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Os inocentes e a epistasia
Muito se comentou em tom irônico sobre possíveis variações genéticas por causa da pandemia, o fenômeno existe, embora raro ele ocorre quando há a interação de genes para influenciar alguma característica da espécie, o caso clássico foi estudo por Bateson e Punnett, que estudaram um tipo de crista que aparece em galinhas, e é determinado por dois genes independentes (que equivale a dois pares de alelos), claro não é o caso das vacinas, apenas para esclarecer a questão científica.
A inocência reside em entender a mutação do vírus como capaz de induzir ou influenciar uma mutação genética humana, claro o nosso sistema imunológico é afetado, como estudos que tentam correlacionar HIV com a variante ômicron, mas isto não significa até o momento nenhuma mutação genética humana.
Entretanto a epistasia tem sido importante para estudar a variante ômicron, neste caso o vírus e não a vacina, segundo reportagem da BBC News, o professor Ed Feill, professor de evolução microbiana da Universidade de Bath, na Inglaterra: “Se a variantes tem mais mutações, isso não significa que seja mais perigosa, mais transmissível ou que tenha maior capacidade de evadir o efeito das vacinas”, e muitas conclusões prematuras sobre esta variante não tem uma base científica sólida.
A confusão é que o vírus sofre variações, mas não tem fundamento imaginar que estas mutações afetem o código genético humano, diz o professor: “na medida que um vírus evolui, ele pode acumular um grupo de mutações que, por sua vez, podem criar uma variante”, “… e para detectar as novas variantes: “os cientistas rastreiam a sequência genômica do vírus”, e neste caso os estudos de epistasia são fundamentais para detectar variantes.
O biólogo evolucionista americano Jesse Bloom, em artigo recente no jornal americano The New York Times, chamada a atenção para a variante alpha que tem uma mutação chamada de N501Y, que está associada a capacidade de infecção.
É importante compreender que a variante ômicron não está completamente decifrada, justamente por causa do seu número de mutações em sua epistasia mais difícil de detectar e entender: “isso abre mais espaço evolutivo para isso”, afirmou Feil na reportagem, e assim a pesquisa tem que observar combinação que não foram vistas antes.
Nem inocência de afirmar que há alguma mutação genética humana, nem inocência de afirmar que a variável ômicron está controlada porque oferece “menos perigo”.
A OMS tem uma classificação de variantes em “preocupação” e “interesse” conforme o quadro acima.
O Natal e a maior profecia Bíblica
São tempos difíceis, as voltas com nova onda pandêmica, sinais de grave crise econômica mundial, tensões entre Rússia e Ocidente por causa da Ucrânia e reaproximação da Rússia da China que tem interesses em Taiwan, que é independente e ocidental.
Em tempos difíceis sempre reaparecem profecias, mas poucos são os oráculos de Deus realmente autorizados: adivinhos, especuladores, falsos profetas e falsos místicos, falta-lhes uma autorização clara de Deus, e ele sempre se fez presente através dos mais humildes.
David, por exemplo, sequer era contato entre os filhos de Jessé, quando o Samuel foi a sua casa para encontrar alguém que seria rei de Israel ele só é apresentado ao final, assim Jessé não tinha 7 mais oito filho, diz o relato Bíblico:
“Assim fez passar Jessé a seus SETE filhos diante de Samuel. porém Samuel disse a Jessé. O Senhor não escolheu a estes.” (I Samuel 16.10).
Nascido em Belém, por volta do ano 1.000 a.C. seria da descendência de David que nasceria Jesus, segundo o relato Bíblico foram 14 gerações entre David e o exílio da Babilônica e do exílio até Jesus mais quatorze gerações, e também José teve que retornar a Belém porque era ali a sua cidade Natal (ou do seu clã), e isto era profecia.
A profecia de Miquéias diz (Mq 5,1): “Assim diz o Senhor: 1Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade”.
