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Os limites perigosos da guerra

10 jul

Depois de um bombardeio matar civis na região de Lviv, na madrugada de ontem um bombardeio de avião atingiu um prédio escolar que era usado para ajuda humanitária na região de Zaporíjia, na Ucrânia, matando 4 pessoas e ferindo outras 13, desde o início da guerra a Rússia nega ter alvos civis, mas o massacre na região de Bucha ficará marcado na história (na foto a cidade de Mariupol atual).

Por outro lado, os Estados Unidos devem oferecer bombas fragmentadoras, que mutilam e matam na região onde são usadas, fazendo uma análise puramente militar que os avanços da contraofensiva ucraniana aconteceriam de forma mais rápida.

Na Espanha que terá eleições no próximo dia 23, a ministrada da defesa Margarida Robles se opõe ao envio deste tipo de munição enquanto a Alemanha se opõe a entrada da Ucrânia na OTAN, uma vez que em período de guerra um país não pode aderir ao tratado.

O primeiro ministro britânico acompanhou a posição espanhola, mas declarou aos repórteres que “continuaremos a fazer nossa parte de apoiar a Ucrânia contra a invasão ilegal”.

O ex-presidente e ex-primeiro ministro da Rússia Dimitri Medvedev voltou a referir-se a um “armagedom nuclear” devido ao apoio americano a guerra e a posição sobre bombas ilegais.

A polêmica com o grupo de mercenário russos Wagner continua, e o envio novas tropas russas na ordem de centena de milhares para a frente de combate indicada que a denúncia do grupo que os generais omitem o número de mortos é provavelmente correto, e o número de baixas da guerra pode maior do que o noticiado.

Certamente o número de mortes deverá continuar e o perigo nuclear entra cada vez mais nas reportagens mundiais, espera-se juízo e equilíbrio em meio a uma situação difícil da história mundial.  

 

Mercenários, combates intensos e paz dificil

03 jul

A guerra no leste europeu continua sendo centro de preocupação para a paz mundial, após alguns avanços do exercito ucraniano, a Rússia voltou a avançar no leste em combate descritos como “ferozes” e avanços lentos dos ucranianos no sul, porém são as ameaças em torno maior usina nuclear da Europa, a Zaporizhzhia que ainda preocupam.

Seguem os debates em torno do grupo Wagner, seus reais objetivos e os perigos tanto para os russos como para o ocidente, já que seus métodos e interesses são impiedosos e cruéis, e pensar que poderiam ter acesso ao arsenal nuclear torna o fato ainda mais perigoso.

O papa envio um bispo para conversas com a igreja ortodoxa russa, que pode ser mediadora também, uma vez que tem acesso a Putin e o diálogo religioso entre as igrejas pode favorecer um futuro acordo d paz.

O envolvimento da OTAN e de seus aliados europeus cresce a cada passo novo na guerra, e agora o chanceler russo Lavrov passou a dizer que Zelensky é uma marionete o que acirra o confronto com a Europa e eleva o nível de tensão.

Até o início do outono europeu (primavera aqui o sul do hemisfério) a guerra deve permanecer intensa, mas com poucos avanços de lado a lado, o problema do outono lá e a proximidade do inverno é que se tornam mais estratégicos devido ao clima, a dependência de energia e um crescente aumento de dificuldades de movimentação no solo, até lá é importante alguma estratégia de paz.

O mundo espera por alguma trégua, porém o cenário é cada vez mais complexo, uma vez que o ocidente, através da OTAN se envolve cada vez mais no conflito, enquanto o desprezo e a crueldade russa com a Ucrânia crescem a cada combate uma vez que as perdas de vidas acirram o clima de animosidade e a situação econômica se deteriora.  

O mundo e as pessoas de bom senso esperam pela paz, por uma solução negociada e a retomada da vida pacífica na região, que também melhoraria a condição humana no mundo.

 

Tensão interna na Rússia e a Paz

26 jun

No sábado (24/06) aconteceu um levante de tropas aliadas ao grupo mercenário Wagner, de Yevgeny Prigozhin, dono de restaurantes empresas de catering na Rússia, chamado de “Chef de Putin”, mas ele próprio gostaria de ser chamado de açougueiro pela crueldade de suas tropas.

