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LockDown da calamidade e a Variante P1
Poderíamos desde o início da pandemia ter mitigado os períodos mais críticos da pandemia com fases de lockdown e abertura, entretanto quase sempre se vacilou pela impopularidade da medida, principalmente ao comércio e a alguns ambientes que priorizam os lucros às vidas, porque vários setores não essenciais poderiam ter fechado, sem falar da irresponsabilidade de festas e aglomerações para algum tipo de “festa”.
Agora quase todo país na fase vermelha que indica o esgotamento dos hospitais e números recordes de contaminação e mortes, ainda titubeamos em medidas duras, mas necessárias.
A variante brasileira do vírus, chamada de P1 é mais contagiosa e para a qual a vacina Coronavac se mostra menos eficaz ainda, e a AstraZeneca que é mais eficiente ainda está em fase lenta de vacinação, no total ainda não vacinamos 10% da população e a redução de 8 milhões de vacinas foi anunciada pelo próprio governo.
Os países que aumentaram a eficiência da vacinação combinaram lockdown com vacinação, porque o contato de vacinado com pesquisadores da Universidade Imperial College London e da Universidade de Leicester explicam que o contato entre vacinados e variantes podem dar origem a mutações “superpotentes” que são capazes de driblar a ação imunizante, e isto no Brasil pode tornar-se uma bomba pandêmica.
A calamidade na qual estão quase todos estados e a maioria das cidades, pode colocar um pouco de juízo na cabeça daqueles que gerenciam a crise, não apenas o governo central, mas também os governos estaduais e os prefeitos de cidades brasileiras.
A variante P1 já é temida, muitos países já cuidam da migração brasileira temendo que a variante se espalhe e contamine o processo que em muitos países já é de redução da pandemia, é triste para o Brasil, mas devemos entender estas medidas como necessárias.
É certo que alguns serviços não podem parar, há sim serviços essenciais e eles devem estar ativos para que não aconteça um desabastecimento, uma perda de poder aquisitivo ainda maior, algum já é observado em todo mundo, porém a vida precede aos ganhos e são necessárias medidas que garantam o mínimo de sacrifício, em especial aos mais pobres.
É necessária uma medida dura e sem ela pode-se comprometer até mesmo a vacinação, e também é preciso cuidar desde já a eficácia contra a variante P1 já presente na maioria das cidades brasileiras.
Serão semanas duras e devemos todos nos cuidar com maior rigor e entender se as autoridades tiverem que tomar medidas restritivas, o cenário é praticamente de uma guerra.
É quase impossível na conjuntura brasileira pedir isto, mas seria bom uma solidariedade maior e verdadeira para enfrentar o momento mais crítico da pandemia.
Variante, vacinação lenta e a terceira onda
As variantes são várias, destacam-se a da África do Sul, a Brasileira e a Britânica, apesar de haver controvérsias sobre a gravidade delas o certo é que a propagação do vírus é mais rápida, e no caso brasileiro já parece estar presente em boa parte do território brasileiro, não há isolamento de regiões e o combate a pandemia é um dos mais ineficientes e titubeantes.
A vacinação segue lenta, porém os resultados na Europa são mais eficazes porque estão combinados com as políticas de restrições e confinamentos, e também estão no final do inverno, e espera-se que a chegada de novos lotes de vacinas, a AstraZeneca confirma um lote de 10 milhões de vacinas para o Brasil neste final de fevereiro, mas é lenta a vacinação também em outros países.
A chamada terceira onda é decorrente da Europa da liberação para o Natal e final de ano, muitos governos reconheceram o erro, aqui no Brasil as praias continuam registrando movimento e não há uma política clara de evitar aglomerações, não se trata apenas de fechar lojas e comércio, como algumas cidades fizeram até com supermercados, o problema central é a consciência.
A terceira onda veio então por causa da liberalidade das festas de fim de ano, e logo em seguida quase toda Europa fechou, incluindo a Suécia que era mais liberal até a chegada do inverno, o único país que começa a liberar aos poucos é a Grécia porém teve um #lockdown bastante austero.
Outra preocupação é com a terceira onda é a variante, a infecção é mais rápida e rapidamente lota os hospitais e cria uma situação de caos no já estressado sistema de saúde que luta a um ano com os casos mais graves, oficialmente os números da Covid caem no mundo todo e está freado na Europa, porém as medidas continuam severas.
