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A noosfera e a cultura oral
O período da cultura oral predominava antes de 3.000 a.C., embora tenham existido escribas no Egito, a escrita cuneiforme na Mesopotâmica e Babilônia antiga, também havia escrita na China Antiga e também nas civilizações originárias das américas: maias, astecas e incas.
A forma de divulgação da cultura e, portanto, da evolução da noosfera foi através de profetas e oráculos, cuja função principal era a transmissão da cultura oral e precede ao ensino letrado e filosófico, até que temos uma virada mais notadamente na cultura Greco-judaico-romana.
Em termos bíblicos, de acordo com relatos do Gênesis, usando genealogias apresentadas na bíblia podemos dizer que tem no mínimo 6 mil anos, porém se percebemos a narrativa, Abel era pastor e Caim era agricultor, então esta narrativa começa no momento em que o homem se torna mais sedentário e o processo civilizatório torna-se mais claro, o fato de Abel ser pastor é simbólico para a linguagem bíblica.
Se este é um fato sem comprovação histórica e também Noé e o dilúvio ainda sejam uma eterna busca de documentação, porém seus filhos Sem e Cam já podem ser encontrados na história, uma vez que os povos semitas e camitas estão registrados na história, e Jafé que devia habitar nas tendas de Sem.
Os semitas foram o alvorecer das culturas mesopotâmicas com o auge na Babilônia (1792–1000 a.C.) e que depois foram dominados pelos persas.
Os profetas e os oráculos serão fundamentais nas culturas antigas, eles deviam ter certa iluminação “divina” para que a história não se corrompesse e os costumes fossem alterados.
Segundo o Gênesis 11, do Dilúvio até Abraão passaram cerca de 292 anos, e do nascimento de Abraão ao estabelecimento de Jacó no Egito passaram cerca de 290 anos, ´de Abrão até a vinda de Cristo são cerca de 2 mil anos, e então começa uma era da cultura escrita, e assim surgem os evangelhos enquanto na Grécia antiga as escolas Socrática e Platônica, já que sabemos de Sócrates através de Platão e depois a escola Aristotélica, período que as escolas e escritas se fixam.
Não se trata de superar a cultura oral, mas ela aparece junto com a escrita, os livros manuscritos, que depois se tornarão famosos pelos monges copistas, este período é chamado scriptorium.
A cultura oral permanece junto a povos originários, também entre povos africanos, a escrita impressa será uma conquista da modernidade, assim falar de escolaridade é falar de modernidade, e agora estamos em nova transição devido a novas mídias.
Mercenários, combates intensos e paz dificil
A guerra no leste europeu continua sendo centro de preocupação para a paz mundial, após alguns avanços do exercito ucraniano, a Rússia voltou a avançar no leste em combate descritos como “ferozes” e avanços lentos dos ucranianos no sul, porém são as ameaças em torno maior usina nuclear da Europa, a Zaporizhzhia que ainda preocupam.
Seguem os debates em torno do grupo Wagner, seus reais objetivos e os perigos tanto para os russos como para o ocidente, já que seus métodos e interesses são impiedosos e cruéis, e pensar que poderiam ter acesso ao arsenal nuclear torna o fato ainda mais perigoso.
O papa envio um bispo para conversas com a igreja ortodoxa russa, que pode ser mediadora também, uma vez que tem acesso a Putin e o diálogo religioso entre as igrejas pode favorecer um futuro acordo d paz.
O envolvimento da OTAN e de seus aliados europeus cresce a cada passo novo na guerra, e agora o chanceler russo Lavrov passou a dizer que Zelensky é uma marionete o que acirra o confronto com a Europa e eleva o nível de tensão.
Até o início do outono europeu (primavera aqui o sul do hemisfério) a guerra deve permanecer intensa, mas com poucos avanços de lado a lado, o problema do outono lá e a proximidade do inverno é que se tornam mais estratégicos devido ao clima, a dependência de energia e um crescente aumento de dificuldades de movimentação no solo, até lá é importante alguma estratégia de paz.
O mundo espera por alguma trégua, porém o cenário é cada vez mais complexo, uma vez que o ocidente, através da OTAN se envolve cada vez mais no conflito, enquanto o desprezo e a crueldade russa com a Ucrânia crescem a cada combate uma vez que as perdas de vidas acirram o clima de animosidade e a situação econômica se deteriora.
