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Dualismo e unidade
O dualismo vem do idealismo de Parmênides e chega até Hegel, já postamos em suas categorias em-si, de-si e para-si, sendo para-si um certo retorno ao em si (posts da semana passada).
Existem dois tipos de dualismo: o dualismo de substância e o dualismo de propriedades.
Enquanto o dualismo de substância (ou dualismo cartesiano) argumenta que a mente é uma substância que existe de forma independente, já o de propriedade descreve uma categoria de posições em filosofia da mente que advogam que, apesar de o mundo ser constituído por apenas um tipo de substância, do tipo físico, existem dois tipos distintos de propriedades: propriedades físicas e propriedades mentais.
Esta briga no interior do dualismo continua em separação substância e mente, seja como substância ou propriedade.
A unidade é possível se pensarmos além da ontologia lógica de Parmênides onde o Ser é e o não ser não é, há um Ser que não é, que está presente na alma, e que no sentido trinitária é um Ser-para-si, isto é um para no sentido de além de, neste caso além da substância, e se pensarmos em Deus Absoluto (usando a categoria Hegeliana) o para-si é substância e se concretiza no “filho” da Trindade que é Jesus, ser-em -si homem e ser-para-si Deus.
Assim Deus entra na história e na substância como mente e propriedade, aquilo que o teólogo e paleontólogo francês Teilhard de Chardin chama de noosfera, que é subtítulo deste blog.
Deus mente e propriedade entra na história e se eterniza como substância no corpo e sangue, com as substâncias pão e vinho, que são artefatos humanos, o trigo feito pão pelo homem e a uva feito vinho pelo homem, assim substância humana, divinizada e eternizada na ceia de Jesus, esta é a festa do Corpo de Cristo realizada hoje por boa parte dos cristãos.
No raciocínio chardaniano Deus retirou o universo de sua sub-instância que também é Deus, do corpo de Cristo, assim todo universo é cristocêntrico e penetrado por sua divindade.
A tentativa humana de criar um “ser” inteligente e além-do-humano, é uma ex-machina incapaz do para-si.
Assim é que se realiza a unidade trinitária e humana, é preciso passar através do não-Ser que é Ser, é preciso superar contradições e ir além de si, entrar num para-si divino e eterno.
Idealismo e pericorese
O idealismo ao desenvolver as categorias em-si, de-si e para-si isola a possibilidade trinitária de relação e anula a ideia de relação ontológica, o que é em-si se não é Ser e o que é para-si se não é não-Ser, o Outro não é negação do Ser, mas seu complemento.
De-si é relação, e isto completa a ideia trinitária cristã de três pessoas em relação, que é a chamada pericorese.
Numa metáfora possível com o Idealismo: Deus-Pai é Deus-em-si, Deus-filho é Deus-para-si e Deus-Espírito Santos é Deus de-si, observa-se que Deus-para-si tanto é homem (Deus transcendente sua divindade) como é Divino (Jesus é Deus e transcende a humanidade)
Isto que significa o uno em três pessoas, o primeiro concílio cristão de Nicéia (325) foi discutido a divindade de Jesus, porque era ainda mais fácil, devido ao dualismo Ser e não-Ser, acreditar em dois do que em três.
Para subsistir a ideia dualista, alguns pseudo-teólogos lançaram mão da ideia que Deus-Pai é fonte e origem de toda divindade, assim as outras duas pessoas foram geradas pelo Pai, criando uma nova forma de negar a pericorese trinitária, ou se preferir “a dança” na relação divina interna.
Foram os padres capadócios, Gregório Magno, Gregório de Nissa e Basilio de Nissa que viram esta contradição, que vem revestida de nova roupagem, da troca da palavra prósopon (persona) por hipóstasis e esta por sua vez confundida com ousía.
Basílio usou da fórmula de Mt 28,19 que afirma que a comunicação dos Três no batismo manifesta o Espírito Santo na união do Pai com o filho, na mesma dignidade, e manifesta ao homem no batismo, por isto o batismo válido é em nome das Três pessoas em um Deus.
A relação é como se fosse a dança entre as três pessoas com a metáfora dos capadócios (figura).
Esta relação não é mítica, embora mística, sua relação com a humanidade está descrita em Jo 3,1: “De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
Deus a imagem do homem
Foi Feuerbach o primeiro a fazer a uma redução antropológica da teologia, seu deus é feit para a firmar o homem, não há libertação do homem sem a negação de deus. Ele partiu do pressuposto de que a religião é expressão e causa da alienação humana, via assim: “o conhecimento que o homem tem de Deus é apenas o autoconhecimento do homem e de sua própria essência”, numa clara alusão a Absoluto de Hegel.
