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O inverno e a guerra
A Ucrânia anunciou uma contraofensiva na região do Oskil onde conquistaram pontos importantes e começa uma contraofensiva em Kherson prometendo chega até mesmo a região ocupada da Criméia.
Como o Russia poderá reagir e qual a importância desta retomada da Ucrânia? Antes de qualquer análise é preciso reconhecer que o colapso das forças russas na frente de Kharkiv são séria derrota e é pouco provável que Putin não reaja, o problema é qual é a reação.
As notícias de diversas fontes são que as tropas ucranianas fizeram importantes incursões na frente de Kharkiv, por exemplo, o Institute for War, com sede nos EUA, alo em torno de 2.500 quilômetros quadrados foram recuperados das forças russas.
As forças ucranianas empurraram a linha de frente de Kharkiv cerca de 70 km para o leste até o rio Oskil, conquistando vários pontos estratégicos importantes, em especial na região de Izyum, onde os corpos estavam em falas comuns com marcas de torturas e na margem ocidental de Kupyansk.
O inverno está chegando, e a Rússia além de controlar fontes de energia, também a usinas nucleares que estão sobre seu domínio, pode cortar o gás e sufocar não só a Ucrânia, mas boa parte da Europa.
Porém o que preocupa mais é a reação da Rússia se as derrotas se prolongarem, o uso de armas nucleares estratégicas pode provocar uma reação em cadeia da OTAN e um cenário difícil pode se desenhar.
Entraremos no Outono da Europa, que corresponde ao nosso inverno no hemisfério sul, e as tensões tendem a se agravar.
É preciso que forças pacificadoras se mobilizem e evitem uma crise que possa levar a atitudes drásticas e a um horror ainda maior.
A liberdade do mercado contra o mercado
Um dos principais motores da atual crise cuja guerra é uma consequência antes de ser uma causa é a chamada crise de mercado, diversos produtos enfrentam barreiras de tentativas de controle de preço contra a alta demanda das commodities: gás, petróleo, ferro e até silício (não a areia é claro, mas os produtores manufaturados).
Assim enquanto a União Europeia discute o controle do preço do gás, tenta aumentar o estoque devido a guerra na Ucrânia, uma vez que a Rússia é o principal fornecedor, o que é contraditório pois se compram mais para manter o estoque com o inverno a vista (novembro), o custo deve aumentar e assim não é possível controlar os preços.
Também o total desligamento da maior usina nuclear da Europa, a Zaporizhzhia, que está sendo desligada, poderá ampliar ainda mais a crise energética, a Rússia continua a apontar os perigos das armas e bombardeios de Kiev a região, que pode levar a consequências catastróficas,
A crise da China com Taiwan também esconde uma crise de mercado, por um lado o poderio da ilha rebelde na produção dos chips de silício, e por outro uma crise interna agravada pela falência da Evergrande, a maior construtora do país, que era particular e agora será estatizada na tentativa de conter a crise.
A gigante imobiliária chinesa não conseguiu entregar o plano de reestruturação da dívida conforme prometido até 31 de julho e de lá para cá o governo chinês além de descobrir os malefícios do capitalismo, também recorre a estatização para evitar uma quebra mais grave, a dos bancos que financiaram o calote.
A empresa deixou de pagar os títulos em dólares em dezembro do ano passado, segundo estimativas divulgadas pela CNN, os valores chegariam a 300 bilhões de dólares em passivos, o que gera uma onda de falta de crédito em empresas que atuam no mercado imobiliário chinês.
Assim a China comunista conhece agora o efeito perverso do livre mercado.
O setor é responsável por quase ¼ do PIB chinês, e a atividade que mais contribuiu para o crescimento recente da economia lá, agora enfrenta uma forte desaceleração que também preocupa o mercado ocidental, que fez muitos e novos investimentos neste mercado.
Dependência do gás russo (gráfico) pode afetar gravemente a economia mundial, por exemplo, mesmo o Reino Unido sendo independente já é afetado.
Crise energética e tensão no oriente
A retaliação de Moscou às sanções impostas após a invasão da Ucrânia, começam a causar impacto na economia europeia e no Reino Unido causou a renuncia do primeiro ministro Boris Johnson, embora o problema seja mais amplo de inflação que em 2023 pode ir até acima dos 20%, o principal impulso é a alta do gás natural em toda Europa, a Rússia acusa a Alemanha pela crise.
