RSS
 

Arquivo para a ‘Linguagens’ Categoria

Felicidade e valores

04 nov

O humanismo na modernidade baseou-se na separação entre o sujeito e os objetos, assim toda subjetividade humana (nela se incluem os valores como humildade, compaixão e tolerância, entre outros) fica relegada a um plano sentimental e a objetividade refere-se apenas ao que é material.

Postamos sobre a humildade, o humus de onde brota a vida, a tolerância ao erro de onde brota o perdão e a mudança de rota e de onde brota a vivência de cada momento coo se fosse o último.

A felicidade não depende só de cosias materiais e não só os psicólogos que dizem isto, também os médicos e alguns sociólogos defendem a alegria de viver, neles há sabedoria real da vida, coisas aparentemente contraditórias como felicidade dos humildes, dos que sofrem, dos que tem fome e sede de justiça e daqueles que são perseguidos por suas crenças e valores.

No texto bíblico, explicando que religião é uma prática de valores que “religa” céu e terra, assim não é da terra para o céu (uma sublimação de valores) nem do céu para a terra (como querem os espiritualistas), mas dos que conhecem e vivem os ensinamentos religiosos, o maior deles, o Amor.

Assim diz o trecho bíblico das chamadas “bem-aventuranças” (Mt 5,4-6):  felizes os “aflitos, porque serão consolados, … os mansos, porque possuirão a terra.d os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” entre outros valores como: felizes os que são perseguidos os que desejam a paz porque serão chamados filhos de Deus.

Não há contradição entre céu e terra, ela existe entre os que estão apegados só ao céu (tudo fica no plano subjetivo) ou só a terra (tudo fica no plano da materialidade), e o complemento dos dois depende de amor, mas também de esperança e fé.

O Anuncio da ultima felicidade é de fato uma bem aventurança, porque poucos realmente tem fé, diz o trecho (Mt 5,11-12) “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim, alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

 

O erro e o caminho novo

03 nov

Nem tudo que parece perdido o está de fato, é sempre possível a retomada do caminho, um novo alento, a aprendizagem com os erros do passado, e todos nós erramos, porém poucos estão disposto a retomar um caminho e  seguir em frente.

Aqueles que não estão dispostos também não devem ser considerados perdidos, com paciência e sem preconceitos é possível mostrar que existe um caminho da serenidade, da solidariedade e da vida feliz, é preciso para isto empatia e paciência.

Por outro lado convicção de que se está no caminho certo pode levar a dogmatismos equivocados (o dogma da fé por exemplo, deve ser dogma dos misericordiosos e não dos acusadores), e também os que se julgam certos podem estar indo por carinhosos tortuosos, é preciso diálogo.

Para quem tem fé ter o caminho certo requer a presença do Espírito Santo e depende de não pecar.

Se estivermos certos e convictos que nossa retidão e clareza pode auxiliar a encontrar o que está perdido então devemos ter uma atitude empática, paciente e resiliente, em tempos sombrios a radicalização é má conselheira e pode levar a maiores perdas do que aquelas que se julga perdida.

Há uma parábola bíblica no Evangelho de Lucas (Lc 15:4) que fala da ovelha perdida, que há mais alegria de encontra-la do que o rebanho que caminha unido, assim lançar a busca aos distantes, aos diferentes é antes de tudo sabedoria e caminho.

A parábola bíblica diz que há mais alegria no céu por uma ovelha perdida que foi encontrada, que outras cem que já est]ao no rebanho.

Também em outro trecho diz-se que ao encontra-la vai cuidar das feridas, tratar com alimento e dar condições de recuperação, assim a paciência e a empatia devem continuar presentes.

Um ambiente hostil e violento não favorece ao encontro, mas ao desencontro, ao ódio e isto só leva ao erro e a mais caminhos perdidos.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pós-Deus ou a tentativa de Teocídio

11 out

Mais do que a leitura de Nietzsche sobre a “morte de Deus”, entender o radicalismo religioso, além do evangélica, há o semita, o islâmico e correntes neopentecostais, a leitura de Pós-Deus, é na verdade uma releitura da questão do mal ou de modo mais correto “Deus está morto, e fomos nós que o matamos”, aquilo que chamo de tentativa de Teocídio, impossível, quer ele exista ou não.

