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Arquivo para outubro 10th, 2016

A Simbólica do Mal

10 out

Agostinho de Hipona (santo Agostinho para os católicos), havia escrito quesimbolicamal “o mal é a ausência do bem”, mas o que faz o mal persistir, porque ainda falamos de guerras e atrocidades ?

O filósofo Paul Ricoeur, falecido em 2005, havia escrito sobre a questão da Finitude e Culpabilidade nos anos 60, e o volume dois A Simbólica do Mal, foi traduzido e publicado pelas Edições 70, portuguesa em 2015, em que ele demonstra porque o sujeito moderno deixou de ser o centro de que parte uma reflexão filosófica nos dias de hoje.

O filósofo francês evidencia que Agostinho (354-430 d.C.) ao tentar desautorizar o maniqueísmo, formula um não conhecimento do mal pois o aproxima do conceito de pecado original, estabelecendo um marco a partir do qual o mal passa a existir na medida em que o homem o transmite, através de gerações aos seus descendentes, e se fizéssemos um caminho de volta chegaríamos ao pecado original.

Ricoeur vai fundamentar por outro viés que o conceito de mal vem fundamentado em fontes originárias, a partir das quais podemos encontra a origem existencial do mal, e quem poderia tê-lo feito, assim a ação má e o autor dessa ação estão contidos nos símbolos e mitos que criamos através da história humana, portanto, ou seja, o “desejo de ser e esforço para existir”, frase conhecida de Spinoza, havendo então uma construção antropológica e mitológica que dá vida a este “símbolo”.

Há, portanto, uma possibilidade de uma compreensão fechada, acabada: “diante da aporia do mal”, isto significa, estamos diante de uma dificuldade racional de defini-lo, mas enquanto símbolo existe em toda história humana.

Kant, assim como todo o idealismo, dirá que é a liberdade humana, mas ao reconhecer o mal através do homem e da liberdade é em si mesmo um movimento livre de um ser que toma o mal sobre si, hora do mesmo modo essa declaração é a da liberdade que reconhece sua responsabilidade, mas que confessa considerar o mal como mal cometido, e que confessa que estava em suas mãos não o ter cometido, portanto o mal não é justificável pela liberdade.

Então o mal não tem a liberdade como sua fonte originária, mas apenas como sua autora, portanto o livre arbítrio justifica, mas não explica, a confissão da responsabilidade leva à condição de que há um manancial primordial donde procede a compreensão que é um mal.

Ricoeur então se ocupa de mostrar que a “falibidade”, ou seja, a “ideia de que o homem é constitucionalmente frágil e pode cair”, é um elemento “totalmente acessível à reflexão pura e assinala uma característica do ser humano”, exposto a uma infinidade de falhas, diantes das quais não de se estranhar que deslize, mas há uma profunda distinção entre falibilidade e falta.

Afirma o filósofo que a primeira é de cunho natural, biológico, ao passo que a segunda, é moral ou cultural.

Ricoeur defende que a falibidade humana é apenas uma condição, “a possibilidade do mal moral”, inscrita na constituição do homem, mas entre a falibilidade e a falta há um hiato, um salto que precisa ser compreendido.

“nossa reflexão antropológica se encontra antes desse salto; a ética, ao contrário, chega demasiado tarde. Para surpreender o momento mesmo do salto, é preciso empreender uma nova rota, aplicar uma reflexão de novo estilo, concentrando-nos na confissão com que a consciência reconhece o salto e nos símbolos do mal mediante os quais se expressa essa confissão.” (RICOEUR, 1960)

RICOEUR, Paul. La symbolique du mal. Paris: Aubier-Montaigne.1960.