Partindo da cidade estratégia militar de Rostov on-Don no sul da Rússia e próximo ao Mar Negro, portando perto da costa onde a Rússia invadiu o território da Ucrânia, após a tomada da base militar russa, o grupo caminhou em direção a Moscou e em poucas horas estava apenas a 200 km em Moscou, que já havia tomado providencias com barricadas e até houve uma explosão em tanques de petróleo, em Voronezh, próximo a Moscou (foto).

Também foi registrado o abate de pelo menos 6 aeronaves e um helicóptero, entretanto a entrada em Moscou não seria pacífica e outras bases viriam para combater o grupo rebelde, Putin considerou uma “punhalada pelas costas” e inicialmente condenou Prigozhin e seus aliados ordenando que fossem capturados e chegou a dar uma declaração em rede estatal.

Como intervenção do presidente da Bielorrússia Aleksandr Lukashenko foi feita uma negociação, cujos termos não são claros, porém que isenta Prigozhin e seus aliados de qualquer culpa e foi oferecido asilo político na Bielorrússia, e as tropas recuaram pra evitar “um banho de sangue” e na noite de sábado a rebelião já havia recuado as bases de Rostov on-Don.

Foi visto um avião presidencial russo indo em direção ao norte, mas a informação local é que Putin não estaria a bordo, houveram diversas análises e teorias da conspiração, mas o abate de aeronaves e exílio e acordo com Prigozhin demonstram uma fragilidade interna de Putin.

É bom pensar que uma eventual tomada de poder de Prigozhin é mais perigosa que a própria guerra travada por Putin, uma vez que teria um enorme arsenal bélico nuclear em suas mãos.

Em meio a uma contraofensiva da Ucrânia tudo isto significa mais guerra e distancia a paz.  

Faltam pacifistas sinceros que não sejam aliados de ditadores e cruéis mercenários, mas temos esperança que ela virá se corações e mentes se desarmarem.

 

Esperança de paz e armas táticas

19 jun

Em meio a tentativas internacionais de intermediar a guerra na Ucrânia, vários países africanos liderados pela África do Sul através de seu presidente, visitaram no final da semana passada a Ucrânia e a Rússia, os resultados não são esperançosos, mas cada tentativa de paz é um novo alento e cresce a opinião pública internacional por uma paz negociada e diplomática.

A missão além do presidente da Africa do Sul Ramaphosa, estavam também os presidentes do Senegal Macky Sall, da Zâmbia Hakainde e de Camores Azali Assoumani, além de altos representantes congolenses, ugandeses e egípcios.

Na Ucrânia além de conversas com o presidente Zelensky, visitaram o cemitério onde estão centenas de civis da cidade de Bucha, uns dos maiores massacres promovido pela invasão russa e lá depositaram flores.

No fim da semana visitaram Putin e ouviram a tradicional retórica que a Rússia não tinha outra saída para sua segurança, e que a negociação deve incluir os territórios conquistados na guerra.

A preocupação principal dos países africanos é a entrega de grãos tanto da Ucrânia quanto da Rússia e que uma crise internacional pode afetar a segurança alimentar, em especial, dos países mais pobres, o que inclui a África.

A Rússia concretizou o envio de armas “táticas” para a Bielorrússia, seu tradicional aliado nesta guerra, afirmando que o objetivo não é utilizá-las, mas tem o objetivo “tático” de defender as fronteiras incluindo a de seu Aliado.

O envio de caças e tanques para a guerra é um combustível a mais para a Ucrânia, e já mudou o cenário nuclear, países que optavam por desarmamento e politicas “verdes” abandonam esta perspectiva, um exemplo é a Alemanha que aumentou pela premira vez desde a segunda guerra mundial, seu orçamento militar.

Porém a propaganda interna de Estado, que domina praticamente todos meios de comunicação, é que com armas nucleares a Rússia é mais forte poderá usá-las se necessário.

O conflito já ultrapassou todas as fronteiras, poucos são os países que não se posicionaram, no entanto, a formação de um bloco que deseja a paz é fundamental para uma saída mediada.

 

Por onde resolver a crise civilizatória

16 jun

Desenvolvemos durante esta semana a ideia que entre tantas sombras, ainda a luz e sal para dar sentido e vida ao processo civilizatório, é possível superar a cólera da guerra e o ódio das diferenças de opinião se introduzirmos na sociedade elementos novos de vida saudável.

Desde ONGs e voluntários que trabalham em campos de guerra, até pessoas que trabalham com determinação e autocontrole num cotidiano cada vez mais difícil e intolerante.

