mas ele ainda aponta para o nosso caminho futuro, longe da globalização/ mundialização, que é o que chama de “sociedade-mundo”:

Em face de todas essas considerações é importante perguntarmos se a idéia de Neo-Humansimo presente na Teoria de Edgar Morin aponta caminhos para superarmos, ou ao menos, compreendermos a nossa parcela de responsabilidade na perspectiva de transformar o planeta em que vivemos.

Mas é preciso um homem mais solidário e coletivo, que seja preparado para esta nova civilização, e na visão de Morin esta é:

“[…] a missão da educação para a era planetária é fortalecer as condições de possibilidades de emergência de uma sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas, conscientes e criticamente comprometido com a construção de uma civilização planetária” (2003, p. 98)

Para ele é necessário preprar os jovens que irão enfrentar esta sociedade um tipo de pensamento e cultura que possa prepará-los para “articular, religar, contextualizar, situar-se no contexto e, se possível, globalizar, reunir os conhecimentos que adquiram” (2002, p. 29), dentro do que chamamos de passo antropológico, o advento de um “novo homem” capaz deste passo antropológico.

Longe dos valores e atitudes ainda presentes no confuso momento atual, mas de reconhecida crise cultural, temos nesta crise valores “mundiais” emergentes, um mundo mais solidário e fraterno, capaz de respeitar e até valorizar as diferenças, mas com grandes transformações ainda necessárias que preparem esta pátria-Mundo (Edgar Morin) ou “esfera-pública” (Habermas), mas esta voltaremos na próxima semana.

Edgar Morin. Educar para a era planetária. Cortez, 2003.
__, O Método 4 – As ideias: habitat, vida, costumes, organização. Sulina, 2002.

 

Belo, Modernidade e Advento

05 dez

“Quis cantar, cantar
para esquecer
sua vida verdadeira de mentiras
e recordar
sua mentirosa vida de verdades”. “Epitáfio para un poeta” – André Breton (1896-1966)

O homem da caverna primeiro pintou só depois bem depois escreveu, portanto a arte antecede a prosa e até o verso.

Para Platão o belo não era somente o bem, mas também a verdade e a perfeição, tinha uma existência em si mesmo, e estava fora do mundo sensível, ligado ao mundo das ideias, por isto de certa forma dualista entre sentido e objetos.

Para Aristógeles, a arte é uma criação particularmente humana e, como tal, não pode estar num mundo apartado daquilo que é sensível ao homem, mas a propõe ordenada, simétrica e ainda de certa forma enrijecida.

Esta compreensão de ordem, simetria e rigidez das formas cresce no período medieval, e a arte gótica, com inúmeros detalhes e rococós representa o último período desta fase, surge como expressão que Deus não estaria mais isolado e indiferente ao mundo, então toda a realidade tem ligação com a existência de Deus, o divino e o humano se reencontram.

O início da modernidade Kant ao tentar superar definitivamente o primado do sujeito, a subjetividade do belo, separa-o do objeto deslocando definitivamente o centro da existência da Beleza para o objeto ao sujeito, mas separando este daquele e entre os dois lados da equação sujeito versus objeto, construiu a utilidade do objeto ao qual se oporão o impressionismo e o surrealismo.

A arte utilitária cresce romântica e personalista, seus quadros e textos falam de um pretenso “real”.

Para liberar pincéis e penas, o impressionismo vem com luzes, traços e pontilhados que retomam um belo cheio de vida, feito por um grupo de pintores fora dos salões de arte burguês, entre os quais estava Monet, cujo quadro “Impressão, nascer do sol” (1872) é de onde vem o nome da corrente desta arte do século XIX.

Mas a essência do pensamento estético da modernidade continua na oposição entre o “objeto” fruto utilitário do conceito idealista e o “sujeito” fruto do conceito estético para os subjetivistas separado do real, neste contexto a arte digital torna-se virtual, não no conceito da construção da poesis (que autogestionada torna-se auto-poésis) mas um virtual equivocado que se opõe ao real, neste sentido torna-se ilusão, simulacro que para Baudrillard significa “simular é fingir ter o que não se tem”.

Mas Gilles Deleuze aponta para um outra forma de pensar, na qual o simulacro é comparado ao devir e à diferença, a diversidade na qual a multidão com uso de câmeras digitais e Instagram é convidada a compartilhar a arte.

A experiência digital favorece então uma relação estética com o singular, com o diferente, abre as possibilidades de habitar o imaginário num mundo com formas de pensar diferentes, entre culturas, raças, religiões e estéticas autopoiéticas.

Longe e difícil até para o imaginário cristão, três magos do oriente vieram adorar uma criança nascida no estábulo, um verdadeiro “simulacro” divinamente imaginado, um simulacro feito sujeito numa criança, pura imaginação e poesia.

 

Renascença, filosofia e Advento

04 dez

Em tempos de advento, convêm analisar os adventos recentes, mas talvez não tão recentes em tempos de profundas mudanças, o que foi a modernidade ? o que “advém” ?

É no auge da renascença que surge um humanismo novo, segundo Edgar Morin em “Cultura, Barbárie Européias” (Instituto Piaget, 2005), com duas faces: “uma dominadora e outra fraternal” (pag´. 31).

O autor destaca na origem do pensamento moderno “a missão de Descartes, fazer o homem senhor e possuidor da natureza” (pag. 32), conveniente ao iluminismo, nasceram ainda o idealismo e a ciência positiva.

