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Entre as faltas e os crimes
Diante de uma situação de perigo ou de pressão todos podemos cometer faltas e equívocos, porém os crimes mais punidos socialmente são aqueles que são cometidos intencionalmente ou pior ainda premeditados, planejados cuidadosamente e com requintes de maldades.
Também há crimes que são tolerados e não deveriam, são os casos de preconceitos ou roubos sistemáticos, mesmo que de coisas de pequeno valor, a sociedade pode e deve se defender nestes casos para evitar que o que é mal não se propague, e se a justiça é conivente ela também é cumplice destes crimes.
Porém a sociedade moderna não sabe como tratar faltas e deslizes humanos cometidos e que a pessoa tenha direito de se corrigir ou reparar possíveis danos, diante da mensagem religiosa estas pessoas são passíveis de reparação, porém devem reconhecer as faltas.
Pode acontecer também que faltas graves sejam cometidas por pessoas que tem certo respeito social, administradores, homens públicos e autoridades religiosas e elas não reconheçam que suas faltas são igualmente graves e este tipo de hipocrisia ou farisaísmo ocorre com certa frequência.
São particularmente graves porque estão sendo praticados por aqueles que deveriam fazer o papel justamente oposto ao que fazem e o poder de propagar culturalmente o mal é maior.
Isto precisa estar exposto socialmente para que a sociedade tenha defesa também destes crimes, eles são potencialmente maiores porque vão além do próprio crime e espalham falsos valores.
A sociedade que não os combate vai moralmente ficando perversa e pode chegar ao ponto de uma ruptura civilizatória, as guerras em geral estão nestes limites e só por isto são perigosos.
Uma cultura de paz deve incluir em valores cotidianos mensagens referentes a valores da paz.
O real perigo nuclear
Enquanto a Rússia ameaça a entrada da Ucrânia na OTAN levaria a uma terceira guerra, a retórica dos países do Ocidente é que o uso de armas nucleares “táticas” pela Rússia seria a guerra, assim a guerra entre estes dois países indica a possibilidade de um confronto mundial que seria catastrófico.
Difícil encontrar neste cenário brechas para algum acordo de paz, a escalada da guerra é ascendente e mesmo a opinião pública se encontra dividida, como o cenário antes da 2ª. Guerra.
A Coréia do Norte já testou seus misseis de cruzeiro, a China eis que na visão do Japão alcançariam seu território, a China censurou sua internet (lá há um controle da rede eletrônica nacionalizada) e a Índia apresentou seu submarino capaz de lançar mísseis nucleares, a Rússia já possui a tempo.
A ideia de um escudo na forma de um mosaico (vários países ajudariam a Ucrânia a defender seu espaço aéreo), é uma tentativa de resposta a demonstração da Russia sobre sua capacidade de atingir não só pontos estratégicos em território inimigo, como testou uma resposta a OTAN.
A Turquia quer mediar um acordo e o Iran continua enviando seus drones a Rússia que melhorou sua capacidade de ataque, também os poderosos mísseis Himars estão sendo agora alcançados pela bateria antiaérea russa.
É pouco lembrado na literatura mas temos mais de 400 usinas nucleares, que bombardeadas cada uma é uma bomba, e a maior usina da Europa, a Zaporizhia (foto antes da guerra) encontra-se em meio ao conflito, a presença de tropas ali é um possível cenário de uma catástrofe que atingiria toda a Europa.
Difícil falar de paz, porém ela deve ser pensada dentro de um processo civilizatório que seja capaz de reverter a tendência ao ódio, a intolerância e a convivência pacífica entre opiniões diferentes, o cenário social e mundial é cada vez mais polarizado e a ideia de submeter o outro pela força cresce.
A crise, a falsidade e a clareira
Hoje vale bem pouco aquilo que se é de verdade, importa mais o marketing pessoal, a maquiagem que esconde os defeitos do aquilo que o o homem de fato é, isto é consequência da oculta do Ser.