Sua análise da atitude religiosa e pelo conceito de alienação, Feuerbach influenciou os pensadores socialistas do século XIX, especialmente Karl Marx, é entre outros (chamados de velhos hegelianos) uma transição entre o idealismo hegeliano e o materialismo histórico.
É importante sua análise porque muitos hoje reafirmam esta ideia que é a base matéria que constitui a consciência do homem, a consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo, o conhecimento de Deus é o conhecimento que o homem tem de si mesmo, assim deus da prosperidade e que dá bens materiais humanos é deus de Feuerbach.
Isto está presente também nas religiões contemporâneas, um deus do poder e da riqueza.
Já elaboramos que este deus do Absoluto de Hegel não é relação e, portanto, não é trinitário.
Sua leitura é: ““a chave hermenêutica que o autor utiliza para a compreensão da religião é a seguinte: religião é antropologia, ‘teologia é antropologia’, assim o que o homem fala acerca de Deus, através da linguagem religiosa, nada mais é que uma confissão de suas aspirações e projetos”, entretanto é deus que cria para satisfazer apenas as necessidades imediatas humanas.
Isto na significa um Deus nas aturas que desconhece homem, sena a figura de Jesus seria apenas um ser superior sem relação com o homem, inclusive em suas necessidades humanas.
O mundo hegeliano criou esta face egoísta e meramente humana, onde dons e ascese divina não existem.
FEUERBACH, Ludwig. A essência do cristianismo. Campinas: Papirus, 1988.
Hegel e a relação com o Absoluto
A relação de Hegel com o Absoluto é importante porque embora não esteja evidente, está presente na maioria dos conceitos religiosos e de poder na atualidade.
Para Hegel, o espírito só é espírito na medida em que é para o espírito, manifestando-se a si mesmo, assim sua forma de Absoluto é representação e na um Ser.
Por forma entende-se os diferentes momentos do conceito que se dividem em esferas particulares ou elementos particulares, em que cada elemento particular o Absoluto se expõe.
Há estágios para Hegel, de elevação da certeza à verdade, no idealismo está é a ascese. Consciência em geral tem no objeto exterior apenas um objeto; aquele que a autoconsciência que tem o eu como objeto do pensamento; e por fim, a unidade da consciência ou da autoconsciência quando o ser e o pensar se tornam idênticos e o Espírito contempla o conteúdo do objeto como a si mesmo.
Acrescenta Hegel, desmontando a relação da consciência com o Outro na elevação da Verdade: “Com efeito, o Em-si é a consciência, mas ela é igualmente aquilo para o qual é um Outro (o Em-si): é para a consciência que o Em-si do objeto e seu ser-para-um Outro são o mesmo. O Eu é o conteúdo da relação e a relação mesma; defronta um Outro e ao mesmo tempo o ultrapassa; e este Outro, para ele, é apenas ele próprio; Com a consciência-de-si entramos, pois, na terra pátria da Verdade” (Hegel, 2012).
Uma passagem importante da Fenomenologia e que dá introdução ao conceito mais importante de Hegel é a passagem da consciência à consciência-de-si. Para que a consciência saia da aporia de se deparar com algo que não pode compreender por meio das categorias até então empreendidas, Hegel usa a postura idealista de se admitir que sujeito e objeto, sendo ambos unidades formadas a partir da internalização de diferenças, possuem a mesma estrutura, a infinitude é somente este objeto para a consciência, sua “transcendência”.
Assim para-si não é nem a passagem em relação a Outro, nem uma ascese espiritual, é tão somente uma representação na consciência, esta sim uma ascese desespirituaizada.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do espírito. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
Que Espírito habita em nós
A busca por algo que está no mais profundo de nossa interioridade e que nenhuma máquina ou inteligência “artificial” pode atingir é a busca de todos e está agora no centro da discussão devido a possibilidade de inteligências como o chatGPT ultrapassar a inteligência humana, o que é chamado de ponto de singularidade.
Entretanto há algo mais profundo que a filosofia buscou através do Sumo Bem, a Consciência cósmica, o Espírito prático ou Absoluto, entretanto todo homem pode experimentar um tipo de interioridade especial, dotado quase de uma clarividência que é o Espirito Santo.
Pode receber outros nomes em diferentes culturais, oráculos ou outros nomes, porém de alguma forma, em algum momento especial da vida, experimentando esta “luz”.
Para os judeus a festa de pentecostes acontecia 50 dias de Páscoa judaica, tradição que muitos cristãos mantiveram, com um novo significado a “descida do Espírito Santo” aos apóstolos.