Os países da União Europeia procuram estocar gás natural para o período de inverno que virá.
Tomou posse a primeira ministra Liz (Elizabeth) Truss, em eleição interna do partido Conservador contra o ex-ministro do Tesouro, Rishi Sunak, ela é conhecida por ser camaleão, adotar discurso conforme o contexto, na verdade parecida a muitos líderes da atualidade.
Foi contrária, por exemplo, ao Brexit e depois de ter sido adotado tornou-se a favor.
A população de Taiwan observando a guerra da Ucrânia sempre citada em noticiários locais, atentam para uma possível guerra com a China, e preparam-se para eventuais crises com exercícios, treinamentos de primeiros socorros e logística para fugir de bombardeios.
Na semana passada um drone foi derrubado viajando em território Taiwanês, segundo notícias da Deustche Welle, reproduzida no portal G1, desde março uma ONG chamada Forward Alliance além de oferecer treinamentos de defesa civil procura melhorar a resiliência nacional.
Segundo Enoch Wu, fundador da Forward Alliance: “O objetivo é manter as comunidades funcionando, e os treinamentos ajudam a preparar os cidadãos contra crises naturais ou provocadas pelo homem”, mas o pano de fundo é uma possível guerra com a China.
A tensão sobe entre China e EUA devido o anuncio da venda de 1,3 bilhão de dólares de armamentos para Taiwan, a China promete resposta ao que considera “destruição da paz”.
Pode ser um despiste, mas os principais treinamentos que a primeira-ministra de Taiwan participa estão na ilha de Penghu (Pescadores), ela é pequena e embora possua uma estrutura de defesa é isolada e distante da Ilha Formosa que é de fato o território de Taiwan.
A aflição e a salvação
Ao contrário do que pensa o senso comum, os aflitos não estão entre os desgraçados, mas entre os injustiçados, é preciso então pensar na vida do justo e na sua salvação.
Conforme escrevemos anteriormente: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados, bem aventurados os mansos porque possuirão a terra”, e, versículo 9: “bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” e estes são os justos e sofrem afliação.
Mas a ajuda fundamental de Kierkegaard é sobre a questão da identidade, definições enquanto ser-em-si e ser-no-mundo, e, o conceito de eterno que é um lançar-se no “infinito” que é onde está a salvação, ainda que o filósofo não o declare exatamente assim.
Assim é preciso ser que o cálculo que fazemos quando enfrentamos injustiças está entre uma conta que só diante do infinito e das consequencias ela pode ser definida, e como postamos ao contrário a queda se poderia colocar os trechos bíblicos do novo testamento as bem aventuranças em Mt 5,1-12, do versículo 5:“bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
Assim é preciso entender este cálculo quando feito ao se referir ao cálculo da salvação feito em Lc 14,28-30: “Com efeito, qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a caçoar, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’”.
Esta paz é diferente da “paz perpétua” proposta por Kant e pelo idealismo (veja nosso post), ela resultou em duas guerras e na crença que o estado poderia resolver todos conflitos.
Entre a aflição e a paz, o infinito e o eterno
Muitos procuram uma felicidade a qualquer preço, por isto refletimos no início da semana a empatia, depois refletimos sobre a angústia e a aflição que estão no pensamento e no sofrimento, mas são eles que, se bem entendidos nos levam a felicidade real e a paz construída.
O “Conceito de angústia” (1884) de Kierkegaard mostra múltiplas formas da angustia: da liberdade ou do nada, há uma escolha pessoal disto que o autor chama de escolha de a si, a angustia do bem e da obstinação, a angústia da sexualidade, a do amanhã e a do finito, é ela que precede a fé.
Neste ponto é possível ligar a uma visão fenomenológica, e ainda ligá-la a interpretação do trecho bíblico da queda do homem no pecado (Genesis 3), ignorando pela cultura iluminista/idealista, que é a angústia da liberdade ou da escolha que ocupa um papel essencial para o Ser.
Segundo Kierkegaard o homem é chamado, enquanto espírito (acrescento e mente), a colocar a relação entre os elementos que o caracterizam estruturalmente, de igual modo, aqueles que podem conflitar entre si (corpo e alma, temporalidade e eternidade), escolhendo uma forma de existência entre as inumeráveis que historicamente se lhe apresentam, aqui a fenomenologia.
Embora inumeráveis, Kierkegaard pedagogicamente enumera algumas que são escolhas em três estilos (ou “estádios”) de vida: o estético, o ético e o religioso, é redutivo, mas interessante.
