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Arquivo para a ‘Linguagens’ Categoria

Perspectiva de diálogo e América Latina

20 nov

Algumas mudanças no cenário mundial dão esperança de paz, a trégua de 5 dias e troca de reféns na Palestina, a Alemanha volta a dialogar com a Rússia e já há pressão popular para uma paz na Europa, na América Latina tensão entre Venezuela e Goiânia e eleição do ultra liberal Javier Milei na Argentina, por uma margem maior que apontavam as pesquisas.

Aquilo que poucos ou nenhum analista dirá, porque a polarização vai da periferia dos países até o jornalismo mais independente, é que não há solução única para nenhum dos polos e há erros de análise e de princípios nos dois polos, a própria polarização já é um contrassenso.

O diálogo Alemanha e Rússia, é certamente o que mais chama atenção, o último diálogo que foi realizado entre os dois países foi no dia 2 de dezembro de 2022, e esta retomada pode ser uma ponta de esperança de uma virada na escalada de guerra Ucrânia e Rússia.

Por outro lado, a maior esperança do mundo no momento, é um possível acordo de paz que pode liberar parte das 240 pessoas feitas como reféns numa investida do Hamas em território de Israel que matou cerca de 1.200 israelenses, com sinais de crueldade e barbárie, Israel reagiu também com brutalidade e força e grande parte da população civil da Palestina sofreu.

O embaixador de Israel nos EUA, Michael Herzog foi quem anunciou a emissora de tv ABC que haviam “esforços sérios” para uma trégua de 5 dias em troca da libertação de reféns, também o governo do Qatar costura um possível acordo.

A eleição de Milei, um candidato com 52 anos se deu por uma margem que nenhuma pesquisa apontava, teve 55,95% dos votos na disputa contra o governista e Ministro das Finanças do atual governo Sergio Massa com 44,04% dos votos, indicando que o povo argentino, embora Milei seja pouco conhecido, apostou numa mudança bastante radical, a Argentina está em crise econômica profunda.

Vários governos reconheceram a vitória de Milei porém a divisão ideológica é profunda, e há uma tensão entre Venezuela e Guyana (antiga Guyana inglesa, com rica história de povos indígenas e lutas internas de emancipação)  e embora seja uma região que já foi pauta na história, a razão da disputa agora é porque houve a descoberta de petróleo na região do rio Essequibo, que chegou a ser chamada de Guyana Essequiba, com forte presença indígena.

Após vários acordos, em 1904, 19.630 km2 foram entregues a colônia da Inglaterra e 13.570 k2 foram acordados com o Brasil e até hoje tudo que estabelece os limites entre estes três países, houveram vários acordos anteriores, em 1966 a Guiana se tornou independente do Reino Unido.

 

Contemplar e o Ser

16 nov

Byung-Chul Han em seu ensaio sobre a contemplação, dá uma sentença cruel ao saber ocidental eurocêntrico: “o saber não consegue retratar inteiramente a vida. A vida inteiramente consciente é uma vida morta” (Han, 2023, p. 29) e se apoia em nada mais que Nietzsche no âmbito de um “novo esclarecimento”, aquele que para Heidegger abre uma clareira do Ser, embora em uma perspectiva diferente.

Citando Nietzsche escreve Han: “não é o bastante que compreendas em que tipo de ignorância seres humanos e animais vivem; precisas também ter vontade de não saber e aprendê-la. É-te necessário compreender que em esse tipo de ignorância a vida mesma seria impossível, sob a qual o vivente se conserva e floresce: um grande e sólido sino de ignorância deve estar ao seu redor” (citando Nietzsche, pag. 29-30).

Esclarece que o objetivo último de um “mestre” é “alcançar um estado no qual a vontade se resigna. O mestre se exercita de modo a eliminar a vontade.” (pag. 31)

Afirma na página seguinte cita uma parábola feita por Walter Benjamin “Não esqueça o melhor” no qual ele esboça a ideia de uma vida feliz, trata de um homem de negócios que sempre realizou sua vida com precisão e zelo, porém em certo momento joga seu relógio fora.

Então começa a chegar tarde e as coisas começam a se realizar sem sua intervenção, e o alegram, revela-se agora um “caminho para o céu”, as coisas acontecem agora quando menos esperava, “amigos o visitam quando menos eles pensavam nele” e lembra da lenda de um rapazinho pastor que é permitido em “um domingo” entrar na montanha com seus tesouros, com uma instrução enigmática: “não te esqueças do melhor” (pag. 33).

