Arquivo para julho, 2017
A sociedade grega antes de Sócrates
Deve-se entender Platão e Aristóteles e com eles toda a formação clássica do Ocidente, dos quais somos herdeiros em três aspectos didaticamente separados: o sociológico,
O aspecto sociológico, que diz respeito aos elementos da sociedade política criada pelo homem, diferentemente do período romano, onde o poder militar aparece com destaque, o princípios tanto em Platão (que dialoga com Socrates) como Aristóteles, seu discipulo, o aspecto filosófico se destaca, e o terceiro, importante, é o histórico.
A sociedade grega entre XII a.C à VIII a.C, chamado Homérico pois é o período escreveu Ilíada e Odisseia, houve a criação de diversas comunidades gentílicas, com uma forma de organização rural, mas com estruturas políticas nascentes.
Eupátridas nome da pequena classe dominante, o termo grego significa ‘’bem-nascido’’, se responsabilizavam por tomar decisões políticas e por coordenar instituições e organizar os instrumentos a serem usados nos trabalhos, mesmo nas terras e guerras
Haviam ainda os Georgoi, ou “pequenos agricultores” e os Thetas, ou “marginais”, que eram recrutados em colheitas e construções, mas os escravos ainda eram em pequeno número.
Criaram-se as fratrias, no intuito de estabelecer a preservação das terras, mas e o “poder” e no período de Platão (427-347 a.C.) começa a ser estabelecida a ideia que deve-se formar os cidadãos e que os filósofos seriam os melhores para governar as cidades-estado.
O período subsequente nasce a escola peripatética ou o Liceu de Aristoteles (384 a.C -322 a.C.) que vai estabelecer o conceito de Pólis e uma doutrina para ela: a Política, mas não se deve separar estes estudo do seu escrito “Ética a Nicômaco”.
A pólis tinha o poder num local mais alto, determinado acrópole, e depois palácios e templos.
No aspecto doutrinário-filósofico, pode-se analisar o Estado como foi concebido na antiguidade: a República de Platão e a Política de Aristóteles.
Metáfora, parábola e tragédia
Em tempos de crise cultura e de valores, a coisa mais comum é o julgamento apressado sobre certo comportamento ou pessoa, mas nem tudo que parecer ser é o mesmo, é o caso, por exemplo, de combate a um preconceito que cai em outro tipo de julgamento.
Ao se determinar que determinada forma de comportamento ou relacionamento é mais politicamente correto, pode-se eliminar o convencional ou o tradicional, na história da humanidade sempre o relacionamento entre tradição e as novas “modas” populares sempre foi importante, é por este discernimento que não caímos em puro modismo ou em desastres.
Vivemos ainda os efeitos de um pós-guerra mundial, e de muitas guerras com foco religioso, cultural e aos poucos retornam também as ideológicas, de fato é uma crise de modelos.
Realiza-se hoje o que estava escrito nos tempos bíblicos sobre a profecia de “:Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15Porque o coração deste povo se tornou insensível”, que é citado pelo evangelista Mateus 13,14-15, ao explicar por que Jesus falava em parábolas, mas qual a insensibilidade de hoje, é olhar o Outro sem preconceito, permitir que a diversidade possa estar presente na sociedade e respeitá-la.
Não se trata apenas pelo fato que temos problemas de imigração, mas que o mundo pelas TVs e pela Web se vê e tomamos contato com todo tipo de cultura e religiosidade do planeta, mas o respeito que devemos ter por todos ainda é diminuto, então só se pode falar em metáforas.
O livro de Paul Ricouer a metáfora viva parte da leitura da Poética de Aristóteles, livro que restou apenas uma parte do original, para dizer que sua construção é a base da literatura ocidental, onde podemos destacar a mímesis, o mito e a catarse como base, e como forma a tragédia, a catarse e a mímesis, talvez esta última a mais desconhecida.
Tanto nas tragédias de Sófocles, como nas epopéias de Homero, as artes miméticas se aproximam, a considerar que ambas representam seres superiores aos comuns. Aristófanes, autor de comédias, também imita pessoas agindo, fazendo o drama, podemos dizer assim que as parábolas bíblicas são também mímesis em trechos como: “o semeador saiu a semear”, “o administrador confiou os talentos a seus empregados”, e muitos outros.
