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A beira do abismo
É o novo ensaio do centenário filósofo e educador Edgar Morin, lúcido como sempre e sensato diz que uma Ucrânia neutra seria aceito por todos e não deixa de condenar a barbárie e o risco de uma guerra planetária.
Em seu artigo Morin relembra a crise dos mísseis russos em Cuba, em 1962, no qual o mundo este também a beira de uma catástrofe atômica, estava na época hospitalizado em Nova York e um amigo (Stanley Plastrik) lhe informava todos os dias o risco de uma bomba cair na cidade, até que Krushchov aceitou retirar os mísseis de Cuba.
Vê a crise atual como a mesma incerteza do amanhã, agora com mísseis apontados para as principais capitais da Europa, e relembra do perigo de acordos e questões mais resolvidas que dão trégua, mas não eliminam a possibilidade de pais, já postamos aqui sobre isto na II Guerra Mundial.
Morin relembra seu artigo escrito em 3 de maio de 2015, portanto após o acordo de Minsk de 2014, que “seria desejável que François Hollande, Laurent Fabius e Manuel Walls tomassem consciência do impiedoso aumento dos perigos e propusessem um plano de paz coerente de uma Ucrânia federalista, traço de união entre Oeste e Leste. Não estamos mais no tempo de buscar o melhor, estamos no tempo em que se torna necessário evitar o pior”, escreveu na época.
Houve uma crescente evolução da OTAN na Europa, mas também a reconstrução da Rússia como uma superpotência militar estabelecendo suas zonas de influência na Síria e na África, além da sangrenta reintegração da Chechênia por duas guerras (1994-1996 e 1999-2001) e também a intervenção militar na Geórgia (2008) depois a crescente e atual pressão sobre a Ucrânia.
Será que Putin vai parar aí, uma trégua de guerra na Ucrânia pode demonstrar os reais objetivos de Putin que parecem ir além, Suécia, Finlândia e Noruega já se movimentam desconfiadas.
Afirma Morin que não resta dúvida que a heróica resistência do presidente Zelenski, de seu governo, do povo ucraniano surpreendeu Putin e “provocou nossa admiração”, abro aspas pois há uma tentativa de desconstruir Zelenski que é judeu como um neonazista, porém a guerra se prolongou além da conta do Kremlin .
Morin defende as sanções econômicas, lembrando que elas também atingem quem as pratica, mas ressalta que “pessoalmente, sou contrário a sanções que atinjam a cultura, a música, o teatro, as artes” e agora até mesmo a ciência, recentemente artigos científicos russos foram retirados de repositórios, não se trata de dizer que ciência é neutra pois não é, mas visa o progresso humano.
Faz uma bela reflexão ao afirmar: “Um dos aspectos da tragédia é que não podemos fazer uso da fraqueza nem da força separadamente e que estamos obrigados a navegar entre as duas de maneira incerta”, lembro apenas que o fraco pode redimir o forte e vice-versa, enfim um acordo.
Que seja possível evitar um desastre nuclear não apenas pela guerra, mas há usinas nucleares na região (na foto a cidade abandonada Pripyat de Chernobyl).
Relaxamento de protocolos e Covid 2.0
Vários estados brasileiros liberam até mesmo o uso de máscaras e outros protocolos em ambientes fechados, inicialmente eram apenas ambientes abertos, enquanto vários países tiveram um aumento de casos da covid 19 nos últimos dias, entre eles: Alemanha, Áustria, Reino Unido, China e Coréia do Sul, indicando que poderá haver uma nova onda planetária.
O aumento de casos nestes países acontece num momento em que a BA.2, chamada de ômicron 2.0, uma variante “prima-irmã” da ômicron (a BA.1) começa a tornar-se dominante, no Reino Unido onde há uma política de testagem, os números no período de 27 fevereiro a 6 de março, já a ômicron original atingindo 31,1% dos casos e a ômicron 2.0 em 68,6% de casos.
Quando em 2005 a Web proliferou para todos os usuários ela foi chamada de 2.0, com a política de relaxamento das medidas, a ideia perigosa de tratar o contágio como endemia, a Covid 2.0 é na prática criar a ideia de que haverá uma política de tratá-la como uma doença “habitual” que pode podendo atingir uma população de determinada região, ideia original do negacionismo.
