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O pensamento trinitário em autores não cristãos
Compreender o mistério de serem três pessoas, mas um só Deus, é claro que seja penetra na mística cristã em sua profundidade, porém se imaginamos que aí pode estar a chave da relação humana onde duas pessoas se põe numa relação simétrica, isto é, de respeito e amor mútuo, um é indissociável do outro, pode-se entender que é possível um autor não cristão entender a questão.
Percorreremos três autores, Giorgio Agamben, Peter Sloterdijk (em conjunto com seu discípulo Byung Chul Han) ambos não cristãos e como não poderia deixar de ser um cristão, Piero Coda, que nos introduz de uma forma nova neste mistério, típico de um carisma do século 20, que propõe a unidade da família humana, aquilo que parece difícil e de certa forma trágico (o próprio autor o afirma), é na verdade uma abertura teológica nova.
Para compreender Agamben, é preciso entender que parte de uma hipótese bastante interessante, mas ao nosso ver não suficiente, que a história da cultura ocidental resulta de um paradigma resultante da teologia cristã, que vê a história contínua de separações e cruzamentos entre esses dois paradigmas: o político e econômico, formando um sistema bipolar.
Isto está descrito em duas obras suas: “Estado de exceção” (2003), que de fato sempre ronda o ocidente entre auctoritas e potestas* e, na obra O reino e a Glória (2011), que pode assumir a fórmula: Reino, Gloria e Oikonomia. (*em sentido oposto, o legítimo e o poder).
Porque a obra de Agamben de fato é válida, porque a Oikonomia, que tem sua origem na antiguidade clássica, que significa organização da casa pode e seria até interessante que de fato fosse a “organização” dos bens domésticos, porém a própria origem grega significa já não-cristã.
Onde é que elas se confundem, no grego, oikos (casa) e nomos (lei, regra, norma), foram usadas por Xenofonte e Aristóteles (na Grécia Antiga politeísta) este termo designava o “o conjuntos de preceitos que regem, ou devem reger, a atividade do ‘senhor da casa’ na obtenção dos recursos necessários à vida da família”, e na teologia cristã todos sendo irmãos, estamos na mesma “casa”, mas para aí, pois o argumento que Agamben usará do monoteísmo não é válido para os gregos.
Embora Agamben compreenda que no livro L da Metafísica de Aristóteles já está marcadamente presente a distinção entre Reino e governo, mesmo livro que outro crítico do monoteísmo Erick Peterson escreveu contra a teologia política.
Deus aparece ali como o motor imóvel de todas as coisas que significaria em última instância uma “categoria” cristã, que de fato poderia ser para alguns autores, mas certamente não é o Deus cristão, há nEle um rico movimento chamado pericorése.
Porém este não é o Deus cristão, não há uma interpretação trinitária de fato em Agamben, mas uma adaptação da visão Aristotélica, dualista, o ser é e o não ser não é, para a visão do trinitário.
A grande contribuição de Agamben está na sua obra magna: Homo sacer: o poder soberano e a vida nua, onde aborda o conceito de vida nua, como aquela que se encontra em uma zona cinzenta da vida política, entre o zoé e bíos, o conceito de homem como animal político de Aristóteles explicado, aprofundado e atualizado.
AGAMBEN, Giorgio, Homo sacer. O poder soberano e a vida nua I. Trad.: Henrique Burigo. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
Clareira e iluminação
O que acontece de fato se encontramos a clareira, se por um processo de mudança de consciência, de auto-iluminação abandonamos velhas teorias e maquinações e nos “vemos”.
A resposta está no próprio Heidegger em sua principal obra Ser e tempo: “Na medida em que o ser vige a partir da alétheia, pertence a ele o emergir auto-desvelante. Nós denominamos isso a ação de auto-iluminar-se e a iluminação, a clareira” (cf. Ser e tempo)”.
Já postamos sobre a diferença entre alétheia e verdade, porém agora pode-se a partir do texto acima desvelar um pouco mais profundo, o percurso da iluminação nos conduz a uma posse que dá sentido ao que somos e do que recebemos para ser. Na iluminação há um sentido do ser e realiza um percurso ontológico e não meramente temporal ou espacial, esta ligação ao temporário oculta o sentido originário de todo espaço e tempo, de toda época e de toda relação com o mundo, está é a iluminação.
