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O verdadeiro compromisso com o bem comum
Maus gestores e ditadores também prometem trabalhar pelos excluídos e pelo bem comum, o que acontece é que seus verdadeiros interesses pessoais permanecem ocultos.
Ninguém diz abertamente que vai fazer o mal, a não ser psicopatas declarados que já estão num grau de enfermidade mental que não conseguem mais disfarçar seus desejos.
As análises políticas e sociais escondem interesses de violência, de ódio e de guerra aos opositores, não faltam justificativas, porém qualquer iniciativa de exclusão já é um indício de que nenhum bem comum será bem gerenciado por estes gestores.
Começam com pequenas ações que inicialmente confundem as pessoas de boa fé e que querem de fato o bem comum a todos, a vida pacífica e equilibrada para todos, porém aos poucos os verdadeiros desejos pessoais de posse pessoal dos bens vão se revelando.
A corrupção também começa assim, pequenos furtos não coibidos levam aos grandes quando não há impunidade, pais que corrigem e educam sem filhos sabem disto, é preciso estar sempre atento as ações e ao que cada pequeno gesto leva, educadores também sabem disto.
Como diz uma leitura bíblica, um dono de uma vinha arrendou-a e viajou, depois de certo tempo mandou os empregados cobrarem a parte do arrendamento (Mt 21,33) bateram nele e o mandaram de volta, mandou outros e também apanharam e voltaram sem nada e finalmente mandou o filho, então os arrendatários pensaram matamos ele e ficamos com a vinha, e Jesus lembra ao final da parábola de si próprio: a pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se a pedra angular.
É assim que o bem se estabelece, com aqueles que os maus rejeitaram, oprimiram e depois de muito sofrimento é possível estabelecer a paz e o bem comum.
A resiliência e o desenvolvimento do bem é maior que as grandes maldades, embora evita-las significa também evitar injustiças, desiquilíbrios sociais e principalmente mortes inocentes.
Porque o mal cresce
O senso comum é dizer que o mal cresce porque o bem se omite, em parte isto é verdade, pois o mal é ausência do bem, mas esta ausência pode ser por aporia (desconhecimento), pela má educação que forma mentes sem iluminação e por fim por puro orgulho e poder.
O poder é uma forma de legitimar tanto o bem como o mal, isto só é possível pela violência, e a violência generalizada é a guerra, assim esta é a forma mais clara e inequívoca do mal, nela a intolerância, o desprezo pelo diferente, a imposição de ideias e de injustiças é facilitada.
Assim em diversas épocas de nossa história foi por meio da violência que impérios e ditadores impuseram suas vontades e ideologias, não sem o consentimento de boa parte da população, por isso lembramos da má educação, seja através de campanhas de propaganda, seja pela própria escolarização empobrecida e malformada, as duas questões estão ligadas.
É preciso por isto estar atentos a gestão em todos os níveis, desde as nossas casas, bairros e condomínios até as estruturas de poder, pequenas ações ilegítimas, educação para empatia, convivência, limpeza e até mesmo o lazer devem ser observadas e orientadas pelos gestores e órgãos públicos no sentido de preservar o espaço comum e os bens públicos.
O zelo pela honestidade, pela transparência, pelo diálogo respeitoso entre opiniões que não são necessariamente opostos, mas diferentes ainda que em direções completamente divergentes não deve ser motivo de ódio e violência, é sempre possível o diálogo.
O mal precisa da polarização, da radicalização (no mal sentido, há o sentido bom que é ir a raiz de um problema), da pura desavença como forma de justificar e propagar a violência.
Assim como sementes de uma boa árvore, também as ervas daninhas e plantas venenosas tem raízes, cresceram meio a uma plantação saudável e o fato que devem crescer juntas pode ser um equívoco porque poderão sufocar as sementes boas, as pestes e doenças em plantas.
Também a cura destas pestes deve-se tomar cuidados, na agricultura diversos pesticidas já foram condenados, e até plantas resistentes as doenças podem ser questionadas, a mutação genética pode inserir um mal maior que o esperado, há muito diálogo ético a respeito.