Não há regra geral, é preciso acelerar o processo diplomático para entendimento e superação de guerra, é preciso avançar um processo de educação de um homem integral que saiba lidar com diferentes fatores da vida social, incluindo as diferenças étnicas, políticas e religiosas.

O crescimento do círculo egocêntrico devido a ideologias e bolhas de círculos fechados, eles reforçam o pensamento individualista e grupal, pode ser alterado alargando os círculos de convivência e permitindo e dando pertencimento a grupos e pessoas excluídas.

Mas é preciso sobretudo fortalecer o tecido saudável, a pouca luz e o pouco sal que mesmo sendo pouco pode fazer a diferença e mudar ambientes, grupos e até nações inteiras lhes devolvendo a autoestima ao mesmo tempo que desenvolve a tolerância com outros povos.

O cenário trágico que se desenha pode ter seu curso alterado, porém é preciso primeiro salvar aquele tecido sadio onde ainda se respira o respeito, a tolerância e a paz social.

As religiões e os grupos sociais mais pacíficos e responsável, o descontrole preso ao ego é infantil como desenvolveu Freud, pode ceder lugar a relações maduras entre pessoas, grupos e povos.

Na passagem bíblica em que Jesus observa que as multidões estavam “como ovelhas sem pastor” (Mc 1,15) ele não apenas estimula os discípulos a ajuda-las, mas também lembra que que primeiro: “6Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” e diga que o “Reino dos céus está próximo” e ele não virá pela mão de poderosos e narcisistas, e sim da vida e da palavra destes seus seguidores.

 

Promover o bem e a paz

14 jun

As convicções e teorias que levam os homens tanto ao processo civilizatório como ao seu oposto, a barbárie, partem de motivações interiores e elas tiveram diferentes contextos em momentos da história, acompanhado a reflexão de Freud em sua análise do “mal-estar” diz:

“vemos que esse sentimento do Eu que tem o adulto não pode ter sido o mesmo desde o princípio. Deve ter passado por uma evolução que compreensivelmente não pode ser demonstrada, mas podemos construir com certo grau de probabilidade” (FREUD, 2010, P. 12).

Mas antes de fazer uma análise histórica, ele parte da vida intrauterina, aquilo que também Peter Sloterdijck vê como esfera primordial, ele ainda não separa o Eu do mundo exterior, mas aprende a fazê-lo aos poucos, “em resposta a estímulos diversos”, mas parte de um interior.

Assinala Freud: “É assim que ao Eu se contrapõe inicialmente um “objeto”, como algo que se acha “fora” e somente através de uma ação particular é obrigado a aparecer. Um outro incentivo para que o Eu se desprenda da massa de sensações, para que reconheça um “fora”, um mundo exterior, é dado pelas frequentes, variadas, inevitáveis sensações de dor e desprazer que, em sua ilimitada vigência, o princípio do prazer busca eliminar e evitar”. (FREUD, 2010, os. 12-13).

Explicará assim o seu isolamento e egocentrismo, porém se não avança para a idade adulta e não sabe conviver com contradições e desprezares, permanecerá neste circulo “infantil”, na bolha onde tudo parece girar ao seu redor e feito para seu prazer.

E continua: “As fronteiras desse primitivo Eu-de-prazer não podem escapar à retificação mediante a experiência” (p. 13), senão surgirá a tendência de se isolar e nisto consiste a dificuldade de promover o bem e a paz social, que inclui o outro, a sociedade e os povos.

Assim são mais adultos, mais maduros aqueles que promovem a paz, o bem-estar e o diálogo social, e mais infantis aqueles que promovem a guerra, o ódio e a intolerância.

O fato que desde a educação familiar até a adulta não se imponha as dificuldades e ensine a conviver com eles, com o desprezar e as perdas criou um círculo vicioso e egocêntrico de bolhas, onde os povos e as culturas não podem conviver sem a guerra e sem a tolerância.

Continuam haver instituições, ONGs e pessoas que promovem o diálogo, a paz e se opõe de modo claro a guerra, a falta de liberdade de expressão, às ditaduras e culturas autocráticas.

Felizes os que promovem a paz, os que promovem o bem-estar social e cultuam a empatia.

