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Arquivo para 2020

A fadiga da pandemia e a pressa da vacina

12 out

A OMS em seu escritório da Europa lançou um documento que explica a “fadiga da pandemia” estimando que 60% da população já esteja neste estágio.

O médio Hans Henri Kluge, diretor regional da OMS para Europa, diz que o cansaço já era esperado nesta fase da crise: “desde que o vírus chegou ao continente europeu, há oito meses, os cidadãos fizeram enormes sacrifícios para conter a covid-19, o custo foi altíssimo, algo que esgotou todos nós, independentemente do que vivemos ou do que façamos.  Nessas circunstâncias é fácil e natural sentir-se apático, desmotivado, sentir cansaço”, afirmou.

As medidas que aponta para continuar os esforços encontram um centro comum de buscar o senso comunitário na solução da questão: compreender o que as pessoas estão fazendo regularmente e envolver a comunidades em debates e decisões, permitir que as pessoas vivam suas vidas, mas reduzindo riscos e buscando soluções criativas, como tem sido as reuniões virtuais, as entregas de alimentos e produtos de consumo, em especial, para pessoas vulneráveis.

O outro polo preocupante é a corrida para a vacina, que deveria seguir rumos exclusivamente médicos, mas já apontam para uma competição visando o lucro com as pessoas, assim a primeira vacina a chegar no mercado não será necessariamente a melhor, e para piorar os políticos tentam tirar proveito desta corrida.

Médicos brasileiros são cautelosos, como o dr. Álvaro Furtado costa, médico infectologia da HC-FMUSP: “está todo mundo muito otimista, mas o estudo da vacina é algo muito complicado, a maioria deles para na fase 3, de testes clínicos, pelos problemas que aparecem. É importante discutir essa possibilidade (de não se ter uma vacina)”, e chegar na fase 3 não significa que está perto do final, pois a maioria das vacinas param nesta fase, como são os casos de HIV e chikungunya. 

O que deve-se fazer neste caso é continuar a busca por medicações que diminuam a taxa de mortalidade e, portanto, recuperam os infectados, por exemplo, pelo vírus SARS-Cov-2, e o ensaio clínico é desenvolvido também no Brasil pela FioCruz, que faz parceria com o International Solidarity, da OMS, e no país estão em 18 hospitais de 12 estados, com pesquisa de diferentes medicações.

O estágio final da fase 3 é bem mais difícil de ser atingido e não é a propaganda política que o resolve, mas os órgãos de controle sanitário dos medicamentos.

 

A festa e os convidados

09 out

A festa de Babette é uma alegoria a uma festa divina, e a misteriosa cozinheira que humildemente vai trabalhar durante muito tempo em uma casa até poder anunciar e realizar a festa, os convidados apesar de desconfiados aceitam e sentem suas vidas renovadas.

O que vivemos em tempos de pandemia é a ausência da festa, mas a verdadeira festa para a qual todos fomos convidados a da fraternidade para todos e de um maior equilíbrio na distribuição de rendas, no tratamento das diversas culturas e do respeito a dignidade humana está longe de ser uma festa.

Quem foram os convidados, primeiramente aqueles que dizem ter estes princípios e que nem sempre são os praticados, ou seja, participam mais das festas das riquezas, do poder e de suas benesses do que promovem a festa que todos poderiam participar.

A pandemia deveria ser uma tomada de consciência, privados da festa, deveríamos pensar naqueles que sempre foram privados, e não procurar promover mesmo na pandemia nossa festa particular onde os amigos participam.

A parábola bíblica (Mt 22, 1-14) da festa de casamento na qual um rei chama os convidados e eles dão desculpas para não comparecerem, é uma boa explicação para o que acontece aos que foram convidados e não foram e aos excluídos que são chamados para a festa e eles vão, é diríamos uma última tomada de consciência.

Os convidados, diríamos em termos bíblicos os eleitos, não foram, então o rei manda seus empregados irem as praças, as encruzilhadas dos caminhos e chamarem a quantos encontrarem para a festa, porém na festa nota ainda alguém que não está com trajes adequados (na foto gravura de Jan Luyken).

A alegoria bíblica é para dizer que também entre os não convidados há aqueles que também não são dignos de participar da divina festa.

