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Arquivo para a ‘Antropotécnica’ Categoria

História Oral, escrita e eletrônica de Shannon

21 mai

Há motivos bem compreensivos para um certo desconhecimento e também críticas, muitas vezes injustas, a Claude Shannon.

Há uma rara entrevista feita em julho de 1982 por Robert Price, chamada curiosamente de “Oral-History“, em que ele afirma:

”Bem, voltando a 42, os computadores estavam emergindo, por assim dizer. Eles tinham coisas como o ENIAC na Universidade da Pensilvânia …  Agora, eles eram lentos, eram muito desajeitados e enormes, e todos, havia computadores que ocupariam alguns quartos desse tamanho e eles teriam a capacidade de uma das pequenas calculadoras. que você pode comprar agora por US $ 10. Mas, mesmo assim, pudemos ver o potencial disso, o que aconteceu aqui se as coisas ficaram mais baratas e poderíamos melhorar o tempo de atividade, mantendo as máquinas funcionando por mais de dez minutos, coisas desse tipo. Foi realmente muito emocionante. Nós tínhamos sonhos, Turing e eu conversávamos sobre a possibilidade de simular inteiramente o cérebro humano. Poderíamos realmente obter um computador que fosse equivalente ao cérebro humano ou até melhor? E parecia mais fácil do que agora, talvez. Nós dois pensamos que isso deveria ser possível em não muito tempo, em dez ou 15 anos. Tal não foi o caso, não foi feito em trinta

A obra escrita de Claude Shannon é bem conhecida, ela está na sua principal obra Mathematical Theory of Communication, que começa com um artigo com o mesmo nome publicado na revista da Bell´s Laboratories em 1948, e que tem uma versão revista e corrigida no site do Departamento de Matemática de Harvard.  

Por último, a grande contribuição de Shannon, além de que seu diagrama apresentado ser sempre incompleto pois retiram dele a fonte de informação e o destino da informação, e isto torna a informação “sem significação” e sem sentido.

Porém sua grande contribuição é de fato a informação no artefacto, quais os limites de “ruído” (não é só isto) mas ele próprio afirma em sua obra que vai tratar da informação num sentido estrito, ou seja, no artefacto.

Oral, written and electronic history of Shannon.

There are good reasons for a certain lack of knowledge and criticism, often unfair, to Claude Shannon.

 

A clareira do ser

01 mai

O entendimento da posição de Heidegger sobre o que considera a “clareira” depende da compreensão adequada dos conceitos de transcendência, mundo e formação de mundo, que pode ser simplificado como visão de mundo (Weltanschauung), porém é explicitado  em suas obras o Ser e tempo (1927) e Conceitos fundamentais da metafísica (1929/30).

Assim é a descrição feita por Sloterdijk em suas Regras para o parque humano (2000), pois tende a justamente a simplificar este horizonte de questões que Heidegger transita ao enunciar uma diferença radical entre o animal e o homem, numa tentativa de superar a dicotomia infernal entre cultura e natureza, que vem na modernidade sobre o homem “lobo do homem” ou “bom selvagem”, entre outras possibilidades.

O posicionamento de Heidegger acerca da diferença entre animais e homens está ligado a sua interpretação sobre o existir humano, sua transcendência (Transzendenz) na qual o homem, e somente o homem é formador de mundo.

Numa conferência de inverno, em 1929/30, elaborou o que mais tarde seria “Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo – finitude – solidão”, ele trata diretamente da questão da diferença entre o animal e o homem.

Avesso à tese tradicional, que seria a racionalidade diferença especial do homem, Heidegger não aceita também que questionamento esteja numa teoria da evolução das espécies, justamente por haver diagnosticado que toda teoria deste gênero já pressupõe determinações prévias tanto do que seja o homem como também do que seja o animal.

Não é nem criacionista nem evolucionista o que ele quer saber é quais caracteres ontológicos dependem do enunciado que perfaz a vitalidade do vivente ante o sem-vida: a pedra e os materiais minerais em geração, a poeira cósmica num sentido mais cosmológico.

Com isso vai formular três teses para criar uma caracterização da essência da vida: 1) a pedra é sem mundo; 2) o animal é pobre de mundo, e, 3) o homem é formador de mundo.