 

A cultura e mal estar civilizatório

13 jun

Em análise do livro mal estar da civilização, Freud analisa corretamente aquilo que é instintivo de querer dominar sobre o outro, em sua análise psicológica é com o id que prevalece na infância e é possível demonstrar que todo processo civilizatório de alguma forma privou a satisfação dos seres humanos e dos povos de alguma forma.

Esclarece no início de sua obra: “é difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, de que buscam poder, sucesso e riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, subestimando os autênticos valores da vida” (Freud, 210, p. 10), esclarecendo a seguir que deve se evitar a generalização.

Ainda que negue de início um juízo sobre a religião, em um suposto diálogo de cartas com algum interlocutor, ele descreve o que “gostaria de denominar a sensação de ´eternidade’, “um sentimento de algo ilimitado, sem barreiras, como que ‘oceânico’.  Seria um fato puramente subjetivo, não um artigo de fé; não traz qualquer garantia de sobrevida pessoal, mas seria a fonte de energia religiosa de que as diferentes igrejas e sistemas de religião se apoderam, conduzem por determinados canais e também dissipam, sem dúvida” (idem).

O autor faz uma constatação antropológica, sociológica e até certo ponto clínica que demonstra tanto a natureza construtiva como destrutiva do homem em função das pulsões de vida e de morte, escrita no período entre guerras (1918-1939), revela o esforço para evitar que os ímpetos hostis a espécie humana ultrapassassem a barrira do superego da civilização.

Freud expressava assim o medo da guerra em seu tempo: “[…] os seres humanos atingiram um tal controle das forças da natureza, que não lhes [seria] difícil recorrerem a elas para se exterminarem até o último homem” (FREUD, 1930, 2010, p. 79), assim o sistematizador da psicanálise parecida enxergar além de seu tempo, vendo os limites do horror em nossos dias.

De fato, o desejo humanizador civilizacional não é específico desta ou daquela religião, mas quando o cristianismo chama homens e mulheres a serem “Sal da terra e luz do mundo” é para que além do poder, da capacidade destruidora que povos e nações tem, estas forças sejam usadas para o progresso de toda a humanidade e não de determinado grupo ou visão social.

As tecnologias e forças vitais retiradas da natureza não podem servir a outro intuito que não seja o de propiciar o bem-estar ao maior número de pessoas possíveis, este é o sentido da vida e nela se fundamentam o sal que dá gosto ao alimento e a luz que ilumina os povos (na foto o sal do Himalaia).

 

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização (1930). In: FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias e outros textos (1930 – 1936). Obras completas volume 18. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

 

Guerra e ações humanitárias

12 jun

A explosão da barragem na região de Nova Kakhovka, região de Kherson, despertou um sentimento humanitário mais forte devido ao desastre que é também ambiental e que afeta todos os moradores daquela região, incluindo a Criméia que é domínio russo.

Apesar de ser um desafio enorme e perigoso, a Ucrânia é vitima de bombardeios quase todos os dias, muitas organizações humanitárias ajudam as pessoas que vivem lá ou que estão retornando (é grande o número que resolveu correr o risco), segundo a ONG Zoa, a ajuda de diversas ONGs já atingiram cerca de 5,5 milhões de pessoas.

Uma das regiões destruídas ao norte, que faz fronteira com a Rússia e a Bielorrússia é Cherniguive ou Chernigov, lá a ONG Zoa ajuda a reconstruir a vida e dá assistência às pessoas, isto é um modo de encorajar as pessoas a continuarem vivendo lá (foto créditos da ZOA).

A Islândia rompeu relações diplomáticas com a Rússia devido a guerra, Putin promete retaliar.

Certamente a vida na Ucrânia nunca mais será a mesma, e gerações lembrarão deste horror como lembram do Holodomor (1932-1933) no período stalinista, um dos motivos que separa povos que do ponto de vista étnico são próximos.

A guerra entra num período de possibilidade de escalar para outros países e explodir numa nova catástrofe mundial de uma guerra global, a Rússia já deslocou armas nucleares “táticas” para a Bielorrússia, uma ameaça clara aos países que ajudam a Ucrânia.

As tentativas de estabelecer a paz ou um cessar fogo são cada vez mais desesperadas e com poucas chances de sucesso, porém elas continuam acontecendo, neste momento são heroicas.

A etapa dolorosa e perigosa que representa a contraofensiva ucraniana e as ameaças russas, representam os limites de uma guerra total ainda mais cruel e perigosa, muitos países já se posicionam por uma intervenção possível e apoio a um dos lados nesta guerra insana.