 

A festa de Babette

08 out

A festa de Babette, é um dos contos mais célebres de Karen Blixen (1885 –1962), narra a história de duas senhoras puritanas, filhas de um pastor protestante, que vivem uma vida muito opressiva até que o pai morre, o conto ficou famoso depois de ser filmado pelo diretor dinamarquês, sendo o primeiro filme de Blixen a ser filmado pelo Danish Film Institute, e o primeiro a ganhar um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

O roteiro foi adaptado por Just Betzer, Bo Christensen e Benni Korzen, nele Filippa (Bodil Kjer) e Martine (Birgitte Federspiel) são filhas do rigoroso pastor luterano, que após sua morte, surge no vilarejo Babette (Stéphane Audran), uma parisiense que se oferece para ser a cozinheira e faxineira da família.

Muitos anos depois de trabalhar na casa, ela recebe a notícia que ganhou um grande prêmio na loteria e se oferece para preparar um jantar francês de gala em comemoração ao centésimo aniversário do pastor, os paroquianos inicialmente temerosos, aceitam o banquete de Babette.

O simbolismo do filme é forte, os tons de azul ligeiramente contrastados, estão na fronteira entre o céu e a terra é quase imperceptível, em meio a paisagem cinzenta da Dinamarca, uma primeira imagem prenuncia uma comunhão diferente num lugar entre coisas terrenas e celestes.

Outro aspecto da simbologia é o peixe, muito influente no cristianismo primitivo, porém é a mesa que foi capaz de re-ligar aquelas pessoas com um verdadeiro eu, e despertar-lhes novamente um sentido pela vida que há algum tempo tinham perdido.

A dança dos participantes ao redor do povo (foto), também uma simbologia religiosa, é um ponto alto desta retomada de sentido da vida daquelas pessoas.

O que a arte de Babette, a comida feita com amor e arte fez, foi criar na mesa uma “espécie de envolvimento amoroso”, mas “num envolvimento amoroso daquela categoria nobre e romântica na qual a pessoa não mais distingue entre o apetite ou a saciedade, corporal e espiritual!”, assim como descreve a própria autora da peça original, Blixen exprime assim o mais profundo de sua expressão neste conto.

 

Eça de Queirós e a mesa

06 out

Estando em Portugal em 2018, e sendo a Uab (Universidade Aberta) muito próxima a Confeitaria Cister, onde Eça de Queiroz frequentava, há inclusive um desenho do canto que ele gostava de ficar e ali escrever (foto), lembro da mesa portuguesa lembrando deste canto de Lisboa, e os escritos de Eça sobre a mesa de refeição.

Um dos textos mais comuns sobre o tema é um artigo conhecido como “cozinha Arqueológica”, publicado em 1893, na Gazeta de Notícias, de Lisboa, Portugal. Nele Eça afirmou: “a mesa constituiu sempre um dos fortes, se não o mais forte alicerce das sociedades humanas” e ainda “o caráter de uma raça pode ser deduzido simplesmente de seu método de assar a carne” (III, p. 1226)

Eça antecipou as reflexões de historiadores como Jean François-Revel (1996) e Massimo Montanari (2004), para quem os valores do sistema alimentar são resultado da representação dos processos culturais e as relações se desenvolvem de acordo com critérios econômicos, nutricionais e simbólicos.

O autor não apenas propôs observações da cozinha nas sociedades clássicas, como também considerou que a gastronomia possui um arqué, um elemento básico das representações da sociedade portuguesa, o que foi notado por vários de seus leitores e críticos, a comida despertou, por exemplo, a atenção de Machado de Assis já em 1878.

A moda brasileira, Machado de Assis viu aí em Eça uma fartura desnecessária, o argumento sobre este tipo de excesso se contrapõe o da coerência gastronômica que se constitui ao longo da obra, a comida está relacionada ao próprio excesso deste escola literária, se Eça não tivesse continuado a ser cuidadoso com este tema, o cuidado deveria aumentar tanto em quantidade como em qualidade nas obras e versões seguintes, reforçando por exemplo que o autor de “Os Maias” pode ter encontrado na cozinha os elementos fundamentais de seu projeto de representar Portugal através de seus traços mais característicos.