O mundo e as pessoas de bom senso esperam pela paz, por uma solução negociada e a retomada da vida pacífica na região, que também melhoraria a condição humana no mundo.
A verdade entre o pensamento e a ação
Toda lógica dos sofistas era uma lógica do poder, a lógica da bajulação, dos interesses ocultos e as vezes até confessos, numa sociedade e num pensamento sem o apreço necessário a verdade são os valores e lógicas do poder, da opressão e da falta de liberdade que funcionam.
Não é falta de quem diga a verdade, mas é sobretudo falta de pensar a fundo, de exercício sincero de escuta e de diálogo, afinal o que o círculo hermenêutico propõe em relação ao texto (fusão dos horizontes) significa reconhecer que todos temos numa etapa anterior os nossos pré-conceitos, nossas crenças, nossa visão política ou social.
Assim é preciso um “método” e ele não pode excluir contra-argumentos, escuta atenta e exame sincero sobre aquilo que temos como “nossa verdade”, quando abrimos espaço ao Outro algo novo quase sempre ocorre, e se não ocorre é porque do outro lado não há a mesma abertura, ainda assim vale a pena ouvir e ponderar.
No campo político a política da polarização é o olho-por-olho, uma procura ironizar e ridicularizar o pensamento oposto, não há possibilidade de fusão de horizontes e nem mesmo um diálogo saudável, o que um cidadão comum vê é o despreparo e a anti-política.
O mesmo vale para o discurso cultural e religioso, posições exacerbadas e fora de controle estão longe de conquistar adeptos, criam mais radicalização e ódio dentro daquilo que pretendem combater, leva-se o processo civilizatório ao limite, e deixa jovens e crianças sem perspectiva de um futuro pleno e pacífico.
No campo religioso é importante lembrar que não é aquele que diz “senhor, senhor” que conquistará a felicidade eterna, mas o que põe em prática aquilo que quase toda religião ou culto propõe, estender a mão ao próximo e não fazer ao Outro aquilo que não quer que faça a si, é uma lógica e uma ética mínima sem a qual nenhuma lei ou culto faz sentido.
Queremos a paz mundial, o respeito aos povos e suas culturas, porém deve-se fazer a lição de casa primeiro.
Entre a retórica e o discurso
Predominava até o início do século passado o discurso lógico-idealista que ainda faz parte de boa parte da narrativa contemporânea, mas boa parte está agora esfacelada por narrativas contraditórios e de coesão psicopolítica ou ideológica.
Os gregos a partir da oposição aos sofistas, em especial Aristoteles divida os discursos em 4 tipos: poético, retórico, dialético e analítico.
O poético está relacionado as possibilidades da imaginação, sonha com possibilidades e não é nem irreal e nem delírio, podendo ser utópico no melhor sentido da palavra.
O retórico lida com o mundo do diálogo, usa de modos de persuasão, porém supõe-se que seja fundado em crenças comuns, crenças imaginárias e distópicas de nosso tempo não pode ser confundido com ele, pode ser eloquente, mas não retórico.
Também o dialético aquele que lida com o provável, definir erros e verdades com maior ou menor probabilidade segundo exigência da razão, mas submete-se as crenças à prova mediante ensaios e tentativas de transpassar as objeções, buscndo a verdade entre os erros e os erros entre as verdades.
Por fim o analítico, lida com as certezas e demonstrações certas, partindo de premissas e demonstra a veracidade das conclusões e de forma apodítica a verdade, o debate dialético que supõe Hegel e o idealismo não é apodítico, opõe-se mais como crença do que como verdade.
Poucas palavras, vindas do coração e do sentimento, como exige a poética, de retórica tolerante e respeitosa, de dialética grega que fogem do casuísmo e da dogmática e finalmente de verdadeira fundação apodítica, aqueles que possuem asserções categóricas sobre certo e errado, honesto e desonesto, longe do discurso sofista e vazio.
Se discursar fale com clareza e empatia, se orar fale com o coração e poucas palavras e se pensar olhe antes pelo positivo, generoso e sadio.
Pura retórica não é discurso, nem diálogo nem oração é apenas proselitismo pessoal.