O apelo deve ser ao bom senso, aos verdadeiros valores humanitários e ao perigo de uma crise civilizatória sem precedentes.

 

Dialogo e diversidade

09 jun

O choque entre duas concepções hegelianas de estado e a ausência de diálogo e novos horizontes estão entre as causas da crise civilizatória.

Tanto os velhos hegelianos modernistas quanto os novos revolucionários apontam uma visão de estado com um discurso único, ausência de diálogo e tolerância, esta é a raiz da crise.

O que notamos é a superficialidade deste problema de fundo, cada qual criando verdade que pensam ser universais e as vezes são até mesmo bizarras, como elas estão apenas no nível das ideias e não correspondem ao real não contribuem para uma saída real da crise civilizatória.

Todo dia despontam “sábios” de algum tipo que já tem a saída para grandes problemas que envolvem lideres, nações e culturais que se desenvolveram, em general já criaram raízes e tem grande dificuldade de dialogar com outras visões de mundo.

A convivência na diversidade é fundamental para uma sociedade democrática, quando só uma visão de mundo e uma forma de administrar o estado é imposta uma parte da população está fora deste diálogo e não verá oura saída a não ser a rebelião, ao nível do estado significa guerra.

Vivemos duas guerras mundiais fruto de uma concepção colonialista de estado, entretanto a atual é mais grave porque se trata de uma visão de hegemonia imperialista de forças opostas.

É verdade que há forças sociais se esforçando para abrir um caminho de diálogo, porém no campo diplomático ela tem fracassado, não por falta de propostas, mas por alinharem-se de modo discreto a um dos lados em conflito.

No campo religioso isto também ocorre, a visão farisaica que não é possível dialogar e ver como importante a convivência com “pecadores” e “cobradores de impostos” (os que gerem mal o estado ou se corrompem hoje) está descrita em Mateus 9,11-13:

“Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício.’ De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.

O sacrifício de milhões de inocentes ocorre numa guerra porque não há força que dialogue com o pecado do conflito, do ódio e da guerra sem limites humanos e morais (na foto a explosão da barragem em Nova Kakhovka, região de Kherson).

Sem tolerância e diálogo nenhuma paz é possível, e neste momento a civilização vive a crise.

 

A civilização e o dissenso

06 jun

Há “Um Mal na civilização” escreveu Sigmund Freud em 1929, depois de seu apelo chegou onde previa a 2ª. Guerra mundial, neste momento extrapola o cultural e é quase só psíquico, a razão e o pensamento elevado não andam em moda, invertem-se valores, resta o divã.

Num momento assim tudo em volta piora, não é só a economia e a política, os gastos com medicamentos e médicos aumentam, distorcem-se as capacidades educativas e de justiça em defesas e acusações com auxílio de advogados ou defensores públicos sem alterar o rumo do dissenso, reduz-se o tempo e os conteúdos para educar o diálogo, o critério e a razão.

Também nas áreas educacional e social; o excesso de ações e tentativas de modelos, que são motivadas por incompreensões de parte a parte, modelos teóricos e métodos didáticos, vivem com a dificuldade de encarar o dissenso e  resultam muitas vezes pela perda total da hierarquia ou senso de valor, pela dificuldade de aceitar (ou exercer) o que seria autoridade.

Ao mesmo tempo que a autoridade se confunde com autoritarismo, desorganiza a missão escolar e impede muitas vezes que discursos públicos de discussão e dialogo responsável sejam exercidos, os valores, até mesmo espirituais desmoronam, tudo parece ruir em cascata, mas há esperança.

As vezes resta só ouvir e ficar em silêncio, as vezes é preciso corrigir com coragem, porém o diálogo é sempre possível, e a escuta paciente pondera mesmo quando diverge.

É preciso modelos que correspondam a vida, ao convívio social ético e moral, salvar a empatia e o respeito mútuo, quando apenas alguns querem respeito que não oferecem aos outros, não há como iniciar um processo de diálogo profícuo.

Há nichos de convivência civilizatória, há povos e locais onde o dissenso não se instalou, onde o ódio não venceu e a esperança ainda vive.

Encontrar e dar valor a estas pequenas luzes que iluminam a noite civilizatória é fundamental, senão médicos, psiquiatras e métodos educacionais não serão funcionais, não terão vida.