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Arquivo para outubro 15th, 2014

Banalidade do mal e as mídias

15 out

DelaçãoPremiadaPensei muito em escrever sobre a banalidade do mal, também observado nas redes,  mas principalmente na grande mídia porque tinha visto uma reportagem da Veja sobre o filme sobre Hanna Arendt, e também outra reportagem no Globo.

Em ambos tirei alguma lição na Veja, Rodrigo Constantino fez uma frase interessante: “A verdade é que os seres humanos buscam a intencionalidade em atos grandiosos, seja para o bem ou para o mal”, e também no Globo aproveitei alguma coisa quando do Tony Bellotto, ao lembrar algo quase despercebido do livro da filósofa Arendt: “Arendt concluiu que Alfred Eichmann não era um sujeito especialmente antissemita nem particularmente perverso. Era só um odioso burocrata cumprindo ordens sem questioná-las …”, e ambos me remeteram ao Brasil de hoje.

Os depoimentos de delação premiada do doleiro Youssef e do tecnocrata da Petrobrás, vazado pelas mídias e agora já entrando em fase de campanha, um lado que deseja explorar mais dados sobre o fato esquecendo seu telhado de vidro e outro que procura ignorá-lo dizendo que é campanha da mídia (sim o áudio da delação premiada é uma mídia) daqueles que desejariam ser os guardiões da moral e dos bens públicos, e há até religiosos que os apoiam, mas Deus não é álibi para ninguém, menos ainda para religiosos.

O chocante ao ouvir é que os fatos são contados como rotineiros, narrados como alguém que conta uma história para uma criança, claro em função da delação premiada, mas sem nenhum constrangimento, sem nenhum remorso ou mesmo ressentimento, já ouvi depoimentos de ladrões de galinha com mais arrependimento que os ali narrados.

Chego a conclusão que Hanna não estava falando apenas dos estados totalitários do período de guerra e seus horrores, mas falava justamente do mal encarnado no estado de modo a cegar até mesmo pessoas de bem e banalizar o mal, algo assim afinal todo mudo faz, até pessoas de “bem”.

Espero que os acontecimentos sejam apurados até o fim, mas apesar da jura dos candidatos, não creio, afinal as pessoas realmente “de bem” estão fora deste processo, vale o mal dito e o mal explicado, mas continuarei sonhando em “passar o Brasil a limpo” e devolve-lo aos brasileiros trabalhadores honestos, talvez até ingênuos, que sonham com um futuro melhor para todos.

De minha parte o mal nunca será banalizado, roubar é crime, roubar o dinheiro público é um crime hediondo, e espero que os cabeças sejam punidos e não apenas seus laranjas, acho que a delação premiada é a revolta dos “laranjas”.

Hanna Arendt faria ontem 108 anos, o filme de 2012 estará em breve no Espaço Itaú e até o Google a homenageou ontem.