Assim a ocultação da verdade é resultado desta ocultação do Ser, não sua causa, o pensamento vai nesta direção porque no interior de cada Ser há espaço para a falsificação, a mentira e a hipocrisia.
Assim não é o caso de quem mente mais, é a ausência de uma clareira onde a consciência de cada Ser se apresenta, e o fermento dos mentirosos cresceu, como a passagem bíblica de Lc 12,1=2 “tomai cuidado com o fermento dos fariseus que é a hipocrisia, não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada oculto que não venha a ser conhecido”.
É certo que a categoria da “clareira” de Heidegger tem um sentido mais geral, envolve o todo que é oculto dentro de um Ser, porém para quem crê este todo se oculta em Deus, aquilo que somos no coração divino, e mesmo não crendo isto parece próprio a modernidade que não vê o todo.
A fragmentação do saber, a divisão social, a ausência de um pensamento transdisciplinar levou a um novo tipo de ocultismo, aquele que especializado só vê a parte e não vê o todo, ainda que a física quântica, a busca pelo universo infinito ou finito (procura-se sua borda) visto pelo James Webb, é a natureza e no interior do Ser que este todo habita e onde se esconde a verdade.
Como ela se ocultou foi a fragmentação social, a ausência de comunhão, onde o Todo se completa, a ausência de Amor transcendente (não é aquele da subjetividade idealista), onde somos capazes de enxergar o outro.
Formamos assim uma geração (no sentido de várias desde o século passado) se tornou má, egoísta e individualista, autofágica e excludente e com incapacidade de enxergar o Todo com clareza.
É certo que a justiça divina é superior a humana, porém ela não a ignora, Jesus contou uma parábola de uma viúva que vai a um juiz injusto que depois te tanto perturbá-lo, ele decide resolver para não ter mais o importuno dela e “não venha me agredir” .
E jesus explica a parábola aos discípulos (Lc 18,6-7): “E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?”, assim podemos ter esperança também numa justiça terrena.
A crise civilizatória e o pensamento
Não é um tempo propício para o pensamento, disse Peter Sloterdijk, dito de outro modo Edgar Morin pedia uma revolução no pensamento passando pela educação, o que se observa são correntes cada vez mais dogmáticas (é diferente de ortodoxas) em duelo, sem que uma compreenda ou argumente em função do universo da outra.
O contorno desta crise tem origem na incapacidade de caminhar para frente, os modelos propostos dão sinais de exaustão, a mídia e o senso comum apelam para argumentos superficiais, sem referencial claro e por vezes apelativos, isto chegou ao corpo social e a política.
Culpam as novas mídias, elas são apenas veículos do pensamento, a sua base cognitiva está na educação e no que é digerido no dia-a-dia das pessoas, e desde o início do século passado já dava sinais de exaustão, não poucos pensadores sérios comentam isto, de Nietsche a Freud, passando por escritores conservadores à direita e à esquerda, porque ambos retornaram as suas origens.
Há uma crise social, sem dúvida,, mas ela existe por ausência de respostas consistentes que mobilize a todos, o pensamento é segmentado, os grandes modelos e teorias faliram e o sinal disto é a sua radicalização a níveis irracionais, e o horizonte de guerra se desponta.
Em A cabeça bem feita, livro de Edgar Morin, ele afirma que a reforma do pensamento permitiria o pleno emprego da inteligência para responder a estes desafios e uma ligação entre culturas que estão dissociadas, trata-se de uma reforma não programática, mas paradigmática, ou seja, no que concerne a nossa aptidão para organizar o conhecimento.
Colocar tudo junto, exercer uma transdisciplinaridade, como aquela foi descrita nas considerações iniciais carta de Arrábida (Morin, Barsarab Nicolescu e Lima de Freitas a subscreveram): “Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais cumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências, no plano individual e social, são incalculáveis.”(Feitas, Nicolescu, Morin, 1994).
Esta carta estabelece uma ética nova: “A ética transdisciplinar recusa toda e qualquer atitude que rejeite o diálogo e a discussão, qualquer que seja a sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica” (Freitass, Nicolescu, Morin, 1994).