Se Deus existe não poderá ser morto apenas apagado da mente humana, na lógica do hegelianismo de Ludwig Feuerbach ele existe apenas na mente humana e neste caso não existiria de fato e caso exista não poderemos mata-lo já que é imortal e precede a todos e a tudo.

Peter Sloterdijk em parte da proposição e claro da hipótese que ele só exista na mente humana, uma fantasia delirante dos homens, dizem muitos ateus convictos, já que os gnósticos não consideram a hipótese, o mais importante filósofo alemão vivo (considero o papa emérito também importante), vai analisar além de Nietzsche e de Cioran, o intermezzo de Lutero.

Lutero é particularmente importante porque é a raiz não declarada do pensamento de Nietszche, filho de pais e parentes luteranos, alguns pastores, a reforma protestante é fundamental para se intender o fenômeno religioso ou a chamada “revanche do sagrado”, ela entrou na cena política.

O livro, com este nome atrairá poucos cristãos, tem um interessante percurso de diálogo que passa por Hans Jonas (The Gnostic Religion), Harold Bloom (Presságios do milênio), Franco Volpi (O niilismo), Sergio Givone (Storia della nulla), Ioan Culianu (The Tree of Gnosis) e Sylvie Jaudeau (Cioran ou le deernier homme), todos autores e exegetas de Cioran, que teve uma experiência mística “desfigurada” de natureza ateia, desencantadora e niilista.

Quem foi Emil  Cioran (1911-1995), autor que escreveu a partir de Nag Hammadi, uma série de manuscritos encontrados após a Segunda Guerra que matou mais de 40 milhões de vidas, na África a 50 km de Luxor, num grande recipiente de barro, numerosos códices de papiro escritos em língua copta e em grande estado de conservação.

A grande biblioteca “gnóstica” rapidamente se espalhou entre os intelectuais, data de cerca de mil e setecentos anos atrás, portanto durante a emergência ocidental do cristianismo, o autor projeta uma mensagem mística para o nosso estado atual.

Permanece até hoje está aura de “descoberta” de Nag Hammadi, na verdade dava asas ao que chamo de Teocídio, tirá-lo não só das mentes e sim construir uma “mística” niilista sem Deus, porém ela não escapa do que é, um niilismo exótico.

Sloterdijk fala da ascese desespiralizada, Cioran também o é, a busca de uma ascese sem toda esta falsa radicalidade difusa, não resiste a mínima ideia de princípios praticados, confunde a todos, e a política também está contaminada por ela, o único caminho possível para todos parece ser o ódio.

O ódio é o Teocídio mais veemente e eficiente, onde ele entrou, qualquer ascese possível saiu.

SLOTERDIJK, Peter. Pós-Deus. Trad. de Markus A. Hediger. Petrópolis: Vozes, 2019.

 

Arrependimento, graça e gratidão

07 out

Quando conseguimos nos encontrar com o Outro, perdoá-lo e também arrepender naquilo que não foi bem neste encontro, encontramos espaço na vida para a graça e a gratidão, não por acaso um é derivativo do outro.

A gratidão não exclui mas supera sentimentos ruins de nossas vidas, também o excesso de positividade pode levar as exigências e aos perfeccionismos que não levam a um encontro, mas a exclusão do Outro, tolerar pequenas faltas, que muitas vezes são só diferenças, é necessário para alcançar a graça, e a graça quando chega até nós deve encontrar a gratidão.]

Muitos lembram de pedir graças, quando não pedem a Deus, pedem a alguma forma de falsa mística ou falsos deuses, encontrar energias cósmicas, que de fato existem, mas só terão uma ex-sistência se estiver diante do Ser, aquele que é e aquele que sempre foi, afinal a teoria mais atual da física é que antes do Big Bang já havia algo, então algo além desta ex-sisência, um puro Ser.