Esta profecia tem importância histórica, porque confirma a descendência de David, ali foi feito um recenseamento, portanto há uma prova “científica” deste nascimento, mas a grande profecia não é esta e sim a de Isaías 7,14: “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ´Deus Conosco´”, e o trecho anterior chama a atenção para a casa de David diante do importuno de Acaz que queria por Deus a prova por causa das guerras.
A concepção de Maria confunde teólogos e os cristãos de um modo geral, aqui que deveria servir para unir é causa de desunião por culpa de uma leitura pouco atenciosa do livro guia para os cristãos, a Bíblia, logo após Maria saber que conceberia e daria a luz ao Salvador, provavelmente ainda confusa corre até a casa da prima Isabel que concebeu na velhice também um milagre (na foto o quadro de Domenico Ghirlandaio, 1491).
Ao chegar na casa da prima ouve a saudação com um grande grito diz a leitura (Lc1,42-43): “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?”, fica a pergunta teológica o que significa para Isabel, judia o advento de Cristo, o Natal, ainda se iniciava no ventre de Maria.
Há discussões sobre datas, uma discussão a-histórica do nascimento de Jesus pois houve um recenseamento, porém, esta questão “a mãe do Senhor” fica ainda em aberto, embora todos os cristãos concordem que o Salvador nasceu dali e viveu entre nós durante 33 anos.
Deus viveu entre nós e veio a partir de uma virgem, não há profecia maior e estará conosco até o final dos tempos.
Entre a ciência e a superstição
Sempre que o tempo se altera: chuvas, enchentes, tempestades, furacões e agora vulcões e terremotos alguma coisa nos preocupa, é preciso separar aquilo que de fato é sobrenatural do natural que existe mesmo que catastrófico, a ciência ajuda, mas nem sempre tem respostas prontas.
Foi assim como problema da Covid-19 e está chamando a atenção agora o vulcão de La Palma por sua imprevisibilidade, porém ele tem ajudado a ciência que tem coletado um número bem maior que em outras erupções e sua variação também ajuda a estudar diversas influências, forma do solo, os terremotos e temperaturas próximas ao vulcão, o tipo de solo (no caso lá com várias fissuras em profundidade) e o tipo de efusão da lava.
Um recente artigo de opinião, a vulcanologia não é uma ciência que consiga fazer previsões, na verdade na opinião de físicos como Werner Heisenberg e filósofos como Edgar Morin suas previsões mesmo que possíveis são hipóteses, porém no caso da vulcanologia o Cumbre Vieja, vulcão de La Palma, tem ajudado.
Um artigo publicado na revista Science e que foi motivo de matéria no jornal El Pais, do pesquisador Marc-Antoine Longpré elaborou uma série de opiniões, entre elas que: “A previsão de curso prazo baseia-se na tecnologia e no reconhecimento de padrões de comportamento dos vulcões, bem como no aprimoramente constante, à medida que os vulcanologistas reúnem mais dados”, como é o caso desta erupção do Cumbre Vieja, em La Palma, nas ilhas Canárias.
O artigo publicado na prestigiosa revista Science, começa explicando que o mesmo teve 50 anos de repouso e historicamente é o mais ativo das Ilhas Canárias, entrou em erupção no dia 19 de setembro de 2021, e completará um dos mais longos períodos de erupção no dia 19 de dezembro, quando atingirá 3 meses de erupção e o artigo informa que a mais longa que se tem registro foi de 3 meses e 3 semanas.
Porém os padrões sísmicos se iniciaram na data de 11 de setembro, fiz o artigo: “o número de terremotos detectados aumentou rapidamente para várias centenas por dia, dos quais apenas um subconjunto foi localizado”, e agrupados em profundidades muito menores (<12 km) e de sismicidade menor que a anterior (em torno de 3 a 4 graus na escala Richter), e com um deslocamento para a área do vulcão que entrou em erupção no dia 19, isto já marca um padrão para erupções (veja os gráficos do autor).
