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A origem e a crise do humanismo
As duas guerras e a tensão atual Rússia x Ucrânia e China x Taiwan, que não são outra coisa que a tensão agora entre dois tipos de sistemas coloniais o imperialismo capitalista e o imperialismo ideológico, que não é apenas marxista ou comunista, porque isto exige uma discussão sobre o tema.
Sua proposta, segundo o próprio Sloterdijk, foram bem compreendidas pelos participantes, entretanto na reação dos filósofos havia um conteúdo “fascista” nelas, qual seja da seleção genética da humanidade, ou na indução desta mudança.
Também tive esta reação numa primeira leitura, no meu caso a crítica a “Cartas sobre o humanismo” de Heidegger, um dos temas centrais que aborda, além do questioamento que faz da concepção do humanismo, a sua grande contribuição está em compreender a relação ôntica sobre a ontológica, invertendo a precedência que Heidegger faz do ontológico sobre o ôntico.
Na prática significa uma revisão do motivo da clareira, como a incorporação de sua história natural sobre a social (Sloterdijk, 1999, p. 61), significa que há uma dimensão natural sobre o ontológico.
Pessoalmente prefiro não submeter uma dimensão a outra, digo que elas cooperam, algo parecido àquilo que escreveu Henri Bergson em sua “Evolução criadora” (1907), porém aderindo ao místico, e é claro que isto depende de uma cosmovisão com algum fundo religioso.
A revisão que Sloterdijk faz da “Política” de Platão (Sloterdijk, 1999, p. 47-56) desenvolve as origens do humanismo na Antiguidade, no seu ver, ligada ao exercício de uma inibição, a do hábito de leitura capaz de pacificar, domesticar, desenvolver a paciência, em oposição aos frenéticos divertimentos do “desinibido homo inhumanus”.
A metáfora platônica supõe que essas diferentes naturezas se encontram no Ser, ou seja são ontológicas, e como matéria-prima para formar o cidadão grego (o político), há o artifício de separá-las de modo a ter a configuração desejada para sua função na polis.
É preciso lembrar que também os gregos já falavam da areté, o exercício da virtude, para usar um termo de Sloterdijk “uma vida de exercícios”, porém a visão do filósofo alemão é que este projeto fracasso, e na nossa análise que inclui a mística, significa que há um abandono do areté.
Assim, não faço aqui uma defesa cega de Sloterdijk, apenas constato que sua crítica ao humanismo é a este projeto “pacificador” do homem, daí o porque das “regras do parque humano”, sua sugestão da natureza ôntica, não significa necessariamente a manipulação genética.
Está por trás desta questão a pergunta se o homem é bom ou mão, como fizeram os contratualistas iluministas ao definir o papel do estado, então a pergunta de Sloterdijk procede.
Em meio a ameaça de guerras com perigo civilizatório a questão permanece, e a resposta é o tipo de humanismo que queremos, e os modelos em jogo ainda não são alternativas ao modelo do estado como aquele que “pacifica” o parque humano, daí o recurso da guerra.
Sloterdijk, Peter. Regeln für den Menschenpark – Ein Antwortschreiben zu Heideggers Brief über den Humanismus. Frankfurt/M, Suhrkamp, 1999. Tradução brasileira: Regras para o parque humano – uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo. Tradução de José Oscar de A. Marques. São Paulo, Estação Liberdade, 2000.
A guerra do silício e o porco-espinho
Já postamos a potência que é Taiwan na produção de chips, que em sua maioria são produzidos a partir do silício, porém a areia de onde se tira o silício vem da China, claro e de outros países, mas isto depende da travessa de navios pelo mar e isto é a estratégia da China.
A desproporção populacional e do efetivo de tropas é enorme, a China tem 1,4 bilhões de habitantes enquanto Taiwan tem 24,5 milhões de habitantes, o efetivo militar da China é mais de 2 milhões enquanto Taiwan está próxima dos 170 mil, neste efetivo a desproporção menor é da marinha de 240 mil para China e 40 mil para Taiwan.
Assim a estratégia de Taiwan chamada de “´porco-espinho” consiste em contra-atacar com espinhos dolorosos, ou seja, em vez de adquirir caças e submarinos caros, implantou sistemas defensivas móveis e ocultos, com mísseis antiaéreos e antinavios e estes serão os “espinhosos dolorosos”.