Tanto como a parábola, e algumas formas de metáforas, a tragédia se identifica com a mímesis de qualidade superior à comédia assim pensava Aristóteles e mais tarde Nietszche, e tem como objeto, ações de caráter elevado (modelo ético); como meio, linguagem ornamentada; como modo o diálogo e o espetáculo cênico; e inclui a catarse.
A tragédia de nossos dias, pode-se dizer é a incompreensão da tragédia como parte da mudança e da solução, apenas revoltar-se ou indignar-se não resolve, apenas paralisa.
RICOEUR, Paul. A metáfora viva. Trad. Dion Davi Macedo.São Paulo; Loyola, 2000.
A dimensão do eu-tu de Buber
As ideias de Martin Buber contribuem para a integração de uma concepção filosófica do ser humano a uma atitude diante deste.
Em sua obra, Buber trata do homem no mundo, de suas múltiplas possibilidades de existir, dependendo de como se coloca.
As palavras-princípio eu-tu e eu-isso assinalam modos de ser do homem, formas de responder à realidade, que sempre solicita um posicionamento.
O eu que se abre para um tu não é como o eu que se relaciona com um isso, ou seja, a forma de relacionamento estabelecida fundamenta o modo de ser. Por isso, a relação produz diferentes possibilidades de a pessoa estar no mundo.
Eu-tu e eu-isso são parte do movimento humano, sendo inseparáveis, alternando-se constantemente a cada relacionamento (Buber, 1923/2001). Na atitude eu-tu, a pessoa entra em relação, deixa-se impactar, deixa-se atravessar pela presença viva do outro, seja este outro uma pessoa, uma situação, uma obra ou um ente qualquer. Há nesse instante uma dimensão intensiva, não mensurável ou redutível à temporalidade, espacialidade e questões objetivas. O mundo do tu não tem coerência no espaço e tempo: é um campo de forças, de presença, de vitalidade. Não pode ser apreendido ou aprisionado em representações: sempre escapa. Não se reduz à percepção: é intenso, vivo, pulsante. Sempre ressurge diferentemente, em contínua transformação. A atitude eu-isso, por sua vez, leva ao experiencial de forma objetiva as situações.
O mundo do isso ou da objetividade ordena o real, transformando-o em habitável e reconhecível.
Para Buber (1923/2001), a melancolia do destino humano é que o tu se torna, irremediavelmente, um isso, o que é necessário para a compreensão do processo vivido.
Não se consegue manter sempre a atitude eu-tu, pois o homem é incapaz de habitar permanentemente no encontro, a existência é pautada pela alternância entre as atitudes eu-tu, eu-isso e seus desdobramentos.
Na perspectiva buberiana, a experiência implica um distanciamento reflexivo, situando-se no âmbito do isso, enquanto a relação está no âmbito do tu. A relação é vivência, não experiência. Ao encontrar alguém no modo eu-tu, a consequente perda do espaço, do tempo e a desestabilização do eu possibilitam contemplação, novas sensações, atravessamentos.
A relação eu-isso, ao contrário, situa a pessoa no mundo dos objetos, ordenando e sendo extremamente necessária para a elaboração e a produção de significados, desde que não se torne a forma predominante de relação com o mundo.
Para Merleau-Ponty (1945/1999), ao perceber o outro apenas como um isso, objetificando-o, há um afastamento da sua presença viva, o objeto é só outro Ser, uma representação, mas o que é o mundo e o outro como “representação” ?
Fenomenologia, o Outro e o Diálogo
A psicologia fenomenológica também usa várias concepções vindas da tradição filosófica, e imaginar que é puramente filosófico o que deriva da virada ontológica ou apenas uma linguagem psicológica, ambas não são verdades, pois pode tanto pode estar ligadas na teoria e a prática psicológica, como estar presente em vários campos, por exemplo, na comunicação.
Se deseja-se alcançar maior rigor e coerência no Ser ontológico, é preciso recorrer à concepção de homem desta proposta, explicitando-a. de modo claro para a fenomenologia, cada ser possui uma especificidade ontológica, o que implica diferentes formas explicar e visões de mundo (Weltanschauung de Heidegger), que implica num “dasein” assim escrito por Heidegger: “este ente que é em cada caso nós mesmos e que tem, entre outras características, a possibilidade de Ser” (Heidegger em O Ser e o Tempo).