Na tradição judaica era também uma época da colheita e também se comemorava a memória da entrega das Tábuas com as Leis Sagradas, a Torah, à Moisés, recebe-a direto de Deus.
Não se trata apenas de uma vida beatífica que leva a esta presença, embora ela também seja necessária, mas o desejo e a abertura de alma para que este efeito maravilhoso aconteça.
A incapacidade do homem moderno da reflexão e da abertura ao que é totalmente fora da sua limitação humana dificulta esta ação, porém muitos a alcançam pelo exercício de ascese verdadeira, explicado desta forma de Jesus para os apóstolos: “é preciso que eu vá, para que ele venha” (João 16,7), então os ensaios desta semana foram antecedidos pelo da semana anterior: a ascese humana e a ascensão de Jesus.
Haverá quem conteste esta presença em não cristãos, ou certas denominações as quais são atribuídas a alcunha de “seitas”, porém o próprio Jesus alerta “há ovelhas que não são deste aprisco” (João 10,16).
Para finalizar é preciso lembrar que o Espírito sopra onde quer (João 3,8) e o evento que foi inicialmente a um grupo reduzido de apóstolos, chamado de Pentecostes, poderá ocorrer um dia a toda a humanidade de modo a enxergar esta luz límpida e assim nós nos veremos como somos de fato e não aquilo que imaginamos ser.
O Espirito Absoluto de Hegel
Era inevitável que o idealismo pela segmentação que faz da realidade caísse em alguma forma de misticismo sem uma clara cosmovisão, é a busca ontológica que o homem tem de sua completude como um todo e qual a relação com o Absoluto.
Heidegger argumentou sobre a precedência da questão do Ser, a filosofia idealista tem esta busca, conforme já salientamos em outros posts, porém aqui nos concentramos no seu ápice Hegel, não apenas na Fenomenologia do Espírito, mas em praticamente todos escritos há uma busca do Todo.
Em cada uma das representações que constitui o Todo, ele constitui o Absoluto, a Ideia e a Ideia da filosofia.
Hegel desenvolve a apreensão do Absoluto através de três momentos: a Arte, a Religião e a Filosofia, de modo um pouco simplista pode-se dizer que a arte é a corporificação da Ideia, a expressão do imediato divida em Natureza e Espírito.
Hegel (1995) descreve que, A arte e as intuições que ela produziu, necessita não só de um mundo exterior dado, ao qual pertencem imagens e representações subjetivas, mas a expressão do conteúdo espiritual, também precisa das formas dadas pela natureza para a sua significação ao qual deve possuir e pressentir (Hegel, 1995, p. 342).
É bastante significativo o fato que Hegel desenvolve a representação do Absoluto quando cita os povos gregos, considerada como expressão mais elevada para os gregos, a religião tinha uma forma antropomorfa, ou seja, os deuses eram tão carnais quanto os homens, então são sujeitos.
Assim esta religião surge da relação entre a Religião da Natureza e seus mitos, enquanto a relação com a Religião Cristã, é a consciência de si do espírito que é a humanidade infinita.
O espírito absoluto aparece como saber de si da humanidade, sendo a consciência da história efetiva, sendo que a filosofia desembaraça da imediatez das paixões para se entregar à contemplação.
Segundo Hegel (1995): “O espírito absoluto não se pode explicitar em tal singularidade do configurar: o espírito da bela arte é, portanto, um limitado espírito de um povo, cuja universalidade essente em si, ao avançar para a ulterior determinação de sua riqueza, decompõe-se em um politeísmo determinado” (HEGEL, 1995, p. 342).
Para Hegel, o espírito só é espírito na medida em que é para o espírito, manifestando-se a si mesmo.
Assim seu espirito é para-si no sentido de para si mesmo, pouco ou nada do Espírito Santo que é totalmente em projeção ao Outro, quer seja na trindade cristã, quer seja na alma humana não é fechamento em-si.
HEGEL, G.W.F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1830). 1. Ciência da Lógica, 2. Filosofia da Natureza, e, 3. Filosofia do Espírito. Trad. Paulo Menezes. São Paulo: Loyola, 1995.
Espírito e o racionalismo prático de Kant
Embora Kant toque pouco na questão do Espírito, para ele o que existe é um “espírito” prático típico do iluminismo, há uma exceção que é a sua leitura de um autor sueco Swedenborg, um visionário do mundo suprassensível dos espíritos, e que Kant trata na obra Sonhos de um visionário.