Não é definição minha, outros leitores de Heidegger fazem um raciocínio muito prático e parecido ao que é feito aqui, por exemplo, o texto de Manuel de Castro encontrado na Web, que afirma que “na iluminação o sentido de ser acontece em nós”, não é obra do acaso e há muitas outras possibilidades desta iluminação, todas as religiões por exemplo, procuram esta iluminação, os filósofos em sua maioria, acreditam tê-la encontrado, mas o que é ela de fato.
Lanço o recurso das religiões, em especial a cristã que professo, mas não deixo de imaginar que o mesmo seja possível em outras, há algo que pode ser chamado de “sementes do verbo” e que de alguma forma estão presentes nas grandes religiões, na cristã é a ação do “Espírito Santo”.
Este nodo que pode nos unir a uma iluminação, é aquele que nos “une a todos”, é aquele pensamento que Edgar Morin dizia: “é preciso substituir um pensamento que isola e separa por um pensamento que une e distingue”, portanto viver em unidade com os outros diferentes.
A palavra que fala desta ação através de um dom especial do Espirito Santo que fazia a todos que ouviam compreenderem em sua própria língua (pode-se pensar numa metáfora conforme o entendimento possível de cada), diz a passagem (At 2,4-6):
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua”, em algum momento da nossa história isto pode acontecer.
O que se espera é um mundo mais fraterno onde o diferente possa viver em sua dignidade e ser entendido em sua própria língua.
CASTRO, Manuel Antônio de. “O ser e a aparência”. www.travessiapoetica.blogspot.com
Dicionário de Poética e Pensamento (ufrj.br)
Dicionário de Poética e Pensamento (ufrj.br)
O habitar e a clareira
Tanto o habitar como a clareira, precedem a ideia de Ser, desde a filosofia antiga o Ser é também “morada”, porém a filosofia moderna recuperou a linguagem, evento chamado reviravolta linguística, e vale a frase de Heidegger: “A linguagem é a casa do ser” significa uma identificação ontológica entre ser e linguagem.
O que é esta “morada” significa aquilo que é o ser enquanto ser, significa retirar do ser seus adjetivos para ser o que é, por exemplo, o homem enquanto homem sem sua cor, religião, sexo, nacionalidade, idade, cultura, nada que o particularize e os separe uns dos outros, é nisto que encontramos o ser.
Por isto a definição de Heidegger de linguagem, mas num sentido amplo qualquer forma de comunicação desde um simples olhar até um longo discurso, e mesmo o uso de algum aparato para enriquecer (ou empobrecer é claro) a linguagem.
Habitar a clareira portanto exige primeiro que desvelamos o que é este Ser, e depois o ente que é o que vale para o ser, enquanto o “ser-aí” (Dasein) é aquilo que está no ser.
Isto esteve velado na história, e ainda mais na modernidade que projetou todo o ser sobre o ente, ou seja, sob sua caracterização e determinação, mas aquilo que ele é foi velado.
Górgias (485-380 a.C.) foi o primeiro na história da filosofia a negar a existência do ser, para isto teve também que negar a razão, e a existência em absoluto, “nada existe de absoluto”, assim não existem verdade, é o princípio que hoje chamamos de relativismo.
A existência e a realidade do Ser, embora velada, é a possibilidade da clareira, dela dependerá uma abertura para a transformação, para a mudança tanto na relação humana, já que está é linguagem fundamento do ser, quanto na relação com a natureza, que determina também o ser-aí.
Tudo pode tornar-se desvelado se retiramos o véu que cobre o ser, e descobrimos também a sua interioridade, que o filósofo Byung Chul Han chama de negatividade, que é sua reflexão sob aquilo que é, vendo-se como num espelho, e assim conseguir ver-se como Ser.
Um filósofo oriental lê a “clareira”
Byung Chul-Han é um filosofo coreano-alemão que migrou para o ocidente e faz uma leitura impar da literatura ocidental, em particular o contexto das redes e das novas mídias, estudou em seu doutorado Heidegger e com isto sua “clareira”.