Tudo que existe é ser, mas o homem é ontologicamente diferente de outros seres, sendo recebido, em sua humanidade num mundo de relações concretas, sem separar o seu ser natural de sua esfera espiritual, deve desenvolver atitudes e ações para sustentar a própria vida, pode-se dizer ele é um dasein que tem vários raios de possibilidades, então como encontrar seu próprio raio, eis onde se coloca a psicologia e o seu Ser mais profundo.
Por mais que busque a estabilidade e a segurança de diversas formas ao longo da história, o homem está sempre diante de questões existenciais que o desestabilizam e o colocam em movimento, o livro A condição humana de Hanna Arendt pode ajudar muito.
Singularidade e pluralidade convivem lado a lado na difícil tarefa de habitar o mundo e transformá-lo (Arendt, 2002), isto parece muito atual e paradigmático neste tempo global.
Enquanto Ser o que delimita uma ontologia, que se mostra na sua totalidade, a singularidade mostra uma estrutura humana que é compreendida como biopsicossocial e espiritual.
A dimensão biológica se expressa na corporeidade, à qual o homem está definitivamente atrelado enquanto vive, portanto não pode separá-la da sua “substancialidade”.
Esta substancialidade é a forma singular entre os demais da mesma espécie, sendo ao mesmo tempo limite e abertura para o mundo, através da percepção (Arendt, 2002
Já na perspectiva de Martin Buber (1923/2001), não é através da transcendência da realidade mundana que se chega ao nível espiritual, mas justamente estando imerso nesta, a partir da relação com o Outro.
Arendt, H. A vida do espírito: o pensar, o querer, o julgar (5a ed.). Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
A animação no oriente
Ainda que cresçam os vídeos de internet e a disponibilização de filmes em canais pagos e sites aluguel online como o Netflix, o cinema ainda mostra vigor mesmo em países onde a tecnologia é de ponta, caso do cinema japonês, com a bilheteria de “Your Name” (Kimi no na wa), que chegou a 180 milhões de espectadores em 2016.
O que deve ser olhado é a mudança de linguagem, e o morfismo dos personagens, mais humanos, que também não estão longe dos famosos (entre os jovens) desenhos, podem-se citar Digimon Adventure, Naruto, Pokémon, Sailor Moon, Cowboy Bebop, Dragon Ball Z, Dragon Ball GT, Os Cavaleiros do Zodíaco, Sakura, Hamtaro, Digimon, Beyblade e Inuyasha.
Além dos já famosos desenhos de mangá, os desenhos dos filmes animados são muito coloridos, ricos em detalhes, com roupas elegantes, mas originais, e embora as histórias sejam irreais (não confundir com virtuais), os heróis cuidam das cidades e valorizam a imaginação com poderes especiais, que atraem crianças e adolescentes, num mundo carente de utopias e fantasias, não é de se imaginar o porquê de tanto sucesso.
O filme, Kimi no na wa (Seu nome), faturou cerca de 76 milhões de dólares na China, desde a estréia dia 2 de dezembro,
A distribuidora Toho do filme Kimi No Na Wa, disse que as vendas de bilheteria na China superaram os 9 bilhões de ienes, ou cerca de 76 milhões de dólares, desde a estréia no dia 2 de dezembro. 1 milhão de dólares na conservadora Tailândia.
Dirigido por Makoto Shinkai, conta uma história de amor de dois jovens do ensino médio, e que trocam de corpos, passando a viver uma aventura rica em fantasia e sentimentos, teve o lançamento no final de 2016 em 91 países, incluindo a França e Coréia do Sul, mas ainda sem data para o Brasil.
A ética e a moral sem esforço
Estabelece-las como regras, imposições e todo o esforço idealista para estabelece-la como “regra de estado”, que faz parte do cotidiano e por isso julgamos correta, não condizem com aquilo que de fato gostaríamos que fosse a nossa vida do dia-a-dia inundada por escândalos pessoais e coletivos.