É um fato que socialmente há uma ansiedade pela volta da normalidade, porém a vida social com a crescente crise de mercados, agora agravada por uma guerra, e a volta de aglomerações pode tornar a endemia global, ou seja, não ficará confinada em determinada região.
O número de casos vem caindo no Brasil, porém mais lentamente nos estados onde houve o relaxamento, como foi o caso do Rio de Janeiro, o primeiro a liberar o uso de máscaras e sem anúncio de novo período de vacinação, ainda que ocorra, deve haver um intervalo de 4 meses.
Os especialistas questionam tanto a liberação do uso de máscaras, quanto a ausência de protocolos em ambientes fechados, embora nos transportes coletivos e hospitais permaneçam.
Muitos organismos de saúde, incluindo a OMS manifestam a preocupação com este relaxamento.
É preciso cautela e paciência individual neste novo processo da Covid 2.0.
Que mal fizeram?
Em meio a Pandemia e uma guerra que embora esteja numa região vai se tornando planetária, pelas medidas e posicionamentos, como agora a do tribunal de Haia, que pede um cessar-fogo imediato.
O argumento ideológico não justifica atos de barbárie nem a direita nem a esquerda, a crescente polarização cria um clima de guerra onde até mesmo atitudes humanitárias, e isto inclui a Pandemia, não podem ser negligenciadas sob pena de prolongarmos seus efeitos.
Todo pensamento humanitário deseja uma volta a normalidade, que deve ser outra que não mais nos leve a correria do dia a dia despreocupado com injustiças e calamidades, incluindo a síndrome de Burnout que Byung Chul Han já apontava em seu livro, anterior a “parada” epidêmica.
Não se trata também de levar as pessoas e a sociedade a procrastinação, uma vez que existem problemas sociais e econômicos que exigem uma atitude de trabalho e esforço comunitário.
O raciocínio equivocado: “aqui se faz e aqui se paga”, esconde a crueldade por trás de atitudes que não respeitam os valores humanitários e sanitários necessários a uma volta segura ao que é de fato um humanismo regenerado como tentamos desenvolver nos posts desta semana (na foto o Teatro de Mariupol bombardeado onde haviam civis).
Este raciocínio é comum também no meio religioso, alguém é premiado porque “é bom” e “punido” porque é mal, que mal fizeram as crianças e os civis na Ucrânia, que mal fizeram pessoas idosas, médicos e enfermeiros que morreram na Pandemia e por fim os que agora ainda morrem.
Para os que fazem este raciocínio que não é religioso, pode-se pensar que Deus favoreceu ou puniu alguém, lembro a passagem em que os galileus vão até Jesus dizendo que Pilatos havia matado pessoas e misturado seu sangue com os sacrifícios que eram oferecidos a falsos deuses.
Vendo o raciocínio do tipo “Deus os puniu”, Jesus lhes responde (Lc 13,2): “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”, para dizer que a crueldade e o pecado podem espalhar a crueldade pelo mundo.
Cita a tragédia conhecida na época, da morte dos operários que trabalhavam na Torre de Siloé que caiu e explica que eles foram vitimas na tragédia e eram apenas trabalhadores.
Condenar a crueldade, prevenir com ações atitudes sanitárias e humanitárias é evitar estes males.
Haverá humanismo depois da barbárie ?
Guerras, peste (pandemia) e fome (crise na economia e no abastecimento) tudo parece indicar um caos eminente, e no cansaço as pessoas querem voltar a rotina (o antigo normal) e retomar a vida.
É preciso, entretanto, cuidado, rever o modo de viver, na verdade a verdadeira “Sociedade do cansaço” que vivíamos antes da Pandemia, tratar os problemas que emergem e não ceder ao ódio.
É o ódio, as guerras e a pouca preocupação com a vida que alimenta aqueles que perderam uma verdadeira perspectiva humanista, o poder autoritário, a força e o desrespeito a vida não é humano, nem significa de fato uma “normalidade”.