Explica o que é a clareira de modo simples: “A ´verdade´ de Heidegger ama se ocultar. Ela não se dispõe simplesmente. Ela tem de, primeiramente, ser ´arrancada´ do seu ´velamento´. A negatividade do ´velamento´ habita na verdade como o seu ´coração´” (Han, 2018, p. 74) e neste trecho cita a obra de Heidegger: “Sobre a questão do pensar”.
Ele penetra no que significa a informação, o grande insumo do Ser velado atual, “falta a informação, em contrapartida, o espaço interior, a interioridade que permitiria se retirar ou se velar. Nela não bate, Heidegger diria, nenhum coração” (Han, 2018, p. 74).
Esta ausência de contrapartida, é o que Chul Han chama de negatividade, é bom explicá-la bem, “uma pura positividade, uma pura exterioridade caracteriza a informação”, assim é o refletir.
Como seria então a informação da negatividade, no sentido de reflexão, é a informação “seletiva e aditiva, enquanto a verdade é exclusiva e seletiva. Diferentemente da informação, ela não produz nenhum monte [Haufen]” (Han, 2018, p. 74).
Assim, não há ‘massas de verdade” e sim “massas de informação”, é a “massificação do positivo” (Han, 2018, p. 75), assim informação distingue-se do saber, e este não “está simplesmente disponível”, diria nem simplesmente porque é complexo e nem disponível porque está oculto.
Porém o filósofo a confunde com experiência de vida, ao afirmar: “não raramente, uma longa experiência o antecede” (idem, p. 75), e afirma só uma face da informação: “a informação é explícita, enquanto o saber toma, frequentemente, uma forma implícita”.
Esclarecendo estes dois pontos confusos, primeiro a questão da experiência, o filósofo Platão foi o primeiro a anunciar que a sabedoria, como conhecimento da verdade não é fruto da idade, se assim fosse somente na velhice as pessoas mereceriam ser ouvidas, a outra questão é sobre a informação tácita, ela existe como conhecimento tácito, Michael Polanyi (1958), foi um dos primeiros a teoria, e Collins nos anos setenta retomou o conceito no âmbito da comunicação científica. Para esta informação tácita, Chul Han também aponta isto, é preciso “silêncio”.
A clareira mais profunda o filósofo descreve citando Michel Butor, que deu uma entrevista ao Die Ziet, em 12/07/2012, que aponta para a verdadeira causa: “A causa [disso] é uma crise de comunicação. Os novos meios de comunicação são dignos de admiração, mas eles causam um barulho infernal” (Butor apud HAN, 2018, pg. 42).
Referências:
POLANYI, M. Personal knowledge – towards a post-critical Philosophy. Chicago: The University of Chicago Press, 1958.
COLLINS, H. M. The TEA set: tacit knowledge and scientific networks. Science Studies, v.4, p.165-186, 1974.
HAN, B. C. No enxame: perspectivas do digital. No Enxame: perspectivas do digital. Trad. Lucas Machado. São Paulo: Editora Vozes, 2018.
A possível, mas difícil “clareira”
A ocultação do saber esconde também uma ocultação do saber, sem algum tipo de clarividência o acesso ao conhecimento torna-se preso a esquemas mentais, lógicos ou ideo-lógicos que por sua vez estão presos ao pensamento contemporâneo.
A maneira como Heidegger enxergou a clareira, foi de difícil a avaliação até mesmo para seus alunos mais próximos como Hanna Arendt e Husserl, só para citar grandes nomes, porém na sua escola de pensamento muitos ainda permanecem presos ao idealismo.
O problema central do idealismo, para Heidegger, é que mediante as categorias a priori do entendimento, determina-se todas as propriedades dos objetos (como se fosse só “lógico” o conhecer) e assim os seres não podem manifestar são essência pura do que são, fora do “lógico”.
Assim entre o ocultismo fundamentalista, claramente problemático, e o pensamento “científico” ocidental, como dito por Heidegger “se estabeleceu como única medida da habitação do homem no mundo”, dito em seu texto O fim da filosofia e a tarefa do pensamento.