O número de vacinados no Brasil supera 5,5 milhões, porém o ritmo poderia ser maior, o problema é o abastecimento, estão prometida para março mais 18 milhões de doses da Coronavac e 16,9 milhões da AstraZeneca, as outras União química/Gamaleya e Precisa/Bharat Biotech estão no cronograma, ainda para o primeiro semestre, os laboratórios produzem as vacinas Sputnik V e Covaxin, respectivamente.
O estado de Amazonas tem percentualmente o maior número de vacinados 4,87% enquanto São Paulo tem o maior em números absolutos um total de 1.620.182 vacinados num percentual de 3,5% população, já havendo um grande percentual de segunda dose.
O mapa acima mostra os percentuais no Brasil todo da vacinação.
Rever a vida e reeducar-se para viver
Parte da crise econômica mundial, esta é análise de Morin é além da econômica, a moral e ética, no seu sexto livro sobre o Método da complexidade, ele desenvolve a análise antropológica, histórica e filosófica do problema, explicando que ela parte de um conceito inspirado em Kant.
Define-se aí a ética como exigência moral auto-imposta, em lugar dos imperativos provindos da razão prática, na ética de Morin a partir da complexidade, ela provém de três fontes: uma interna, análoga a nossa consciência, outra externa simulada e orientada pela culturas, crenças e normas pré-estabelecidas na comunidade, e de fontes anteriores que são a própria organização dos seres vivos e transmitida geneticamente.
Sua ética apresenta assim uma ética que exige uma reflexão quanto as nossas escolhas morais, sociais e de valores que levamos ao nosso cotidiano, aqui a crise civilizatória é grave.
Porém a ética Kantiana favoreceu a uma ética autocentrada, egocêntrica, segundo meus interesses e minha vontade, ignorando que ela deve compartilhar com o outro, e isto significa que devemos também nos orientar a uma visão sensível ao conjunto da sociedade e aqueles sem voz.
Em tempos de pandemia fomos “obrigados” por razões de saúde pública, mas também de educação, a limitar nossos movimentos, a guardar um isolamento social seguro, e a olhar para cada pessoa e se sentir responsáveis por ela, será que é isto que todos fazem
Esta aparente limitação de liberdade é na verdade aquela que já devia estar incorporada em nossa ética social, sem uma educação consistente para a prática da fraternidade e de um olhar atento e sensível ao outro, podemos cair num vazio social e alimentar a crise civilizatória já presente.
É preciso passar por um longo caminho de reflexão pessoal e estar disposto a mudar hábitos e atitudes para ajudar o conjunto da sociedade a sair de uma crise que é sanitária, mas também social.
A quarentena e a quaresma
Aqueles que conseguem viver esta longa quarentena, que entra pelo segundo ano, como perspectivas e esperanças é verdade, mas também com angústias e preocupações, entendem que há para todos um motivo de atenção, alento e preocupação, em especial com os angustiados.
Não houve carnaval, e não há motivos para festa, é verdade alguns grupos insistem, mas se olharmos para o número de pessoas em comparação com o conjunto da sociedade são uma minoria, a maioria está preocupada e deseja que logo tenhamos uma saída deste sofrimento.
Para os cristãos é um período de oração, jejum e abstinência, significa abster-se de algumas coisas que o novo normal já está nos tirando, porém pode-se fazer isto voluntariamente, pensando no conjunto da sociedade que sofre.
Representante do catolicismo, mas também da cristandade, o papa Francisco sempre olha para toda a família humana com ternura e paixão como um bom latino, em sua mensagem do dia 12 de fevereiro convidou-nos “Vamos subir a Jerusalém … “ (Mt 20,18) que significa como ele próprio explica um “percurso de conversão, oração e partilha de nossos bens”, e assim viver esta Quaresma com o olhar atento a quem sofre o abandono e a angústia por causa da pandemia (na foto a porta que onde Jesus iniciou seu caminho final em Jerusalem).
Jesus ao aproximar-se de Jerusalém vai para lá para viver os dias da Pascoa judaica, os judeus já a comemoravam e comemoram até hoje, mas nem sempre coincide devido ao calendário judaico ser diferente do nosso cristão, porém o cordeiro que é “imolado” durante a Páscoa, referente ao sacrifício que Abraão fez no lugar de seu filho, é na Páscoa cristã o próprio Jesus este cordeiro.
A quarentena de todos é a pandemia, dizer palavras de incentivo que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam e desprezam enfatizou o papa.