Para uma pequena parcela da sociedade nascente importava agora o uso pragmático e utilitarista dos conceitos advindos da renascença, assim nasceram os conceitos liberais, as idéias republicanas e o poder dos bancos.

O longo caminho até a pós-modernidade, exploração do homem, duas grandes guerras e uma crescente destruição da natureza puseram em cheque estes conceitos.

Além de Morin, muitos são os autores que encaram este problema, um deles é Emmanuel Levinas, um lituano, de tradição judaica e filosofia fenomenológica, que tornou-se filósofo na França, onde faleceu no Natal de 1995.

Curiosamente sua mensagem é Natalina, no sentido de fraternal, no sentido do Outro.

Trabalhou intensamente na questão do Outro, que não é um simples inverso da identidade, mas a incorporação de um Outro no Si-próprio sem resistência, sem oposição.

Senão for assim o Outro não é verdadeiramente outro, impossível de ser fraterno.

Para ele também coletividade do ‘nós’ não é um plural de ‘eu’, mas feito de encontros do Eu com o Outro.

A obra de Lévinas (Entre nós, Humanismo do outro homem) é um repensar da emergência ética nos caminhos da filosofia a partir de um novo prisma, de se partir do Eu em direção ao Outro.

Tal inspiração Lévinas foi buscá-la na ontologia de Heidegger, mas também nos Livros Sapienciais da Bíblia, é um novo Advento, uma filosofia humana e mais fraterna, quem sabe um dia não só nestes períodos propícios.

 

Amor, hiperpoesia e advento

03 dez

Os conceitos estão no livro de Edgar Morin “Amor, Poesia e sabedoria” (Instituto Piaget, 1997), na verdade reúne três palestras, mas colocadas em uma relação interessante, onde o amor “é o auge da loucura e da sabedoria” (pag. 30) e a poesia diz citando Rimbaud “não é um estado de visão, mas de vidência” (pag. 38).

Sobre a poesia, Morin diz que o homem tem duas línguas. Uma delas é a poética, a outra língua é da prosa. “Na poesia, prosa compreende o tecido de nossas vidas”, diz Morin.

Duas línguas, duas palavras, dois olhos, duas formas de nomeação e percepção, duas maneiras de ver e entender a realidade, a da prosa e a da poesia da realidade, vida vivida mas também sonhada.

Mas a poética, contradizendo e convertendo o prosaico ao poético, inclui a vinda vindoura, o advento e a esperança.

Prosa é uma maneira de viver e construir, também poética se podemos inclui nela sentimentos positivos.

Segundo Morin, tivemos duas rupturas na poesia, a primeira na renascença quando ao tornar-se “profana” separou-se da prosa, mas segundo o próprio autor: “separou-se dos mitos, … da sua fonte que é pensamento simbólico, mitológico, mágico” (pag. 40), e acrescentaria do espiritual, a segunda ruptura foi o surrealismo.

A segunda é o surrealismo, no início do séc. XX, “a recusa da poesia de deixar-se fechar no poema … não na negação do poema, dado que Breton, Peret, Eluart, etc. fizeram poemas admiráveis … ” (pag. 41), cita Chaplin como exemplo desta recusa, assim “desprozaicar a vida quotidiana, reintroduzir a poesia na vida, tal foi a primeira mensagem do surrealismo” (idem).

O que vivemos hoje é o “desfraldar da hiperprosa … de um modo de vida monitorizado, cronometrado, fragmentado, compartimentado, atomizado, não só de um modo de vida” (pág. 42) … mas também de um modo de pensamento “em que doravante especialistas são competentes para todos problemas … está ligado ao desfraldar econômico-técnico-burocrático” (pag. 43).

O autor liga este pensamento ao “abandono da ideia de salvação” (pág. 43) que ligo ao advento, e na visão de Morin, a invasão da hiperprosa “cria a necessidade da hiperpoesia” (idem), nada mais propício a este início de “advento”, a espera do que ou de quem virá.

Se as religiões dizem “sejam irmãos que seremos salvos”, Morin diz “sejamos irmãos porque estamos perdidos” (pg. 44), mas como diria Rimbaud “onde há medo, há salvação”.

Tenhamos esperança e trabalhemos para a fraternidade (dos justos claro, os outros jamais acreditariam nisto), como diz Morin “a finalidade da poesia é nos colocar em estado poético”. (pág. 46)

 

Teilhard Chardin e a Noosfera

01 dez

Chardin nao viveu para ver a internet nascente, mas foi inspirador de McLuhan que o citou e de Peirre Lévy que não o cita.

É dele uma maravilhosa frase que poderia ser adaptada às redes: “cada um de nós, quer queira quer não, liga-se, por todas as suas fibras materiais, orgânicas e psíquicas, a tudo o que o circunda”, isto pode significar estar em Rede, não necessariamente na Web.

Começo com ele uma série de leituras agora positivas sobre as ligações humanas, e estas com todo o cosmos.

A revista Wired (conhecida pela discussão tecnológica e por seu editor Jeff Howe), diz que Chardin inspirou ainda Al Gore e Mario Cuomo. O laureado John Perry Barlow, afirma que sua visão nos ajuda a encontrar o significado do cosmos, e cita Marshall McLuhan ao dizer que o mesmo encontrou o “testemunho lírico” do padre Jesuíta francês ao formular sua visão emergente de aldeia global.

Mas o que este grupo eclético está comemorando? perguntava a revista Wired em 1995. Era que um padre jesuíta e paleontólogo chamado Pierre Teilhard de Chardin, cujos pontos da filosofia eram peculiares, mas eram estranhamente, os mesmos do ciberespaço.