Em seu texto A doutrina da verdade em Platão, ele começa traduzindo Eidos (a Ideia como foi má traduzida) como aspecto, que não é um ente em sua mera aparência, como é percebida de forma imediata pelos sentidos, antes de se mostrar o ente aparece e pode ser captado pelo intelecto (Heidegger, 2007, p. 3).
A outra questão apontada por Heidegger é sobre a tradução explícita de “alethéia” por desvelamento e que não pode ser identificada com “verdade”, “a questão do desvelamento como tal, não é a questão da verdade … não devemos traduzir alethéia pela palavra corrente verdade” (Heidegger, 1972, p. 36), e assim “também não é sustentável a afirmativa de uma transformação essencial da verdade, isto é, a passagem [de Platão] do desvelamento para retitude” (Heidegger, 1972).
O que isto implica não é claramente obvio, mas é a própria clareira (no meio da floresta), ou seja, claridade, só é possível em um espaço de abertura prévia, algo que aparece, uma “presentação”.
Dito explicitamente pelo próprio Heidegger: “O raio de luz não produz primeiramente a clareira, a abertura, apenas percorre-a. [Ele] só pode brilhar se a abertura já é garantida”, assim é um evento no tempo, e talvez quiçá este tempo de ocultamento da Pandemia anteceda a uma “clareira”.
Será preciso “Mudar de via” afirma Edgar Morin em seu último livro, a humanidade mudará ?
Heidegger, M. O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1972.
________. La doctrina de Platón acerca de la verdad. Eikasia, Revista de Filosofía, v. 12, extraor- dinario I, 2007.
Idealismo e sua religião
Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar toda a essência do divino na vala comum do Idealismo.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, não há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não do objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, resulta em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos e então está ligado sempre.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar todo a essência do divino na vala comum do Ideal.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, n]ao há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não do objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, resulta em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar toda a essência do divino na vala comum do Idealismo abstrato.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, n]ao há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não da relação com o objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, que no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, já para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno e sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, que resultam em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.Iniciada com a crítica ao idealismo, em “A ideologia alemã” (1932), onde discorre sobre Feuerbach, B. Bauer e Stirner, que chega a chamá-los de são Buer e são Stirner, pela pretensão de serem teologias.
Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essência do pensamento religioso para Ludwig Feuerbach é separação do sujeito e os objetos sensíveis, pois para ele a consciência do objeto pode ser, embora distinta da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.
Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos e então está ligado sempre.
A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar todo a essência do divino na vala comum do Ideal.
A consciência de Deus é a consciência em si do homem para ele, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus que é o conhecimento de si do homem, n]ao há um para-si de Deus ao homem.
A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx se voltará chamando-os de Velhos Hegelianos, e procura fazer aqui nova a sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx, mesmo criticando a principal tese ateia de Feuerbach: “o pensamento vem do sujeito”, e não do objeto
“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização (do objeto, do dinheiro, da economia, etc.).
Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (res – coisa) ou a objetivação para estes jovens “hegelianos”, onde vê a separação entre o sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) do indivíduo (visto numa autoconsciência) ao qual o religioso deve “assistir” e viver seu “concreto”.
A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável teria uma perspectiva, para os religiosos “puros” não.
Falta a esta religiosidade uma ascese que de fato os “eleve”, embora pareçam tão ligados aos temas contemporâneos, na verdade tem um deus idealista e não pretensamente realista como desejariam, seu concreto é o deus estado moderno sua economia, ou o direito positivista e sua visão estreita de justiça, resulta em uma ascese desespiritualizada.
Buscar as coisas do alto, esta é a ascese verdadeira.
A ética e a religião.
A ética e a moral sempre estiveram relacionadas a aspectos da religião, a modernidade as separou.
Hegel (1770-1831) apesar da crítica ao modelo kantiana, na tentativa de construir uma moral teleológica criou a “moral do estado”, que a partir de sua obra ‘Princípios da Filosofia do Direito’ passa por determinar como as instituições que a mediam a vida dos sujeitos a ela referentes como: uma pessoa em abstrato (o indivíduo) como é próprio do idealismo; um sujeito moral e não uma sociedade moral como sujeitos inclusive do estado morais, e, assim tendo um cidadão ético.