A parábola da inatividade de Benjamin termina com estas palavras: “Nessa época ele estava bastante bem. Concluía poucas coisas começadas, e não dava nada por concluído” (pag. 33).

A época da hiperinformação, do cansaço não é um tempo de busca da verdade do ser, daquilo que realmente somos cultural, social e espiritualmente; é um tempo da busca do nada, em tempos assim, surgiram profetas, oráculos, monges e sábios que fugiam deste vazio temporal, para se encontrarem numa totalidade infinita, aquela que contempla todo o ser.

Escreveu Byung-Chul Han: “quem é realmente inativo não se afirma. Ele descarta seu nome e se torna ninguém”, não é niilismo, é um reencontro com a verdade que todos procuram nas coisas e não as encontram se não olharem para si, para o seu vazio interior e sua inatividade.

Haverá um tempo em que todos estarão procurando a verdade, dirão está aqui ou ali e não mais a encontrarão, não será um fim, mas sim um “novo esclarecimento”.

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2023.

 

In-formar, vincular e o simbólico

15 nov

O que faltou no texto da Crise da Narração, também tem algo equivocado na “Infocracia: digitalização e a crise da democracia na filosofia” (Vozes, 2022), a ideia que a informação é em si incompleta, está presente em outro livro intitulado de Byung-Chul Han “Vita Contemplativa” (Vozes, 2023), porque ali retornando ao ser pode- se encontrar como a forma se torna narração no interior do ser, e se in-forma.

Diz um trecho deste livro: “A perda do sentimento compartilhado acentua a falta do ser. A comunidade é uma totalidade mediada simbolicamente. O vazio simbólico narrativo leva à fragmentação e à erosão da sociedade.” (HAN, 2023, p. 91-92). (grifo nosso)

Assim reconhecendo esse aspecto da necessidade do ser enquanto um vazio simbólico, que a narrativa contemporânea em geral não contempla por seus vícios informacionais, ao mesmo tempo afirma o autor: “O ser humano, como symbolon, anseia por uma totalidade sagrada e restauradora” (pag. 92).

O termo symbolon aparece em destaque porque o autor usa-o a partir de uma leitura de O Banquete de Platão, onde Aristófanes lembra que este pedaço partido do ser, que para ele inicialmente era esférico e foi partido, tem este pedaço partido com um “symbolon”.

Ora se símbolo é uma parte, unido a outra parte formamos uma totalidade, não apenas numa comunidade, mas em toda “totalidade sagrada e restauradora”, ali onde há homens unidos por uma causa boa e justa.

A narrativa e a informação neste contexto, onde a parte está unida, com dizia um princípio importante defendido por Edgar Morin: “É preciso substituir um pensamento que isola e separa por um pensamento que une e distingue”, assim união de “símbolos” distintos e que fazem parte das culturas e povos contemporâneos.

Assim o in-formar ontológico (próprio do ser) ligado ao contexto da narração em seu tempo e objeto de pensamentos dentro de uma diversidade, não são razão para fragmentação e sim para um universo que nos une e faz mais “inteiros” dentro de nossas comunidades.

A hiperatividade contemporânea, que não só, mas também o mundo digital pode nos levar é ela própria um mundo que rejeita a interiorização, a meditação e assim, a própria narração.

Escreve o autor sobre esta interioridade: “A vida activa, com seu pathos da ação, bloqueia o acesso a religião” (pag. 154), a ação faz parte da vida religiosa tanto quanto da vida leiga, o que diferencia é que além da prudência, nossas reflexões da semana passada, podem levar a uma ação diferencia, justa e que leva a uma felicidade e plenitude diferente da pura “ação”.

Pathos, esclarecendo, faz parte da tríade grega “ethos, pathos e logos”, enquanto o ethos nos persuade pelo caráter, ou por quem narra, se este é digno de fé, o logos nos persuade pela razão lógica (ampla) e o pathos pelos sentimentos causados de tristeza ou alegria, amor ou ódio, e assim muitas vezes sem passar pela razão e pela ética.

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2023.

 

Recortes iniciais da crise da narração

14 nov

Boa parte da crítica ao excesso de informação de Byung Chul Han é situada no desenvolvimento do universo digital, este ensaio recente que vê a informação como fragmentada e oposta a narração, é visto tanto na histórica como naquilo que pode ser chamado de “crise da narrativa”, lê-se no texto.

Diferentemente de outras críticas à informação, situadas no período da informação digital, Byung-Chul Han busca na história o início da crise da narrativa (traduzida como narração):

Segue na mesma página, falando da perda de aspectos históricos:

Ela cede lugar a informação, deve-se esclarecer aqui que este conceito é para ele aquela atual sem contexto e fragmentária:

Assim para a ensaísta coreano-alemão “A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção”, e isto se inicia com o jornalismo contemporâneo e não com a informação digital.