Assim uma verdadeira filosofia da graça deve levar a gratidão, não é apenas o Universo e a sorte que conspiram, ou mesmo algum “segredo” que seria a pura positividade, ela pode ser ilusória.

Assim a gratidão afasta os sentimentos de maldade e intolerância de nossas vidas, inclui as pessoas que de fato são boas e aumentam nossa potencialidade para as boas virtudes.

Na passagem bíblica em que 10 leprosos são curados, somente um volta para agradecer a Jesus,

Ao vê-lo Jesus pergunta onde estão os outros (Lc 17,17-19): “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” 19E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

A ingratidão não apenas afasta a graça, mas explica sua ausência e a dificuldade de conviver em ambientes de harmonia, sinceridade e paz.

 

Arrepender, recomeçar e graça

06 out

Arrependimento não é o mesmo que remorso, este fica vinculado ao passado e impede um recomeço positivo, não há consciência da culpa e não se alcança novo estado de graça.

A graça é viver a vida em plenitude, com os limites que a vida impõe a todos, porém arrependidos, pode comprimir o passado estritamente ao que foi: um erro, e viver bem o presente e o futuro através da superação de uma angústia que é inalienável a responsabilidade da falta ou erro cometido.

Arrepender-se é viver intensamente e verdadeiramente o presente, ainda que algum sofrimento ou marca fique do passado, quem deu um passo após isto conseguiu recomeçar.

Ludwig Feuerbach, mais conhecido pelas Teses de Marx contra o hegelianismo dele, chamado de velho hegelianismo, na sua maturidade escreveu sobre o remorso, sua leitura é importante pelo confronto que faz tanto com Schopenhauer como com Kant.

Feuerbach reconhece a originalidade do sujeito e o propõe num âmbito mais amplo de liberdade, exame o remorso e o arrependimento como condições de imputabilidade de um ato,

Em oposição a Schopenhauer, Feuerbach vai afirmar que o caráter de um homem não é inato, nem imodificável, por isso é equivocada a pena de morte, e também aqui cabe a discussão sobre o direito do Estado Moderno sobre a vida humana, tema sempre polêmico e importante.

Contra Schopenhauer, Feuerbach afirma que o caráter do homem não é inato, nem imodificável, por isso é equivocada a pena de morte. 

O fundamento da liberdade é o eu que age no jogo das paixões e é essencialmente a relação com o Outro, o que é amplamente explorado na literatura moderna por Paul Ricoeur, Lèvinas e outros autores, há uma retomada fenomenológica desta questão.

As sugestões no campo da moral e jurídico é essencialmente em relação esta relação com os outros, e as sugestões nestes campos são particularmente interessantes, mas permanecem as questões éticas, como aquela do fundamento absoluto da obrigação moral, que está posta em Kant na explicação do que é consciência moral.

Esta discussão se amplia em alguns autores para o campo da sensibilidade (SERRÃO, 2007) e da mística (TOMASONI, 2010), onde se pode incluir de modo mais amplo a questão da graça, acrescentaria o reconhecimento da graça onde há arrependimento e recomeço.

Referencia:

SERRÃO, Adriana Veríssimo. Pensar  a sensibilidade.  Baumgarten  –  Kant  –  Feuerbach,  Lisboa,  Centro  de  Filosofia  da  Universidade  de  Lisboa 2007.

TOMASONI, Francesco. Tra  misticismo  e  scienza:  l’uomo  e  la  sua  ‘sensibilità’  nell’Eklektik,  in: L’umanesimo scientifico dal Rinascimento all’Illuminismo, a cura di Lorenzo Bianchi e Gianni Paganini, Napoli,   Liguori   2010,  

 

Sabedoria do alto, mal estar civilizatório

30 set

A Sociedade do Cansaço é também uma sociedade que levou adultos, jovens e adolescentes aos psiquiatras ou a métodos alternativos, àqueles que tem pouco recursos levou a grupos fechados e de consciência social as vezes duvidosa.