Vaidosos e humildes
A palavra vaidade tem sua origem no termo latino, vanus, que quer dizer vão, vazio.
Em geral, diz-se que o contrário de vaidade é modéstia, simplicidade, porém é confundir vaidoso com orgulhoso, o orgulho imagina que todos depende de sua presença e qualidades, porém o vaidoso precisa de bajuladores e subservientes.
Prefiro dizer que o contrário de vaidade é humildade, que vem de húmus, adubo do qual brota a fertilidade, o humilde sabe de suas deficiências e por isto cresce em sua pequenez e atinge mais sabedoria que o vaidoso que tem dificuldade de ver suas limitações.
A razão da confusão da palavra humildade é que existe um superlativo absoluto sintético que é humílimo, este sim indica condição baixa, obscuridade e pobreza, mas veja é seu superlativo, ou seu exagero, o humilde sabe que tem também qualidades.
Sempre é possível a correção mútua para o crescimento, o vaidoso não sabe disto, como diz Exupéry: “mas o vaidoso não ouvi. Os vaidosos só ouvem elogios”.
Por isto o vaidoso, próprio de nosso tempo, gosta do consumo da liberdade plena sem restrições, Byung-Chul Han em sua análise do poder psicopolítico afirma: “Hoje, o poder assume cada vez mais uma forma permissiva. Em sua permissividade, ou melhor, em sua afabilidade, o poder põe de lado sua negatividade e se passa por liberdade.”
A fácil reconhecer os vaidosos: gostam de sentar na primeira fila, são sempre arrogantes em suas verdades e posições, não olham para o Outro e para o lado, e no caso das religiões acham-se santos, privilegiados ou unicamente amados pelo divino.
Qualquer literatura cultural ou religiosa demonstra que isto é uma fonte de erros e uma estagnação no desenvolvimento das pessoas e da sociedade, é o inverso do processo civilizatório, pois é a incapacidade de corrigir rotas e erros.
Fenomenologia e o outro
O Outro não é uma categoria contemporânea, entretanto como que ela se realiza a partir da fenomenologia husserliana é algo inteiramente novo, não por acaso Heidegger, aluno e discípulo de Husserl pensou a ipseidade pensou o enraizamento da alteridade na própria “ipseidade” (Selbstheit) (o que diferencia um ser do outro, recusando-se a pensar o “si-mesmo” (Selbst) segundo as categorias da substância e da “identidade” (Identität), assim sua ontologia do Outro é inteiramente nova (dentro da filosofia).
Se queremos tratar da identidade, categoria própria de um período do individualismo e de pretensas totalidades finitas, podemos dizer que numa antropologia moderna mais atual, a “teoria” da identidade deve ser vista como dando ao Outro o aspecto “semelhante” enquanto “ser humano”, mas definido como “diverso” e “desigual” no conjunto de relações interétnicas, interculturais ou interreligiosas.
É este contato entre diversas culturas, religiões e até mesmo posições identitárias ideológicas, que está em jogo o processo civilizacional, não faltam “influencers” e grupos a incentivar um tipo de cultura em repulsa a outro, tratar o desigual e o diferente como “inimigo” e isto nem quer dizer que eles inexistam, numa guerra por exemplo, mas a negação do Outro.
Não faltam filósofos que trataram o tema, aquilo destacamos a fenomenologia de Husserl e suas influências: Heidegger, Edith Stein, destaco Paul Ricoeur (O si-mesmo como um outro) e Emmanuel Lévinas (Ética e infinito) e Hans-Georg Gadamer (Verdade e Método).
Mas também Habermas (O discurso filosófico da Modernidade e A inclusão do Outro) e Byung-Chul Han (A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje) que são muito bons para análise da comunicação e sociedade nos dias de hoje, mas sem uma visão clara do Ser enquanto Ser como na ontologia heidegeriana.
Reconhecer o Outro como tendo uma dignidade e merecendo o respeito, mesmo que em posições diferentes da nossa é o remédio para a falta de empatia nos dias de hoje.
Esperança de paz e armas táticas
Em meio a tentativas internacionais de intermediar a guerra na Ucrânia, vários países africanos liderados pela África do Sul através de seu presidente, visitaram no final da semana passada a Ucrânia e a Rússia, os resultados não são esperançosos, mas cada tentativa de paz é um novo alento e cresce a opinião pública internacional por uma paz negociada e diplomática.