Penso que devido a conjuntura de quarentena será uma Quaresma diferente, em que iremos em profundidade nas nossas dores como humanidade, e poderemos pensar num futuro muito mais a frente mais promissor e cheio de esperanças, a Quaresma não é apenas a morte, passamos por ela, mas a ressurreição que está do outro lado para aquele que aceita passar pela porta estreita.
Toda humanidade sofre, assim é um momento da paixão de toda humanidade, e aqueles que são fraternos e solidários saberão o caminho para aliviar as dores daqueles que sofrem.
É hora de pensar no essencial da vida, rever nossas falsas vias de progresso e nossa vida pessoal.
A porta larga dos equívocos modernos
Um grande número de enunciados, proposições e teorias científicas ou não emergem em meio ao período de pouca luz na cultura ocidental, crescem teorias apocalípticas e uma visão cada vez mais maniqueísta da realidade, a visão de uma lógica dualista e sem terceira hipótese.
Ao mesmo tempo descoberta como a física quântica, a holografia, e uma nova cosmovisão do universo emergem, porém há quem acredite que a terra é plana e que nunca fomos a Lua.
São demasiados problemas específicos para serem tratados, mas a filosofia de um modo geral contemporânea mais que neoliberal, este é seu aspecto pragmático econômico, ela é idealista e mesmo filosofo-youtubers que discursam sobre filosofia a seguem.
Kant é complexo, mas seu ponto central é a dicotomia entre sujeito e objeto, como elas não podem ser separadas, ao menos em termos de teoria do conhecimento, ele criou os juízos analíticos e sintéticos. Quem curamos a doença ou o doente, para Kant seria a doença, com olhar “de fora”.
O juízo analítico é aquele que o predicado está dentro do sujeito, e assim é ele que especifica sua lógica, e esta lógica vem de uma visão físico-matemática do conhecimento na modernidade.
Exemplifica usando figuras geométricas como o triângulo e o quadrado, claro este tem quatro lados, mas isto não é uma dedução e sim uma tautológica, definições circulares.
Já o juízo sintético ao contrário não pode estar contido no sujeito, assim acrescenta um raciocínio como algo completamente novo, ou seja, a novidade é o predicado.
Está muito simplificado, mas essencialmente desenvolve-se uma lógica onde Ser e Ente são coisas confusas e desmonta a possibilidade de uma ontologia, mesmo que seja parcial, e imaginava com isto jogar toda as “superstições” fora, o famoso “Sapere audi”, ousar saber.
Como a razão por si só não bastava, foi necessário introduzir a ideia do empirismo, que vinha das argumentações de David Hume (1711-1776, assim os juízos podem a priori, que já existem no sujeito, e a posteriori, adquirido experimentalmente.
Moritz Schlick (1882-1936), que fundou a escola neologicista do Circulo de Viena, criticou a base idealista de um conhecimento a priori, afirmando que uma vez que os enunciados têm uma verdade lógica, eles não são nem analíticos nem sintéticos, tal como argumentava Kant, pois era paradoxal; e que se a verdade depende do conteúdo factual, os enunciados são, portanto a posteriori e não a priori, uma vez que os fatos devem acontecer, Schlick foi assassinado pelo nazismo.
No círculo de Viena estiveram presentes Kurt Gòdel, Karl Popper, Hans Kelsen e outros.
Uma mesma proposição pode ser conhecida por agentes cognitivos tanto a priori como a posteriori, usando o mesmo exemplo de Kant, uma criação só sabe que o quadrado tem 4 lados depois que aprende a contar, enquanto para um adulto parece “indutivo”.
Assim o conhecimento é uma relação entre agentes cognitivos e as proposições, que primitivamente não são nem a priori nem a posterior, poderão ser conhecidas por fatos.
Em 1936 Husserl escreve sobre a “Crise dsa ciências europeias e a fenomenologia transcedental”, o conhecimento estava em plena crise, em meio a II guerra mundial.
O vídeo abaixo elucida o pensamento de Kant, com comentários de Antonio Joaquim Severino;
Variantes do coronavírus e liberação
Enquanto no Reino Unido já está confirmado que a vacina não funciona para a variantes do vírus, chamada de variante de Bristol e confirmada pelo governo britânico, a cientista britânica Sharon Peacock deu a péssima notícia na quinta-feira (11/2) que a variante já se espalhou pelo Reino Unido e irá varrer o mundo, então a crise da pandemia está longe do fim.