Heidegger tem claro em sua reflexão filosófica, que a relação entre metafísica e ciência positiva ainda precisaria ser pensada em sua ambiguidade característica a de sempre diferenciar sujeito de objeto, assim sua transcendência não é idealista, no método fenomenológico-hermenêutico, as diferenças modais que se explicitam nos distintos modos de ser nelas considerados, o ser-pedra, o ser-animal e o ser-homem, tendo claro, cada um é ser.

Resolvem ainda duas outras premissas da modernidade, uma religiosa que é a crise entre criacionismo x evolucionismo, há uma evolução porque o homem é formador do mundo e há uma criação porque se distingue do animal que não é formador do mundo.

Não se trata de fortalecer a tese do antropocentrismo, então a crítica de Sloterdijk é válida, uma vez que para ele é preciso “esclarecer a clareira”, mas tanto para ele como para Heidegger o humanismo tornou-se anti-humanismo, e chega a afirmar como “a mais miserável’ da “história da Europa” (Sloterdijk, 2000, p. 20) e basta lembrar o horror das duas guerras mundiais.

 

O século das luzes kantianas

30 abr

O século XVIII foi comemorado por muitos filósofos como século da Filosofia, parecia que o iluminismo tinha triunfado de maneira irreversível, sua ideia de estado, a ciência como forma de retirar o homem das trevas, enfim tudo parecia ir de vento em popa.

Antes de tudo o que era esclarecimento para Kant, sem dúvida o maior precursor, assim como Hegel a síntese de toda a filosofia idealista do iluminismo, o esclarecimento (Aufklarung) seria a saída do homem de sua menoridade, do qual ele própria seria culpa, veja que culpa aqui não é o conceito cristão de desvio, mas aquela própria da qual o estado seria o guardião.

Assim a menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo, é o individualismo perfeito, o homem sem a direção de qualquer outro indivíduo, por isso só ele é culpado de essa “menoridade”, depender do outro.

Isto está consumado na máxima do imperativo categórico: “age de tal forma que o seu agir possa ser universal”, e não deve ser confundido com a regra de ouro: “faz aos outros aquilo que gostaria que fosse feito a você”, porque esta inclui o Outro.

É também equivocada a ideia que o idealismo tenha um fio de ouro que o conduza ao platonismo, que por sua vez não pode ser isolado do “materialismo” de Aristóteles, estes equívocos estão explicitados em Gadamer: “O problema da consciência histórica”, cujo ponto central é justamente separar a consciência idealista e romântica de história, para a real.

O texto a Sétima Carta de Platão, favorece o diálogo com o Outro, a dialética dialógica de enfrentar contrários e saber como completar o chamado círculo hermenêutico, onde os pré-conceitos podem passar por uma fusão de horizontes e um posterior esclarecimento que leva a novas reformulação.

Platão afirma na Sétima Carta: “… só depois de esfregarmos por assim dizer, uns nos outros, …. nesses colóquios amistosos de perguntas e respostas …  é que brilham sobre cada objeto a sabedoria e o entendimento … “ (Platão 344 b-c)

Para Gadamer o Círculo Hermenêutico, verdadeiro método de filosofar, é a-letéia, pois: “Qualquer Insight que podemos possuir emerge em um discurso humano finito, e por isso, apenas parcialmente … Nossos insights, em outras palavras são marcados por nossa discursividade.  O que nos é dado nos é dado do ocultamento [léthe] e em um lapso de tempo de volta a ele. Daí porque nossa verdade humana é a-letheia, jamais absoluta”. (GADAMER, 1980, p. 103-104)

PLATÃO, Carta VII (Trad. Do grego e notas de José Trindade Santos e Juvino Maia Jr). Rio de Janeiro: PUC-Rio/Loyola, 2008.

GADAMER, H.G. Dialogue and Dialectic, eight hermeneutical studies on Plato, Binghamton, NY: Yale University, 1980, p. 91-123.