Assim três cuidados devem ser considerados: a educação ética de valorizar o que é bom, o zelo para que o erro e a maldade não se propaguem e finalmente os métodos de correção devem ter o cuidado de não realizarem um mal ainda maior.
As religiões e o mal
Um dos grandes equívocos, já desenvolvidos em alguns dos posts, é a dualidade maniqueísta mal x bem, sem entender que o mal é justamente a ausência do bem, grande pensador cristão, Agostinho de Hipona se converteu justamente abandonando o maniqueísmo.
Conceito religiosos há muito esquecidos, ou que ficam submersos em pregações equivocadas impedem aquilo que seria o “fluxo natural da humanidade em direção a iluminação da alma”, o mal tem fontes arraigadas em forma de pensamentos antigos e cargas emocionais do passado e, apesar de obsoletas, ainda persistem impedindo o progresso das almas.
O remédio seria muito simples, quanto mais próxima da iluminação da alma menos o mal está presente, e mais almas iluminadas torna o mundo mais empático, harmônico e sem injustiças.
A ética e a moral que deriva da necessidade de progresso civilizatório não encontra espaço se não houveram almas e pessoas em posições de destaque com iluminação clara e convincente, é por isto que o mal tornou-se uma questão social, teológica ou ideológica, e as vezes ambas.
Não são só pensadores cristãos que afirmam isto, Hannah Arendt fala da Banalidade do Mal, Nietzsche da “morte de Deus” (ou como “matamos” Ele, claro impossível), Paul Ricoeur e Lévinas sobre o Outro e Byung Chul Han sobre na “Sociedade do cansaço” fala da vita contemplativa em complemento da vita activa (das quais Hanna Arendt também falou), lembrando inclusive pensadores cristãos.
A volta de ameaças de uma guerra, a crise social de valores morais (tudo é permitido!), antes que uma verdadeira crise civilizatória aconteça é necessária uma nova iluminação das almas (no quadro (na pintura: São Francisco expulsando demônios de Arezzo*, de Benozzo Gozzoli).
A ausência de compreensão da subjetividade e do imaginário humano, ou sua submissão a valores pouco iluminados, a ausência de compaixão com os semelhantes, a incompreensão do progresso como tendo aspectos positivos fundamentais, até mesmo para salvar o processo civilizatório, leva a sociedade a exaustão, a descrença ou a fatalidade de guerras e ódios.
Não é difícil encontrar em jornais e mídias sociais encontrar posições favoráveis ao processo de exclusão de pessoas de determinada opinião, religião ou mesmo simples discordância de valores morais duvidosos (veja o caso do aborto no Brasil nesse momento), os debates são estéreis e ao invés de argumentos as reações são de sarcasmo e ironia.
São sementes do processo mais amplo de crise civilizatória em andamento e detectada por grandes pensadores desde o século passado, creditá-las as novas mídias, ao ressurgimento de nacionalismos e correntes autoritárias é olhar apenas a consequência, a raiz é a ausência de alma iluminadas que ajudem a humanidade a contemplar seu futuro com maior grandeza.
* Quando Francisco foi a Arezzo, havia o maior escândalo e uma guerra quase na cidade inteira, de dia e de noite, por causa de duas facções que havia muito tempo se odiavam.
Guerra em desgaste e paz em Nagorno-Karabakh
Enquanto a guerra russa/ucraniana entra numa fase de desgaste, uma região de fronteira tem um sinal de paz, ainda que signifique uma perda de território.
A luta pelo domínio da região de Nagorno-Karabakh, de maioria armênia remonta a séculos, entretanto o presidente da autodeclarada república de Nagorno-Karabakh, Samvel Shaharamanyan declarou que ela deixaria de existir a partir de 1º. de janeiro de 2023.
No século 18, quando a região sofria pressão da Pérsia, a czarina russa Catarina II emitiu cartas de proteção a eles, porém o conflito nunca foi totalmente resolvido.
O decreto assinado dissolveu todas as instituições estatais que serão desocupadas até o início de 2024, e mais de 100 mil armênios já deixaram o país, que já tem a presença de militares do Azerbaijão, de maioria muçulmana e apoiado pela Turquia, a Armênia é cristã e apoiada pela Rússia.