HAN, Byung-Chul, A crise da narração, Vozes, 2023.

 

A parábola das virgens prudentes

10 nov

A parábola é uma parábola, portanto não deve ser vista ao pé da letra, pode parecer referente a sexualidade, o fato que 5 virgens tem óleo para a noite toda e outras 5 não tem óleo suficiente, indica que devemos nos preparar bem quando o “noivo” chegar, no caso bíblico é o encontro com Deus, e o óleo significa o “hábito” que desenvolvemos na vida para chegar lá.

Discorremos vários aspectos da prudência, e diferenciamos uma “boa vida” (felicidade num sentido mais amplo) da felicidade passageira (eudaimonia) que não mantém as lâmpadas acesas, e aqui não só para a vida eterna, mas para o decorrer de nossas vidas.

De certa forma tem algo haver já que é prudente entender que deve haver prudência também neste ponto, relações tóxicas, machistas, sexistas, etc., porque também estas podem nos preparar para uma vida futura, mesmo que ainda terrena, equilibrada e sensata, lembra-se que tanto Aristóteles quanto Tomás de Aquino, veem também motivos racionais para o exercício da prudência.

Assim uma sociedade que age pelo impulso, pelo domínio das paixões sobre a razão, e uma longa e duradoura boa vida (no sentido grego) depende do exercício das virtudes, e evitar muitas situações de risco e irracionalidade depende do exercício de virtudes.

Para quem não conhece, a parábola das virgens prudentes é esta, onde o noivo é o encontro com a vida eterna (Mt 25,1-7):

“O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram imprevidentes e as outras cinco eram previdentes. As imprevidentes pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. As previdentes, porém, levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas.  O noivo estava demorando, e todas elas acabaram cochilando e dormindo. No meio da noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!’  Então as dez jovens se levantaram e prepararam as lâmpadas”.

A prudência não limita nossa felicidade, mas nos prepara para a vida futura, já aqui no plano terreno.

 

O que era felicidade para os gregos

09 nov

Os gregos definiam felicidade como Eudaimonia sobre as diversas condições humanas: para quem tem fome, a felicidade é comer, para quem tem frio, roupas aquecidas, para quem é ambicioso, dinheiro, para o vaidoso, honrarias, para quem está doente, a saúde, etc.

Por isto como definimos anteriormente uma felicidade racional era chamada de “boa vida”, e se assim for, não como sustentar que a felicidade seja o bem para os homens, uma vez que ela deve trazer consigo que sejam comuns a todos e a possibilidade real de vida para todos.

A finalidade da vida para cada homem pode variar muito de pessoa a pessoa, existem os que relacionam a felicidade ao agradável, ao prazer, ao gozo, sem nenhuma dor, porém é preciso reconhecer a finitude e a limitação destes valores e entender que a vida plena exige equilíbrio, dai as virtudes necessárias, em grego o arethé, Aristóteles não recusava os prazeres, porém alertou que este tipo de vida visa apenas o imediato e é preciso que olhar o que permanece.

A felicidade é autossuficiente, isto é, não é desejável por causa de outra coisa, e ela é desejável em si, assim ao longo da vida, devemos desviar o olhar do exterior para o interior e olharmos dentro de nós aqueles apegos e apegos em coisas temporárias que são apenas prazeres temporais.

Foi a partir da análise das virtudes e do exercício prático da ética, Aristóteles conclui que a felicidade é uma atividade, daí não poder encontrar-se em potência no homem, ela não é considerada uma virtude, embora não ocorra sem ela, existe esta potencialidade em nós.

 

Prudência e felicidade

08 nov

Quebrar regras ou sair da caixinha, há até livros incentivando jogar tudo para o alto, é diferente do que pensavam os gregos, claro uma vida que vai mal precisa ser analisada.

Usei a palavra felicidade, porque a palavra usada pelos gregos é “Boa vida”, que na conotação atual significa comer, beber, gastar e dormir, mas não era a concepção de Aristóteles e outros filósofos da antiguidade.

Na Ética a Nicômaco, o filósofo demonstrar que para se alcançar a “boa vida” devemos levar em conta nosso instinto, sensibilidade e inteligência e, através da conjunção destes três elementos cultivarmos nossa melhor parte, porque, por exemplo, instinto pode ser um traço de personalidade que não leva ao equilíbrio, aí entra a ideia da prudência.