A abertura que vejo (nele é só existência, mas poderiam ser essência enquanto Ser) é aquilo que a angústia é, portanto, “o nada” que que cada pessoa em sua indeterminação o “é” no momento de estabelecer a síntese a ponto de dar-se uma “identidade”, tema controverso no idealismo, aqui que penso ser possível conectá-lo ao “ser no mundo” de Heidegger, embora conceitos diferentes.
Contrário a queda se poderia colocar os trechos bíblicos do novo testamento as bem aventuranças em Mt 5,1-12, destacamos duas que tratou-se nestes dias, versículos 4 e 5: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados, bem aventurados os mansos porque possuirão a terra”, e, versículo 9: “bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
Mas a ajuda fundamental de Kierkegaard é sobre a questão da identidade, definições enquanto ser-em-si e ser-no-mundo, e, o conceito de eterno que é um lançar-se no “infinito”.
As bibliotecas e as guerras
Na década de 50, logo depois da Segunda guerra Mundial, a revista brasileira de documentação traduziu e publicou um artigo de Carl Hastings Milan sobre as Guerras e as perdas de documentos e de bibliotecas.
Ele havia sido diretor da Biblioteca Pública de Birmingham, onde abriu o primeiro ramo de serviços para autores e leitores afro-americanos, o artigo está disponível online e mostra uma face da guerra para as bibliotecas em alusão ao post anterior que fizemos neste blog.
As transcrições para o português foram feitas por Sylvio do Valle Amaral e o artigo original é logo em sequência da guerra em setembro de 1944, publicado no The Annals of The American Academy of Political and Social Science da Filadelfia.
O artigo começa indicando a interrupção e descontinuidade de revistas e publicações em períodos de guerra, além da perda material e a falta de intercâmbio de muitos documentos.
O autor enfatiza esta perda onde: “os editores e livreiros de Londres perderam milhões de volumes, em 1940-41. Várias famosas bibliotecas britânicas de erudição e dezenas das públicas, foram danificadas ou destruídas. Diversos países europeus, a Rússia, a China, além das Filipinas, sofreram ou estão agora experimentando destino semelhante, porém, o mais triste está para vir” (MILAN, 1950, p. 50).
Antecipadamente muitas obras foram tiradas ou escondidas das bibliotecas alemãs, mas a destruição e os saques representam um ataque cultural segundo o autor “infamante” que foi creditado a Hitler, é importante olhar isto para a história para que ela não se repita agora.
Entre as denúncias do autor está que também na derrota: “Os jornais, recentemente, noticiaram a queima de livros em Nápoles, antes da retirada do exército nazista” (idem, p. 50), e assim uma parte da história é apagada, independente do que aqueles documentos representam, eles são importante testemunho cultural de um tempo, que por ser ultrapassado está sujeito a crítica, mas não há o direito de apagá-lo, são documentos culturais.
Restabelece o papel das bibliotecas, agora também em crise em função de uma visão deformada da tecnologia digital que aqui também postamos, porém diz o autor para aquela época: “Básica ao restabelecimento da atividade intelectual em todo o universo, é a reorganização das bibliotecas” e ignorar isto é um crime contra a preservação cultural e da memória dos povos.
Depois de enfatizar a cooperação e apoio às bibliotecas da américa latina e de outros, países discorre sobre a formação de bibliotecários:
“A despeito de comum reconhecimento,- nos Estados Unidos e no exterior, das imperfeições de nossos métodos no preparo de rapazes e moças para o trabalho nas bibliotecas, número surpreendentemente grande de estudantes do exterior vem a êste país em épocas normais a fim de obter o que as-escolas dessa especialidade podem oferece” (MILAN, 1950, p. 53)
MILAN, C. H. As bibliotecas, os intelectuais e a Guerra, trad. Sylvio do Valle Amaral. Rio de Janeiro: REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO, AGOSTO DE 1950.
Guerra e paz
Li um comentário recente sobre Leon Tolstói (1828-1910) que outro escritor russo Ivan Turguêniev afirmou que conhecer e ler Tolstói é melhor que do que se lêssemos centenas de obras de etnografia e de história” para conhecer o caráter e temperamento do povo russo, conservadores como a Alexander Soljenitsin (1918-2008) que chegou a ser considerado seu sucessor, e Vladimir Lenin líder da revolução soviética que o considerava um dos maiores escritores russos.