 

A vida e a videira

27 abr

A árvore que dá os frutos da uva é particular, primeiro pelo sou nome videira pois dá a vida a um dos frutos mais enraizados nas culturas devido o vinho, e também é curiosa porque seu tronco e sua sombra são de pouco valor, e há ainda o aspecto que ela seca e deve ser podada.
Se os processos civilizatórios são cíclicos usam a metáfora da videira parece propício para entender os caminhos da humanidade, uma geração cresce sobre determinada cultura, mas quase sempre a questiona exatamente por que os jovens olham para o futuro, o seu futuro.
Quem diria que o sólido império romano decairia antes os persas, os conquistadores portugueses, as guerras napoleônicas, a união soviética e agora os resilientes americanos.
Analista de diversos níveis tipos, correntes e pensadores de diversas especialidades estão convictos, a civilização passa por uma destas mudanças e é uma hora crítica de opções.
Há a nossos ver três pontos essenciais: o combate a centralização de capitais e a corrupção em escala mundial, a mudança dos paradigmas educacionais e a questão ecológica.
O centro destas discussões ainda são os poderes econômicos e os governamentais, e muitas vezes confundidas pela influência da tecno-ciência que nada pode sem estes poderes, mas o centro da discussão deveria estar na valorização da dignidade humana e na questão ecológica.
O certo é que não se pode discutir a vida, sem aqui que é origem da vida, a responsabilidade e a dignidade da “videira” humana que as vezes parece secar com a árvore da uva, mas em seguida vem a primavera e ela floresce, se o agricultor estiver atento.
Como diz a passagem bíblica Jo, 15,1-3: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.”

 

Os falsos tecnoprofetas

10 abr

A ideia que a máquina é má, além de ser uma concepção anti-progresso evidente, procura sem conhecê-las desmentir a primeira lei de Kranzberg: a tecnologia não é boa, nem má nem neutra, mas em geral, desconhece-se as suas outras 5 leis: 2 – a invenção  é a mãe da necessidade, 3ª – a tecnologia se desenvolve em “pacotes”, 4ª  – as políticas tecnológicas são decididas, prioritariamente, com base em critérios não-técnicos,  5ª. – toda história é importante, mas a História da Tecnologia é a área mais relevante, e, 6ª. – a tecnologia é uma actividade humana, a História da Tecnologia também.

Jean-Gabriel Ganascia, em seu livro “O mito da singularidade: devemos temer a inteligência artificial?“ (Lisboa: Círculo de Leitores, 2018) desmascara a ideia que num futuro previsível, alguns marcam o ano de 2045 a máquinas possam vir a sempre completamente autónomas e substituir a inteligência humana que em ultima instância é o que as programa e governa.

Cita entre vários outros que acreditam nesta profecia, cujo ponto de ultrapassagem é chamado ponto de singularidade, Raymond Kurzweil, que a parte de sua precoce genialidade, com 15 anos escreveu um programa que partituras musicas para piano, prepara seu corpo e sua mente para serem “carregados” (um download cibernético) numa máquina futura.

Outro tecnoprofeta citado por Ganascia é Hans Moravec, que escreveu “Homens e Robots: o futuro da Inteligência Humana e Robótica” (1988) e “Robot: more machines to Transcendent Mind” (1998) que conduziria a uma transformação radical da humanidade.

Um último, que vale citação, Kevin Warwick escreveu I, Cyborg numa clara alusão a Eu, Robot  e que tornou-se conhecido do grande público por ter introduzido na pele um chip encapsulado num vidro dentro da própria pele, para comandar uma série de accionadores remotos, mas parece que seu projecto foi um fracasso, afirma Ganasci (pag. 13).

Os filósofos não ficam parados, deixo de lado aqui os críticos das tecnologias digitais atuais, para ir aos tecnoprofetas futuristas, digno de destaque e citado por Ganascia, Nick Bostrom, físico de formação, faz profecias em seus escritos, e particularmente num sucesso de vendas:
Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies, prevendo entre outras coisas a trans-humanity.

Entre os catastróficos tecnoprofetas, Ganascia cita Bill Joy, co-fundador da Sun Microsystems, que escreveu um artigo: “Por que o futuro não precisa de nós”, o autor vai de Leibniz a Lyotard para mostrar porque estas teses parecem reais em nosso tempo, mas não nos estudos e resultados da Inteligência artificial.

São de fato tecnoprofecias, mas fora do tempo, o tempo de oráculos e profetas é da cultura da oralidade, que faz sentido no seu tempo ou nos herdeiros desta cultura: tribos e povos ancestrais que ainda tem esta forma de saber.

 

A natureza e o homem: transubstanciação

29 mar

Toda crise ocorre tendo um vínculo profundo da relação do homem com a natureza, e em função desta mudança, mudam as relações sociais entre os homens.