Para tal Hegel descreve um Estado moderno que propicia a plena efetivação da liberdade do indivíduo. Para ele cada item dessa tríade (Estado, indivíduo, Sociedade) pode ser analisado em separado, mas são produtos de iterações, que se desenvolvem para chegar ao subsequente.
De início, no §4, Hegel trata de introduzir a vontade livre como ponto de partida do direito e como mote de desenvolvimento da obra, como o é em toda a cultura idealista sobre liberdade:
“O domínio do direito é o espírito em geral; aí, a sua base própria, o seu ponto de partida está na vontade livre, de tal modo que a liberdade constitui a sua substância e o seu destino e que o sistema do direito é o império da liberdade realizada, o mundo do espírito produzido como uma segunda natureza a partir de si mesmo”.(Hegel, 1997)
O que ele chama de “liberdade realizada” se fará através de um Estado concebido por um direito abstrato, a moralidade e uma eticidade que se referem a ele.
A eticidade como foi definida por Hegel como: “…a ideia da liberdade enquanto vivente bem, que na consciência de si tem o seu saber e o seu querer e que, pela ação desta consciência, tem a sua realidade.” (Hegel, 1997), eis o idealismo é a consciência que determina a realidade.
Como o indivíduo tem uma liberdade institucionalizada, o direito abstrato é a suposta liberdade da vontade livre que se determina diante das coisas, clássica divisão idealista entre sujeitos e objetos, entre objetividade e subjetividade, assim para tomar posse, tornar-se proprietário, realizar contratos é criado um sujeito cognoscente, ciente de seus direitos, não se admitindo, porém a ignorância das leis vigentes e assim da consciência que cada pessoa tem diante dos objetos, tudo é estabelecido e guiado pelo estado, por sua eticidade.
Aqui há um aspecto central de nosso desenvolvimento, pois é no Estado que o indivíduo encontra as possibilidades do bem comum ser realizado, pois na vontade particular de cada um deseja do bem comum, será o que o faz do cidadão um ser verdadeiramente livre, que não é senão interesses arbitrários entalecidos pelo Estado.
A crise da moral das instituições (e do estado) se d]ao pela construção de um indivíduo abstrato, de nações e não de povos, não são sujeitos, o que ocorre é segundo regras morais pré-estabelecidas por interesses, mas cuja eticidade é questionada.
Num tempo mais recente, a partir de estudos de Husserl, depois de Heidegger, e recentemente por Paul Ricoeur e Emmanuel Lévinas, a etica ontológica é feita a partir do Outro.
Paul Ricoeur sofreu influências e manteve uma atitude dialogante com Mounier, Marcel, e muitos outros, mantendo uma atitude dialogante com os quais manteve uma relação pessoal.
Olhar aspectos da pessoa (do Outro) da natureza aqui é possível o diálogo com a religião.
A eticidade como foi definida por Hegel como: “…a ideia da liberdade enquanto vivente bem, que na consciência de si tem o seu saber e o seu querer e que, pela ação desta consciência, tem a sua realidade.” (Hegel, 1997), eis o idealismo é a consciência que determina a realidade.
Como o indivíduo tem uma liberdade institucionalizada, o direito abstrato é a suposta
Referências:
HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução: Orlando Vitorino. SP: Martins Fontes. 1ª edição. 1997.
Amigos e não servos
A amizade é um elo que permite a reciprocidade, afirma Byung Chul Han em seu livro No enxame: Perspectivas do digital: “O poder é uma relação assimétrica. Ele fundamenta uma relação hierárquica. O poder da comunicação não é dialógico. Diferentemente do poder, o respeito NÃO É necessariamente uma relação assimétrica. Sente-se, de fato, frequentemente respeito por pessoas exemplares ou por superiores, mas o respeito “recíproco” que se baseia em uma relação simétrica de reconhecimento, é fundamentalmente possível.”
Esta relação significa que podemos estar ou não em reciprocidade, e podemos estar ou não em relações saudáveis de amizade, de afetividade e de amor (no sentido de ágape), não significa que as outras relações não existam, por exemplo, autoridade civil, social ou religiosa por quem se deva realmente ter respeito como “autoridade” e não por imposição ou medo, este caso só se justifica quando há uma clara intensão de transgredir direitos e deveres sociais.