Atenas sobreviveu a guerra narrada na Ilíada e Odisseia de Homero, provavelmente parte é mítica, e esta era uma importante linguagem da época, mas o poderio dos persas não prevaleceu, a pequena Atenas unida aos guerreiros de Esparta venceram e foram eles que deram origem a civilização ocidental (figura), não por acaso chamado de período helenístico, já Páris, príncipe troiano desejava a Helena, filha de Zeus e rainha de Esparta, e este seria o motivo da guerra.
Sobrevivemos a peste negra e a gripe espanhola, é verdade não sem muita morte e em meio a guerras, porém a humanidade encontrou seu caminho, aliás justamente foi o humanismo da renascença que deu origem a modernidade, hoje em crise junto com a civilização ocidental.
Há o perigo nuclear e sem dúvida ameaça todo planeta, não é apenas a Ucrânia e sim toda uma civilização em cheque, e as únicas alternativas parecem ser a guerra total, mas sobreviveremos.
Mais do que as resoluções tomadas em meio a conflitos que deram origem a duas guerras, agora é preciso apresentar uma nova civilização, um novo humanismo capaz de agregar a família humana e ultrapassar o antropocentrismo e respeitar a diversidade, como diz Morin em buscado do “O Paradigma perdido: a natureza humana”.
Mahatma Ghandi, líder hindu que levou pacificamente a liberdade na Índia do império britânico, disse sobre os 7 pecados causas da injustiça social: “Os sete pecados são: riqueza sem trabalho; prazeres sem escrúpulos; conhecimento sem sabedoria; comércio sem moral; política sem idealismo; religião sem sacrifício e ciência sem humanismo”.
A humanidade sempre encontrou veredas em meio a eminente barbárie, encontrará agora também, nem todos cederam ao ódio, à indiferença e ao poder sem escrúpulos.
Regenerar o humanismo
Em suas comemorações de seus 100 anos, que Edgar Morin fez no ano passado, e está em seus livros de memórias “Leçons d´un siêcle de vie” (lições de um século de vida), muito antes da guerra atual ele dizia sobre resistir a dominação, à crueldade e à barbárie, e pedia novo humanismo, o qual esteve sempre presente em sua literatura.
Retomar a consciência da complexidade humana, e incluí-la num novo patamar que superasse o antropocentrismo, este era o humanismo retomado no renascimento, e sobretudo criar um mundo onde fosse possível uma cidadania mundial com respeito as diversidades culturais.
Ele que lutou na resistência ao nazi-facismo, não deixou de mostrar seu arrependimento ao período do stalinismo, sabia que estávamos num empasse entre estes dois pensamentos que poderiam nos levar a barbárie, profético em relação a escalada atual da guerra.
Não é um desenvolvimento isolado, já em outras obras suas como O Praíso Perdio e o Método, suas noções chaves de conceitos como autonomia, uberdade, amor, indivíduo e sujeito foram se desenvolvendo salvando valores que são inerentes a eles, assim como manter uma dignidade humana potencialmente ameaçada, diria agora, o processo civilizatório como um todo.
Em o Método II não hesita em denunciar as ilusões do humanismo tradicional (a direita ou à esquerda) e procura revitalizar o seu sentido ético e antropológico: “Não se trata de recusar o humanismo. É necessário, como veremos, hominizar o humanismo, e portanto enriquecê-lo, baseando-se na realidade do Homo complex” (Morin, Método II, p. 398).
A eleição do homem como centro do mundo, e a rejeição tanto à Deus (ou a alguma dividinda superior a qual nos submetemos) e ao respeito a natureza a qual a ciência julgou dominar é um passo fundamental para regenerar o humanismo ou caminhamos na lógica da dominação.
Tudo se passa como se a história começasse no auge do capitalismo do século XVIII ou do comunismo do início do século XX, as escassas referências a verdadeira cultura tanto grega como judaico-cristã, direta ou indiretamente condenadas, é o corte desta raiz humanismo.
Não basta dizer que é superada, sem qualquer referência histórica, por exemplo, à Socrates e a Heráclito onde há um aprofundamento sobre a educação e interioridade da consciência.
