Arquivo para abril 18th, 2016
O Brasil redescoberto Grandes sertões: Veredas
O ano de 1956 o Brasil começa a se redemocratizar, e o mais importantes na literatura é um olhar inédito e inovador para o interior do país, 600 páginas de Guimarães Rosa, além de um experimentalismo linguístico do início do modernismo (voltaremos a ele),
O livro Grande Sertão: Veredas, tem algo de filosofia e mistério pois chega a “anunciar” a própria morte, fala da travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo, um amor curioso e inexplicável por Diadorim, onde se confunde beleza e medo, há um ser e um não-ser, a convivência de verdade e mentira, parece haver um pacto entre linguagem e poesia.
Um ex-jagunço é o personagem narrador do livro, aqui já uma novidade porque deixa o personagem falar, Riobaldo conhecido pelas alcunhas Tatarana ou Urutu-Branco, e ele vai falando quase num discurso oral, sobre coisas populares, tais como:
– o diabo existe ou não … e vai dizendo (…) Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens, até nas crianças – eu digo. (…) E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho… (Rosa, 2001, p. 26).
– vai fazendo um enredo sobre pessoas boas também: “O senhor ache e não ache. Tudo é e não é… Quase todo mais grave criminoso feroz, sempre é muito bom marido, bom filho, bom pai, e é bom amigo-de-seus-amigos! Sei desses. Só que tem os depois – e Deus, junto. Vi muitas nuvens” (Rosa, 2001, p. 27).
– mas vê pouca distância em tudo: “De sorte que carece de se escolher: ou a gente se tece de viver no safado comum, ou cuida de só religião só. Eu podia ser: padre sacerdote, se não chefe de jagunços; para outras coisas não fui parido.” (Rosa, 2001, p. 31).
– Mostra os paradoxos entre bem e mal: ”Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo.” (Rosa, 2001, p. 33).
– sua amizade e relação com Diadorim: “Diadorim e eu, nós dois. A gente dava passeios.Com assim, a gente se diferenciava dos outros – porque jagunço não é muito de conversa continuada nem de amizades estreitas: a bem eles se misturam e desmisturam, de acaso, mas cada um é feito um por si.” (Rosa, 2001, p. 45)
Atravessar o rio, ser e não-ser e estar sempre num amor desapegado, dia 18 de abril de 2016.