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Arquivo para a ‘Ciência da Computação’ Categoria

A Inteligência artificial e seus limites éticos

24 jan

Numa sociedade em que todos os limites éticos já foram ultrapassados, até mesmo o de não presar mais pela vida nosso bem mais fundamental, a evolução da Inteligência Artificial, mesmo com inúmeros acordos éticos dos quais participaram as grandes empresas (Amazon, HP, IBM, Google, etc.), por exemplo, para não produzir armas inteligentes, assistimos o uso indiscriminado em drones na guerra Ucrânia e Rússia, na qual estão envolvidas as potências e suas empresas.

A evolução da IA deu um salto com a internet, a facilidade de informações que correm pelas veias das redes eletrônicas (estas sim são redes) e incentivam as mídias eletrônicas (que são apenas meios disponíveis aos homens) é tão abundante quanto impactante, da noite para o dia, ilustres desconhecidos se transformam em “influencers” e ganham notoriedade, entre eles adivinhos, profetas, políticos e artistas nem sempre com muita moral e ética.

Isto deveria ser tão ou mais preocupante que o desenvolvimento da IA (inteligência artificial), porém o uso das “mídias” por estes influenciadores são sim muito preocupantes, e não se tratam apenas de fake-news, mas todo tipo de barbárie que vai desde o vocabulário até o impacto político, nisto se insere nossas leituras das semanas anteriores de Dalrymple e Zizek, mais ligados aos aspectos cultural e político, que sem dúvida são mais delicados.

Como o tema também é delicado, agora no sentido intelectual de conhecer suas potencialidades e perigos ainda não claramente analisados, como por exemplo, uso de algoritmos genéticos (AG) apontado por Margaret A. Boden, em seu livro “inteligência artificial: uma brevisissima introdução” (Editora Unesp, 2020).

Ela explora, entre várias outras coisas, com clareza de quem é especialista na área, o problema dos ciborgues e trans-humanos, como sugeria Kurzweil que preparava seu próprio corpo para tornar-se um trans-humano.

A diferença entre ciborgues, os implantes médicos de diversas próteses já são claramente possíveis, para o trans-humano, “em vez de considerar as próteses como acessórios úteis para o corpo humano, elas serão consideradas como partes do corpo (trans-)humano” (Boden, 2020, p. 206), onde a força e a beleza humana poderão ultrapassar os limites genéticos e isto de tornariam características “naturais”.

Assim como Jean Gabriel Ganascia (francês que escreveu O mito da singularidade), Margaret Boden também não acredita na ultrapassagem da máquina acima da inteligência humana, este é o ponto da singularidade, e assim também a consciência humana “transcendente” como discutimos, não está submetida a uma “implausibilidade intuitiva” da pós-singularidade (pg. 207).

Sem dúvida a máquina poderá realizar tarefas incríveis e numa rapidez jamais sonhada pelo homem, aliás já o faz, porém “transcendência” não é isto.

BODEN, Margaret A. Inteligência Artificial: uma brevíssima introdução. SP: ed. Unesp, 2020. 

 

Guerra da Ucrânia e a pandemia

12 dez

A guerra na Ucrânia continua em situações cada vez mais dramátias em função do frio e da estratégia russa de minar as fontes de energia do país, que é um crime de guerra uma vez que atinge em cheio toda a população civil e não apenas o meio militar, enquanto a Ucrânia procura atacar as bases militares agora em solo russo através de drones suicidas.

As bases atacadas foram em Engels, na província de Saratov e de Diaguilevo, perto de Ryazan, distantes apenas 240 km de Moscou, mostrando que tem armas para atingir alvos em solo russo.

A Rússia teme um ataque na Criméia, enquanto intensifica a defesa na região estratégica de Dombass, território reivindicado pelo governo tusso, as bases para negociação praticamente não existem, uma vez que esta região é disputada pelos dois países e não há acordo possível neste quesito.

A Rússia reitera que não será a primeira a usar armas nucleares, e que sabe o risco deste uso, uma guerra de proporções humanitárias inimagináveis, porém os dois lados tem armas para isto, e as próprias bases que são atacadas pela Ucrânia tem como objetivo destruir possíveis bases destas armas.

Em pleno inverno o martírio do povo ucraniano prossegue e os apelos para a paz não são ouvidos.

A Covid 19 ainda que mais branca segue com índices preocupantes, uma vez que não dá sinais de trégua, no Brasil o número de mortes e a média móvel de casos conhecidos segue em lento crescimento.

No país parece haver uma paralisia de estratégia, recomendações de medidas preventivas e incentivo a vacinação, mas sem respostas da sociedade como um todo, ou de políticas de controle efetivo.