A região tem importância geopolítica porque desde a guerra da Rússia contra a Ucrânia, o Azerbaijão fornece milhões de barris de petróleos para a união europeia através do Mar Cáspio pela costa mediterrânea, e recentemente a Rússia anunciou que não fornecerá mais.
O genocídio armênio de 1915-1916 durante o Império Otamano levou muitos armênios a fugirem para esta região de Nagorno-Karabakh, desde então são chamados de azeris, durante a revolução russa a região continuou em conflito com o Azerbaijão, embora ambas fossem repúblicas soviéticas, os anti-armênios da cidade de Shusha mataram 30 mil armênios.
Com o fim da união Soviética, os armênios voltaram a se constituir como nação, mas o conflito de Nagorno-Karabakh permaneceu, houveram vários períodos de lutas na região, agora com a sessão do território esta república autônoma deixa de existir.
Apesar do temor dos armênios separatistas, esta nova situação é um grande sinal de paz.
Rússia e Ucrânia podem se inspirar neste modelo ou algo parecido, o mundo deseja a paz.
O mal e as guerras de Dario
A separação entre a história humana laica e a religiosa nem sempre é possível sem uma adulteração de ambas por parte de quem a faz de modo particular.
Neste processo também se insere a questão do bem e do mal, é pensamento comum que serão “salvos” aqueles que estão nesta ou naquela confissão religiosa, ou ainda, que de alguma forma aceitaram Deus em suas vidas, esta é só uma parte da verdade.
Diz a leitura bíblica: “nem todo aquele que diz ‘Senhor Senhor!!’ entrará no reino dos céus” (Mt 7,21) e assim a compreensão do que significa de fato fazer um bem agradável aos céus, não é nem de longe o simples compromisso religioso formal ou nominal, é preciso a vontade.
A vontade também não é como uma crença que se espalha nos dias de hoje a reafirmação diária do desejo de determinada coisa, chamada de lei da atração ou “o mistério”, nem é também a vontade de potência como pensou Nietzsche, para o filósofo tudo no mundo é Vontade de Potência porque todas as forças procuram a sua própria expansão.
Vontade é num sentido espiritual aquilo que está em consonância com a potência que somos e que devemos desenvolver, dir-se-ia uma vocação, porém em atos cotidianos e que exigem a capacidade de discernir entre a própria vontade, muitas vezes impetuosa, e aquela que é um bem.
Aquilo pode-se distinguir melhor o mal, ausência do bem, e este mal, é o que desenvolvemos na semana passada como a inadequação do bem: enriquecer de modo ilícito, ser superior aos outros, julgar por critérios próprios não universais, enfim uma infinidade de questões são um mal não aparente, mas real.
Uma história universal e citada na bíblia é a de Dario no Império Persa, não sendo religioso ele chegou a nomear o profeta Daniel a uma de suas províncias (chamadas sátrapias), determina que o povo hebreu seja repatriado e autoriza a reconstrução do templo, conforme narra o livro de Esdras.
Sem ser religioso reconhece o povo hebreu, assim Dario tem um lugar privilegiado na história bíblica e religiosa, também um outro evento curioso é a guerra dos medos e lídios, após uma batalha indecisiva, no dia 25 de maio do ano de 585 a.C., ambos exércitos encerram a luta por um sinal no céu, que na verdade era um eclipse lunar anular.
Esta data foi confirmada por cálculos científicos, sendo uma das primeiras de eclipse anular registrado, outro igual acontecerá dia 14 de outubro próximo.
Assim pode-se entender os desígnios históricos e divinos mesmo sem uma crença, como fez o rei Dario e fazer aquilo que é justo e bom para os povos e a humanidade.
Em tempos de ameaças de guerra, encontrar este bem pode evitar grandes desastres.
Um inverno europeu frio e perigoso
Entramos na primavera do hemisfério sul e no outono do hemisfério norte, na Europa a preocupação com o estoque de combustíveis para o inverno devido ao embargo russo é crescente, há perigo de racionamento e uma corrida ao uso de carvão, na Polônia por exemplo já há filas para comprar os estoques.