No livro X da Ética a Nicômaco, o filósofo de Estagira, acredita que somos possuidores de uma centelha divina (os deuses gregos não são os cristãos), que é a inteligência, de onde se desprendem duas energias: a sabedoria (sophia), que rege a ciência, e a prudência (phónesis) que rege a ética, entretanto os gregos acreditava numa ciência absoluta, capaz de conhecer a estrutura mais profunda do Ser.

Tal núcleo é eterno, imutável, absoluto, e a ética que é consequência disto é ciência prática.

Nela a prudência rege a temperança que é aquilo que irá reger nossos instintos, é ela que determina o bom exercício da temperança, o sábio nas decisões éticas é aquele capaz de encontrar o meio termo (ne quid nimis: nada em excesso), isto é uma das práticas.

Nela está a virtude (arethé) e na alma há três tipos de funções: as irracionais (nutrição, crescimento, etc.), as motivacionais (geradoras das ações) e as racionais (ligadas à nossa capacidade cognitiva que nos torna capazes de alcançar a verdade).

Só para dar um exemplo prático, quem controla as finanças pessoais poderia incluir um campo de descrição em entradas e saídas, uma explicação do Motivo do gasto ou obtenção do recurso.

Para Aristóteles a virtude é algo que se dá na alma, ou seja, nossa interioridade, então divide as virtudes entre éticas (coragem, generosidade, amizade, justiça, etc.) e dianoéticas (sabedoria, temperança, inteligência, etc.).

Assim podemos mudar um ditado e agora afirmar que “o hábito faz o monge”, agora não como veste exterior, mas com veste interior, as virtudes criam em nós “círculos virtuosos”.

 

Prudência virtude bíblica, moral ou dispensável

07 nov

Em momento de guerra, violência e ira, uma virtude a ser lembrada é a prudência.

Como significa filosófico a prudência é vista por Aristóteles, como virtudes intelectuais, divididas em 5 classes: as ciências, a sabedoria, a inteligência, as técnicas e a prudência, assim ela pode ser vista como uma moral ascética, mas tem significado histórico e filosófico, sendo assim melhor dividida a moral.

Como virtude bíblica a prudência significa a capacidade de julgar entre ações maliciosas e virtuosas, não só num sentido geral, mas com referência a ações apropriadas num dado tempo e lugar, ajuda discernir sobre o que é bom, justo e meios para atingi-los.

Se dispensamos esta educação e força do hábito, as virtudes são dispensáveis.

Como um hábito, do ponto de vista filosófico e moral, é considerado como um saber que se adquire pelo hábito, os sabedores em geral são para Aristóteles indica algo que não se possui simplesmente por costume ou condicionamento, e sim como uma disposição pela qual algo ou alguém está bem ou mal disposto, seja em relação a si mesmo, ou em relação a outra coisa (ARISTÓTELES, Met. I, v. 20, 1022, b, 10-12).

Adquirimos tais por meio do estudo, da demonstração, do treino e da argumentação, de maneira que cheguemos a obter uma noção completa de determinado campo, a dominá-lo com maestria e passando a ter qualidades estáveis do sujeito que dificilmente se perdem (TOMÁS DE AQUINO, S.T., Iª. IIae q. 51 a 2 co.).

Então não simplesmente questão de gosto ou vontade, mas de como entendemos intelectualmente e como processamos os hábitos, assim a prudência é uma virtude adquirida pela compreensão, prática (hábito) e mediante condições estáveis do sujeito.

Não se obtém o retorno a paz e as “boas disposições da alma” sem a prática destes hábitos, se a valorização socialmente deles e sem que o sujeito e a sociedade lembrem deles como virtudes que devem ser inseridas socialmente para o retorno a condições estáveis de sociedade.

ARISTÓTELES.  Metafísica:  ensaio  introdutório.  Texto  grego  com  tradução  e  comentário  de Giovanni Reale, Tradução Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002. 696 p.

TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. São Paulo: Loyola, 2001-2006. 9 v.

 

Unitas multiplex, redes e as bem-aventuranças

03 nov

Entre os principais conceitos desenvolvidos por Edgar Morin estão o dasein cósmico (parecido ao Dasein heideggeriano mas expandido ao cósmico e semelhante ao Cristo Cósmico de Teilhard Chardin), a hominização e a identidade humana, que também se liga a antropolítica, porém um conceito fundamental e novo é o Unitas Multiplex.

Segundo Jean Ladriére, Unitas Multiplex é “um sistema é um objeto complexo, formado de distintos componentes unidos entre si por um certo número de relações”, e isto tanto combina com o conceito de redes sociais (não mídias) como de complexidade de Morin, e aqui vamos estabelecer um conjunto de relações com as virtudes bíblicas das bem-aventuranças.