Porque muitas vezes pessoas simples conseguem conduzir sua vida de modo mais correto do que pessoas doutas e elaboradas: juízes, promotores, políticos e até mesmo gente com alta titulação universitária ? a razão é que esqueceram a elaboração mais comum e simples destes valores:
Assim são valores éticos, aqueles que elaborados dentro de uma certa estrutura social, infelizmente a nossa é complexa e sem princípios claros, deveriam conduzir o nosso modo de agir social a um consenso, onde o conjunto das morais individuais poderiam auxiliar a atitude social de cada pessoa.
Por outro lado, a moral refere-se aqueles valores que adquiridos em família, e depois em sociedade ao longo da vida, nos faz discernir entre o certo e o errado.
Ambos se referem ao certo e errado, um de acordo com as regras sociais estabelecidas ou não, que é o que nos dá uma “ética” e outro que a partir de valores que deveriam ser dados em família, são mais tarde guias para nossas consciências em determinadas atitudes que devemos adotar perante o Outro.
O fato que em última instância será o Estado e não a família, o grupo social e a relação com o Outro que devem estabelecer estes limites entre o certo e o errado, o que seria então os moldes para uma cultura coletiva vigente, fez como que a “autoconsciência” proclamada por Hegel e por juristas entrasse num processo confuso.
Em uma cultura em crise, com desconfianças cada mais profundas nas ações do Estado, e com a falsificação de uma educação para uma “mínima moral” cada vez mais vacilante, o caldo da crise cultural que se vive engrossou, e temos dificuldade com as noções mais simples.
Vale a leitura bíblica que afirma que “revelastes aos pequeninos e as escondestes dos sábios e doutores” (Mt 11, 25), claro não é regra geral, mas aquela sabedoria velha e “arcaica” de nossos pais e avós parecem resolver questões nas quais sábios e doutores se enrolam a ponto de não encontrarem mais a saída.
Nem ético nem moral: apenas mínimo
A pretensa construção de uma modernidade de Estado, conforme o próprio Hegel deseja, a moral do Estado não é senão algo imoral, impensável até mesmo para o humanismo mais revolucionário que possa existir, o que elaboramos ao abandonar a moral pessoal foi a origem de um desastre ético e moral sem precedentes na história da moral, o mais profundo da crise cultural que vivemos é uma crise moral.
Pode parecer um discurso conservador, mas aqueles que releram Hegel a partir de Adorno, irão ver o que está por trás de uma pretensa ideia de um conjunto de instituições “imparciais”, alertava Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969), ao vislumbrar as arbitrariedades da República de Weimar, a luz de suas leituras de Kierkegaard e Nietzsche, elabora entre várias outras obras a MInima Moralia, que reunirá as suas experiências de exilado, onde são observados de modo particular as experiências pessoas na Alemanha antes do nazismo, e nos EUA de Rooselvet.
Não é nem uma a obra baseada em uma polêmica ou mitologia comercial fácil, como seria a contraposição entre duas grandes nações civilizatórias do ocidente, nem um caminho fácil de apresentar uma solução para a crise cultural e social que vivemos, mas vai ao seu cerne.
Aponta seu caminho como aquele que os filósofos “outrora chamavam vida, {e que então} reduziu-se à esfera do íntimo, e depois, do puro, e simples consumo, que não é senão um apêndice do processo de produção, sem autonomia e substância própria. Quem quiser aprender a verdade sobre a vida imediata, deve examinar sua forma ´alienada´, as potências objetivas que determinam a existência individual até nos recantos mais escondidos.” (ADORNO, 1951)
Desvela ao longo de seu trabalho que a autoconsciência preconizada por Hegel e institucionalizada no Estado Moderno, é arte de mostrar, debaixo da falsa aparência da ordem conformista, os mecanismos de controle, as “regras”, ou “métodos”, ou “estruturas ideológicas”, que estão sistematicamente eliminando a esfera da “consciência individual autônoma”, tão “ingenuamente” afirmada pela filosofia tradicional idealista.
Dirá sobre a autoconsciência, em Hegel, “era a verdade da certeza de si mesmo; nas palavras da Fenomenologia: “o reino nativo da verdade” … Hoje, self-conscious significa apenas a reflexão do eu como perplexidade, como percepção da impotência: saber que nada se é.” (ADORNO, 1951, p. 40)
Não sabemos mais o que a moral é, e nem somos mais capazes de elaborar uma “Mínima Moralia”, o roubo de bens públicos é quase uma regra, no dizer de Adorno até a consciência de-si está difusa: “Em muitos homens é já uma falta de vergonha dizer eu.” (idem).
