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As ideias e a Pátria-Mundo
Edgar Morin e Anne B. Kern chamam de Pátria-Terra o ambiente do início do século XV e explica que as religiões universalistas “abriam-se desde os primórdios a todos homens da terra” (pag. 21) mas “no começo da era planetária “os temas do ‘bom selvagem’ e do ‘homem natural’ foram antídotos, é verdade que muitos débeis” contra o desprezo pelos bárbaros civilizados, mas será em torno disto que se desenvolvem as ‘nações-estado’ da modernidade.
A evolução destas ideias vai fazer a antropologia europeia principalmente, vê nos arcaicos não ‘bons selvagens’, mas ‘primitivos infantis’ afirmam os autores (pag. 21).
Mas serão justamente os ‘teóricos’ dos ‘primitivos infantis’ que desencadearão a guerra de 1914-1918, quando um tiro em Sarajevo mata o herdeiro do trono dos Habsburgos (pag. 22), assim “um atentado local num canto perdido dos Balcãs determinou uma reação explosiva em cadeia que” acabou abrangendo quase toda Europa.
Os autores mostram que as análise não podem ser simplistas: “se a explicação da guerra é marxista (rivalidades entre os imperialismos) ou shakespeariana (desencadeamento do tumulto e da fúria, delírio da vontade de poder), porque a guerra é o produto histórico monstruoso da copulação força de Marx e de Shakespeare” (pag. 23) sentenciam.
E avançam na análise do período que se segue: “A economia mundial é agitada por sobressaltos no começo dos anos 1920, até que, em plena atmosfera de prosperidade reencontrada, a grande crise de 1929 faz emergir do desastre a solidariedade econômica planetária: um crash em Wall Street leva a depressão econômica a todos continentes” (pag. 24).
“Os anos 30 são dramáticos” … “A Alemanha nazi invade a Noruega, a Holanda, a Bélgica, a França em 1940” … chega ao leste europeu e a África … “num total de 100 milhões de homens e mulheres empenhados no conflito mundial”.
Finalizada a guerra, fundada a ONU (Organização das Nações Unidas), reinicia a guerra fria, “o planeta é polarizado em dois blocos, travando-se em toda parte uma guerra ideológica sem remissão” (pag. 26).
Que lições tiramos do bombardeio de Guernica (acima, 16 de abril de 1937) e da bomba atômica em Hiroshima (abaixo, 6 de agosto de 1945) ?
Pátria-Mundo e outros temas
O livro de Edgar Morin e Anne Brigitte Kern, publicado em 2000, em Portugal pelo Instituto Piaget, na coleção Epistemologia e Sociedade, em segunda edição de 2001 (a edição que tenho), e no Brasil pela editora Sulinas em edição do ano 2000 enfoca o surgimento da era planetária.
Mostra como a chamada “civilização ocidental” e sua cultura da modernidade invadiu o planeta e desapareceu com culturas milenares, como “o império inca e o Império Asteca reinam nas Américas e tanto Tenochtitlàn como Cuzco ultrapassam em população, monumento e esplendores Madrid, Lisboa, Paris, Londres, capitais das jovens e pequenas nações do Ocidente europeu” (pag. 15) no início do século XV.
Morin e Kern descrevem o início do “desenvolvimento acelerado, ás trocas intensificam-se, os Estados nacionais criam estradas e canais” (pag. 17 para indicar como aos poucos “as cidades, o Estado-nação, depois a indústria e a técnica sofrem um impulso como nenhuma outra civilização” (pag. 18).
Até bem pouco tempo, no início do século XX, “embora já empenhadas numa corrida desenfreada de armamentos, a França, a Alemanha, a Inglaterra e a Rússia não se atacam ainda diretamente umas às outras nos seus territórios metropolitanos” (pag. 18), mas começam a dividir o mundo a “traços de giz” (pag. 19).
A Inglaterra domina um quinta do Globo no início do século XX, “as Índias, Ceilão, Singapura, Hong Kong, em numerosas ilhas das Índias Ocidentais e da Polinésia, na Nigéria, nas Rodésias, no Quênia, no Uganda, no Egito, no Sudão, em Malta e Gibraltar”.