A AstraZeneca informou que levará 9 meses para a vacina estar pronta para esta variante, junto com a Universidade de Oxford a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) participam da produção da vacina.
No Brasil, informa a Agência Brasil, já foram identificados pela FioCruz a presença da variante P.! em mais 5 estados, além do Amazonas, Pará, Paraíba, Roraima, Santa Catarina e São Paulo, também as secretarias da Saúde da Bahia, do Ceará e do Pernambuco já identificaram a variante.
De acordo com o site Bloomberg o Reino Unido já está chegando a 52 milhões de vacinados (o páis tem perto de 67 milhões de habitantes), mesmo assim o LockDown ainda não foi aliviado, serve de alerta para outros países, é provável que possa abrir aos poucos, e deverão ser tomadas medidas gradativas estudadas caso a caso.
More Than 172 Million Shots Given: Covid-19 Vaccine Tracker (bloomberg.com)4
Resta saber como será pensado o caso da variante, de um pico de 52 mil casos no início de fevereiro caiu para 13 mil no sábado (13/02), mas a comunidade científica inglesa está analisando intensamente o caso da variante para tomar as medidas de liberação.
No mundo há uma queda para 410 mil casos, é uma queda lenta, porém já é possível pensar que mesmo com a variante há uma esperança que a vacina funcione dentro dos limites de eficácia.
Cabe a cada manter os cuidados e não relaxar enquanto os efeitos da vacina não forem sentidos.
Querer curar-se para um novo normal
Começaria hoje o carnaval no Brasil, há quem lamente esta impossibilidade mesmo pensando em uma pandemia que não dá sinais de enfraquecimento, mesmo países que avançam com a vacina, caso de Portugal, Inglaterra e Estados Unidos os sinais que o vírus circula ainda está mais forte.
O livro de Morin nos alerta para lições que a pandemia deveria ter nos ensinado, porém não é o que de fato se observa, assim não só precisamos de outras “curas” como a própria fragilidade humana perante o vírus e outras patologias, incluindo as sociais, podem permanecer.
É preciso querer curar-se e descobrimos que esta cura é coletiva e codependente, precisamos que todos sejam sãos e uma sociedade que não olha os mais frágeis ou que os despreza e condena a vida da solidão e da morte não alcançou ainda uma cura duradoura que aponte para uma solidariedade duradoura.
Aprendemos a dureza do isolamento e da solidão, mesmo que em família, porém quantas são as pessoas que vivem assim na chamada normalidade, que o novo normal traga um maior agregamento humano a todos, que se trace a partir de uma nova política aquilo que Edgar Morin chama de uma nova humanidade mais humana.
Que a vacina nos imunize, mas que aprendamos a co-imunidade como defendia Peter Sloterdijk já antes da epidemia, e não se referia a imunidade da doença, mas num sentido mais amplo, aquela imunidade que nos faz uma humanidade capaz de defender-se das tiranias e das doenças sociais.
A passagem bíblica em que um leproso se aproxima de Jesus e pede de joelhos: “Se queres tens o poder de curar-se”, Jesus, cheio de compaixão estendeu a mão, tocou nele e disse: “eu quero fica curado!” (Marcos 1,40-41).
Há dois pontos essenciais o desejo ardente com fé do leproso de curar-se e a compaixão divina para que ele fique curado, a fé e a retidão humana atraem o poder divino, os que creem sabem disto. Mas só o nosso desejo de mudar de via (veja os posts anteriores) podem tocar a misericórdia de Deus.
O mundo hoje quer mudar ou viver a frivolidade da normalidade anterior.
É hora de mudarmos de via
Não é proposta minha, mas o nome do último livro de Edgar Morin (Ed. Bertrand do Brasil, 2020), o quase centenário filósofo francês mostra as lições do coronavírus que resistimos em aprender, também é muito parecido ao nome do livro de Peter Sloterdijk: Tens de mudar de vida (editora Relógio d´Água, 2018), este bem antes do coronavírus.
Antes de passar a algumas lições de Morin, quero dizer que TODOS precisamos mudar de vida, o planeta se esgotou, as palavras se esgotaram, a política polarizadora nos esgota, e infelizmente as palavras adocicadas como “fraternidade”, “solidariedade”, “compaixão” e tantas outras parecem só uma vontade de alguns que os outros mudem, sem, contudo, que cada um mude primeiro a si.