Num sistema complexo um certo número de relações pode estar rompido, aquilo que nas redes sociais são chamados “buracos estruturais” (Burt, 1992), os laços fracos (Granovetter, 1973) e os mundos pequenos de Watts (Watts, 1993).

Um sistema representado como uma rede social é uma estrutura que liga os nós (forma um grafo matemático), geralmente cada destes nós são pessoas, e ligações entre nós, representando relações entre essas pessoas (GRANOVETTER, 1973).

Para Granovetter pontes são os links que possibilitam laços fracos, aqueles que estão na periferia da rede ou que são alcançados apenas por alguns nós.

Mas nem a teoria das redes e a do unitas multiplex estabelecem as virtudes que possibilitam maior contato entre este nós, e como todos estes nós podem ser alcançados, falar de empatia e laços de solidariedade é pouca coisa, as bem aventuranças bíblicas podem ajudar.

Jesus sobe a um monte e fala para uma multidão de pessoas, não só os discípulos mas todos que os que querem ouvi-lo (Mt 5,3-12):

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. [os laços fracos]

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. [os laços fortes]

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. [a empatia]

Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.  Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! 

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. 

Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” [manter a rede unida ao corpo místico ou ao “dasein cósmico”].

Parece heroico, ou utópico, mas se queremos uma Terra-Pátria de paz é uma boa receita.

 

BURT, R. S. The social structure of competition. In: NOHRIA, N.; ECCLES, R. G. Networks and organizations: structure, form and action. Boston: Harvard Business School, 1992.

GRANOVETTER, M. S. The strength of weak ties. American Journal of Sociology, Chicago, v. 78, n. 6, p. 1360-1380, May 1973.

WATTS, D. J.Strogatz, S. H. “Collective dynamics of ‘small-world’ networks” (PDF), NATURE, Vol 393, 1998. 

 

O homo economicus e a redução do Ser

02 nov

Ainda sobre a Carteira de Identidade Humana, cap. 2 do livro Terra-Pátria de Edgar Morin, após um longo discurso sobre a questão pré-histórica, já há novos avanços e descobertas neste sentido, como por exemplo a Caverna de Chauvet (descoberta por espeleólogos amadores, em 1994, entre eles Jean- Marie Chauvet), mostram que aquilo que é chamado de subjetividade humana é algo presente e intrínseco no homem que nos faz repensar sua origem “genética”.

Esta caverna de 32 mil anos atrás (foto), do período Paleolítico, mostra através das pinturas e ambientes de uma caverna que o homem, mesmo que primitivo, guardava sentimentos já muito superiores ao que pensamos ser datados de nossa era.

Morin mostra a fragmentação desta visão de ser do homem: “Os caracteres biológicos do homem foram discutidos nos departamentos de biologia e nos cursos de medicina; os caracteres psicológicos, culturais e sociais foram divididos e instalados nos diversos departamentos de ciências humanas, de modo que a sociologia foi incapaz de ver o indivíduo, a psicologia incapaz de ver a sociedade, a história acomodou-se à parte e a economia extraiu do Homo sapiens demens o resíduo exangue do Homo economicus.” (MORIN, 2003, p. 61)

A filosofia, somente pode “se comunicar com o humano em experiências e tensões existenciais como as de Pascal, Kierkegaard, Heidegger, sem no entanto jamais poder ligar a experiência da subjetividade a um saber antropológico” (idem), e somente nas décadas de 50-60 aparecem os pensamentos sobre “as primeiras abordagens da dialética universal entre ordem, desordem e organização…” (ibidem) e que vai nos conduzir a uma base de uma antropologia fundamental.

Morin lança 5 pontos essenciais para sair da agonia planetária: “• estamos perdidos no cosmos; • a vida é solitária no sistema solar e provavelmente na galáxia; • a Terra, a vida, o homem, a consciência são os frutos de uma aventura singular, com peripécias e saltos espantosos; • o homem faz parte da comunidade da vida, embora a consciên[1]cia humana seja solitária; • a comunidade de destino da humanidade, que é própria da era planetária, deve se inscrever na comunidade do destino terrestre.” (MORIN, 2003, p. 63).

O pensamento de Morin não é um tratado sobre a humanidade, mas um alerta dos perigos que esta falsa aventura imperativa econômica, de poder e de desastre ambiental nos conduziu.

MORIN, E. e Kern, A.B. Terra-Pátria. Trad. por Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2003.