Junto com esta corrida “ligada a expansão mundial do capitalismo e da técnica, à mundialização do mercado é uma mundialidade de concorrências e de conflitos” (pag. 20), no qual ocorrem múltiplos processos “demográficos, econômicos, técnicos, ideológicos, etc.” (pagina 20) e da “mundialização das ideias”.
Endividamento e ano de Copa
Comentamos no ano passado (post) que era hora de frear a divida pública, em português mais claro, parar com a gastança como se fossemos um país milionário e sem pobres.
Com base em dados imprecisos, o governo não vai divulgar a sua gastança apesar de fazer a maior propaganda em torno da “transparência pública”, a dívida segundo dados imprecisos do IPEA e da UnB é algo em torno de R$ 2,8 trilhões, segundo o Globo já ultrapassamos R$ 2 trilhões em novembro.
Quanto será a deste ano, a expectativa é que aumentou, agora imaginem temos um PIB em torno de R$ 3,5 trilhões, e o PIB deste ano deve ser mais um “pibinho”, quer dizer estamos quase comprometendo toda a renda nacional.
Reza a cartilha da boa economia, que se você estiver comprometendo metade de sua renda com dívidas, está comprometendo o orçamento doméstico.
Sendo mais claro, você ganha R$ 3,5 e tem suas dívidas em torno de R$ 3 mil qual é sua sua chance de sair dela ? Se você economizasse e se não economiza ?
Pois é estamos em ano de Copa, com obras atrasadas e gastando (vejam a última do Renan) sem muita consciência, imaginem o filme que passa na cabeça do povo para 2014 ?
Acordo histórico em Bali
A reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Bali, na Indonésia, em quatro dias nesta primeira semana de dezembro, conseguiu desbloquear a Rodada de Doha, uma série de reuniões iniciadas em 2001, que visavam construir regras para tornar mais ágil o comércio entre os países e que estavam paralisadas desde 2008.
O brasileiro Roberto Azevêdo , assumiu as rédeas da organização em setembro, oteve também uma vitória pessoal, a ambição de melhorar os resultados de seu antecessor, Pascal Lamy, que era fazer a Rodada de Doha avançar.
O brasileiro. diretor-geral da organização, declarou: “Pela primeira vez em sua história, a OMC cumpriu com suas promessas” e completou “Voltamos a introduzir a palavra ‘mundial’ na Organização Mundial do Comércio. Estou muito orgulhoso”.
Os impasses de Doha eram: a negociação entre seus 159 países de um pacote de novas regras de liberalização e facilitação do comércio- recusada dos EUA e Europa de discutir os subsídios a seus setores agrícolas, que desfavorecia os países em desenvolvimento basicamente agrícolas.
Mas também Europeus e americanos, criticam a resistência de outros países em ceder em questões como liberalização dos setores de serviços, proteções à propriedade intelectual e a concessão de preferência a produtos nacionais nas compras governamentais.
Penso que os acordos ainda são tímidos e tem um longo a caminho a percorrer, mas o passo conjunto dado em Bali é esperançoso para toda humanidade.
Tablets continuam vencendo PCs
Estudo feito pela consultora IDC divulgado nesta quarta-feira (4/12) indicou que as vendas PCs (computadores pessoais) continuam a despencar no Brasil, comparando os terceiros trimestres de 2012 e 2013 foi de 15%.
No mesmo período houve um crescimento na comercialização de tablets chegando a 134%, sendo que foram excluídos os tablets na categoria PCs, considerando apenas desktops e notebooks.
No terceiro trimestre deste ano, foram comercializados no Brasil cerca de 3,4 milhões de computadores pessoais (excluindo tablets), destes 61% eram computadores portáteis (notebooks) e 39%, computadores de mesa (desktops).
Entre julho e setembro deste ano, foram vendidos no Brasil 1,8 milhão de tablets e apesar do crescimento em comparação com 2012, houve queda de 2% em relação ao trimestre anterior..
A previsão para o quarto trimestre é de um volume ainda maior volume no ano, com 2,6 milhões de unidades comercializadas, fazendo com isto um fechamento no com 7,9 milhões de tablets, indicando o crescimento de 142% em relação a 2012.
A perspectiva para o ano 2013 é de superar o volume de 10 milhões de tablets.