O sacrifício de vidas civis é inevitável, ainda que condenável por todos tipos de acordos de guerra, erros de estratégia, alvos equivocados e até mesmo o ódio que as guerras geram acabam por atingir inocentes que mal compreendem os motivos reais das guerras e das disputas comerciais.
De qualquer forma isto teria uma duração limitada pela disparidade das forças, então serão precisos em atuar em outras frentes: financeiras, comerciais e informacionais (incluindo a cibernética já em curso).
Enquanto a China planeja o estrangulamento e isolamento da ilha rebelde e Taipei aperfeiçoa a estratégia porco-espinho, os americanos ficam na ambiguidade de por um lado tentar manter as relações boas com a China e por outro não revela o apoio que pode dar a Taiwan em caso de ataque, mas os analistas afirmam que dará.
A guerra da Ucrânia não é senão um capítulo a parte no aspecto ideológico desta questão, já que Rússia e China são aliados políticos que querem destruir as forças do capitalismo ocidental, embora ambas tenha absorvido aspectos da livre iniciativa.
Há uma terceira força neste tabuleiro que são os países islâmicos, Turquia e Irã em especial, e eles podem representar um desiquilíbrio das forças que mantém a tensão num estágio pré-guerra mundial, onde um confronto total levaria a uma crise nuclear.
Há forças pela paz? Sim, mas parecem enfraquecidas, a ONU não consegue ter um papel de mediadora e em alguns casos, como a anistia internacional, tem também lá havido defecções ideológicas de ambos os lados.
A humanidade sempre conseguiu sair destas ciladas e crises civilizatórias, no momento é difícil encontrar estas respostas, mesmo pensadores como Edgar Morin ou Peter Sloterdijk parecem um colapso de proporções mundiais, talvez uma força superior àquela que a maioria dos homens acredita, algo sobre-humano ou sobrenatural.
Liberdade, Tolerância e Paz
Diz o adágio popular: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”,estenderia este pensamento a tolerância e a Paz, onde elas deixam de existir, também a liberdade acaba por ser cerceada.
Não só os autoritários desejam limitar a liberdade, também há modelos autoritários que tentam se justificar em nome de promessas que não realizam: a justiça, a moralidade pública e o bem estar de seus semelhantes, por tudo isto depende sempre de espaços para o diferente e o diálogo.
O primeiro ato de uma guerra é eliminar os diferentes, o segundo é estabelecer um estado de exceção que permita aos que estão no poder alimentar o combustível da intolerância pela guerra.
Não se trata de um assunto nacional, a extensão destas tensões já tem contornos mundiais, até mesmo a Anistia Internacional, órgão isento e geralmente tolerante, já apresenta distorções em suas ações e tem como questionável seus relatórios.
A Pandemia gerou um problema global, entretanto nem este “inimigo” comum nos tornou solidários, não conseguimos ler um grande sinal de socorro civilizatório e com isto outros virão.
Então qual é nossa reação a ausência de solidariedade e de paz, responde disse o chileno Pablo Nerudo: “os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra”, e é bom lembrar que o Chile passou também por um momento autoritário com a ditadura de Pinochet.
Para um mundo mais justo e fraterno não são necessárias só palavras, é preciso sim ações que sejam de fato afirmativas para implantar a tolerância, o direito a diferença e a liberdade social.
Aos que creem a palavra bíblica é muito clara, pois um anúncio de uma civilização de solidariedade e paz é preciso ação, está escrito em Lucas (12,49-51): “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aces. Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra!. Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão.
É um divisor de águas claro entre cristãos de fato e aqueles que pensam na paz celeste apenas.
O modelo idealista de in-tolerância
A modernidade trouxe a tona um modelo onde alguns indivíduos, ideologias ou culturas seriam superiores as outras, na lógica kantiana do imperativo categórico: ”age de tal modo que seja modelo para os outros”, assim este é o ideal de perfeição e sua base ética.
A reação que vivemos não é a suposta polarização ideológica, mas de uma civilização que supõe que a pertença a determinado grupo indica maior ou menor civilização, não se trata assim uma atitude de tolerância ou “benevolência” em relação ao outro, mas impor um modelo civilizatório.