Outro fato observado foi o aparecimento de duas fissuras, além da elevação do solo e a formação do cone vulcânico, cada fissura medindo cerca de 200 m de comprimento, a 1 km acima do nível do mar e 2 km da aldeia El Paraèso que foi rapidamente evacuada sem chegar a atingir os moradores.
O autor informa que a erupção não mostra sinais de diminuição, e fala do drama social para a população local e compara dizendo que é semelhante ao Kilauea, e pergunta se as partes interessadas, claro está incluindo os interesses financeiros e políticos, se a longo prazo será possível reduzir permanentemente o risco associado ao desenvolvimento urbano nos flancos do Cumbre Vieja?
Este é o fato social importante, prevenir mortes como aconteceu recentemente com a erupção do Vulcão Semeru na Indonésia onde foram registradas 14 mortes (hoje subiu para 34), o artigo foi profético neste sentido, uma vez que foi publicado dias antes desta erupção, sim são possíveis coisas extraordinárias e até mesmo sobrenaturais, mas quem tem autoridade para afirmá-las ? é preciso evitar fake news e clima de terror que em nada contribui, porém a cautela, como é o caso da Pandemia, é necessária e prudente.
Nova Pandemia e coimunidade
Mesmo tratando-se do mesmo virus é uma nova pandemia, a nova variante chamada pela OMS de ômega tem a de driblar as vacinas, sabíamos isto já de outras doenças infeciosas, se não erradicada a doença pode voltar e neste caso em que as variantes se manifestam cada vez mais complexas uma nova de infecção se espalha.
Muitos ativistas, cientistas e também a OMS defenderam que uma distribuição mais equânime das vacinas pelo globo auxiliariam o combate a covid 19, por isto a terceira dose (necessária, mas em outra etapa) eram retiradas de vacinas que poderiam ser doadas aos países mais pobres, como a maioria dos países da África, a Necropolítica do sociólogo Mbembe dos Camarões lembra isto, escolher quem deve morrer, mas neste caso ela implica numa Necropolítica global, pois sem uma coimunidade a Pandemia volta.
A palavra coimunidade cunhada por Sloterdijk foi pensada num sentido mais amplo, muito anterior a pandemia, ela faz sentido agora que olhamos um problema global.
A notícia boa é que mesmo podendo infectar pessoas já vacinadas, a infecção é menos grave se já vacinados, segundo o geneticista brasileiro Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika do Paraná, já estava claro que a variante não estava sujeita a infecção inicial, tanto infectados como vacinados não estão imunes a esta cepa ômega.
O número de infecções cresce na Europa, segundo dados da Reuters a cada três dias está se registrando um milhão de novos casos, que no total desde o início da pandemia já ultrapassa 75 milhões de infectados, o número de mortes também cresce: a Itália registrou 43 mortes, os inúmeros países que seguem em queda são a Rússia e a Ucrânia, porém ressalta-se que foram os primeiros a crescer em infecções e os números ainda são elevados.
Mesmo assim seguem protestos contra novas medidas de restrições devido a nova onda, a Alemanha teve manifestação neste final e semana.
O problema da Europa ainda não é a variante ômega e sim a baixa taxa de vacinação, chamada de hesitação vacinal, e ainda dizem que é um fenômeno global, no entanto em muitos países a vacinação avança, no Brasil já estamos próximos dos 80% vacinados embora não dê imunidade a variante ômega, reduz sua letalidade.
No Brasil várias festas de final de ano foram canceladas, e medidas de proteção devem ser pensadas urgentemente.
História, a grande clareira e parusia
O Natal está próximo e o nascimento de Jesus é um fato histórico pois o Censo ordenado pelo imperador de Roma César Augusto, quanto a data há controvérsias por seriam entre 4-5 a.C., quando Quinino era Governador da Síria como está descrito na Bíblia (Lc 2,2), porém é certo que o censo foi realizado e este foi justamente o motivo de Maria e José terem ido a Belém, onde a profecia dizia que de lá nasceria o salvador, e assim ele “foi contado entre os homens”.