Freitas, Lima; Morin, Edgar; Nicolescu, Basarab . Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida, Portugal Convento de Arrábida, 1994.
A paz não desejada
Dois lados a medir forças, com ataques cada vez mais agressivos, não é apenas o que ocorre na Ucrânia, mas o clima geral civilizatório, poucos acreditam na paz e na reconciliação dos povos.
A crise civilizatória é anterior as duas guerras e para muitos analistas ela se ampliou depois.
Até mesmo no meio religioso há quem condene, dizendo que se busca uma “religião única” ou a obra do demônio será um clima de tolerância e paz entre as religiões, afinal que Bíblia eles leem.
Os últimos ataques de Moscou a Ucrânia, lançou 80 mísseis em diversas cidades, incluindo a capital Kiev, o objetivo foi principalmente atingir a infraestrutura, algumas cidades tiveram cortes de luz e dificuldades de abastecimento, é considerada uma resposta ao bombardeio da ponte que liga a Criméia à Rússia.
O G7 marcou uma reunião de emergência, alertamos num post que a espera da reunião do G20 para novembro era um período muito longo, e o hemisfério norte já estará a beira do inverno e dependente do gás russo para os ambientes de aquecimento.
Todo o ocidente condenou os ataques russos, claros há muitos sites e informativos que são pró- Rússia e de fato alertamos no post de segunda-feira que uma proposta de paz seria possível.
A Rússia está em desespero pelos reveses ou agora temos de fato uma guerra total e aberta, que tipo de resposta o G7 poderá dar é uma dúvida, a Ucrânia quer um escudo protetor para estes ataques, a Rússia quer o reconhecimento das regiões anexadas.
O ministro das relações exteriores da Turquia Mevlut Cabusoglu pediu um cessar fogo urgente, mas salientou que uma “paz justa” seria a permanência da integridade do território da Ucrânia.
A reunião do G7 realizada no dia de ontem (foto) anunciou um apoio “indeterminado” a Zelesnky, porém de prático é a ajuda humanitária até 2024, enquanto o presidente ucraniano pede um sistema de defesa aérea que chamou de sua “prioridade número 1”, a guerra vai extrapolando os limites.
A Rússia tenta arrastar a Bielorrússia para a guerra, enquanto a ucrânia envolve a União Europeia.
Quando vemos a resposta de sanidade vir da Turquia e um ocidente se arrastando para a guerra, é preciso entender de onde vem esta crise civilizatória onde o ódio e a intolerância se espalham.
Pós-Deus ou a tentativa de Teocídio
Mais do que a leitura de Nietzsche sobre a “morte de Deus”, entender o radicalismo religioso, além do evangélica, há o semita, o islâmico e correntes neopentecostais, a leitura de Pós-Deus, é na verdade uma releitura da questão do mal ou de modo mais correto “Deus está morto, e fomos nós que o matamos”, aquilo que chamo de tentativa de Teocídio, impossível, quer ele exista ou não.
Se Deus existe não poderá ser morto apenas apagado da mente humana, na lógica do hegelianismo de Ludwig Feuerbach ele existe apenas na mente humana e neste caso não existiria de fato e caso exista não poderemos mata-lo já que é imortal e precede a todos e a tudo.
Peter Sloterdijk em parte da proposição e claro da hipótese que ele só exista na mente humana, uma fantasia delirante dos homens, dizem muitos ateus convictos, já que os gnósticos não consideram a hipótese, o mais importante filósofo alemão vivo (considero o papa emérito também importante), vai analisar além de Nietzsche e de Cioran, o intermezzo de Lutero.
Lutero é particularmente importante porque é a raiz não declarada do pensamento de Nietszche, filho de pais e parentes luteranos, alguns pastores, a reforma protestante é fundamental para se intender o fenômeno religioso ou a chamada “revanche do sagrado”, ela entrou na cena política.