O preâmbulo é uma retrospectiva histórica desde a gripe espanhola até maio de 68 e a crise ecológica atual, as lições do coronavírus no capítulo 1 comento-as no final.
Começo pelo fim para afirmar que Morin que também compartilha de valores de fraternidade, de uma cidadania planetária, da superação de desigualdades etc., tem em seu livro ama proposta bem clara, depois de demonstrar que a crise é anterior ao coronavírus que só a agravou, na página 4 sentencia “… são duas as exigências inseparáveis para a renovação política: sair do neoliberalismo, reformar o Estado” (pag. 46), que vai dar os meios no capítulo 3.
Este é na verdade seu segundo ponto do cap. 2 Desafios pós-corona, o desafio da crise política, dos nove desafios que aponta nas crises atuais: o desafio existencial, apontado também na Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco, os desafios das crises: da globalização, da democracia, do digital, da proteção ecológica, da crise econômica, das incertezas e o perigo de um grande retrocesso (pags. 44 a 53).
As 15 lições do coronavírus: sobre a nossa existência, o isolamento mostra-nos como vivem aqueles que não “tiveram acesso ao supérfluo e ao frívolo e merecem atingir o estágio em que se tem o supérfluo” (pag. 23), sobre a condição humana lembra o relatório Meadows, que apontava para os limites do crescimento, a lição sobre a incerteza de nossa vida, a lição de nossa relação com a morte, a lição sobre a nossa civilização (a vida voltada para fora, sem vida interior, a vida dos shoppings e happy hours), o despertar da solidariedade, a desigualdade e o isolamento social, a diversidade de situações e de gestão da epidemia, a natureza de uma crise, as 9 lições iniciais.
A lição sobre a ciência e a medicina, será que entendemos “que a ciência não é um repertório de verdades absolutas (diferentemente da religião” (pag. 33), a crise da inteligência, que ele divide sabiamente em “complexidades invisíveis” o modo de conhecimento “das realidades humanas (taxa de crescimento, PIB, pesquisas de opinião, etc.” (pag. 35), o ponto 2. é a ecologia da ação, alerta que a ação pode “percorrer o sentido contrário ao esperado e voltar como um bumerangue para a cabeça de quem a decidiu” (pag. 35), quantas ações e discursos caíram nesta vala.
A decima segunda lição é a ineficiência do estado, que além da política neoliberal cede “a pressões e interesses que paralisam todas as reformas” (pag. 38), enquanto a polarização se aprofunda.
A decima terceira lição é a deslocalização e dependência nacional, e lamenta “que o problema nacional seja tão mal formulado e sempre reduzido à oposição entre soberania e globalização” (pag. 39), note-se pelos discursos que polarizam e não saem deste círculo vicioso.
A décima quarta lição é a crise da Europa, lembro do livro de Sloterdijk “Se a Europa despertasse”, e Morin abre a ferida: “sobre o choque da epidemia, a União Europeia partiu-se em fragmentos nacionais” (pag. 40).
A décima quinta lição é o planeta em crise, cita o prof. Thomas Michiels, biólogo e especialistas na transmissão de vírus: “Não há duvida de que a globalização tem efeito sobre as epidemias e favorece a propagação do vírus. Quando se observa a evolução as epidemias do passado, há exemplos notórios em que se nota que as epidemias seguem ferrovias e deslocamentos humanos. Não resta dúvida, a circulação dos indivíduos agrava a epidemia” (pag. 41).
MORIN, E. É hora de mudarmos de via: lições do coronavírus, trad. Ivone Castilho Benedetti, colaboração Sabah Abouessalam. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2020.
Urgente: mudar o pensamento, ensinar a viver
Quando propomos um modelo que não é aquela do mundo da vida, dele Husserl fez uma filosofia, o seu Lebenswelt (mundo da vida), Habermas fez dela uma sociologia, Heidegger e Gadamer a incorporam em seus pensamentos, mas afinal que é a vida senão uma aprendizagem, não aprendemos com a pandemia.
O problema central de busca de uma “clareira” é que criamos modelos demasiadamente longe da vida, de sua defesa incluindo a natureza, a dignidade e o próprio viver, estamos num Setembro Amarelo, cujo tema não é outro senão o de dizer que vale a pena viver. Teremos uma clareira, mas ela durará pouco, e poderíamos começar já uma grande mudança, depois poderá não haver tempo.