Web 3.0: cunhar palavras e dar-lhes sentido
Não é da Web só que estou falando, mas também e principalmente de pessoas, dar sentido, em especial humano, às coisas a nossa volta requer reflexão e agimos mais e mais apenas por impulso.
Por isto falei no blog anterior da palavra Selfie, mas já falei do Instagram e das pessoas comuns e paisagens cotidianas que passam por nosso dia a dia “fotográfico”, assim também é o caso da Web 3.0, moda ou tendência ?
Foi John Markoff que cunhou a palavra Web 3.0, no New York Times, a Web 2.0 já acontecia, ela criou centenas ou milhares de aplicativos (se considerarmos os Apps dos celulares) e incluiu o usuário como produtor comum de informação, agora fotos, postagens, comentários e “hashtags” estão aí chamando nossa atenção, mas estas pessoas SEMPRE deveriam ser vistas e ouvidas, não eram.
O problema do nosso dia a dia, e também da Web que é um reflexo e não uma idealização do dia-a-dia como pensam alguns, é que a muita coisa que “carece” de sentido, e descobrimos ao olhar milhares de fotos, de palavras e de vídeos que precisamos significa-las ou ressignificá-las.
John Markoff sugeriu questões simples, tais como: “Estou à procura de um local quente para passar as férias e disponho de US$ 3 mil. Ah, e tenho um filho de 11 anos”, mas na verdade pensava em negócios, como o próprio titulo e artigo sugerem, dando o exemplo empresa de Spivak, a Radar Networks, que trabalha na exploração do conteúdo de sites de computação social, que permitem aos usuários colaborarem na reunião e adição de seus pensamentos a uma grande quantidade de conteúdos, de viagem a filmes.
Mas a Web 3.0 parece agora estar encontrando seu caminho, projetos como DBpedia e VIAF (Virtual International Authorit File) estão indicando um caminho mais técnico que social, embora possa contribuir a isto, ainda há uma caminho nesta “construção”.
Mapa interativo mostra desmatamento
O mapa desenvolvido por pesquisadores na Universidade de Maryland, EUA, mostra a evolução do desmatamento global com dados desde 2000, o Global Forest Change.
O aplicativo está disponível on-line gratuitamente, e os dados no mapa do Brasil mostram claramente que o desmatamento avança no Centro-Oeste, Amazônia, Pará e Nordeste.
Os dados foram coletados a partir de 350 mil imagens coletadas pelo satélite Landsat 7, e os dados dos maiores desmatamentos incluem a Malásia, Indonésia, Paraguai e Angola.
Segundo Matthew Hansen, professor de Maryland que lidera o projeto: “Este é o primeiro mapa de mudanças florestais que é consistente em escala global e relevante também sob o aspecto local”, e esperamos que seja uma tomada de consciência global.
O mundo pode ver-se como um todo em diversos aspectos, é uma sociedade-mundo.
Proliferação Smartphones e WiFi
A ascensão da adoção de smartphones tem sido rápida no mercado de dispositivos móveis, em cinco anos chegou a 1 milhão, agora em 2 anos já atingiu 2 milhões, diz um relatório da Ericson.
O crescimento continuará como modelos de baixo custo tornam-se mais disponível nos mercados emergentes, é neste mercado que a Motorola/Google está de olho com o Moto G, já lançado no Brasil e de outro olhar também no preço e no usuário que não migrou.
Os dados em redes do mundo também vêm se expandir-se para manter- a demanda por dados, que já é grande mais está em expansão, o problema é a conexão
Mas análise atuais, como a da EcommerceTimes, afirma 90% da população do mundo poderá estar coberta por redes WCDMA / HSPA em 2019, ou seja Redes WiFI, e ainda mais, 65 por cento serão cobertos por redes 4G/LTE, será que o Brasil também?
Conexões LTE da América do Norte vão superar todas as outras partes do mundo, segundo previsão do site, atingirá 85% de cobertura em 2019.
Portanto não se trata de “tendência” ou consumismo, mas uma necessidade de comunicação, as operadoras nacionais estão preocupadas só com as vendas e lucros.