Não por acaso Freud escreveu no início do século passado sobre este “Mal estar da civilização”  (Freud, 1930) o autor não vai discutir a questão psíquica em si, mas a distante entre os impulsos pulsionais e a civilização, ou seja a cultura contemporânea que leva o homem ao seu oposto tanto quanto a natureza quanto ao seu bem estar.

A intolerância aos erros, equivoco até mesmo científico, a exigência de eficácia em todos os campos, a falta de empatia e amor na vida cotidiana e em especial, de valores que são naturais e levam a uma verdadeira ascese humana, leva aos conflitos emocionais e sociais a limites perigosos.

Ao detectar este mal, o próprio Freud fundador da psiquiatria não levou a humanidade ao divã, e sinto apontou que há males culturais e estes sim devem ser sanados primeiro, não é o que foi feito, neste sentido Sloterdijk tem razão não é possível a “domesticação” humana.

Ainda que as próprias religiões vivam sobre este mal civilizatório, a verdadeira ascese que é subir a montanha da sabedoria tendo sobre os pés valores que sustentam esta ascese é necessário para alcançar um verdadeiro estágio civilizatório, é preciso “amar na ausência” é preciso pretender os verdadeiros valores que levam a plenitude e ao verdadeiro e único conforto, empatia e amor.

Quando retiramos isto da sociedade, ela começa a caminhar para o isolamento, o ódio e os conflitos e o “mal estar” são apenas as consequências da ausência deste estado “natural”, porém uma planta só evolui se cuidada em suas condições naturais: adubo, água e sol adequados.

Quando os discípulos vão pedir a Jesus que eles queriam acreditar mais e fazer uma verdadeira ascese ele lembra do grão de mostarda, minúscula semente que se transforma numa frondosa arvore, (Lc, 1,6): “se vós tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, , poderíeis dizer a esta amoreira arranca-te daqui e planta-te no mar: e ela vos obedeceria”, como o amor na ausência, a fé é crer sem ver e caminhar na direção de uma verdadeira ascese.

FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930 [1929]). In: ______. O futuro de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Direção geral da tradução: Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1974. p. 73-171. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 21) 

 

A sabedoria e o amor

29 set

Talvez o maior dos paradigmas e assim o mais suscetível a erros humanos é o Amor, pode-se falar da classificação grega: eros, philia e ágape, porém quero liga-lo aqui a sabedoria no sentido de uma felicidade plena, não aquela que produz frutos utilitários, mas espirituais.

Há um livro “A sombra do amor, sobre o conceito de amor em Heidegger” e outro que foi tese de Hannah Arendt, não parecem mas estão ligados, pois foi no período de tese que Heidegger e Arendt tiveram um romance e assim ela passou a ser orientada por Karl Jaspers.

O texto de Heidegger que é uma compilação de cartas só existe em francês, então retornemos ao conceito alemão do “Dasein” agora para ressignificá-lo e dar uma conotação ligada ao Amor:

“No significado costumeiro, porém, quer dizer, por exemplo: a cadeira “está aí”; o tio “está aí”, ele chegou e está presente; daí: presença” (Heidegger, 1994, p. 300).

Pode parecer uma simples manobra literária, mas não é, também outros autores (Fernandes, 2011) faz esta alusão inclusive a compara com a “parousia” e “adventus”, que adquire uma conotação mais religiosa, aqui não é necessária.

Assim é uma presença de uma ausência, porém o amor passa também pela linguagem e pelo pensar, assim “o pensar é, pois, fundar, no humano o “médium” para dar-se da verdade do ser. É, por conseguinte, cofundar o humano como presença: ser o aí-do-ser. Neste sentido a ontologia fundamental é uma arrancada para a passagem, para embalar-se para o salto, um primeiro movimento em favor da fundação da verdade do ser no humano como presença. Isso comporta uma transformação do humano de senhor do ente em pastor do Ser”.

E esta é a principal contestação de Sloterdijk em Heidegger o fracasso desta domesticação humana, ou aquilo que em Heidegger é “cuidado” e que a modernidade não conseguiu resolver.