Mas este não é o único aspecto, a redução da oferta de diesel pela Rússia afetará todo mercado mundial e o preço dos combustíveis fósseis pode disparar, segundo a Abicom a defesa no Brasil é de 7% em relação ao mercado internacional e 12% no caso do diesel, e poderá aumentar.
Outra crise é a dos alimentos, porque a Ucrânia manteve boa parte de sua produção o que ajuda o mercado internacional, mas há um conflito do escoamento através da Polônia onde os produtores do país tem proteção e é famoso o porto de Gdansk, já que no mar Negro cresce o embate militar na Criméia.
A crise geopololítica é o problema mais grave, se a Ucrânia perder parte de seu território, países bálticos como Estônia e Letônia que fazem fronteira com a Rússia e Bielorrússia, e Lituânia que faz fronteira com a Bielorrússia se sentem ameaçados (mapa), e a pergunta é quem será o próximo alvo.
O noticiário fala da ajuda da OTAN, porém estes pequenos países devido a sua fragilidade têm apoiado militarmente e materialmente a Ucrânia, há inclusive vários relatos de alistamento de militares na guerra da Ucrânia.
Os Estados Unidos anunciaram mísseis de longo alcance (tipo ATACMS) e o inverno é sempre uma estratégia durante a guerra devido as dificuldades de logística e mobilidade das tropas, agora também devido às provisões e energias para aquecimento.
A Ucrânia propôs um plano de paz que foi rechaçado pela Rússia, Zelenski foi até a assembleia que se realizava e teve conversas bilaterais, inclusive com o Brasil, o que certamente irritou a Rússia, mas além e princípios de paz e ajuda mútua não há qualquer indicio de um posicionamento brasileiro no confronto.
O que se pode esperar para o inverno, não havendo paz é perigoso não apenas para os países em conflito, mas para toda Europa pela proximidade e todo mundo pelas questões econômicas, os combustíveis são só um aspecto.
Administrar o bem comum e a paz
Pensei em fazer um silêncio e apenas escrever hoje PAZ, PAZ, PAZ, mas seria calar diante do perigo da guerra.
Administrar o bem comum é fazer a paz prosperar, desconsiderá-lo é permitir um grande espaço para o ódio, a intolerância, a violência e em uma escala maior: a guerra.
O dia 21 de setembro foi instituído pela ONU como dia internacional da Paz, o secretário geral António Guterres citou em vídeo o efeito de conflitos que expulsam um número recorde de pessoas das suas casas, e não deixou de falar também destes fatores pessoas, outros fatores como: incêndios fatais, cheias e altas temperaturas, aliados à pobreza, às desigualdades e às injustiças numa realidade de desconfiança, divisão e preconceito.
Na Itália um grupo com inúmeras iniciativas sociais lançou uma campanha “Itália unida pela paz”, a Comunidade de Santo Egídio se destaca por uma visão desapaixonada e bilateral sobre os problemas das guerras e da paz, tem autoridade para falar de paz.
Já haviam promovido nos dias 10 a 12 de setembro em Berlim na Alemanha, um encontro religioso que intitularam “A ousadia da paz”, e não faltaram reflexões sobre as desigualdades sociais, as intolerâncias e as injustiças presentes em vários âmbitos em todo planeta.
Precisamos administrar aquilo que a Natureza, o Planeta e o próprios desenvolvimentos humanos nos deram para permitir um mundo mais fraterno, mais justo e mais humano.
Para quem crê tudo isto é dádiva divina, mas é preciso administrá-la bem pois seremos cobrados de alguma forma pelas consequências de nossos atos, como diz a parábola bíblica dos empregados aos quais foram confiados os talentos através do dono de uma vinha.
Chegam os trabalhadores contratos, mas como precisava de mais foi a praça e contratou também os que estavam desocupados, e perguntou porque estavam ali sem trabalho, eles responderam: “porque ninguém nos contratou” (Mt 20,7) e então também foram contratados.