Os profissionais e a pessoa comum
Jeff Howe ao escrever “O poder da multidão” mostrou o desenvolvimento da Apple e da Microsoft mostrando no capítulo 2, que “no início era tudo muito simples”, mas esqueceu de Dennis Ritchie, sem o qual não haveria nem Apple nem Microsoft, falecido logo depois de Stevie Jobs, ele havia criado uma linguagem que possibilitou o desenvolvimento de hobbistas, e mais tarde do Linux, fazendo algo que poderia ser “compartilhado” com as pessoas comuns, e assim alguém poderia desenvolver um microcomputador e um software em sua casa.
Assim, a crítica em “O culto do amador” de Andrew Keen, que escreveu também Vertigem Digital, sim é possível, mas não generalize, esbravejando com os amadores esclarece que qualquer um pode publicar um blog, postar um vídeo no youtube ou alterar um verbete no Wikipedia, é sim e daí … a anos leio jornais com opiniões dirigidas ao poder e TVs com cultura enlatada, alguem protestou ?
Mas ouvir os outros, e tentar estabelecer um “consenso” não são coisas simples, bastando a vontade “pessoal de uma pessoa”, estas pessoas lendo mais e ouvindo mais se tornam mais “profissionais”, que muitos profissionais com “opinião própria”, gênios cuja única razão de serem populares é dizerem o que os outros querem ouvir, isto sim, é fácil e pouco profissional.
Ouvir muitas pessoas, tentar entender as tendências da “multidão” e caminhar para “consensos” verdadeiros significa ouvir muita gente, amar e se doar a muita gente, e não apenas aos poderosos, aos donos de grupos editorais, ouvir apenas o elitismo e a aquilo que é “cult”, significa ter interesse no destino e na dignidade da pessoa comum.
As redes podem fazer isto, na medida em que forem mais horizontais, mas não significa que sempre fazem isto, afinal temos uma cultura de desprezo ao “homem comum”, mas tenho visto fotos artísticas no Instagram (como a foto acima), vídeos interessantes no Youtube e não tenho vergonha de consultar o Wikipédia, porém em tudo procuro formular minha própria ideia e conceito, mas há autores que afirmam que há tantos verbetes corretos lá quanto na Enciclopédia Britânica.
O cérebro de Nicholas Carr e a Web
A mais de um século estamos questionando a modernidade, o iluminismo e nossos valores e o nosso modelo de sociedade, de repente de 23 anos para cá encontramos um bode expiatório: a internet.
Aproveito para dizer que a Web com toda pompa e mistificação que muitos atribuem a ela, nada mais é que um aplicativo na última camada de internet, e esta sim significa a ligação entre milhões de máquinas e pessoas, e depende do aplicativo que inserimos nela.
Assim devo levar a sério Nicolas Carr, um crítico duro da internet, ele participa do projecto de cloud computing do Fórum Económico Mundial, escreve regularmente sobre tecnologia e cultura no The Guardian, The New York Times, The Wall Street Journal, The Financial Times, Die Zeit, The Times e outros periódicos, é membro da Encyclopedia Britannica, mas não tem nenhum verbete no Wikipedia, embora está lá.
Em “Os superficiais”, esclareço que o tema é anterior a internet coisa que ele ignora, embora faça uma viagem mental em seu próprio cérebro, do nascimento do alfabeto a prensa de Gutenberg, da antecipação do computador por Alan Turning até o evento da cartografia e o aparecimento do relógio, não diz onde nasceu a superficialidade.
Novo deslize ao ver não uma convergência de “meios” mas uma fusão, ele reduz a internet a “uma força aglutinadora de todas as tecnologias percursoras”: máquina de escrever e tipografia; mapa e relógio; calculadora e telefone; correio e biblioteca; rádio e televisão.
Em novo reducionismo aplica ao taylorismo, método de trabalho em linhas de montagem ao que chama de “taylorismo” mental: “No passado o homem estava primeiro. No futuro o sistema deve estar primeiro”.
Aquilo que Taylor imaginou para o trabalho manual, segundo Carr o Google aplica ao trabalho mental, criando um “negócio da distracção” em que a inteligência passa a ser encarada como a excelência e rapidez no tratamento de dados, ao invés da observação e da contemplação.
Ora a “sociedade do espetáculo”, a “sociedade da réplica”, o texto de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, foi publicado em 1955, a fragmentação do conhecimento e a superficialidade são temas desde a muito tempo, então é preciso encontrar o momento e os motivos reais desta “superficialidade” contemporânea.