O certo é que a mesa se expande aos valores culturais e sociais, assim como os tempos, as épocas de desenvolvimento das sociedades e até das escolas literárias as refletem.

ASSIS, Machado. Eça de Queirós: O Primo Basílio. In: Obra Completa. V. III. Rio de Janeiro: Aguillar, 1997.

 

O banquete de Platão

06 out

Nos banquetes, as mesas e o compartilhamento de alimento se celebram muitas coisas, inclusive o diálogo sobre temas essenciais.

Ocorrido por volta de 380 a.C. é um diálogo, e há alguns que preferem a tradução do grego como Simpósio (no grego antigo sympotein significa “beber junto), e o tema central é o Amor, entre o eros e o ágape, e o personagem central como na maioria dos seus diálogos é Sócrates.

Também estão no diálogo Aristófanes e Ágaton (ou Agatão), na casa dele ocorrera um banquete anterior em comemoração ao prêmio literário que ele havia ganhado, neste banquete Sócrates e outros participantes discursaram sobre o “amor”, estavam nele Apolodoro e Glaucon, Aristodemo e o próprio Ágaton.

Glaucon considera Apolodoro como doido porque despreza o material, Ágaton significa “bom” em grego, coisas boas e o amor levam à prática do bem e do belo, e se soubéssemos a prática do amor o bem que faz, os homens fariam um exército de amantes, lembrando o exército de banos, cuja frente estava Pelópidas e Epaminondas em 371 a.C.

O discurso de Fedro é que o amor cultuado pelos homens revela-os mais virtuosos e felizes durante a vida e após a morte, mas é na cosmogonia que os discursos vão se contrapor, enquanto Fedro vê a origem de Eros como um deus muito antigo, sem menção de progenitores, teve seu nascimento junto a Geia (terra) após o Caos.

Pausânias o segundo a discursar, contrariando Fedro, existem vários Eros, era filho de Afrodite, e duas Afrodites, uma filha de Urano e outra de Zeus, a de Zeus gera um eros vulgar e a de Urano um Eros celeste.

Eriximaco aprova a distinção de Pausânias sobre a duplicidade do Amor e, universalista, o amplia a todo cosmo: “grande e admirável, e a tudo se estende  ele, tanto na ordem das coisas humanas como entre as divinas”, sendo médico afirma que o amor e a concórdia provem a harmonia, combinando opostos (o sadio e o mórbido) que se estendo por todo universo: “deve-se conservar um e outro amor …”.

Aristófanes insistirá no poder que o amor possui sobre a natureza histórica, com o uso do mito dos andróginos, legimitima a homoafetividade e a desenfreada busca pelo que hoje chamamos de “almas gêmeas”, que é uma busca pelo perfeccionismo e de certa forma pelo narcisismo.

Sócrates elogia o fato de Ágaton ter principiado a mostrar a natureza e quais são as obras do Amor, mas depois segue seu clássico método da Pergunta: “é de tal natureza o Amor que é Amor de algo ou de nada?”, Ágaton confirma que o Amor é Amor de algo. De qual “algo” é o Amor e segue com a indagação: “Será que o Amor, aquilo de que é amor, ele o deseja ou não ?” e segue o banquete a moda dos clássicos gregos.

O banquete, a mesa a qual todos sentam é o importante deste diálogo, parece tão clássico e tão presente, mas acrescentaríamos uma questão e Francisco de Assis, lembrado estes dias, afirmava ele com convicção: “O Amor não é amado”, assim antes de ser instrumento como afirma Agaton é ele próprio algo a ser usado como instrumento, em momento de tanta dor na humanidade, ou então a maneira socrática perguntar: “É o Amor amado ?”.

Platão, O Banquete, ou, Do Amor – trad. José Cavalcante de Souza, Rio de Janeiro: DIFEL, 2008.

 

E se a pandemia se prolongar

05 out

Fredric Jameson chamou atenção anos atrás sobre a possibilidade de uma catástrofe cósmico (um asteróide que ameaça a vida na terra ou um vírus que matéria a humanidade), e a ameaça despertaria uma solidariedade global, pequenas diferenças são superadas e todos trabalham juntos para encontrar uma solução na vida real, agora a pandemia mostra se isto será possível ou não, se a questão fosse colocada hoje a resposta clara seria não, estamos divididos e pouco solidários.