Quem pensa que esta crise nasceu hoje, desconhece a história, e sem revê-la não saberemos como revertê-la para tornar a vida humana possível e saudável neste planeta.
ADORNO, T. W. Minima Moralia. Lisboa: Edições 70, 1951. (pdf)
Equívocos sobre ética e moral
É comum se ver ética e moral usados em um mesmo sentido, como por exemplo liberdade e costumes, e totalmente dissociados, enquanto a ética se refere exclusivamente a regras, a moral seria ditada por costumes, crenças e tabus.
Não é à toa que se vê uma sociedade tão ausente de valores, nem mesmo os estudiosos e governantes que deveriam zelar por valores e tratar de torna-los claros o fazem, por uma razão ao mesmo simples e complexa, simples é porque não estão convictos destes valores, e complexa porque a análise do contexto social em que isto se dá depende de análise profunda.
Esclareçamos primeiro, dentro de uma perspectiva histórica: um dos conceitos mais importantes de Immanuel Kant é denominado idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e conceitos a priori (aqueles que não vêm da experiência, e assim seriam fonte da ética e também da moral) para a experiência concreta do mundo, então já há aproximação destes dois conceitos.
Assim tanto a sua filosofia da Natureza como a filosofia da natureza humana serão determinantes na construção de sua filosofia moral, na qual formula o imperativo categórico:
Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal. |
Na Antiguidade Clássica, o termo vem de “ethos” que significa um modo de ser, ou “um conjunto de valores que orientam uma sociedade no caminho do bem-estar social”, a eudaimonia, o potencial pleno de realização da felicidade de cada um, porém sem abandonar os valores de conjunto da sociedade.
Hegel reformula o conceito Kantiano, mas definirá uma “eticidade” e não uma etica geral como:
Assim pode-se pensar em moralidade tanto em Hegel como em Kant como tendo uma moralidade subjetiva e uma moralidade objetiva, classica divisão idealista, que para Hegel em Kant teria prevalecido a primeiro, enquanto Hegel a definirá como “autodeterminação da Vontade”, prevalecendo portanto a segunda, o que é fácil de deduzir se pensamos em moral do Estado, que é o conceito mais importante definido em sua obra “Introdução a filosofia do direito”.
Assim, dentro da filosofia idealista, só se pode falar de moral no campo privado, já que a moral pública é a eticidade como qualidade do ético, objetivada que é pelas leis, aquilo que chamam de liberdade não é senão o direito do Estado de determinar objetivamente a moral privada.
Assim gerou-se um relativismo, e as inúmeras tentativas de reaproximar a ética da moral parecem influtíferas se não penetrarmos a fundo em duas questões novas que surgiram, o que é liberdade (tanto individual quanto social) ? e o que é vontade (individual e de poder) ?
Vale o adágio popular: a liberdade de cada um acaba quando começa a do vizinho.
Uma filosofia esperada
Eric Bronson escreveu o livro ” (O Hobbit e a Filosofia: para quando você perdeu seus anões, seu feiticeiro e seu caminho), para fazer, a nosso ver uma especulação filosófica, como um livro comercial de pura fantasia, pode tocar questões do pensamento humano incluindo: Confúcio, Platão e Aristóteles para Immanuel Kant, William Blake e o filósofo americano contemporâneo Thomas Nagel.
Mesmo considerando que haja aspectos filosóficos, é uma filosofia esperada, ou seja, trabalhar perguntas já conhecidas que nos tocam como é possível a misericórdia para um terrível e cruel criminoso, quais são os eventos emocionantes e que podem mudar nossas vidas, embora não seja nada como o previsto na sociedade do espetáculo, de Guy Debord da década de 60.
Fixo meu pensamento em Thomas Nagel, porque William Blacke convenhamos marcado pelo iluminismo e pela Revolução Industrial Inglesa, é profundo demais para o autor do Senhor do Anéis, o sul-africano Tolkien.
Mas Thomas Nabel, mais contemporâneo pode ser traçado dentro de algum traço de filosofia esperada existente no comercial Tolkien, o professor de filosofia e de direito na New York University, que faz 80 anos no dia de hoje, tem traços da fantasia idealista, com seu problema dual preferido: “a consciência é o que torna a relação mente/corpo um problema insolúvel”, é o que torna toda fantasia idealista perfeita, embora ausente de realidade.