Foi assim no início com o plantio e a domesticação dos animais, que tornou possível ao homem nómade tornar-se mais sedentário, mas o tempo actual, o da modernidade, o homem perdeu a capacidade de identificar o que o liga ao animal, ao que é vivo, à natureza, paradoxalmente justamente quando a ciência e “filosofia mais falaram de “dominar a natureza”

Já a crise, no limite actual, +e incapacidade de percepção do que na natureza se diferencia dele, problemas ecológicos, de transgénicos e de bioengenharia.

O homem sendo um pedaço da natureza, e em contrapartida, a natureza produz a hominização, Teilhard Chardin afirmou que o homem é a complexificação da natureza, Edgar Morin (2005) afirma que o homem guia e segue a natureza.

A questão histórica nos leva a refletir sobre o tipo de relação que estabelecemos com a natureza, incluindo a nossa própria natureza, é o que somos como substância do universo, e o enigma eucarístico: porque Deus se fez substância: pão e vinho, nesta data cristã que relembra este último e maior milagre de Jesus.

Podemos ver nesta realidade física (a substância) a paisagem deve ser entendida como realidade física estendida como construção social? A resposta lógica é sim.

Mas num mundo constante transformação, dos costumes sociais, de artefactos e de locais indeterminados, a paisagem entre natureza e sociedade evoluiu; ela tanto já é simultaneamente natureza-objeto como natureza-sujeito, esta dicotomia evolui ?

Talvez estejamos mais pertos de entender o milagre da transubstanciação, Deus se fez artefatos do homem, dois artefatos universais: pão comida e vinho bebida.

 

MORIN, E. O método II: a vida da vida. Porto Alegre: Sulina, 2005. 

 

O ser, as coisas e os gadgets

15 mar

Este nome para os dispositivos digitais apareceu muito antes da internet e da explosão digital, está no livro de Marshall McLuhan da década de 60: Understanding Media.
Muitos lembram dele apenas pelas frases: “a aldeia global” e “o meio é a mensagem”, mas poucos conhecem sua abordagem do mundo digital, e menos ainda se conhece sobre a profunda influência que teve no seu pensamento a Noosfera de Teilhard Chardin.
Algumas das ideias principais de McLuhan consistiu em antever de forma de um mundo mais consciente e até “mesmo em um mundo hiperconectado, onde todos têm a capacidade de regular sua própria experiência”, leitura diferente dos apocalípticos.
As ideias que muitos aprendem bem, mas continuam esquecendo-as são os avanços e as possibilidades de um mundo cada vez mais uma “aldeia” e que os problemas antes velados, como o próprio ser estava velado, agora estão expostas pelas “mídias”.
Nós só precisamos optar por excluir estes avanços, se estamos escondendo de alguma forma em nossas mentes, nossa consciência do ser, de cada coisa que existe além dos rótulos e dispositivos que usem, isto não é para internet, mas para carros, roupas de grifes, enfim, uma série de objetos de consumo que parecem qualificar o ser, e porque há tanto vazio?
Foi o que tentamos responder nos posts anteriores, acadêmicos demais talvez, porém sem revisitar o pensamento humano podemos ficar na superficialidade das “coisas”.
Para fugir de um discurso difícil sobre o ser, mas é preciso reconhece-lo como “ser-do-ente” leio uma página de Presente do mar (Gift from the sea), Anne Morrow Lindbergh que escreve:
“A vida hoje na América baseia-se na premissa de círculos de contato e comunicação cada vez maiores. Envolve não apenas as demandas familiares, mas as demandas da comunidade, as demandas nacionais, as demandas internacionais sobre o bom cidadão, através de pressões sociais e culturais, através de jornais, revistas, programas de rádio, analistas políticos, apelos ´caridosos´ e assim por diante. Minha mente está com isto … Não traz graça; Destrói a alma “.
Mas ela não estava falando da Internet, a Makron Books lançou um livro comemorativo de 50 anos do livro, o livro é de 1975, portanto isto já era uma realidade anterior da internet, assim como o nome gadget foi usado por McLuhan na década de 60.
Este é uma realidade do Ser, já observada no início do século passado, o mundo digital é um componente a mais na complexidade do homem contemporâneo

 