Muitos de seus livros foram para o cinema, recentemente (2012) Anna Karenina foi reescrito para o cinema, sob a direção de Joe Wright, e concorreu ao Oscar e ganhou o de melhor figurino, porém uma obra prima de Tolstoi é o livro Guerra e Paz.
De Guerra e Paz lembro impressões e algumas frases soltas, e do contexto do livro que fala das guerras czaristas de seu contexto e tempo, porém que é revelador do pensamento russo sobre a guerra, e que não se ignoram os seus flagelos.
O livro trata da vida de 5 famílias aristocráticas, no período que vai de 1805 a 1820, em meio a marcha de tropas napoleônicas e seu impacto brutal sobre a vida de centenas de personagens.
Ali destacam-se figuras como os irmãos Natacha e Nikolai Rostóv, do príncipe Andrei Bolkónski e de Pierre Bezúkhov, filho ilegítivo de um conde cuja busca espiritual serve como uma espécie de fio condutor do romance e transforma-o num personagem complexo e intrigante do século XIX, e cuja busca será um complemento para a paz em meio a guerra.
Uma espécie de refúgio parecido ao da Menina que rouba livros, que neste caso é no contexto da Alemanha nazista e ela vai encontrar nos livros um refúgio para o ambiente sombrio da ascensão do nazismo na Alemanha.
Vejo um traço comum nestes dois livros que é este “refúgio”, algo entre o espiritual e o de leitor, porém ambos conseguem criar num ambiente sufocantemente odioso, lacunas e espaços de paz e de elevação espiritual.
Se a guerra vier, qual será nosso refúgio, em que patamar de vida espiritual e de conhecimento desejamos colocar nossas vidas que estarão em risco, creio que são leituras contemporâneas.
TOLSTÓI, L. Guerra e Paz, trad.Rubens Figueiredo, São Paulo: Cia das Letras, 2017. (Vol 2 pdf)
A assimetria negativa: humildade
Se todas relações são de certa forma assimétrica, isto é, envolve algum poder e alguma forma de dominação ou ao menos uma tentativa, a única forma de se contrapor a ela é a humildade, que não é autoflagelação, a desvalorização ou a resignação, é uma forma de não se opor ao poder imposto, como tirar o corpo de uma ação violenta e assimétrica.
Ela é assimétrica no sentido negativo, porque o poder e a comunicação o é no sentido positivo, como poder significa evitar que o espírito de dominação, vingança e depreciação do Outro passe por você, como comunicação significa ouvir com atenção e esperar para discordar do que é não simétrico, que é mais geral que o assimétrico, demonstra a assimétrica positiva, por isso a nega.
Assim uma resposta a violência com violência é uma assimetria positiva, a resposta com a bandeira da paz é desmoralizadora e eficiente contra um inimigo violento, Ghandi a usou para libertar a Índia do domínio inglês.
Também quando a violência é arrogante e desumana, por exemplo a morte de civis, crianças e idosos nas guerras, faz a máscara do poder cair e demonstra toda sua assimetria e arrogância.
Para inverter a lógica da guerra e instaurar a lógica da paz é preciso sim vencer as injustiças e o desrespeito as diversidades sociais, porém a guerra é exatamente o oposto: a contraposição ao respeito da diversidade, a imposição de uma visão unilateral e o agravamento das injustiças.
Assim o que devemos buscar e o banquete dos humildes, a glória dos últimos e a paz daqueles que não tem armas e preferem a comida da mesa ao alimento metálico dos poderosos.
O verdadeiro cristianismo não se une ao poder, mas que estão na base da pirâmide, diz o Evangelista Lucas (Lc 4,12-14): “quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir.”
Parece uma lógica equivocada, porque não é a lógica imposta pelo poder, mas é a lógica dos justos.
A posição do poder e a simetria
Conforme elaboramos no post anterior, o poder é sempre uma posição hierárquica e assim a decisão final e os instrumentos de opressão estão as posições somente daqueles que ocupam os postos maiores na hierarquia e o que resta a base da pirâmide é a rebeldia ou a resignação.
Se o poder é necessário cabe a quem está no posto exercê-lo com discernimento e generosidade, o ideal era que de fato estivessem a serviço, mas salvo raras exceções, a maioria serve-se do posto, e de modo geral a eles todos aqueles que sofismam com o poder.