Há controvérsias de datas e da precisão das datas (não dos fatos), uma vez que o calendário foi modificado.
A história também está pontuada de intervenções divinas, na decadência de Roma nascem os mosteiros, onde a cultura da culinária, os primeiros grêmios e ofícios e também uma fase anterior da escrita impressa é realizada, através dos copistas, as primeiras escolas e mais tarde as primeiras universidades, com forte influência teológica como não poderia ser de outro modo, mas tudo isto é história, também no renascimento a arte e a cultura tiveram forte influência teológica.
Entramos na modernidade, a obra que fizemos leituras pontuais nos posts desta semana “todos no mesmo barco” de Sloterdijk, menciona um fato importante, além e citar a obra clássica do Decamerão de Boccaccio como “pequena comunidade em meio ao desastre da grande” (Sloterdijk, 1999, p. 75), faz uma análise da peste negra (que aconteceu nos anos 1300) e que devastou a Europa com mais de 100 milhões de pessoas mortas (figura) quando a população era muito menor que hoje, e sua influência política e psicológica pode ser analisada.
Em nota de rodapé cita a obra de Henrik Siewierki (traduzida pela Estação Liberdade em 2001) “Uma missa para a cidade de Arras” onde analisa as consequências tanto psicológicas quanto políticas da peste, também o psicólogo Franz Renggli, em seu livro Autodestruição por abandono, desenvolveu a hipótese da influencia na modernidade da peste, e também da degradação da relação mãe-filho que teriam provocado uma espécie de fraqueza imunológica, coletiva e psicossomática que favoreceu o vírus daquela peste.
Toda esta análise é interessante em meio do retorno da Pandemia a Europa, ao mesmo tempo que é sem dúvida um flagelo, pode ele alimentar uma nova clareira sobre a nossa coimunidade, ou seja, a ideia de uma defesa mútua e solidária em vista de uma catástrofe ainda maior do que a que já encontramos.
Serve para “aplainar os caminhos”, como diz a leitura bíblica quando João, o filho de Zacarias e Isabel, anunciava no deserto usando as palavras do profeta Isaías: “esta é a voz daquele que grita no deserto: ´preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4) e parece propícia a este nosso tempo de flagelo e deserto.
É importante lembrar que as duas primeiras semanas do Natal comemoram não a vinda de Jesus em Belém, mas a Parusia, ou seja, a preparação de sua segunda vinda.
A diversidade cultural e as esperanças
Em seu livro “no mesmo barco: ensaios sobre hiperpolítica” Peter Sloterdijk destaca que: “a aparência histórica ensina a todo observador que grupos humanos nas regiões pioneiras, durante os últimos três ou quatro mil anos, devem ter conseguido navegar sobre suas velhas jangadas de tal forma que agrupamentos de jangadas puderam surgir em grande estilo” (Sloterdijk, 1999, p. 73), o que quer dizer que velhos hábitos culturais resistem ao tempo, mesmo que considere “mentalmente pobre e mesmo assim significativo o termo ´cultura’”. (idem).
Enfatiza que a decadência das superestruturas “revelam que quase nada têm a dar aos indivíduos, nos seus esforços de continuar a vida” (Sloterdijk, 1999, p. 74), e mais que isso pode-se reconhecer que “tão logo decai o opus commune, as pessoas podem regenerar-se somente como unidades menores” (idem).
Assim é nestas unidades menores que pode-se regenerar e elaborar uma nova opus commune, retoma o Decamerão de Giovanni Boccaccio onde há a sobrevivência da pequena comunidade frente ao “desastre da grande”, lembrando o período da peste que pode ser um paralelo com a atual pandemia, lá os fiorentinos “já não sabem se devem temer mais a contaminação ou os saques ou a fome, eles caem numa desorientação equivalente a uma paralisia” (Sloterdijk, 1999, p. 75), a primeira versão de “no mesmo barco” é de 1993.