É o que alguns autores chamam de ateu honeste, em seu trabalho “The Last Word”, em um capítulo intitulado “Naturalismo evolucionário e o medo da religião”, Nagel faz uma admissão sincera sobre seu pensamento: “Não é apenas que eu não acredite em Deus e, naturalmente, espere que esteja certo em minha crença. É que eu espero que Deus não exista!”, está escrito nas páginas 130-131 deste seu trabalho.
Eric Bronson traça este traço em Nagel, para dizer que fábulas confusas que nada tem de uma cosmogonia escandinava, como alguns personagens de Tolkien parecem apontar, na verdade não passa de reações a religiosidade ocidental, sem penetrar em culturas originárias.
Se cosmogonias bárbaras, poucos sabem, mas York é relativo a um Deus viking Jorvik, eles foram os habitantes medievais da cidade inglesa, e há um museu lá chamado Jorvik Viking Centre (veja foto acima a representação de um Viking no museu), com a reconstrução da York original, mas Tolkien nada sabe sobre isto.
Não há nenhuma novidade, via de regra, conservadorismo puro, idealismo adaptado a uma certa dose de ateísmo.
Uma filosofia inesperada
Já falamos em um post da questão da intransparência levantada por Habermas em um artigo, e também citamos brevemente o autor da Sociedade da Transparência, Byung-Chul Ham, mas agora ao receber o livro e abri-lo deparo-me com uma filosofia inesperada, profunda embora não acabada como todo discurso pós-moderno, mas heidegeriana e humanista.
Vê a questão da transparência por um ângulo novo, próprio de sua cultura oriental, desvela a questão com uma frase capital: “os eu se referem a transparência somente à corrupção e à liberdade de informação desconhecem a sua envergadura” (Han, 2017, p. 12).
Revela-a como violenta na página seguinte: “A coação da transparência nivela o próprio homem até acabar por torntornaelemento funcional de um sistema. Tal é a violência da transparência.” (pag. 13)
Revela logo a seguir porque somos vítimas deste novo anátema da modernidade: “a espontaneidade, o que é do registro de um acontecer e a liberdade, traços que constituem a vida em geral, nada comportam de transparência” (idem), e citando von Humboldt explica que: “ … e seria atentar contra a verdade histórica da sua origem e das suas transformações querermos desterrar dele a possibilidade destes fenômenos inexplicáveis” (Humbold apud Han, pag. 13).
Não deixa de apontar caminhos, que já traçamos aqui por diversas ocasiões da alteridade, mas apresenta-a numa roupagem nova, contrapondo à sociedade da transparência que não “permite lacunas de informação nem de visão”, explica que na língua alemã “lacuna” (Lücke) e a “sorte” (Glück), citando R. Sennet em seu “Respect in a World of Inequality”.
Faz uma nova frase repentinamente forte: “O amor sem lacuna na visão é pornografia”, tema que retornará e tema de outro livro seu “A agonia do eros”, outro tema certo deste tempo.
Mas não dá a isto uma explicação rasa, afirma que esta “sociedade positiva” afirmando que esta sociedade não é nem hermenêutica nem dialética, mas “uma sociedade que não admite do mesmo modo qualquer sentimento negativo” (pag.16), não faz esta afirmação porém é minha reflexão que tal é a função platônica do idealismo contemporâneo.
Afirma que esta sociedade positiva não é a causa, “mas a consequência de um fim da teoria (destaque do autor), no sentido autêntico, que s aproxima. A teoria não pode ser substituída sem mais pela ciência positiva” (pag. 17), em clara referencia aos apelos de praticidade da pragmática contemporânea.
Surge então neste plano, sem deixar de apontar o caminho que a política traça nesta perspectiva ideal-positiva, “A política é a ação estratégica (novamente destaque do autor). E por esta razão, há uma esfera secreta que lhe é própria. Uma transparência total paralisa-a” (pag. 18).
Paro aqui a análise, porque não é possível em neste espaço apontar os novos caminhos que o autor trilha, mas apenas neste começo do primeiro capítulo vê-se a largueza de sua análise.