A principal ideia de Heidegger sobre o Amor é a sua presença em uma Ausência, a ela pode-se acrescentar aquilo que desenvolvemos em tópicos anteriores: o trabalho com a incerteza e os erros, ou seja, saber viver e trabalhar diante das dificuldades naturais da vida.

Referências:

HEIDEGGER, M. Beiträge zur Philosophie (Vom Ereignis). Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann. 1994.  

FERNANDES, M. A. O cuidado como amor em Heidegger. Rev. Abordagem Gestalt. Vol. 1, n. 2, Brasil, Goiânia, dez. 2011.

 

Os médicos são para os doentes

09 set

A sociedade dos primórdios do cristianismo, não apenas o farisaísmo religioso como também toda a cultura era que a sociedade era para os sãos, o próprio ditado grego “mente sã em corpo são” é uma forma de expressar isto, os doentes deviam viver a margem da sociedade, muitas vezes fora dos muros da cidade.

As doenças eram pouco conhecidas e a medicina da época muito cara para quem não tivesse poder aquisitivo, até mesmo o fato que um paralítico foi colocado na presença de Jesus descendo pelo teto,  tem uma interpretação equivocada, não deixariam ele passar.

É fato que já temos cadeiras e lugares nas filas para anciãos, mulheres gestantes e doentes, mas ainda há uma mentalidade de comunidade dos puros, dos santos ou dos perfeitos, afinal a eficiência não pode vir de quem não está fisicamente preparado para ela e vivemos na sociedade da eficiência.

Assim foi o trato com a pandemia, muitos diziam que o doente se isole e a sociedade vai continuar seu ritmo, mas o que vimos foi a sociedade como um todo perder seu ritmo, e o resultado desta pressão aos poucos se transformou em muitas doenças psíquicas, até mesmo para quem as fez.

Tratar e trabalhar com a imperfeição, com a doença e com a pureza não é se não promover a integração social das pessoas, a ideia de ser um “modelo” para os outros é uma ideia kantiana de ética, que pode levar a uma ética e uma visão parcial da sociabilidade e do que é imperfeito.

Em termos da cultura religiosa leva a um isolamento, a formação de uma bolha na qual os valores são reafirmados, porém muitos são excluídos e não são convidados a participar e conviver com as diferenças, este é um dos principais paradigmas religiosos que Jesus quebrou em seu tempo.

Ao falar com as mulheres, deixar espaço para as crianças, curar leprosos e alejados quebrou o conceito farisaico do que era considerado “impuro”, ia de encontro aos pecadores e aos doentes.

É verdade não é um cego que pode guiar outro cego, porém os médicos são para os doentes, diz a passagem bíblica (Lc 15,1-3): “Naquele tempo, 1os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. , então Jesus conta a parábola da ovelha perdida e depois do filho pródigo.

A mentalidade farisaica não apenas não cura doentes, mas se torna ela própria uma doença social.

 

O Anel de Einstein e as esferas

08 set

Foi o filósofo Sloterdijk o primeiro a criar a relação do homem com suas esferas, do ventre materno ao planeta, ele tem grande parte de razão, também ao criticar a razão cínica, aquela que justifica a realidade esférica está em grande parte correto, é uma metáfora, mas muito boa.

Pensemos no feto, que fica dentro da esfera do útero até sair e olhar a sua ex-esfera a mãe, sentirá por um período longo ainda a dependência dela, acontece que esta realidade sociológica, antropológica, semiótica tem propriedades topológicas próprias que estão encobertas na razão cínica.

Uma delas é entender que há uma relação imunológica que tem como finalidade primordial proteger, nutrir, capacitar e imunizar o homo de um exterior sapiens desconhecido, como o bebê que ao nascer depende da mãe, ele precisa de sua proteção imunológica.

A busca de outros espaços, habitar a lua (a nova missão a ela encontra dificuldades) e a marte (os astronautas pensam que seria horroroso viver lá) não resolve a relação esférica planetária, em crise, é preciso abrir-se ao outro e sair da cabana, alguns psicólogos especulam sobre a síndrome da cabana, que a pandemia acelerou, não querer sair de um ambiente protegido, esférico.