Num período que sucedeu aos impérios babilônicos, egípcios, sírios e persa, foi nas pequenas comunidades gregas que nasceu a ideia da polis das cidades-estados e que chegou até a república moderna, foi da renascença fiorentina que nasceu uma revolução artístico-cultural que levou o espírito humano as primeiras grandes navegações e as expansão do mercantilismo, e foi do racionalismo franco-alemão que nasceu a revolução liberal burguesa e hoje onde estarão estes pequenos grupos capazes de resgatar a civilização?
Há novas cosmovisões que renascem (elas buscam suas formas culturais primeiras) na África tal como o filósofo Achiles Mbembé e sua necropolítica, uma reação ao poder de ditar quem pode viver e quem pode morrer, na américa latina o sociólogo peruano Anibal Quijano, o filósofo, psiquiatra e ensaísta Frantz Fanon, natural das Antilhas Francesas.
O problema central destes pensamentos é a decolonialidade, ou seja, a ideia que a modernidade e seu projeto político se valeram da colonização e não haverá mudanças significativas nas superestruturas de poder se esta forma de pensamento não for submetida a crítica e ao desmascaramento de seus objetivos.
É daí que podem nascer esperanças, uma reconfiguração do globo onde os povos tenham direito a sua liberdade, a sua expressão cultural e social, com uma vida digna.
Nova variante e preocupação na Europa
A nova variante do vírus da covid-19 chamada ômicron pela OMS, já está presente em três continentes e a tendência é chegar a todos, no Brasil tanto o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, como o diretor do Instituto Butantan afirmam que é inevitável que ela chegue ao país.
A variante é a cepa B.1.1.529 e foi identificada pela primeira vez na África do Sul em 9 de novembro, segundo informações da OMS, onde se identificou 100 casos da variante, em especial na província populosa de Gauteng, mas já se espalhou por Botsuana, eSwatini (antiga Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue, países que o Brasil fechou a fronteira.
No Brasil um passageiro de um voo que passou pela África do Sul testou positivo no último sábado 27/11 e desembarcou em Guarulhos (SP), os outros passageiros também estão sendo monitorados, ainda não é possível identificar se o contágio foi pela nova cepa.
O que se sabe por enquanto é que a variante pode afetar os índices de contágio e de letalidade, porém o sequenciamento genético ainda pode demorar mais alguns dias para ser completo, o diretor Tulio de Oliveira do Centro para Respostas e Inovações Epidêmicas da Universidade de KwaZulu-Natal, afirmou que esta variante é “uma constelação incomum de mutações”, enquanto a variante delta possuía apenas duas mutações por exemplo, em relação a cepal original do coronavírus.
Enquanto isto o número de mortes volta a crescer na Europa (veja o gráfico), a média de mortes chegou ao maior patamar desde fevereiro de 2021, quando o continente começava a se recuperar, para cada milhão de habitantes a taxa é de 5,2 mortes diárias em média, pelo novo coronavírus nos últimos 7 dias.
Com a nova cepa e as variantes é preciso retomar os cuidados, esperar os estudos sobre a cepa e a eficácia das vacinas, a Pfizer já anunciou que deve ter alterações para garantir a imunidade.
Chegamos a 70% da vacinação completa no Brasil, porém com a nova cepa não se pode afirmar a total imunidade.
Nota: No dia de hoje (29/11) a Austrália suspendeu a reabertura e o Japão fechou as fronteiras.
A crise civilizatória
Não é apenas uma ideia dos apocalípticos, dos pessimistas e dos gostam de tragédias, espíritos sombrios que não refletem realmente sobre a realidade, são aqueles que pensam o humanismo, que olham para uma vida polarizada, fragilizada e impotente diante de uma pandemia (veja a Europa no post anterior) é a crise da fragilidade que não se vê frágil.