A missão além do presidente da Africa do Sul Ramaphosa, estavam também os presidentes do Senegal Macky Sall, da Zâmbia Hakainde e de Camores Azali Assoumani, além de altos representantes congolenses, ugandeses e egípcios.
Na Ucrânia além de conversas com o presidente Zelensky, visitaram o cemitério onde estão centenas de civis da cidade de Bucha, uns dos maiores massacres promovido pela invasão russa e lá depositaram flores.
No fim da semana visitaram Putin e ouviram a tradicional retórica que a Rússia não tinha outra saída para sua segurança, e que a negociação deve incluir os territórios conquistados na guerra.
A preocupação principal dos países africanos é a entrega de grãos tanto da Ucrânia quanto da Rússia e que uma crise internacional pode afetar a segurança alimentar, em especial, dos países mais pobres, o que inclui a África.
A Rússia concretizou o envio de armas “táticas” para a Bielorrússia, seu tradicional aliado nesta guerra, afirmando que o objetivo não é utilizá-las, mas tem o objetivo “tático” de defender as fronteiras incluindo a de seu Aliado.
O envio de caças e tanques para a guerra é um combustível a mais para a Ucrânia, e já mudou o cenário nuclear, países que optavam por desarmamento e politicas “verdes” abandonam esta perspectiva, um exemplo é a Alemanha que aumentou pela premira vez desde a segunda guerra mundial, seu orçamento militar.
Porém a propaganda interna de Estado, que domina praticamente todos meios de comunicação, é que com armas nucleares a Rússia é mais forte poderá usá-las se necessário.
O conflito já ultrapassou todas as fronteiras, poucos são os países que não se posicionaram, no entanto, a formação de um bloco que deseja a paz é fundamental para uma saída mediada.
Afastar o medo, sair do mal-estar civilizatório
Pode parecer adocicado ou até mesmo infantil, Freud diz o contrário, que adotemos atitudes mais reflexivas e tolerantes diante de dificuldades.
Os gregos sabiam que sem autodomínio os homens podiam se entregar a dois polos paralisantes: deimos e phobos (terror e medo), por outro lado é difícil refrear a reação imediata aguda, se não fomos educados para a decepção, a frustração e o diálogo.
Adam Smith, cujo pensamento influenciou a economia moderna incluindo Marx, também escreveu A Teoria dos Sentimentos Morais, que o autodomínio é fundamental diante de uma situação aterradora, e estabelece dois modos de autodomínio.
Teoriza que o “agir de acordo com os ditames da prudência, da justiça e da beneficência apropriada, parece não ter grande mérito se não existe a tentação de agir de outra forma”.
Deveríamos ser educados para a capacidade de empreendermos autodomínio diante dos pathós (afecções da alma) onde devemos pôr em relevo nossas maiores virtudes, ou sucumbiremos aos processos vexatórios e odiosos vícios, e por incrível que pareça, já domina a maioria das mídias sociais, chegando até as mais altas cortes do país.
Segundo o autor o segundo grupo das paixões sobre as quais convém que exerçamos autodomínio, levam ao contexto do “o amor ao sossego, ao prazer, ao aplauso e a muitas outras satisfações egoístas”.
Assim se compararmos as do primeiro com as do segundo grupo, podia parecer mais fácil dominá-las, pois essas inclinações nos concedem algum tempo mínimo de reflexão; ao menos, mais do que quando somos assaltados pelo medo e pela cólera (primeiro grupo), entretanto vivemos o contexto de reações imediatas ou paralisia, sem perceber que estes extremos se tocam.
Se cedemos a todos impulsos, se damos pouco tempo ou espaço a reflexão, ao silêncio e até mesmo ao cultivo da interioridade, o que externamos é quase sempre pouco empático, e no extremo oposto sobram a cólera e a barbárie.
A Inteligência emocional, desenvolveu métodos que sugerem como controlar suas emoções e ajuda a reconhecer mais facilmente quando ela melhora suas relações e empatia.
SMITH, Adam. The Theory of Moral Semtiments, 1ª. Ed. 1759.