A metafísica de Kant está ligada ao dualismo entre sujeito e objeto, entretanto neste livro extrapola o cunho dogmático racionalista e aproxima os dois mundos (corpo e mente) através de um mundo suprassensível e assim, teríamos a configuração daquilo que seria a alma em contato com o corpo, por meio do espírito, ou seja temos três entidades: o espírito, a alma e o corpo, para estabelecer as relações ele cria uma problemática “psico-física” muito engenhosa.
Usando as visões de Swedenborg (que supõe sejam verdadeiras) imagina que a alma possui um contato com o outro mundo unida ao corpo que conhece objetos da sensibilidade (a dualidade sujeito x objeto) enquanto o espírito em sua relação com a alma também busca conhecer tais objetos, uma vez que ele não está completamente ligado ao corpo e permanece num mundo dos espíritos, veja que pouco ou nada tem de ligação ao mundo espiritual religioso.
Swedenborg se vê como um “oráculo dos espíritos” que possui sua alma aberta para receber informações, o que o torna diferente dos outros homens, então a sua alma se comunica com o outro mundo, por meio da ligação com o espírito, há nisto um mundo espiritual, e este mundo espiritual existindo, as almas poderiam se comunicar por um tipo de telepatia, entretanto não é o que ocorre.
Como ele explica então esta comunicação, há limites do conhecimento através das relações entre a alma humana e o suposto mundo dos espíritos, e tal argumento é o que ele denomina como um comércio “psico-físico” entre o mundo dos espíritos e o mundo sensível pela alma que se encontra no homem.
Muito elaborada, porém a elaboração de Hegel será mais completa e dialoga com toda a cultura filosófica moderna assim como com a teologia cristã, mas para divergir, ao contrário de uma tese que aproxima, a de Hegel se afastará e encontrará nas teses dialéticas motivações para a Fenomenologia do Espirito.
KANT, I. Sonhos de um visionário explicados por sonhos da metafísica. In: ______. Escritos pré-críticos. São Paulo: Ed. Unesp, 2005. p. 141-218.
Espírito o que é
Na origem grega a palavra é pneuma significando “sopro, vendo, ar” em tradução para o religioso “sopro divino, espírito” ou “Espírito Santo”, em análise ao tema que desenvolvemos no tópico anterior significa uma consequência da verdadeira ascese, uma “assistência” do Espírito Santo às questões cotidianas.
Na tradução hebraica a palavra é “ruah” (ou ruach), significando algo parecido “hálito, ar”, porém se distancia da ideia cristã de Espirito Santo como pessoa.
A palavra hebraica ruah tem também significado de “brisa” ou “sopro”, em Genesis por exemplo: “Entraram para junto de Noé na arca, dois a dois de toda a carne em que havia espírito de vida”, em hebraico.
A palavra hebraica ruach tem também significado de “brisa” ou “sopro”, em Genesis por exemplo: “E de toda a carne, em que havia espírito de vida, entraram de dois em dois para Noé na arca”, a tradução neste caso é c Isto parece deslocado da filosofia ou mesmo das ideias contemporâneas, porém desde os gregos: Platão, Plotino e mais recentemente os hegelianos exploraram diversos sentidos próximos a este de espírito absoluto, da verdade ou da vida.como “espírito de vida”, porém a palavra hebraica “ruach” é mais que isto.
Este espírito que é o Sumo bem de Platão e Aristóteles, se articulará na filosofia medieval e chegará a filosofia prática de Kant, para descrever o bem maior que o ser humano deve buscar, mas neste caso se confunde com a Eudaimonia que significa ética da felicidade (em certo sentido nem sempre “supremo”).
Platino (205-207 d.C.) é particularmente importante por ter recebido influência de Platão e ter influenciado por seu livro Enéadas: cristãos, islâmicos, judeus e gnósticos, sua influência particularmente em Agostinho de Hipona é bastante forte, sobre a natureza do Intelecto e sobre o “além do Intelecto”, ou seja, o Uno, embora possa ser classificado como tendo um pensamento metafísico é na articulação do intelecto com a alma, onde o Uno pode englobar os dois.
Esta ideia foi desenvolvida em Agostinho de Hipona para o qual é a separação dicotômica entre o bem e o mal (Agostinho fora um maniqueísta) que faz o intelecto distanciar-se da alma, assim levanta questão como o sumo Bem, consentiria a manifestação prevalecente do mal no mundo? O que justificaria o episódio da Queda do casal primordial? A resposta de Agostinho é pela insuficiência do bem, ou seja, a ausência do bem dá origem ao mal.
Assim parece mais correto em sentido mais amplo, a ideia de Espírito da Verdade, da Sabedoria e uma categoria “superior” ao mundo da substancialidade.