A questão da emergência do Ser prende-se a outra indissoluvelmente ligada a da liberdade, o homem anulando sua autonomia (dizem em prol de certo “humanismo” antropocêntrico) é vitima do fatalismo, da ausência de horizontes que não sejam o da dominação do Outro, aquela cultura ou ordem que é diferente da outra e que também deve ser respeitada.
Nicolau de Cusa, Ficino, Pico della Mirandola, exploraram esta perspectiva, em Ficino, por exemplo: a providência (que governa uma ordem espiritual), o destino (que dirige aos seres animados) e a natureza (que permite ao Ser permanecer no mundo como corpo vivo ao qual os seres se submetem), ainda que precise ser atualizada em termos de linguagem, não é antropocêntrica.
Morin, E. O Método vol. II, Europa-América, Lisboa, Ed. Francesas: Paris, 1997
Entre a paz e a guerra por um fio
As negociações entre Ucrânia e Rússia tem sinais de algum progresso ao mesmo tempo que pontos delicados como o fechamento do corredor humanitário a cidade Mariupol que vive uma calamidade em diversos aspectos e o recente bombardeio a base militar na região de Lviv, a apenas 25 quilômetros da fronteira com a Polônia que é membro da OTAN.
A tensão já se desenvolve de um possível ataque a algum país da OTAN, na Noruega forças da OTAN já realizam treinamentos, uma vez que a Suécia e Finlândia já tem uma tensão com a Russia, vale lembra que ambos querem fazer parte da OTAN, mas ainda não fazem.
O que faz imaginar que um acordo é possível é que tanto o presidente da Ucrânia quando da Rússia admitem que houve algum progresso, um fracasso agora seria desastroso para ambos os lados, do lado russo uma pressão maior externa na sua economia e do lado ucraniano a possível perda do controle de sua capital, podendo perder o governo por prisão ou morte.
A pressão sobre Kiev é imensa, porém a tomada da capital seria uma efetiva ocupação russa da região e o clima com a OTAN seria insustentável, além de um conflito com alguns de seus membros, os mais próximos da região: Letônia, Lituânia, Estônia e Polônia além de Suécia e Finlandia, estes países todos estão mais próximos tanto na ajuda humanitária quanto militar da Ucrânia e temem pela proximidade russa.
Hoje haverá nova rodada de negociações e espera-se um grande avanço, a Ucrânia pode dar garantias de sua neutralidade em relação a OTAN e a Rússia devolver algumas áreas ocupadas, porém Mariupol deve ser a mais problemática, basta olhar o mapa onde se vê o controle do Mar de Azov, onde Mariupol é um importante porto, e o controle da região é um conflito antigo.
Além de manifestações em todo mundo pela paz, há ações de solidariedade aos refugiados, por exemplo, o Airbnb recebe milhares de reservas de acomodações de pessoas que talvez nunca vão ocupar aqueles lugares e a própria empresa usando estas reservas vai destinar 100 mil moradias a refugiados.
Há coisas humanas em meio a guerra, como a anfitriã Olga Zvirysanskaya do Airbnb (veja a figura) que recebeu uma reserva para março de um visitante que não irá para lá e respondeu “teremos o maior prazer [algum dia] em vê-lo na pacífica cidade de Kiev e abraçá-lo”, logo após fugir com os filhos deixando o apartamento disponível para as pessoas que permanecem em Kiev.
A pandemia não acabou
Além do Estado de São Paulo, outros sete estados já estão abolindo o uso de máscaras: Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Mato Grosso, Goiás e agora Minas Gerais, alguns estados já preparam as escolas de Samba para o Carnaval, em plena quaresma cristã.
Embora o ritmo de propagação do coronavírus no Brasil não seja mais tão intenso, os índices não são tão baixos e especialistas consideram que a medida pode trazer impactos indesejáveis no controle da doença no Brasil, mas a máscara deve subir da boca para os olhos para ter carnaval.
Além das autoridades mundiais da OMS, como a líder técnica Maria van Kerkhove, também a pneumologista Margareth Dalcolmo, um nome de destaque da FioCruz no enfrentamento da covid-19 consideram a medida um tanto precipitada e alerta para os perigos.