O livro, com este nome atrairá poucos cristãos, tem um interessante percurso de diálogo que passa por Hans Jonas (The Gnostic Religion), Harold Bloom (Presságios do milênio), Franco Volpi (O niilismo), Sergio Givone (Storia della nulla), Ioan Culianu (The Tree of Gnosis) e Sylvie Jaudeau (Cioran ou le deernier homme), todos autores e exegetas de Cioran, que teve uma experiência mística “desfigurada” de natureza ateia, desencantadora e niilista.
Quem foi Emil Cioran (1911-1995), autor que escreveu a partir de Nag Hammadi, uma série de manuscritos encontrados após a Segunda Guerra que matou mais de 40 milhões de vidas, na África a 50 km de Luxor, num grande recipiente de barro, numerosos códices de papiro escritos em língua copta e em grande estado de conservação.
A grande biblioteca “gnóstica” rapidamente se espalhou entre os intelectuais, data de cerca de mil e setecentos anos atrás, portanto durante a emergência ocidental do cristianismo, o autor projeta uma mensagem mística para o nosso estado atual.
Permanece até hoje está aura de “descoberta” de Nag Hammadi, na verdade dava asas ao que chamo de Teocídio, tirá-lo não só das mentes e sim construir uma “mística” niilista sem Deus, porém ela não escapa do que é, um niilismo exótico.
Sloterdijk fala da ascese desespiralizada, Cioran também o é, a busca de uma ascese sem toda esta falsa radicalidade difusa, não resiste a mínima ideia de princípios praticados, confunde a todos, e a política também está contaminada por ela, o único caminho possível para todos parece ser o ódio.
O ódio é o Teocídio mais veemente e eficiente, onde ele entrou, qualquer ascese possível saiu.
SLOTERDIJK, Peter. Pós-Deus. Trad. de Markus A. Hediger. Petrópolis: Vozes, 2019.
A paz possível
Enquanto a Ucrânia realiza avanços no sul, na região próxima a Kherson, e Putin oficializa a anexação das 4 regiões em disputa (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia), o empresário americano/sul-africano Elon Musk propõe um plano de paz, surpreendente para sua visão.
A ideia era a realização de referendos nas quatro regiões anexadas citadas acima, mas desta vez sob a supervisão da ONU, o fornecimento de água potável a Criméia (que depende da Ucrânia para isto) e a manutenção da Ucrânia como neutra em relação a OTAN.
Claro isto é para ser colocado numa mesa de negociação, surpreende porque o empresário até o presente momento era plenamente favorável a Ucrânia, e agora sofreu duras críticas do país, e por outro lado um aceno da Rússia para sua proposta.
Quanto valem as vidas humanas ali, de ambos os lados, o perigo de uma guerra nuclear, agora a tensão sobe também na Coréia do Sul com testes de mísseis e aviões na fronteira da Coréia do Norte, enfim é preciso tirar um pouco da pressão para fazer as mentes sadias respirarem.
O lado militar da guerra, teve pequenos avanços da Ucrânia no Sul e a explosão de uma ponte na Criméia, enquanto a Rússia prepara seus reservistas para novas ofensivas na região, os caríssimos mísseis HIMARS (high Mobility Artillery Rocket System) que tem dado exito aos avanços da Ucránia, são limitados em número e caríssimos, lembro que na guerra do Afeganistão eram lgo acima de 5 milhões de dólares, um afronto a pobreza e os níveis de vida de muitos povos.
O inverno chega no final do ano no hemisfério norte, e a corrida contra o tempo na guerra pode ser um mal sinalizador para ambos lados, a Ucrânia avançar a qualquer custo e a Rússia arriscar a vida de milhões de jovens numa guerra insana e a constante ameaça nuclear.
Já há testes sendo feitos, os possíveis alvos e que armas seriam usadas são pensadas por analistas de guerra, como se tratasse de um simples jogo de xadrez e não um risco civilizatório.
Pensar na paz é urgente, todos dizem querer, mas o que se vê em campo é uma crescente tensão e desafio aos limites do racionalismo humano (na foto acima é a rendição de um tanque russo, porém bem que poderia ser uma bandeira de paz).