A ascensão em corpo e alma
Tanto a ascese humana quanto a espiritual são uma questão a ser respondida pela existência humana, a humana porque implica em avançar para estágios superiores da vida, as fotos da atual guerra no leste europeu nos indagam (que ganharam o prêmio Pulitzer) se estamos caminhando para isto, a espiritual seja a visão grega, a idealista ou a religiosa mostram que há uma questão.
Para ambas a resposta não é simples, senão em milhares de anos de processo civilizatório a humanidade já teria respondido, a questão que se põe para os dias atuais é como uma pode (e deve) cooperar com a outra, a questão de fundo é que tipo de espiritualidade faz esta cooperação ser produtiva.
O lema latino “mens sana in corpore sano” que é do poeta romano Juvenal, do primeiro século da era cristã, indica uma precedência da mente, entretanto a mente assim como o corpo também envelhece e morre, o que separa a ideia de mente de alma, porem somente uma ascese espiritual que não limite a vida a sua finitude corporal pode admitir esta imortalidade.
A alma também não é tema específico do cristianismo e outras religiões abrâmicas (o islamismo e o judaísmo), também filósofos gregos especularam sobre a alma e as religiões orientais que admitem a reencarnação (no sentido filosófico seria a resubstânciação ou a recorporificação) também não veem a finitude da vida.
Também na filosofia contemporânea as especulações da coisificação (ou reificação, res – coisa) no sentido da finitude.
No modo de ver cristão subsiste uma certa visão de separação de corpo e alma, porém um leitura mais profunda mostra que o corpo pode também ser vivificado pela alma, e a prova bíblica para isto são tanto as diversas aparições de Jesus vivo após a sua morte e ressurreição, onde até come pão e peixe, como a festa máxima de sua ascensão.
A cena bíblica cristã que está descrita no Atos dos Apóstolos 1, 9-10 é descrita assim: “Depois de dizer isso, Jesus foi elevado aos céus, a vista deles. Uma nuvem os encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo. Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia.”
Aos que não creem na possibilidade desta vida após a morte, só lhes resta consumir a vida e isto pode impedir também uma ascese humana.
O Outro, o Infinito e a Verdade
O desenvolvimento da questão do Ser na filosofia moderna não se separa da questão religiosa, Gadamer lembra o exemplo dos deuses nas obras de arte desde o mundo grego (Gadamer, 1997, p. 18),
O outro é tratado em diversos âmbitos da ontologia, tornando-se quase uma categoria essencial.
Outro ponto importante no caminho para Verdade, afirma que é preciso reconhecer: “A finitude do próprio compreender é o modo como e onde a realidade, a resistência, o absurdo, e incompreensível alcança validez.” (Gadamer, 1997, p.24), e expande esta história também para a histórica, onde vai criticar o historicismo romântico de Dilthey e ressalta que não é a-histórico.
Assim o caminho (ou o método) para a Verdade é traçado o desenvolvimento do círculo hermenêutico como um novo e revolucionário método para a Verdade, ouvir o texto (ou o Outro) e realizar uma fusão de horizontes, onde é possível ver e repensar mais claramente a Verdade.
A simples elaboração de narrativas que justifique o poder determinadas verdade não é senão uma volta a obscuridade e o oportunismo do discurso sofista moderna, agora usando como recurso os limites e as especialidades de determinadas ciências, por exemplo, o direito e a economia que vistas em seus campos restritos não são senão sofismas que se justificam mutuamente.
Ao analisar a possibilidade do fim da metafísica, Gadamer ressalta: “Se a ciência se elevar à tecnocracia total, e com isso cobrir o céu com a “noite do mundo” do “esquecimento do ser”, o nihilismo predito por Nietzsche, pode-se então ficar olhando atrás do último rebrilho do sol que se pôs […]” (GADAMER, 1997, p.27), ou seja, a ciência não está a parte desta questão.
Um humanismo verdadeiro deve olhar para o infinito, não apenas aquele que agora é visível pelo megatelescópio James Webb (que traz muitas questões também), não pode deixar de ignorar o infinito, o mistério e o fenômeno religioso.
Para os cristãos, esta verdade foi revelada humana e visivelmente em Jesus, na semana passada lembramos os discípulos dizendo “mostra-nos o Pai” (Jo 14,8), agora noutra a frente Jesus se revela mais plenamente aos que o seguem (Jo 14, 16-17): “e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece”.
Não se trata de uma Verdade arrogante, ela pode e deve dialogar com as culturas de nosso tempo.
GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.