As sociociberculturas e o paraíso perdido

22 fev

A ideia do paraíso perdido é nosso arquétipo adâmico, ao menos das religiões ocidentais, elas passaram a se relacionar com as religiões na relação dual da modernidade, proposta por Kant e consagrada e idolatra por AnSocioCibercultureHegel ao estabelecer sua ética “do Estado” nas discussões sobre família, sociedade civil e do próprio estado, sendo este visto como totalidade maior.
É nesta tensão que se encaixa o dualismo comunicacional de Niklas Luhmann, por exemplo, para quem a comunicação interna (na sociocibercultura a individual), que a regulamenta e restringe, ao mesmo tempo com a comunicação ao seu ambiente (a ambiental da sociocibercultura), está no texto de Luhmann “Soziale Systeme” (1984).
Ela está, de certa forma na imunologia de Sloterdijk, ao afirmar que sistemas imunológicos se “baseiam na distinção entre o próprio e o estranho”, mas rejeita qualquer ideia de estranho presente nas religiões, que para ele “não existem”, então o mistério da vida e da verdade já não são mais condições de “transcendência’, de possibilidade de paraíso.
É feliz ao relacionar o biológico ao organismo social e neste sentido o organismo biológico é identificado como aquele que processos de defesa da vida “se defende”, e também identifica os círculos concêntricos cada vez maiores como tendo dimensão cooperativa e convivencional.
Entretanto ao reconhecer o plano simbólico intergeracional, no qual a morte individual ocorre, apesar de estabilizar a imagem de mundo em novas gerações, não é capaz de ver a solidez e a verdade presente numa vida além da vida, numa natureza além da natureza, a sobrenatureza.
Neste plano que coloco a noosfera, há uma comunicação além dos símbolos presentes no dia-a-dia da vida, no plano espiritual e nela se perpetua a vida “eterna”, não apenas entre gerações, mas na realização em uma esfera “noosférica”.
As gerações egoístas incapazes de pensar na geração futura não destroem apenas a natureza, destroem as condições ambientais para que o futuro se realize na forma de vida plena, torna o pessimismo de sua vida pessoal “para a morte” (pela idade), numa falsa morte social.
O paraíso perdido é a incapacidade de dar felicidade e paz as gerações futuras, é repetir como fazer as esferas doentias da sociedade “tudo será pior”, e aqueles que nasceram numa sociedade já em crise, feita pelas gerações passadas, se sentem “culpadas” do mundo atual.
O paraíso perdido é a impossibilidade de futuro, verdadeira para a vida individual dos adultos que tendem a final da vida, mas falsa para o organismo social que deve manter sua estabilidade, não no sentido conservador, mas com mudanças para uma vida melhor.
O futuro será sempre melhor que qualquer passado, mesmo que na crise ele pareça distante.

 