O super telescópio James Webb fotografo o anel de Einstein em um lugar bem distante e fisicamente inalcançável pelo homem (imagem), ao menos nas condições tecnológicas atuais, e a previsão do físico foi “fotografada” (na verdade os instrumentos são de frequências e não de “fotos”) com uma precisão formidável, dá para estender a metáfora de Sloterdijk.

A teoria Gerald a Gravidade de 1916 revolucionava a física criando uma física que afirmava que a gravidade é uma curvatura do contínuo espaço-tempo causada pela massa dos objetos, quase dois objetos massivos estivessem perfeitamente alinhados com a Terra este espaço-tempo desviaria os fótons formando anéis em todo do alinhamento destes dois objetos.

Um físico inglês chamado Sir Oliver Lodge sugeriu que este fenômeno de um campo gravitacional massivo não só desviaria a luz de um objeto atrás dele, como também a ampliaria formando uma lente gravitacional e a foto recente do James Webb confirma este fenômeno.

Qual é a metáfora, esferas massivas imunológicas, culturas, religiões ou ideologias cujo objetivo é proteger-se quando próximas (ou em rota de colisão que torna a metáfora mais complicada) não só formam um campo gravitacional forte que atrai os corpos a volta, não só distorcem o espaço-tempo, mas são também lentes que se observadas com cuidado permitem ver o que está atrás.

Assim é tempo de enxergar além das diferenças, das imperfeições dos modelos esferológicos e possibilitam uma atração gravitacional que ajude a entender melhor o processo civilizatório.  

 

A idolatria da perfeição

07 set

Os mitos e ídolos foram criados justamente para desviar a compreensão da natureza humana, eles mudam de acordo com os contextos e com a evolução das linguagens, porém sempre estiveram presentes na história da humanidade e assim eles próprios devem ter considerações humanas.

Nietzsche nos alertou sobre os riscos de vivermos alimentados por ídolos (ou ideias, que para ele eram sinônimos), mostrou que ao dominar nossa mente e condicionar nosso pensar, sentir e agir no mundo nos tornamos rigorosos com a nossa vida e a dos outros, dizia ser uma força monstruosa, como mito pode-se dizer que sua expressão máxima é Narciso (imagem) e este conduziu a mesmice, a falta de originalidade e de diversidade, a exigência do igual.

Em nome de algum idealismo, e na modernidade ele próprio se tornou uma filosofia a partir de Kant, as pessoas são capazes de ferir e atingir o outro que está fora de seu modelo, e até não deixar construir na vida aquilo que se deixou conquistar por ela.

Também o modelo da eficiência, da produtividade e do rigor social é um modelo de perfeição.

Isso acontece porque o modelo idealista formula que há um modelo ideal a seguir e a realidade que é sempre imperfeita e assim preferem seguir a perfeição das ideias e chegam ao absurdo de submeter os outros a seu modelo de perfeição, acreditam que há um topo a ser atingido.

Então não é possível formular um modelo humano a ser seguido, é claro que sim se entendemos a imperfeição humana como parte de um processo de hominização e de civilização no qual todos os outros humanos devem ter igual possibilidade de viver e de compartilhar o ambiente comum.

Edgar Morin chamou isto de “cidadania planetária”, muitos modelos políticos e religiosos falam de solidariedade, de rejeição ao ódio, mas é preciso observar se não constroem algo que exclui.

Hoje é dia da nação brasileira, tão diversa e rica em raças e etnias, qualquer modelo que não suporte o outro é o tipo de idolatria da perfeição que deve-se rejeitar, não conduz a solidariedade.

A Ética spinoziana, um forte contraponto a ética idealista, formulava que a realidade é sempre igual a perfeição, pois a perfeição só tem sentido quando é realidade não coisa imaginada ou pensada, assim perfeição é realidade na mesma medida que a realidade é perfeita.

Sem o amor e o respeito ao Outro, à diversidade e a tolerância, todo modelo ideal é imperfeito.