Numa sociedade autoritária o único respeito é o hierárquico, as regras morais estão esquecidas, a ética serve apenas a lógica do poder e o respeito mútuo é confundido com total “liberdade”.
Não se passa direto ao plano do amor sem passar por alguma empatia individual ou recíproca que é a mais desejável, porém mesmo quando a relação é assimétrica alguém que tem respeito consegue permanecer de alguma forma no modo empático, ainda que haja limites aceitáveis, a não violência, por exemplo.
Na passagem bíblica que o Mestre explica aos discípulos que tipo de amor deviam ter, aquele amor “como eu vos amei” (Jo 15:12), ele acrescenta: “Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15), isto implica uma relação de simetria e de reciprocidade como indicado atrás.
Jesus mostra isto ao lavar os pés (foto), porém sua amizade foi ao limite: deu a vida pelos amigos.
Esta é uma boa síntese de amizade, ninguém tem mais amizade (ou amor) do que aquele que dá a vida pelos amigos.
A relação entre amizade e amor
Philia traduzida do grego, romanizado vira filia, mesma raiz de filhos, filiação e afiliação, onde o a aqui não é negação mais inclusão, no sentido de pertencer, afiliado a uma instituição, por exemplo.
Nesta raiz grega se encaixam tanto amor como amizade, filo-sophia, amor ou amizade a sabedoria, entretanto o amor poderá ser também (já fizemos um post) como a amizade do tipo eros ou ágape, que neste caso supera a amizade.
Amizade pode crescer e se tornar um amor agápico, isto é, capaz de criar confiança e acima de qualquer interesse, e neste caso amizade e amor se complementam e se ampliam.
Em termos humanos, culturais e espirituais é o que favorece o bom desempenho e a saúde mental de uma pessoa, assim a desconfiança e a inimizade que podem chegar ao ódio é causa de muitas guerras, pois o interesse econômico, político ou social sem laços verdadeiros não é outra coisa.
Não há como romper uma espiral de ódio quando ela cresce, muitas guerras e regimes totalitários são prova disto, e a raiz está em cada célula social onde a amizade e o amor deixaram de existir.
De outro lado quando estes laços crescem e se espalham em rede, tudo torna-se saudável e há um ciclo virtuoso onde os melhores valores humanos e sociais aparecem: solidariedade, fraternidade e aquilo que chamamos de amor agápico, que vai além de qualquer interesse, é uma “amisticia”.
O pensador romano Cícero tem um texto exatamente com este nome e diz no texto: “Este é o primeiro preceito da amizade: pedir aos amigos só aquilo que é honesto, e fazer por eles apenas aquilo que é honesto”, assim esta é a origem de uma sociedade que se pretende feliz e pacífica.
Amisticia
Tem origem no latim que vem a palavra e significa generosidade, proximidade, embora existia a graduação do grego e colocamos seus significados no posto anterior, na verdade está relacionada naquele caso a um afeto, mais interessado ou menos e aqui vindo do latim, significa uma escolha.
A ideia de proximidade pode unir e sintetizar os dois significados, embora hoje se fale muito do ser relacional, o ser proximal (a palavra não existe) é superior a relação e em tempos de redes (deveria ser de mídias e não rede, que é relação) esta relação não significa ter proximidade, assim é uma definição restrita, pode ter relação mas fora dela.
Pode-se retirar de cada aspecto algo positivo, estar em relação é melhor que indiferença que é a ausência dela, enquanto proximidade significa a possibilidade de uma amizade com vínculos mais profundos e isto deveria incluir uma forma de Amor superior ao interesse, ao simples afeto ou a simples relação.
Conscientemente ou não, é esta forma de relação que todo ser humano busca, na maioria das vezes de maneira oposta, incorreta ou sem profundidade.
Que forma de amizade é esta buscam filósofos, poetas, místicos ou religiosos, onde ela está? Perguntam, será que os que dizem tê-la encontrado a encontraram? Isto tem relação com a verdade.