Autoridades monitoram a variante Deltacron na Europa, que é uma variante entre a Delta e a Omicron, países como Dinamarca, França e Holanda e a OMS já monitora a variante.
Uma região da China de 9 milhões de habitantes, onde está a cidade de Changchun autoridades ordenaram nesta sexta-feira (11) o confinamento rigoroso, com o surgimento de um surto de variante da ômicron (foto), lá há disciplina e controle da Pandemia.
Changchun, é a capital da província de Jilin, que faz fronteira da Coreia do Norte, estando, portanto, também próxima da Coréia do Sul e de países fora da China.
Como as autoridades políticas estão menos cautelosas que em períodos anteriores, depende-se agora de atitudes locais e gestores públicos e privados para que o sinal passado ao público em geral não prospere, a ideia que a Pandemia já acabou passa uma mensagem errada.
Até mesmo os números que havia controles pelas secretarias municipais de saúde parecem já ter relaxado e em muitos locais tornaram-se pouco confiáveis, sem dados não há política certa.
Além de passar uma mensagem errada ao público, é preciso ter claro que a circulação de qualquer variante pode levar a outras e não há garantia que as variantes serão menos letais.
Obs: Até o final da noite de ontem também a região da cidade Industrial Shenzhen (como previsto mais ao sul) também havia sido infectada e o lockdown chegou a 40 milhões de pessoas.
Do apenas humano ao sobrenatural
Todas as forças que se concentram numa polarização veem apenas o aspecto humano de um conflito, como o atual na Ucrânia que pode a qualquer momento se tornar mundial, já com alguns sinais visíveis coma visita da vice-presidente dos EUA à Polônia e as reações Russas às sanções.
A esperança de paz e de uma solução para um conflito tão perigoso, felizmente alguns técnicos da Ucrânia poderão ajustar os problemas na Usina de Chernobyl, mas existem inúmeras outras na Europa, incluindo a já ocupada pelos russos, a de Zaporizhzhia, uma das maiores da Europa.
Existe um lado sobrenatural, como o de valores que traçamos no post anterior, porém há um mais profundo, muitas como as profecias de Medjugorje (ainda não são aprovadas pela igreja católica) que fala de uma aparição de Maria como “rainha da paz” acontecem a 40 anos, desde a primeira aparição vista por 7 videntes, que falava da guerra, castigos e um novo tempo na história.
O importante é acreditar em forças além das humanas que possam ser mobilizadas incluindo a luta pela paz e pelo respeito aos povos e nações, todos os que defendem esta posição estão de alguma forma cooperando com o aspecto sobrenatural da defesa da paz e da convivência humana.
Neste caso é extremo, pois a própria civilização pode estar em jogo em caso de uma guerra nuclear, os limites começam a ser ultrapassados de um lado bombas até em maternidades e de outro uma russofobia que quer abolir até clássicos da literatura como Dostoievski que teve um curso gratuito cancelado na Itália, não podemos confundir crítica radical a atitudes ditatoriais como prática que são também autoritárias.
Para os cristãos o momento de revelação do aspecto sobrenatural de Jesus é no monte Tabor, onde ele para apresentar a sua realidade sobrenatural aos apóstolos escolhe três: Pedro, João e Tiago, a escolha em si já é interessante: Pedro apóstolo chamado a fundar Sua igreja, João o apóstolo que Jesus amava e Tiago chamado de apóstolo de menor, porém foi grande apóstolo.
Um episódio bíblico conhecido Jesus “Andando sobre a água” foi retratado no quadro de Ivan Konstantinovich Aivazovskii (1817-1900) nascido na Criméia, justamente uma região de conflitos.
Diz a leitura que ao chegarem ao Monte Tabor, enquanto orava (Lc 9,29-30): “seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias”, claro aos que creem, ali Jesus revela-se como Deus.
Não importa a crença, importa mais a ideia de uma humanidade capaz de viver a paz e viabilizar o processo civilizatório que nos afaste das injustiças, dos flagelos e do ódio.
A força moral e a bélica
Aqueles que promovem o ódio e a intolerância, mesmo que além valores, apenas o veem como dependentes da capacidade humana, Mahatma Ghandi que venceu a dominação inglesa sem usar a força bélica e dizia: “A força não provém da capacidade física”.