Arrogantes, pseudossábios, e pseudoprofetas estão de plantão, porém mesmo um otimista como Edgar Morin se dobra ao perceber um sistema que não consegue lidar com seus problemas fundamentais, ele se desintegra, assim começou sua recente palestra sobre a metamorfose da humanidade, disse no evento: “ele se torna ainda mais bárbaro”, mas lembra que esta não é a primeira e provavelmente não é a última metamorfose da humanidade, fomos na origem (ele disse por mais de 100 mil anos) caçadores e coletores.
Não tinha exército, nem estado e nem classes, mas aos poucos alguns grupos queriam dominar os outros, isto aconteceu na Índia, na China e no Oriente Médio, nos Andes onde se organizou um Império Inca e no México (onde fez a palestra).
Estas sociedades se metamorfosearam para melhor ou pior, ele não fez uma afirmação sobre isto, porém pensa que uma metamorfose sobre os nossos Estados-nações é possível.
Afirma que é preciso ter esperança, mas esperança não é certeza, a esperança que no passado era uma crença agora, porém se a esperança existe ela é o fermento necessário para grandes transformações, e fica subentendido que é neste momento que estamos vivendo esta realidade, num mundo pós-moderno ou pós-pós-moderno, há uma transformação.
Resta-nos saber qual nos leva a destruição, e qual é verdadeiramente portadora da esperança, não dá grandes dicas, mas façamos um exercício.
A primeira grande destruição é a guerra, com o arsenal de armas ultra potentes, até mesmo interplanetárias, há vários objetos em torno do planeta, é preciso defender a paz com a mesma força que defendemos a justiça, uma guerra agora seria uma catástrofe.
A segunda grande destruição é o desiquilíbrio social, a insegurança e a falta de um plano sustentável para o uso dos recursos naturais, os grandes encontros discutem apenas a questão da poluição e o desmatamento em algumas regiões do planeta, quando deveriam discutir o planeta como um todo, a natureza dá sinais de esgotamento e é previsível um maior desiquilíbrio nas forças naturais, de proporções planetárias.
Como afirma Edgar Morin é preciso ter esperança, já passamos outras etapas do processo civilizatório por situações parecidas, claro que a proporção agora é planetária.
Edgar Morin – Do esgotamento à metamorfose dos sistemas – YouTube
A verdade entre os homens
Gadamer estabelece a necessidade da correferência para a construção da verdade entre os homens, também o filósofo Sócrates dizia que a verdade não está com os homens, mas entre os homens, assim todo discurso autorreferencial, mesmo aquele apropriado por um grupo deixa de Ser uma verdade crescente (a eterna só pela fé ou crença) e se torna apenas uma retórica.
Emmanuel Lévinas (1906-1995) desenvolveu o aspecto da finitude humana, como aquela que dá ao uma totalidade provisória, em seu livro Totalidade e Infinito onde discorre sobre o tema da alteridade, com uma questão central que é de não se poder objetivar o Outro, e não se trata de subjetividade, mas a possibilidade de pensarmos o Outro na sua Alteridade absoluta, dito de outra forma, como um totalmente outro.
Seu livro não pode ser compreendido sem uma análise concentrada em Husserl e Heidegger por causa de sua opção fenomenológica na qual é afiliado, assim desenvolve neste primeiro capítulo a categoria da alternidade, enquanto o segundo tratará da interioridade, ali aparecem noções de categorias como: gozo, economia, casa, posse, trabalho e feminino um tema tão atual na questão do gênero e reflete as relações do Eu com o real, possibilitando a edificação de um ser ao mesmo tempo separado e aberto ao exterior.
Assim o terceiro capítulo relaciona-se a exterioridade que fundamenta uma ética proposto por Lévinas, como se dá ou se constrói, no Ser, uma abertura através da análise das categorias do Infinito, Rosto e Exterioridade, elas são fundamentais para a compreensão do universo levinasiano.