Sociocibercultura e noosfera

21 fev

Surpreendi-me com um site de redes de pesquisadores (um destes researcher.algo) que eraaoSocioAmbientalIndividualPORT um pesquisador de sociocibercultura (em inglês, pois a tradução foi minha:  ), e encontrei um artigo de  sobre a relação entre autor-referencia e Sociocibercultura de Felix Geyer (apresentado como presidente honorário da sociedade de SocioCibercultura), lembrei das discussões de Norbert Wiener e seus sistemas cibernético, no neopositivismo do circulo de Viena e quase desisti de ir avante, mas depois percebi que há uma chave com a discussão da tecnologia hoje, minha perspectiva é a Noosfera dentro das Esferas de Sloterdijk, assim é outra.
Uma das definições de auto referencia (muitos sistemas “sociais” parecem imitir sistemas cibernéticos) dada por Geyer é interessante: “Os exemplos habituais de comportamento auto-referencial na ciência social consistem em profecias auto-realizáveis e autodestrutivas” (tradução minha para “The usual examples of self-referential behavior in social science consist of self-fullfiling and self-defeating prophecies”), e isto definitivamente me fez interessar pelo assunto.
O autor credenciado para o assunto, estabelece uma relação entre auto-referencia, alienação e crescimento da complexidade societária (nome do segundo tópico do seu artigo), onde afirma: “Assim como muitos outros fenômenos que fazem parte do loop de interação contínua do indivíduo com o meio ambiente, por exemplo a percepção, a auto-referência é, em última instância, orientada para a ação” (Tradução de “Just like many other phenomena that form part of the individual’s continuous interaction loop with the environment, e.g. perception, self-reference is ultimately action-oriented”), e já entendi a relação com a teoria dos sistemas de Luhman, a questão da alienação (ou para mim a consciência), e em especial, a relação com o construtivismo educacional.
O autor penetra nesta complexidade societária através das teorias de “da interação interpersonal não equacionada se aproxima do que Buber (1970) chamou de “relação Eu-Tu” ou o que Maslow (1962) chamou de “Ser(sendo)” reconhecimento “ao contrário de” De(eficiência necessidade) – cognição “, ou o que Berne (1964) definiu como uma interação” sem jogo “.
A lógica da auto referência explica o autor funciona como a Espiral das Perspectivas Recíprocas:( (Laing et al, 1966): “Eu acho que você acha que eu acho …”, etc. Isso também pode ser altamente envolvente, mas geralmente de maneira mais antagônica e alienada, como, por exemplo, o bem conhecido demonstração de dilema do prisioneiro”, eu traduzi do original I think como eu acho (e não Eu penso), por discordar do cogito cartesiano.
O autor ainda focaliza, entre outras, a tese fundamental da teoria sistêmica de Luhmann: “o aumento percebido da complexidade ambiental só pode ser reduzido e tornado gerenciável por um aumento da complexidade interna, que é o resultado de uma cadeia de processos auto-referenciais”, eis o âmago desta teoria dos sistemas, mas Geyer informa que isto só é possível aumentando a complexidade ambiental.
É nesta linha que Geyer usa a Lei  de Ashby da Variedade dos Requisitos (1952, 1956) onde a maior complexidade ambiental (objetiva) significa que cada um constrói seu ambiente com mais objetos , com mais atributos e especialmente com mais interações entre eles.
A sociocibercultura que parece inicialmente só mais um sistema com explicações da cultura atual de relações com objetos, parece penetrar até mesmo num futuro próximo da Internet das Coisas, onde os próprios objetos interagem sobre si, desde o plano ambiental ao individual.
GEYER, F. The march of self-reference, 3rd International Conference on Sociocybernetics, Leon, Mexico, June 25-29, 2001.

 

Imunologia e a verdadeira ascese

16 fev
Para entendermos a ascese possível, temos que superar então o paradigma dosaQuaresma “afetos e paixões” presentes desde a origem da civilização ocidental, ele é uma abertura nas bolhas individualizadas em sistemas imunológicos, mas o que são os sistemas imunológicos ?
“Sistemas imunológicos são expectativas de danificação e violação, somatizados ou institucionalizados, que se baseiam na distinção entre o próprio e o estranho” (Sloterdijk, 2009, p. 709).
É fácil e possível reconhecer um sistema imunológico por uma metáfora do organismo biológico individual, este é o passo novo de Sloterdijk, ele vê em suas “Esferas” o indivíduo em círculos concêntricos cada vez maiores, criando dois sistemas imunológicos, e depois expandem na perspectiva cooperativa e convivencional.
A existência humana é um sistema imunológico social, e segundo o filósofo alemão quando funciona, segurança jurídica, prevenção social e sentimentos de pertencimento além do pequeno círculo da própria família, ele pode expandir-se.
Temos assim os círculos pessoal e familiar, ambos concêntricos, mas que devem ir além do em-si.
O terceiro, por isto postamos sobre o mal simbólico-ontologico, entramos num plano no qual a validação das normas intergeracionais, compensa (e recompensa) a certeza da morte individual e estabiliza a imagem do mundo, parece um plano ainda individual mas não é, é uma ascese na qual “expurgamos” o mal ontológico.
Asceses individuais e até mesmo familiar se não são solidárias e coletivas tendem a criar um “fechamento” do ser, um em-si do-ente.
Assim como o sistema imunológico biológico, tanto o sistema solidário como o simbólico podem passar por crises e superá-las (claro que podem fracassar também), o que significa esta morte individual ? no caso dos dois sistemas imunológicos sociais, é a morte e ressurreição coletiva.
Na passagem bíblica dos 40 dias de deserto de Jesus, se admitimos este humano como Deus não precisaria fazer isto, ele faz sua morte individual, é significativa a passagem em Marcos 1,12-13 “ … o Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam”, depois começou sua vida pública, diria “coletiva”.
SLOTERDIJK, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik. Frankfurt, Suhrkamp, 2009.