Ao final da tarde pagou o mesmo salário 1 moeda de prata a todos, e alguns que estavam ali desde o início não acharam muito justo, mas o patrão lembro que o combinado era uma moeda de prata então todos estavam recebendo o combinado.
Assim o sentido do bem comum é este todos tem direito ao salário digno, mas é preciso a administração correta e a honestidade e zelo de quem paga, o justo é todos receberem o salário digno.
Mas a paz requer também um coração aberto ao justo e digno direito do outro excluído.
Uma voz para a paz
Poucos foram escritores e jornalistas que não se envolveram em meados do século XX em apelos ideológicos e nacionalistas que faziam a Europa em meio ao enfraquecimento do Império Austro-húngaro e o crescimento de sentimentos militaristas que levavam a guerra, Karl Kraus, um dramaturgo e escritor austríaco (eram nascido em 1874 numa vila da Boemia (hoje republica Tcheca), então parte do Império Austro-húngaro.
Ao contrário do jornalismo de seu tempo que criticava, daqueles que julgavam videntes como Raphael Schermann que estava em evidencia em Viena e que o criticava, a crítica de Karl Kraus era dirigida ao engajamento político-ideológico dos jornalistas de seu tempo, que criticava desde a linguagem vulgar que usavam até a decadência moral de seu tempo que espelhavam.
Famoso e conhecido nos dias atuais por seu livro “Aforismos” (Arquipélago Editorial, 2010), o qual definia como “O aforismo jamais coincide com a verdade; ou é uma meia verdade ou uma verdade e meia”, teve várias obras publicadas recentemente em português, teve os lançamentos em português das obras “Os últimos dias da humanidade” pela editora portuguesa Relógio d´água e mais recentemente de textos do seu jornal “Die Fackel” (A tocha ou O archote, como preferem os portugueses) que são escritos já na 1ª. guerra mundial, a qual era um dos mais destacados opositores.
Havia uma edição incompleta d´Os últimos dias da Humanidade, editada pela Antígona em 2003, por seu tradutor português Antônio Souza Ribeiro, lembra o jovem chegado em Viena que já escrevera “A literatura em demolida” de 1897 e “Uma coroa para Sião” em 1898, como “De facto, desenha‑se aqui com clareza o que irá ser a marca distintiva da posição de Kraus no campo literário vienense, definida por Edward Timms como um “isolamento combativo” ” (pg. 96).
Enquanto os “media” de sua época se engajam em discursos ideológicos de seu tempo, escreve seu tradutor “… pelo contrário, Kraus está a lançar, de forma pioneira, os fundamentos do que poderia hoje chamar‑se uma crítica dos media, no que constitui uma das dimensões de mais flagrante actualidade da sua obra” (pg. 97).
Embora solitário, Karl Kraus não se fechou: ”A realidade é que, ao longo de toda a vida, ao mesmo tempo que se defronta com ódios irredutíveis no interior do campo literário austríaco e alemão, Kraus cultivou um círculo de relações muito alargado, que se intersecta com círculos intelectuais e artísticos relevantes e com vários nomes de destaque das primeiras décadas do século…” (pg. 97).
Com a eclosão da guerra em agosto de 1914, sairia apenas um número da Revista “Die Fakel” em dezembro de 1914 com o texto de 20 páginas “Nesta grande época”.
Depois de publicar novo texto curto em fevereiro de 1915, a revista “ … volta a publicar‑se, em Outubro de 1915, com um número extenso de 168 páginas, é para se constituir como um espaço de rejeição violenta da política de guerra em todos os seus aspectos” (p. 101).
Além de sua importância para a história do jornalismo, Karl Kraus traz uma grande reflexão para os dias atuais.
RIBEIRO, Antônio Sousa. Os últimos dias da humanidade – manual de leitura, Portugal, Porto: Manual de Leitura Últimos Dias final.pdf (tnsj.pt), 2003.
A guerra fria vai esquentando
Parece um paradoxo, mas não é, pois fato é que a Europa e todo hemisférico norte caminha para o Outono e depois inverno e em pleno frio os limites da polarização ideológica parecem extrapolar, novas armas, narrativas de vitórias em campos de batalha, etc.