Não há neutralidade nem inocência presumida
O resultado eleitoral no Brasil foi surpresa para muitas pessoas, entre os partidos em disputa há sempre um triunfalismo, isto é até natural, porém dentro das regras e das leis eleitorais que incluem as regras para divulgação de pesquisas e esta é a maior surpresa da eleição no Brasil.
O pior resultado das eleições democráticas é sempre algum arranhão na democracia, já frágil.
O livre debate de ideias e de propostas políticas é essencial na política e na sociedade como um todo, estes limites quando são extrapolados criam lacunas de ódio e intolerância prejudiciais ao processo político, não há como dizer que as pesquisas erraram e muito, porém erraram apenas em um sentido e isto é além da neutralidade presumida dos institutos de pesquisa.
Não há só desinformação, portanto, há também má informação e mal trabalhada pelos órgãos que deveriam preservar os critérios científicos matemáticos e estatísticos, dizer que houve uma virada às vésperas das eleições, é possível em dois até 4 pontos porcentuais, acima da alegada margem de erro, porém chegaram a 10% e até mais, isto não contribui com a democracia e tumultua.
Até mesmo o STF e STE se isentam de qualquer culpa ou pedido de investigação, afinal todas as pesquisas devem ser levadas ao Supremo Tribunal Eleitoral para poderem ser divulgadas, ou seja, ele pode não referendar (não é ele que faz a pesquisa), mas autoriza a divulgação e é solidário.
Para que não haja exploração político-eleitoral é necessária uma resposta a sociedade, até mesmo pesquisadores e analistas sérios comentaram o fato, cito Pablo Ortellado da USP (veja entrevista à BBC) que deu entrevista afirmando que devem rever os “métodos”, entenda-se aqui método por metodologia, penso que é pouco é preciso ter critério de neutralidade científica e política.
Para o bem da democracia, para um percurso pacífico e democrático no segundo turno é preciso sim esclarecer a sociedade como um todo, dizer que as pesquisas não influenciam é sofisma.
É preciso salvaguardar o processo eleitoral democrático e respeito as regras do jogo, no Brasil é muito difícil, mas a frágil democracia precisa disto e espera-se uma resposta à sociedade.
Roleta Russa: o perigo atômico
A retórica russa e da OTAN crece na medida em que a Rússia recua no terreno da guerra da Ucrânia, as forças deste país chegaram a Lymann, cidade no interior da Oblast (extado) de Donetsk, onde lá e também em Luhansk foram realizados plebiscitos contestados, e anuncio da anexação ela Rússia.
O avanço na direção da Oblast de Donetsk parece de fato um recuo das tropas russas, alertamos na semana passada que a Rússia não reagiria de modo pacífico numa perda da guerra, o anuncio da anexação demonstra isto, porém a convocação dos reservistas parece alertar algo maior.
O volume de convocação de 300 mil reservistas não parece ser apenas em função da guerra da Ucrânia, a ameaça nuclear tanto da Rússia como a resposta do governo americano não parece blefes, o próprio Putin afirmou não se tratar de um blefe, e analistas ocidentais dizem que a TV russa chega a comentar em suas notícias de guerra, o Armagedon, alusão a batalha do fim do mundo.
Apenas nove países do mundo contam com armas nucleares de destruição em massa, as duas principais potências no conflito Estados Unidos e Russia, contam juntas com 12.853 ogivas nucleares existentes no planeta, claro aquilo que se tem notícia, e isto é 90% do total, a China por exemplo tem apenas 350 ogivas, a Coréia do Norte que faz grande alarde pouco maitem menos de 100, as ogivas são cargas explosivas tendo uma capsula nuclear cilíndrica colocada dentro de um foguete, míssil ou projétil. A Índia é um quinto membro do grupo.
Devem ser pensados nesta conta também as usinas nucleares que uma vez bombardeadas podem ter efeitos até mais devastadores que as ogivas, porém é pensado que num estágio inicial seriam usadas armas consideradas “táticas”, mas é evidente que isto aconteceriam em efeito dominó.