Numa sociedade que deu voz a quase todo mundo, ainda há opressões em países ditatoriais, o que é modelo passa a ser questionado e neste sentido há um choque entre modelos que possam ser chamados de éticos, e aquelas cuja ética é a norma de determinado setor no poder.
O outro então pode ser visto como inferior, anormal, selvagem, incivilizado ou até mesmo intolerante quando um padrão está imposto como sendo o “correto” ou “civilizado”, na prática é um choque entre pensamentos autoritários de dois ou mais matizes diferentes, que não deixam de incluir os religiosos e os “culturalmente civilizados”.
Entender que a história foi escrita e é ainda hoje ditada por grupos políticos, editoriais de fontes culturalmente “civilizadas” significa uma possível critica histórica, epistemológica e até mesmo científica ao pensamento moderno.
As forças conservadoras, de diversos matizes é bom explicar, estão de um lado da pressão e querem que a tensão permaneça somente entre elas, as forças que realmente são contrárias e que sabem que esta tensão não é outra coisa que disputa de mercado e de interesses, são os verdadeiros opositores a estes modelos, mas trata-se de pouco ou nenhum apoio do poder.
Assim a guerra somente favorece aos poderosos e seus interesses, enquanto a paz somente é pensada se há um interesse por aqueles que a história negligenciou: os vencidos, que aqueles povos que historicamente contradisseram a lógica da guerra dos poderosos também se façam presentes na agonia de uma civilização em crise.
No mapa acima, a concentração do PIB Mundial, aparecendo EUA, China, parte da Europa, India e alguns países da Arábia em destaque.
Tratamos no início deste cenário de guerra da análise dos maus acordos do final das duas primeiras guerras, da submissão dos países colonizados e agora do enfrentamento das potencias sob o manto de luta política, o poder e o controle de mercados está em jogo.
China e Taiwan preparam-se para guerra
Muito antes da visita da presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, já havíamos postado aqui o acirramento da luta dos chineses para retomarem a posse da Ilha de Taiwan, que desde 1949, quando a China tornou-se comunista declarou-se uma república democrática independente.
No post anterior mostramos os países que votaram a resolução 2758 (de 1971), 35 votaram pró Taiwan, 76 a favor da presença da República Popular da China (a China continental) como sendo a representante com direito a assento na ONU, e assim Taiwan ficou sem representação.
O mapa das seis áreas de exercício chinesas, escreveu o ex-general australiano Mick Ryan em seu Twitter, “claramente traça onde os chineses pensam que as principais áreas operacionais são para sua intimidação estratégica de Taiwan”, Mick Ryan é membro adjunto do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, mostrando que a tática chinesa e estrangular e isolar a ilha rebelde.
A ilha com 23 milhões de habitantes, se consolidou com uma economia cada vez mais independente, e é líder do mercado mundial de semicondutores, tem atualmente 54% do mercado de chips feitos por sua empresa TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) e este é um forte motivo da disputa, já que as empresas eletrônicas chinesas têm alto crescimento.
A tática de defesa de Taiwan não é claramente exposta, aparentemente a provocação chinesa não disparou os alarmes e sirenes da ilha, a estratégia de defesa da ilha intitulada “Porco espinho”, não é claramente exposta, porém diferente da guerra da Ucrânia poderá atacar áreas internas da China, que segundo esta estratégia teriam período de “inflamação” longos e doloridos.
O arquipélago de Taiwan tem várias ilhas pequenas e em uma delas, os pontas aviadas para evitar desembarques são as que mais lembram os espinhos dos porcos.
A diferença de contingente militar e armamento é enorme, porém os americanos prometem ajuda direta a pequena ilha, claro todo este cenário é lamentável e pouco desejável a uma paz mundial.
O Japão teve parte de sua área marítima invadida e protestou com energia prometendo responder, enfim é um cenário cada vez mais perigoso e é preciso que força da paz se mobilizem.
A paz ameaçada é cada vez mais um pedido de socorro civilizatório aberto às forças humanitárias.
Povos que resistiram a impérios
O grande império persa se expandiu a partir de Ciro, o Grande, no ano de 558 a.C., e dominou os medos e tomou toda a Mesopotâmia, Ciro respeitava a cultura e costumes dos seus inimigos, mas expandiu até o Egito seu império, e avançou sobre os gregos, mas foi derrotado por Atenas.