O problema da finitude humana no aspecto da verdade pode remeter a uma transcendência diferente da proposta idealista, onde o imperativo categoria está ligado ao conceito de subjetividade: “age de tal forma que seja modelo para os outros”, assim é possível desenvolver num universo pessoal uma ética, enquanto para Lévinas, como é também para Gadamer e era para Sócrates, só pode existir a verdade num processo de dialogia com o Outro e com o exterior, todo fechamento é autorreferencial.
Assim o “Outrem permanece infinitamente transcendente, infinitamente estranho, mas o seu rosto, onde se dá a sua epifania e que apela a mim, rompe com o mundo que nos pode ser comum e cujas virtualidades se inscrevem na nossa natureza e que desenvolvemos também na nossa existência” (Lévinas, 2008), aqui uma epifania só humana.
Aproximamos das festas do Natal, na liturgia cristã é a festa da epifania divina, a manifestação divina aos povos, para muitos apenas na festa dos reis magos ou no batismo de Jesus, mas para aqueles que pensam que a verdade está “entre os homens”, a presença do Deus Conosco (o Emanuel) acontece desde o nascimento do menino-Deus.
No texto bíblico (Jo 18, 37) ao ser indagado por Pilatos se Jesus era o rei dos Judeus, responde: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”, assim esta verdade entre os homens também é estabelecida para a cultura cristã como o verbo encarnado.
Verdade e finitude humana
Não apenas Hans Georg Gadamer escreveram sobre a verdade em relação a finitude Humana, também Emmanuel Lévinas desenvolveu o tema.
Em Gadamer a conclusão sobre a verdade da experiência humana é a consciência de sua finitude, ou seja, é conhecer seus próprios limites, saber que não é senhor do tempo e do futuro, em dias atuais que não é senhor da natureza e de seu comportamento, o grande ideal iluminista, e assim tem seus limites e seus planos são inseguros.
Assim, em Gadamer, a questão da retórica e do discurso não são propriamente uma questão e a indagação não é verdadeiramente posta em causa, para estar apto a interrogar é preciso querer realmente saber a verdade e ela pode estar fora dos limites de quem pergunta, diz em seu texto:
“Para perguntar, é preciso querer saber, isto é, saber que não se sabe. E no intercâmbio de perguntas e respostas, de saber e não saber, descrito por Platão ao modo de comédia, acaba-se reconhecendo que para todo conhecimento e discurso em que se queira conhecer o conteúdo das coisas a pergunta toma a dianteira. Uma conversa que queira chegar a explicar alguma coisa precisa romper essas coisas através de uma pergunta” (GADAMER, 2008, P. 474).
Assim ela estará inscrita para além dos preconceitos, e na constituição de novos horizontes, assim compreender o texto ou um fragmento do passado, para Gadamer é entende-lo a partir da questão que deve ser vista como um processo de contínua fusão ou alargamento de horizontes pelo qual o interprete participa com os outros no longo e árduo caminho do sentido, vai além do ponto de vista iluminista romântico e histórico que é inaceitável: a linguagem simbólica e plural, própria da narratividade das coisas.
Porém o que isto significa? o que isto significa para a hermenêutica filosófica que reconhece a finitude humana, não existe de imediato a possibilidade de uma coincidência com o real, pois toda compreensão humana é linguísticamente mediada como toda linguagem é, na visão aristotélica, uma hermeneia (intérprete) originária do real e isto pode ser ampliado para as culturas, para os povos e em especial para os povos originários fontes primárias do discurso e de sua linguagem própria.
Como o homem é finito, só na linguagem seu poder dialógico fundamental pode alcançar o que a filosofia ocidental chama de objetividade (idealidade própria), mas deve ultrapassar o ponto de vista do sujeito transcendental anônimo (a subjetividade idealista) para atingir a dimensão de co-referência dos homens concretos, dos outros.
A concretude é assim a palavra que descentra e interpela, coloca na alteridade o que é dito, e a sua perspectiva em traçar uma fusão de novos horizontes não acabam.
GADAMER, H.G. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método I. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2008.