Foi Morin que fez dela uma ousadia ao escrever Ensinar a Viver, a pedagogia esquecida e o método pouco utilizado, quando Morin escrevia seu Método (na verdade em vários volumes e sentidos), li no comentário da Editora Sulina que o publicou no Brasil, que “ele o desfaz em partes que, holograficamente, repetem esse todo de maneira sintética, mas completa”.
Morin começa por uma crítica que muitos fazem na universidade, mas se curvam a ela para não fazer valer suas “carreiras”, ele critica essa “deriva das universidades”, cujo dilema central ele sempre retorna que é “refazer o pensamento”.
Agarrados a métodos e modelos já superados, logicistas e neopositivistas, não se aponta “a natureza do conhecimento, que contém em si o risco de erro e de ilusão” (MORIN, 2015, p. 16).
O grande teórico da complexidade propõe antes de tudo um retorno a filosofia (no sentido do pensamento primário) em sua condição socrático de diálogo, aristotélicas (no sentido entre outros, da organização da informação), platônica (questionamento das aparências), e até mesmo pré-socrática (questionamento do mundo, inserção do conhecimento na cosmologia moderna), enfim não pode ensinar a vida sem saber que ela tem dilemas, erros e opções.
Morin, que poderia arrogar-se de sabedoria pela idade, pela intensa atividade intelectual, desde do pedestal daqueles cheios de certezas, sem dúvidas ou equívocos que vemos desfilar pelas academias e pelos palanques públicos da mídia devoradora e pouco questionadora.
Morin busca “conceber os instrumentos de um pensamento que fosse pertinente por ser complexo” (Morin, 2015, p. 23), e vemos a barbárie de certezas dogmas e pouco elaboradas.
Frases prontas, manuais de autoajuda, laissez-faire (principalmente econômico), grosseria e histeria ideológica, fazem um aprofundamento da crise cultural, humanitária e social de hoje.
Me assusta que leitores de manuais tenham tanta certeza com tão pouco pensamento, aliás a crítica ao pensamento cresce e o elogio da ignorância parece vencer qualquer argumento.
Morin nos encoraja e nos remete a um futuro ainda visível e possível, sua palestra na Fronteira do Pensamento (em 2016) é uma esperança e um aprofundamento que lança novas luzes.
MORIN, Edgar: Ensinar a viver: manifesto para mudar a educação. Trad. Edgard de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco. Porto Alegre: Sulina, 2015
Vacinas, antecipação e cuidados
As vacinas são sem dúvida a maior arma na luta contra a Covid-19, porém é preciso acompanhar os dados científicos mundiais, a própria OMS certifica que apenas duas vacinas tiveram os dados finalizados Pfizer e AstraZeneca, sendo as etapas de avaliação (Status of assesment) e data de decisão antecipada (data of antecipated decision), segundo o próprio site da OMS (foto ao lado).
As outras estão prometidas para o meio de fevereiro e início de março, notem que a decisão está escrita na tabela da OMS foi antecipada por isto alguns efeitos colaterais estão aparecendo após o início da vacinação, normalmente isto era verificado nos testes finais.
Não é, portanto, fake-news como muitas informações que circulam na mídia, o processo de avaliação foi acelerado é o que está claro no próprio site da OMS, que é compreensível de certa forma, porém é preciso saber que o processo de queda na curva de infecção ainda vai demorar para cair, os dados oficiais mostram que o número de infecção e de mortos vem crescendo (novas cepas e eficácia das vacinas), e há países que já estão em colapso e outros que podem entrar.
Assim os cuidados devem ser redobrados e todos precisamos estar atentos a este momento que é agora sim o pico da pandemia e as vacilações no controle da pandemia apenas pioram o estágio atual.
O caso de Portugal é icônico, mesmo tendo iniciado o processo de vacinação e que está em ritmo até bom, a contaminação da Covid-19 atingiu níveis muito altos no país e exigiu medidas duras do governo, e um certo pânico no sistema de saúde que pediu auxílio aos vizinhos europeus.
Não podemos imaginar que este é apenas o caso deles e que não chegaremos a este caos, se não forem tomadas medidas urgentes, entraremos no mesmo colapso que uma boa parte do país já parece estar caminhando, as dificuldades de tomar medidas duras deve-se ao péssimo clima que a política instala no país, impossível qualquer tipo de acordo ou bom senso neste nível.
Enquanto isto o povo sofre e torcemos pelo avanço das etapas de vacinação, mas é bom observar o estágio das vacinas que estão sendo oferecidas e também fazer esforços na compra de insumos.