As especulações sobre o novo normal se esgotaram, na polarização política curiosamente os dois polos erram gravemente, um ao afirmar que a pandemia é o sinal de esgotamento da sociedade que vivemos e assim iremos para uma utópica mudança, e a outra que insiste em dizer que a pandemia não existe, falta realismo a ambas.

Um exemplo desta mudança utópica está na “Sopa de Wuhan” na qual vários autores famosos da esquerda européia apontaram para um “colapso do capitalismo” devido a pandemia.

A lógica de Jameson é de compreender a pós-modernidade como uma “lógica cultural” e que esta seria uma terceira fase de expansão do capitalismo, o chamado capitalismo tardio, o que ele procura é por trás das manifestações culturais de nosso tempo entender que tipo de “lógica” elas tem, sem a necessária crítica a elas.

A discussão de Daniel Bell e Jean-François Lyotard são pontos de referência nesta discussão a partir dos anos 1970, Bell porque colocou a posição de entender que a nova fase econômica colocou a noção de capitalismo industrial no passado, e Lyotard desvendou uma modificação no estatuto de ciência e de tecnologia a partir do cenário de informatização nas sociedades desenvolvidas, porém a crítica convencional ficou presa a uma crítica superficial da chamada “tecno-ciência”.

O que ambos advogam e aqui dão força a uma terceira via de mudança, nem capitalismo nem socialismo, é uma cisão com o pensamento moderno e com a própria experiência da modernidade, algo que se vinculada tanto ao impacto das revoluções científicas e tecnológicas a partir dos anos 1960, e que colocou em colapso todas as narrativas modernas, que estão situadas historicamente em um ponto do passado da história recente e não apontam para um futuro claro.

Assim é a pandemia, a ausência de um futuro claro, ela nos desafia a repensar o futuro sem as narrativas convencionais, e o segundo ciclo da crise pandêmica já é a lógica que aponta para um futuro, sem mudar de atitudes e comportamentos sociais o futuro não será promissor, independente do surgimento da vacina, outros vírus poderão vir e não aceitaremos momento de pausa, de isolamento e de menos pressa no cotidiano, estamos presos a lógica da produção industrial e do consumo.

Há uma lógica mais profunda que é a relação aórgica, o inorgânico sobre o orgânico, que Sloterdijk defende e que Hölderling falava, alguns místicos também.

 

Redes e Bolhas

02 out

Uma sociedade que já vivia em bolhas, sejam elas culturais, políticos ou religiosas, se viu ainda mais presa as suas folhas com a pandemia e o isolamento social, ainda que isto tivesse um aspecto positivo de recuperar as relações intra-bolhas, porém as extra-bolhas parecem que terminaram por serem prejudicadas.

A pandemia mostrou que é impossível viver num isolamento, ainda que em muitos lugares foram tomadas medidas rígidas, e defendo-as como necessárias em muitos casos, o vírus não tem fronteiras, raça ou limites que não possa atingir, e o fim do isolamento social pode não ser tão benéfico como se imagina, os riscos no aspecto sanitário e também os problemas sociais agravados pela pandemia criam um cenário complexo.

É preciso rever o pensamento intra-bolha, aquele que provoca um isolamento social, voluntário ou involuntário, como é o caso das discriminações de todos tipos e não excluo as religiosas, e é preciso sanar o relacionamento extra-bolha, aquele que saindo do nosso grupo de segurança, nos leva ao encontro do Outro.

As redes sociais são um alento, sempre lembrando que não são as mídias de redes sociais exclusivamente, o conceito é mais amplo, é justamente na análise destes contornos fora das bolhas, que a potencialidade das redes se manifestam: a importância dos elos fracos, a análise dos “mundos pequenos” e até mesmo a pandemia pode ser olhada sob um prisma de redes sociais ajudando a análise dos contágios e auxiliando planos de controle.

Olhando a história foram pessoas e situações de contorno que criaram situações e soluções novas, aquelas condições que estão no limite ou fora das bolhas, que s]ao importantes e que via de regra a sociedade e o pensamento conservador as exclui, porque de alguma forma desestabilizam a “bolha”.