 

Web Summit em Lisboa

08 nov

Um dos maiores eventos da Web realizou-se esta semana, estava num evento paralelo, só pude acompanhar por vídeos e noticias, sem dúvida a maior estrela foi o fundador da Web Tim-Berners Lee que já tem um grande projeto novo, embora tenha falado nas entrelinhas.
Começou uma entrevista, que na verdade ele falou a vontade sem muitas perguntas dizendo o início da Web e como seu crescimento foi também surpreendente para ele, contou detalhes técnicos como “escrevi o código do primeiro servidor e o código do primeiro browser, chamava-se WorldWideWeb.app” e estava no site info.cern.ch .
Depois contou que sua preocupação é a mesma de todos, depois de 25 anos devemos lidar com: cyberbullying, desinformação, discurso de ódio, questões de privacidade e disse o que muitos estão a falar: “Que raio poderia correr mal?” dirigindo-se ao público: “nos primeiros 15 anos … grandes coisas aconteceram. Tivemos a Wikipedia, a Khan Academy, blogs, tivemos gatos” claro disse brincando, e acrescentou: “a Humanidade conectada deveria ser mais construtiva, mais pacífica, que a Humanidade desconectada”, mas sqn (só que não).
“Porque estamos quase no ponto em que metade do mundo estará online”, explicou o engenheiro britânico se referia-se ao momento ’50/50’, isto é metade da humanidade conectada que se esperava em 50 anos, mas deve chegar a este ponto em maio de 2019.
Depois de tentar argumentar responsabilidades de governos e empresas, creio que podem acontecer mas serão lentas, falou indiretamente de seu projeto SOLID (Social Linked Data), ao afirmar que ”como indivíduos temos de responsabilizar as empresas e os governos pelo que se passa na internet” e “a ideia é, a partir de agora, todos serem responsáveis por fazer da Web um lugar melhor”, disse incentivando start-ups também a entrar neste processo.
Pensar no desenvolvimento de interfaces onde os utilizadores conheçam pessoas de culturas diferentes, mas acima de tudo garantir a universalidade da Web, segundo Berners-Lee o principal aspecto deve ser (falando indiretamente de novo do SOLID) que a intervenção popular a nível global e que fez da Web “apenas uma plataforma, sem atitude, que deve ser independente, pode ser usada para qualquer tipo de informação, qualquer cultura, qualquer língua, qualquer hardware, software”, linked data poderá auxiliar isto.
Tim Berners-Lee apresentou o movimento #ForTheWeb no mesmo dia em que a sua World Wide Web Foundation divulgava o relatório “The Case for the Web”, o evento teve uma superaudiência, mais de 30 mil pessoas, há vários vídeos, mas o da Cerimonia de Abertura é um dos mais marcantes e tem Tim-Berners Lee também, veja: https://www.youtube.com/watch?v=lkzNZKCxMKc
Amanhã voltamos ao tema político, porém a Web se tornou política e por isto deve ser pensada por todos.

 

Consciência entre a epistemologia e o método

13 jan

Sabe-se no senso comum que o que chamamos de interpretação está intimamenteMetodo ligado ao método e visão de mundo que temos, mas na prática, ficamos no “é minha opinião”.
Gadamer vai mais fundo neste tema, ao colocar que “aquilo que a consciência moderna assume precisamente como ‘consciência histórica´- uma posição reflexiva com relação a tudo que é transmitido pela tradição.” (pag. 18), ou seja, “a consciência histórica já não escuta beatificamente a voz que lhe chega do passado, mas, ao refletir sobre a mesma, recoloca-a no contexto em que ela se originou, a fim de ver o significado e o valor relativos que lhe são próprios” (idem).
E sentencia: “esse comportamento reflexivo diante da tradição chama-se interpretação” (pag. 19), e explica que essa noção de interpretação“ remonta a Nietzsche, segundo o qual todos os enunciados provenientes da razão“ são suscetíveis de interpretação” (pag. 21).
Entretanto retorna a Hegel para esclarecer que “as ciências humanas possuem com as ciências da natureza, vinculo que as distingue precisamente de uma filosofia idealista: as ciências humanas possuem igualmente a pretensão de se constituir como legítimas ciências empíricas, livres de toda intrusão metafísica, e recusam toda construção filosófica da história universal (idem), e aqui entramos na questão do método.
A ideia de adotar métodos científicos das ciências da natureza, impediram que as ciências humanas tivessem procedessem a uma tomada de “consciência radical acerca de si mesmas” (idem), e pergunta ao final do parágrafo: “Porque não antes o conceito antigo, grego, de método deveria prevalecer?” (pag. 21)
Utiliza Aristóteles para explicar a questão de método: “a ideia de um método único, que se possa determinar antes mesmo de investigar a coisa, constitui uma perigosa abstração, é o próprio objeto que deve determinar o método apropriado para investiga-lo” (idem).
A tradução brasileira tem 71 páginas, é de leitura fácil e simples, e considero útil para uma introdução na obra prima de Gadamer “Verdade e Método”.
GADAMER, H.G. O problema da consciência histórica, 3ª. Edição. Rio de Janeiro: FGV, 2006.