O modelo platônico e aristotélico supôs que a polis poderia ser governada por aqueles que eram bem preparados e para isto criaram instrumentos de formação do cidadão da polis, por excelência, o político.
A evolução deste modelo chegou ao iluminismo, e praticamente todos modelos atuais (há algumas exceções na África e em países da Ásia) este é o modelo de poder da maioria das nações, pela força, pelo voto ou por aquilo que Byung Chul Han chamou de psicopolítica, iludindo os povos.
Mas é importante lembrar que existe o poder disseminado por toda a estrutura social, e também que existem as redes (podem ou não usarem mídias) e através delas cada um pode exercer sua ação para um mundo melhor, mais simétrico e com maior reciprocidade entre os co-cidadãos.
Sloterdijk criou o modelo da co-imunidade, mas elas pressupõem que sempre algum “mal” impera, algo como o “mal estar da humanidade” o que aqui chamamos de crise civilizatória, a ausência de um modelo real para se contrapor aos modelos ditatoriais vigentes ou em escala crescente, há uma volta ás crises do início do século, justamente por não haver se oposto a raiz do modelo: o iluminista e o idealista.
As razões econômicas são consequências e não raiz destes modelos, como pretendia Edgar Morin ao enfatizar que não há como mudar sem mudar a raiz do pensamento, também Heidegger afirma que abandonar a revolução do pensamento é não permitir uma mudança real na sociedade, e que é no fundo a razão pela qual voltamos as teses anteriores a primeira guerra, ou seja, repetimos a história.
A simetria, a reciprocidade, a compreensão da diversidade humana e o respeito a ela quase sempre é ignorada pelos modelos do início do século passado, voltar a eles não é senão prenuncio de uma tragédia maior: a crise civilizatória de raízes mais profundas que as anteriores.
Quem sofrerá mais será a base da pirâmide do poder, porém o volume de poder bélico pode levar a uma catástrofe humanitária sem precedentes, só a solidariedade, a fraternidade e a reciprocidade podem evitar e redirecionar esta crise.
A guerra total por um fio e o G20
Enquanto prossegue a guerra na Ucrânia, agora com pontos de tensão na Criméia anexada pelos russos, a China continua com “exercícios” próximos da ilha de Taiwan. Neste domingo (21/08) foram avistados 12 aeronaves e cinco navios, sendo que 5 aviões cruzaram a linha mediana do Estreito de Taiwan.
A guerra vai tendo uma escalada de violência com a morte da filha Darya do ideólogo russo Alexandr Dugin, que faz uma mistura filosófica de Lenin, Stalin com Nietzsche, Weber Heidegger e outros, uma autêntica salada russa filosófica. O carro de Darya explodiu e incendiou matando-a no incêndio.
Nas últimas horas a Ucrânia atacou a sede administrativa russa em Donesk e navios russos na Criméia, a guerra neste momento ali é total e a capital Kiev pode voltar a ser atacada.
Em comunicado no dia de ontem (22/08), a China reagiu ao discurso do embaixador americano Nicholas Burns, que a acusa de estar “fabricando crises” dizendo que os EUA praticavam “uma retórica vazia, e uma lógica hegemônica” e a temperatura entre as duas nações mais ricas e fortes militarmente está subindo.
A aproximação de Rússia e China é cada vez maior, e o governo americano vê isto como uma forte ameaça, uma vez que cria duas grandes frentes de conflito e em pontos distintos do planeta, o perigo de uma guerra de proporções inimagináveis cresce.
Uma esperança seria a reunião do G20, grupo das 20 nações mais ricas, do qual participam entre outros países: EUA, Japão, Alemanha, Rússia, China, União Europeia, Reino Unido, Japão, Coréia do Sul, África do Sul, Brasil, Argentina, México, Austrália, Canadá, Arábia Saudita, Turquia e Indonésia, onde será a 37ª. reunião do G20, em Bali.
A data de 15 e 16 de novembro, entretanto é muito distante e as tensões são emergenciais, a ONU não conseguiu avanços nas negociações da Rússia e Ucrânia, num mundo fortemente polarizado faltam interlocutores que sejam confiáveis em ambientes de conflito.
Não é exagero dizer que estamos em alerta laranja nos aproximando do vermelho em função das ameaças e retóricas das grandes nações do planeta.
A esperança sempre há, em muitos casos na história há um ponto de inflexão em que a curva inverte sua tendência, neste cada uma tendência para a paz.