Depois de Dario I, Xerxes I e seu filho Artaxerxes também tentaram conquistar a Grécia e não conseguiram, no ano de 332 a.C. Alexandre imperador da Macedônia, o Grande, organizou um exército invencível e acabou tomando a Grécia e acabou vencendo os persas, estabelecendo um novo império, o Macedônico.
A morte de Alexandre por febre tifoide ou malária (a hipótese de envenenamento não é aceita pelos historiadores) a disputa entre generais acabou enfraquecendo o império e iniciou uma decadência.
O período estabelecido entre o ponto inicial da Era Clássica é apontado com o primeiro registro da poesia do grego Homero, nos séculos VII-VIII a.C. e vai se estender até o período de 300 a 600 d.C. que é chamada de Antiguidade Tardia, momento que se inicia a Idade média.
Neste interregno entre o Império Macedónico e o Império Romano/Bizantino se desenvolveu a cultura grega na antiguidade clássica que é profundamente influente até os dias de hoje com a denominada cultura ocidental.
A cultura e língua grega eram para aquele tempo o que hoje é a língua inglesa, grandes desenvolvimentos foram feitos a partir de Sócrates, Platão e Aristóteles, nomes em diversas áreas do conhecimento se destacaram: Hipócrates na medicina, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes no teatro, Apeles na pintura, Fídias na escultura, Arquimedes na matemática, Aristarco, Erastótenes e Hiparco na astronomia, são alguns nomes importantes que influenciam até hoje a nossa cultura.
Esta pequena nação foi grande fundadora de conceitos e pensamentos que chegaram aos nossos dias: o Organon e a Ética de Aristóteles, a Geometria de Euclides e Tales de Mileto e Pitágoras na matemática.
Venceram batalhas unindo as cidades-estado, porém eram um pequeno povo com uma cultura forte e com valores humanísticos que são lembrados até hoje, ainda que possam ser modificados e atualizados.O grande império persa se expandiu a partir de Ciro, o Grande, no ano de 558 a.C., e dominou os medos e tomou toda a Mesopotâmia, Ciro respeitava a cultura e costumes dos seus inimigos, mas expandiu até o Egito seu império, e avançou sobre os gregos, mas foi derrotado por Atenas.
Depois de Dario I, Xerxes I e seu filho Artaxerxes também tentaram conquistar a Grécia e não conseguiram, no ano de 332 a.C. Alexandre imperador da Macedônia, o Grande, organizou um exército invencível e acabou tomando a Grécia e acabou vencendo os persas, estabelecendo um novo império, o Macedônico.
A morte de Alexandre por febre tifoide ou malária (a hipótese de envenenamento não é aceita pelos historiadores) a disputa entre generais acabou enfraquecendo o império e iniciou uma decadência.
O período estabelecido entre o ponto inicial da Era Clássica é apontado com o primeiro registro da poesia do grego Homero, nos séculos VII-VIII a.C. e vai se estender até o período de 300 a 600 d.C. que é chamada de Antiguidade Tardia, momento que se inicia a Idade média.
Neste interregno entre o Império Macedónico e o Império Romano/Bizantino se desenvolveu a cultura grega na antiguidade clássica que é profundamente influente até os dias de hoje com a denominada cultura ocidental.
A cultura e língua grega eram para aquele tempo o que hoje é a língua inglesa, grandes desenvolvimentos foram feitos a partir de Sócrates, Platão e Aristóteles, nomes em diversas áreas do conhecimento se destacaram: Hipócrates na medicina, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes no teatro, Apeles na pintura, Fídias na escultura, Arquimedes na matemática, Aristarco, Erastótenes e Hiparco na astronomia, são alguns nomes importantes que influenciam até hoje a nossa cultura.
Esta pequena nação foi grande fundadora de conceitos e pensamentos que chegaram aos nossos dias: o Organon e a Ética de Aristóteles, a Geometria de Euclides e Tales de Mileto e Pitágoras na matemática.
Venceram batalhas unindo as cidades-estado, porém eram um pequeno povo com uma cultura forte e com valores humanísticos que são lembrados até hoje, ainda que possam ser modificados e atualizados.