Profetas e oráculos na antiguidade foram rejeitados, inclusive pelas bolhas a qual pertenciam, são os casos icônicos de Jesus e Sócrates, por exemplo, mas na história são muitos casos que estão neste limite, e deve-se identificar quem são estes casos no presente, para estar a atento a soluções novas e realmente criativas.

É simbólica para explicar esta situação a parábola evangélica do vinhateiro que chegada a época da colheita manda empregados a sua vinha para receber o que lhe cabia que está em Mateus (Mt 21,33-43), os empregados são espancados, apedrejados e mortos, depois de dois envios o dono da vinha resolve mandar o próprio filho, e ele desperta uma cobiça ainda maior e é morto, e então estes maus vinhateiros tiveram a lição que mereciam.

É importante notar que são os que cuidam da vinha que fazem estas atitudes perversas,  isto é, estão dentro das bolhas, assim as primeiras contradições nascem dentro das bolhas e depois se refletem fora, ter uma atitude de abertura ajuda a resolver problemas e prevenir situações limite.

 

Um trabalho sobre análise de redes da pandemia

01 out

Cientistas chineses propuseram um método de mostrar visualmente, de maneira simples, o risco de pandemia em regiões com diferentes graus de conexão, a partir das bases de dados dos casos de infecção (relatados e confirmados do COVID-19) usando análise de redes, em artigo publicado pela Elsevier em Jornal da Desastres de Infecções.

As análises de redes já têm sido utilizadas em pesquisas médicas para estudos de co-expressão gênica, co-ocorrência de doença e topologias das dinâmicas de propagação de doenças infecciosas.

O estudo pesquisou os casos de COVID-19 confirmados na China desde o final Janeiro até março de 2020 e estes casos foram divididos em 9 períodos de tempos.

Os gráficos de redes construídos com base na correlação das mudanças no número de casos confirmados entre duas áreas geográficas (por exemplo, nas provinciais da China), se a correlação dava maior que 0,5 significava que as áreas conectadas estavam em uma rede.

O risco de pandemia era analisado com base nas frequências em diferentes regiões conectados nos gráficos de redes, com isto foi possível avaliar os níveis de co-evolução entre as regiões e com isto tomar medidas conforme cada caso.

O que o estudo demonstrou foi não basta confiar em casos relatados e confirmados da COVID-19, a análise de rede fornece dados para uma visualização poderosa e clara do risco de pandemia e a análise de rede pode complementar as técnicas de modelagem tradicionais, e segundos os autores estes dados podem fornecer evidências mais oportunas para informar futuros planos de preparação.

Futuros trabalhos quantificando a conexão da rede devem ser considerados em pesquisas e planos de pandemia.

Soa, M.P.K; Tiwarib, Agnes; Chud, Amanda M.Y.; Tsangd , Jenny T.Y.; Chan, Jacky N. L.. Visualizing COVID-19 pandemic risk through network connectedness Mike. International Journal of Infectious Diseases, 96, 2020, p. 558-561.   Disponível em: https://www.ijidonline.com/article/S1201-9712(20)30317-9/fulltext , Acesso em: 29 de setembro de 2020.

 

Laços fracos e a pandemia

30 set

Os laços fracos são importantes na teoria das redes conforme já mostramos no post anterior porque são eles que podem dinamizar as redes e fazer com elas saiam de seus nichos e andem por outros, porém como é isto numa mídia social é o mais interessante.

O que Mark Gronovetter, professor de sociologia da Universidade de Stanford demonstrou com seu artigo intitulado The Strength of Weak Ties, é que não só a qualidade dos relacionamentos de amigos e familiares importa, também a quantidade tem sua importância, e isto vai se refletir num outro artigo curioso de Duncan Watts e Stevie Strogatz.

Eles começaram a trabalhar com o entomologista Tim Forrest para tentar entender porque os grilos em determinado momento cantavam em uníssono quando atingiam um certo número destes insetos na floresta, queriam também entender se isto tem relação com os chamados seis graus de separação das redes.

Em redes perfeitamente regulares, os vizinhos de cada nó tendem a estar conectados uns aos outros, e essa redundância local, ou “agrupamento”, atua como uma interrupção natural de propagação, por exemplo, de um vírus, claramente, se todos os vizinhos de um nó infectado já estiverem também infectados, a doença terá poucos lugares para ir se estiverem isolados, já numa rede aleatória, significa que todos os vizinhos são suscetíveis de serem infectados.