Inspirou muitos pacifistas na década de 60, inclusive aqueles que eram contra a guerra do Vietnã, que não deixava de ser também uma guerra de invasores, no caso, americanos.
Os analistas militares estranham a capacidade de resistência da Ucrânia em meio a uma desvantagem enorme de poderio bélico com a Rússia, embora no jargão militar exista a ideia da “moral da tropa” ela está associada apenas ao campo de batalha e não a valores.
Para que exista uma força moral é preciso que ela exista também no campo espiritual, no caso de Ghandi era o hinduísmo que durante décadas inspirou e atraiu muitos no mundo ocidental, incluindo personalidades do mundo pop, como os Beatles.
Assim a degradação moral do mundo ocidental também é indiretamente responsável pela guerra e na sua lógica, que é também a lógica da OTAN somente a força bélica é vencedora e protetora de seus “valores”, porém estes estão em crise e não reconhecem.
A Ucrânia assim acabou recorrendo a seus vizinhos e a ameaça que eles também temem de invasão russa, que esconde um interesse expansionista, fêz surgir um terceiro bloco para ajudar a Ucrânia a defender seu território: Polônia, Lituânia, Estônia, Suécia, Finlândia e Canadá, países antes vistos como “pacifistas”.
Este bloco quebrou uma tradição de não uso de armas para auxiliar a defesa da Ucrânia, completa este bloco o Reino Unido, que é bom lembrar está fora da União Europeia, pelo Brexit, o que os atraia além do medo de serem os próximos alvos da Rússia é a defesa de valores além daqueles bélicos, que em última instância também defende a OTAN.
É verdade que oscilam entre o uso de armas e o pacifismo, porém percebem que não há como impedir os desejos expansionistas de Putin, cuja narrativa histórica começa a partir da formação da União Soviética, sem existir história pregressa, dos povos originários.
A lógica do ódio, seja o lado que esteja é em última análise a guerra, a do amor é a paz.
O poder e o servir aos povos e nações
As guerras trazem o pior da humanidade, mas trazem o melhor também: a solidariedade, o desejo maior de viver em paz e respeitando direitos individuais, coletivos e culturais de todos os povos.
A lógica do poder quando é dominada por uma visão não humanista procura interesses pessoais ou de grupos, a ideia é apenas a de submeter o outro pela força e conquistar mais poder, não há o predomínio da ideia de liderar e servir as pessoas que mais precisam de ajuda, a sua nação e a toda humanidade por extensão e respeito.
A lógica é da força, e a lógica da força levada ao extremo leva a guerra, ao conflito pessoal, dos povos, das nações, das culturas e dos interesses pessoais apenas sem uma regra coletiva razoável.
Surgem também os verdadeiros líderes e as pessoas que realmente querem servir, não apenas pelo espírito generoso, mas pela coragem, pela determinação que só pode vir de valores humanos e sociais, há até quem pense na preservação do patrimônio cultural, nos animais enfim em tudo.
O princípio da autoderminação dos povos, no qual cada nação, grupo cultural ou religioso tem o direito de existir e a liberdade de poder exercer seus valores, é claro que fica fora não-valores de extermínio ou intolerância com princípios de outros grupos culturais, porque estes servem só ao poder e aos autocratas que os lideram.
Há gente que pensa em paz e solidariedade mesmo na guerra (foto soldado russo que não lutou recebe alimento e manda mensagem emocionado a parentes).
Alertamos em vários posts a crise civilizatória em curso, com a guerra alguns aspectos tornam-se claros, mas sem a iluminação da consciência individual é difícil perceber os caminhos pelos quais a lógica da guerra, da intolerância e da discriminação avança, cada um deve refletir sobre isto.
Não faltam pessoas e grupos que aderem a este tipo de pensamento e raciocínio, quando o poder se torna exacerbado fica mais claro, mas há estruturas de micropoder onde estes valores se manifestam.
Assim existem estruturas do ódio, da intolerância, e, em última análise da guerra, que põe em cheque a vida, os valores e até pode por a própria civilização me perigo, como armas nucleares.