Nem a tragédia do Marrocos (foto), apesar das condolências, parecem despertar um sentimento maior de solidariedade entre os povos, a própria África subsaariana ao lado esquenta com golpes e novas ditaduras militares.
A ampliação do bloco econômico dos Brics também fortalece esta polarização, apesar da reunião do G20, um bloco mais diversificado, a possível criação de uma nova moeda e a nova geopolítica apontam para um conflito que já se instalou em golpes e regimes autoritários, não significa que esta diversificação de moedas e novas forças económicas e políticas não devam existir, mas elas deveriam favorecer o campo diplomático e ao estabelecimento da paz.
No front da batalha mais declarada, a Rússia anuncia uma imponente arma, não por acaso chamada de Satã II, capaz de transportar vários misseis ao mesmo sem se incomodar com nomes demoníacos, no front da guerra foi enviado um general chamado de Armageddon, Sergey Surovikin, que atuou na Síria e contra manifestações na Rússia, está agora no front.
Do lado da Ucrânia, cuja contraofensiva é mais lenta do que o esperado, novas armas com uranio enfraquecido foram recebidas dos EUA, enquanto treina pilotos dos novos caças de seus aliados, uma mudança de tática mais agressiva deve acontecer antes do inverno.
Há um front da paz enfraquecido, o presidente da Turquia tentou um novo acordo para liberar os grãos que saem da ucrânia pelo mar negro, mas aparentemente sem sucesso e um grande produtor de grãos da Ucrânia faleceu com sua família, quando um míssil atingiu sua casa em Odessa, Olesky Vadatursky.
Também crescem na Web propagandas de feitos na guerra, a paz parece distante e os espíritos e vozes do equilíbrio e do bom senso parecem sufocadas, sempre há esperança e pacíficos.
Temores de uma 3G
Uma terceira guerra mundial (3G), que seria a maior crise civilizatória já ocorrida, parece chegar junto com a proximidade do outono europeu, entrevistas de um repórter da BBC em Moscou dão conta que há um clima de patriotismo e apoio a guerra na Ucrânia, ainda que seja chamada pelo eufemismo de “operação militar especial”.
O repórter entrevistou o blogueiro Andrei Afanasiev, pró-Kremlin e professor universitário, e também ouviu o outro lado de analistas militares que dizem que a propaganda estatal esconde os fracassos e perdas militares na guerra, entrevistou ainda atividades anti-guerra embora a maior tenha deixado a Rússia ou esteja presa.
O cenário apesar de uma boa quantidade da população manter certa indiferença é de um clima crescente de guerra, algum medo do futuro e nenhuma esperança de paz a vista.
O envolvimento da OTAN cada vez mais declarado e ostensivo cria um clima ainda pior, na semana passada houve um ataque ao aeroporto russo de Pskov, e na Ucrânia ameaça de bombas nas escolas que estão retornando as aulas, desde o início da guerra 3.750 escolas foram parciais ou totalmente destruídas por mísseis e bombas, segundo a Ucrânia.
Noutro front que começa a se desenha uma guerra, após as eleições houve um golpe militar no Gabão, país de língua e influencia francesa, o presidente reeleito Ali Bongo Ondimba, cuja família governa o país a 56 anos, encontra-se preso e as eleições foram consideradas fraudulentas.
Países da União Centro-Africana condenaram o golpe, agora cresce o número de países que não se alinham ao Ocidente e uma guerra pode se iniciar na região que já assisti a outros golpes e juntas militares governando os países, recentemente houve em Níger com apoio da Rússia (Mali, Guiné, Burkina Faso, Chade e Tunísia são ex-colônias francesas) (veja o mapa).
Na famosa crise dos mísseis em Cuba, três generais da Marinha Soviética deveriam aprovar o disparo de mísseis segundo protocolo russo, mas um deles Vasili Alexandrovich Arkhipov era contra, e isto evitou um holocausto nuclear trágico, a esperança é que existam outros Vasilis que impeçam a guerra 3G.