Pareciam óbvios os resultados, mas o que eles descobriram é que é menos óbvio que quando apenas uma fração de links em uma rede regular estão ligados aleatoriamente, as doenças podem se espalhar quase também quando em uma rede aleatória, assim pela teoria das redes somente o isolamento completo da rede pode evitar o contágio.

O artigo deles na revista Nature, em 1998, “Colletive dynamics of ´small-word´ networks” demostrou o efeito que elas tem em larga escala a partir dos mundos pequenos com seis graus de separação, e sua influencia para a pandemia atual é que o isolamento social é necessário, e mais necessário ainda seriam os focos iniciais da pandemia agora já disseminada em todo país, e em poucas partes do mundo houve medidas efetivas contra sua propagação.

Entretanto o modelo de Watts-Strogatz não é genérico,  pois existe a necessidade de um número fixo de nós, e assim não pode ser usado para uma rede em expansão, outro modelo foi feita mais tarde por Barabasi e Reka Albert, chamado free-scale, neste modelo também tem limitações pois não consegue trabalhar com níveis altos de nós em redes reais, assim também tem limites para analisar, por exemplo, uma pandemia que atinge milhões de pessoas no mundo todo.

O que estes trabalhos históricos de análise das redes sociais inferem sobre a pandemia é que em momento que a pandemia já se generalizou, ou seja, o free scale de Barabási/Albert, já não é possível o controle apenas de focos e uma medida de proteção em larga escala é necessária, enfim um isolamento social amplo.

É claro que a pressão econômica não deverá deixar isto, e assim o uso de vacina torna-se imprescindível, mas qual ?

 

A importância dos elos fracos

29 set

Em teoria de redes os elos fracos são importantes, não são nas mídias de redes como facebook, Instagram ou outra mídia, as redes são formas de relações interpessoais vinculadas a determinados interesses e grupos (hubs) que são importantes e poderiam ser mais se fossem intendidas sujas funcionalidades e modos operacionais.

O laço fraco de uma rede, alguém que está na periferia dela e com pouco contato com o grupo central (os hubs) são na verdade os grandes potencializadores destas redes, na vida social, na ciência e até mesmo na política foram pessoas com pouca ligação com os grupos de poder que fizeram a diferença.

Li de Alan Turing, criador do modelo do computador digital moderno, que são “as vezes das pessoas que ninguém espera nada que fazem coisas que ninguém pode imaginar”, ele participou de um projeto secreto na Bell Laboratories que desvendou o segredo da máquina Enigma, de codificação de mensagens dos nazistas durante a 2ª. guerra mundial.

Einstein passou por várias escolas, e não é verdade que foi mal aluno, ele detestou todas elas. seus pais e professores achavam que tinha limitação mental, quando na verdade a escola não o inspirava nada, considerava-as fracas.

Também Stevie Jobs pouco se interessou pelos estudos e era um aluno displicente em sala de aula, numa sala de aula do primário quando uma professora perguntou se eles entendiam o universo, ouviu a resposta dele que não entendia “é porque estávamos tão falidos”.

Muitos são as pessoas simples que apontam para um período de grande dificuldades, apenas pensadores midiáticos, de redes de interesses com públicos que querem ouvir determinadas respostas a conjuntura atual é que fazem sucesso, em geral dizem que a pandemia não é nada, que quando passar vamos estar felizes, sendo assim não são apenas políticos a olharem para uma realidade complexa com respostas simplistas e pouco elaboradas.

No final da semana que passou falamos que os “últimos serão os primeiros”, agora dizemos algo além disto, são eles que podem fazer a diferença, em especial no quadro de gravidade social e sanitária que podemos aqui olhar os elos fracos, na “teoria das redes sociais”.

Mark Granovetter que estudou o assunto explica que por estarem distantes, são estes laços fracos que são capazes de levar a mensagem para ser “compartilhada” com pessoas e grupos de outros círculos, expandindo a rede.

GRANOVETTER, M. The strength of weak ties. In: American Journal of Sociology, University, 1973.