Guerra e ações humanitárias
A explosão da barragem na região de Nova Kakhovka, região de Kherson, despertou um sentimento humanitário mais forte devido ao desastre que é também ambiental e que afeta todos os moradores daquela região, incluindo a Criméia que é domínio russo.
Apesar de ser um desafio enorme e perigoso, a Ucrânia é vitima de bombardeios quase todos os dias, muitas organizações humanitárias ajudam as pessoas que vivem lá ou que estão retornando (é grande o número que resolveu correr o risco), segundo a ONG Zoa, a ajuda de diversas ONGs já atingiram cerca de 5,5 milhões de pessoas.
Uma das regiões destruídas ao norte, que faz fronteira com a Rússia e a Bielorrússia é Cherniguive ou Chernigov, lá a ONG Zoa ajuda a reconstruir a vida e dá assistência às pessoas, isto é um modo de encorajar as pessoas a continuarem vivendo lá (foto créditos da ZOA).
A Islândia rompeu relações diplomáticas com a Rússia devido a guerra, Putin promete retaliar.
Certamente a vida na Ucrânia nunca mais será a mesma, e gerações lembrarão deste horror como lembram do Holodomor (1932-1933) no período stalinista, um dos motivos que separa povos que do ponto de vista étnico são próximos.
A guerra entra num período de possibilidade de escalar para outros países e explodir numa nova catástrofe mundial de uma guerra global, a Rússia já deslocou armas nucleares “táticas” para a Bielorrússia, uma ameaça clara aos países que ajudam a Ucrânia.
As tentativas de estabelecer a paz ou um cessar fogo são cada vez mais desesperadas e com poucas chances de sucesso, porém elas continuam acontecendo, neste momento são heroicas.
A etapa dolorosa e perigosa que representa a contraofensiva ucraniana e as ameaças russas, representam os limites de uma guerra total ainda mais cruel e perigosa, muitos países já se posicionam por uma intervenção possível e apoio a um dos lados nesta guerra insana.
O apelo deve ser ao bom senso, aos verdadeiros valores humanitários e ao perigo de uma crise civilizatória sem precedentes.
Dualismo e unidade
O dualismo vem do idealismo de Parmênides e chega até Hegel, já postamos em suas categorias em-si, de-si e para-si, sendo para-si um certo retorno ao em si (posts da semana passada).
Existem dois tipos de dualismo: o dualismo de substância e o dualismo de propriedades.
Enquanto o dualismo de substância (ou dualismo cartesiano) argumenta que a mente é uma substância que existe de forma independente, já o de propriedade descreve uma categoria de posições em filosofia da mente que advogam que, apesar de o mundo ser constituído por apenas um tipo de substância, do tipo físico, existem dois tipos distintos de propriedades: propriedades físicas e propriedades mentais.
Esta briga no interior do dualismo continua em separação substância e mente, seja como substância ou propriedade.
A unidade é possível se pensarmos além da ontologia lógica de Parmênides onde o Ser é e o não ser não é, há um Ser que não é, que está presente na alma, e que no sentido trinitária é um Ser-para-si, isto é um para no sentido de além de, neste caso além da substância, e se pensarmos em Deus Absoluto (usando a categoria Hegeliana) o para-si é substância e se concretiza no “filho” da Trindade que é Jesus, ser-em -si homem e ser-para-si Deus.
Assim Deus entra na história e na substância como mente e propriedade, aquilo que o teólogo e paleontólogo francês Teilhard de Chardin chama de noosfera, que é subtítulo deste blog.
Deus mente e propriedade entra na história e se eterniza como substância no corpo e sangue, com as substâncias pão e vinho, que são artefatos humanos, o trigo feito pão pelo homem e a uva feito vinho pelo homem, assim substância humana, divinizada e eternizada na ceia de Jesus, esta é a festa do Corpo de Cristo realizada hoje por boa parte dos cristãos.
No raciocínio chardaniano Deus retirou o universo de sua sub-instância que também é Deus, do corpo de Cristo, assim todo universo é cristocêntrico e penetrado por sua divindade.
A tentativa humana de criar um “ser” inteligente e além-do-humano, é uma ex-machina incapaz do para-si.
Assim é que se realiza a unidade trinitária e humana, é preciso passar através do não-Ser que é Ser, é preciso superar contradições e ir além de si, entrar num para-si divino e eterno.