Todo este cenário é aterrorizador, sempre é possível a negociação, a China já se pronunciou de maneira dura alertando para este possível transbordamento, porém a preparação e tensão entre a OTAN e a Rússia parecem colocar em risco em nível de alerta máximo.
A paz é sempre o caminho para o processo civilizatório, tem nuances sociais e políticas é óbvio, mas a defesa da vida e da civilização deve prevalecer sobre a insanidade, assim esperamos.
Os momentos são de elevada tensão e outubro será bastante decisivo para o conflito.
A escalada da guerra
Alertamos na semana passada que o risco de um avanço ucraniano provocaria a ira russa e é de fato o que está acontecendo, o governo convocou 300 mil reservistas, e o órgão OVD da ONU, informou que houveram protestos em 38 cidades e 1,4 mil pessoas foram detidas (Fonte RTP Portugal).
A guerra no leste da Ucrânia começa a inverter a tendência, as vésperas de um plebiscito feito pelo governo russo, as tropas ucranianas avanço na região de Donetsk, estratégica porque possui estradas e ferrovias para da Rússia se alcançar as regiões ao leste, incluindo Mariupol e Kherton.
Quais serão os próximos passos dependerá da gravidade do avanço ucraniano, a princípio estes jovens e pais de famílias que estão sendo convocados irão para o fronte então a ideia de esperar o inverno e tentar conter o avanço das tropas da Ucrânia parece uma primeira estratégia, mas as provocações de uso de armas nucleares prosseguem e os canais de imprensa dos EUA noticiam que o governo Biden teria feito uma ligação reservada ao governo russo.
O governo chinês pediu neste final de semana que não haja “transbordamento” da guerra.
Putin manteve até agora os protestos e oposição a guerra sob controle, a custa de prisões e certo cerceamento de liberdades de imprensa, também a maioria das regiões é governada por autoridades pró-Kremlin, porém é possível que a situação interna se agrave (foto de protesto).
Um agravamento que é incomodo para o governo russo, são as disputas fronteiriças entre Armenia e Azerbaijão, e, também Tadjiquistão e Quirquistão e a própria Rússia tem uma disputa de território com a Georgia, além dos vários conflitos fronteiriços (Finlândia, Moldávia, etc.), na prática a Rússia gostaria de voltar a ser a grande federação soviética, mas o cenário já é outro.
A questão russa é que a OTAN se aproveite destes conflitos para ter novos aliados, além da expansão territorial que teve no pós-guerra, sendo esta a principal razão alegada para a guerra com a Ucrânia.
O cerco de Leningrado, hoje São Petersburgo, foi não permitir que os comboios russos chegassem até a cidade e havia um cartão de racionamento da comida, quando uma pessoa morria a primeira coisa que faziam era roubar-lhe o cartão, também se alguém transportava comida na cidade era roubada, a cidade tinha cerca de 3 milhões de habitantes e a única passagem para a Rússia era o lago Ladoga.
Veio o inverno e o lago tornou-se congelado e possível de ser usado como rota, enquanto a situação do exército alemão é que enfrentava dificuldades de abastecimento e condições de suportar o frio.
A situação atual da Ucrânia é que há todo o outono para retomar as regiões do Dombass, e evitar a batalha do inverno, enquanto os russos querem sufocar a retomada, primeiro através de um referendo que garanta o apoio a anexação russa e depois com o envio de mais tropas.
Novas derrotas russas poderão agravar a questão nuclear e a própria Ucrânia pode sofrer com o frio se for obrigada a desligar sua usina Zaporijia.
Enquanto isto a Europa depende do gás russo para passar o inverno, já voltou a usar combustível fóssil e várias usinas nucleares foram desligadas em acordos feitos para evitar o uso de energia nuclear, estrategicamente nem a Otan nem a Rússia vão esperar o inverno para suas investigadas.
Há possibilidades de acordo de paz, mas falta uma pauta razoável para eles, a polarização minou as possibilidades.