Povos que mudaram o rumo da história
Durante séculos na planície iraniana os povos semitas e acadianos dominaram e estabeleceram ali sua civilização, os medos e os persas se estabeleceram posteriormente e até o período entre 500ª.C. e 448 a.C. os persas estabeleceram um domínio e iniciaram conflitos com os gregos, as chamadas Guerras Médicas.
As cidades-estado da Grécia se uniram e conseguiram impor seu modelo cultural e d sociedade aos povos e iniciam um processo cultural novo chamado de Antiguidade Clássica, a polis grega, a arte e o modelo civilizatório se estabeleceriam, tendo inclusive um retorno cultural num período posterior chamado renascimento.
Em tempos de crise civilizatória é bom que povos que tinham não apenas uma grande força militar, mas também um grande apelo cultural conseguiu mudar os rumos da história e fortalecer o processo civilizatório em rumo democrático e cultural mais amplo.
Grandes impérios como os persas, o romano, o império mongol (figura) e mais recentemente o austro-húngaro e o otomano também entraram em crise e sucumbiram, infelizmente não sem guerras e sobre grandes perdas de vidas civis e uma análise crítica sobre as guerras é sempre importante.
Estes impérios desapareceram sem deixar vestígios e apenas registros históricos, as marcas da crueldade, da decadência e da impiedade das forças bélicas destes impérios desapareceram.
A parte desta história forças mobilizadoras da paz e do diálogo tiraram a humanidade de flagelos ainda maiores que poderiam ocorrer e se não conseguimos evitar as guerras, podemos maximizar os esforços para que vidas humanas civis sejam poupadas.
A história também ensina que povos que não foram impérios e mesmo numerosos podem e devem influir no rumo da história a partir de uma experiência civilizatória, como a polis-grega e o mundo hoje carece de modelos que possam unir a humanidade num esforço solidário de paz.
Guerra: atualidade e possíveis cenários
A liberação de um navio de grãos da Ucrânia é um fator simbólicoimportante, embora a Ucrânia bombardeado o QG da Rússia na Criméia enquanto a Rússia tenha matado Oleksly Vadatursky, fundador e proprietário de uma das maiores empresa agrícola da Ucrânia.
O simbolismo é importante e representa um alívio porque o confisco de grãos poderia causar uma onda de alta de preços em cascata que afetaria o preço dos alimentos em todo mundo.
A guerra, entretanto, está longe de ter um anúncio de paz e denuncias de atrocidades por parte da Ucrânia (um vídeo de castração de um soldado ucraniano por russos foi retirado do twitter) e da Rússia que protestou pelo ataque ao QG da Criméia.
Há polêmica entre especialistas do futuro de 20% do território da Ucrânia que já está ocupado pela Rússia, a maioria considera impossível a retomada destas áreas sem mortes de civis e isto seria para a Ucrânia uma virada em sua narrativa de colocar a Rússia como impiedosa e cruel.
Em pleno verão europeu, a União Europeia consegue uma redução de 15% do consumo de gás, para tentar garantir um estoque para o inverno, mas dependentes da Rússia estarão mais vulneráveis a partir do final de outubro, os gasodutos são mais simples do que o transporte de gás liquefeito que inclusive o torna mais caro, na Alemanha por exemplo, a demanda é grande.
No cenário futuro mais preocupante, recomeçará a 10ª. Conferência de Revisão do Acordo de Não-proliferação das Armas Nucleares, ontem Biden fez um pronunciamento esperando que haja “boa-fé” para realizar o acordo, esclarecendo que mesmo na guerra fria nunca houve ruptura de conversas e o cenário da guerra agora preocupa mais profundamente.
De acordo com os dados de maio de 2019, a Associação Nuclear Mundial (WNA, na sigla em inglês), existem 447 reatores nucleares em operação no mundo e que estão em 30 países, cada um deles é também um perigo nuclear, quer por desastre natural como em Fukushima em março de 2011, quer por erros de operação como Chernobyl em abril de 1986.
Vale lembrar que cada usina é também uma bomba em potencial e que poderiam ser bombardeadas em uma guerra, é provável que o novo acordo nuclear incluam este aspecto.
O pão nosso de cada dia
Li no ano passado que a China mandava o povo estocar alimentos, parecia que era em função da Pandemia, mas no final do ano que a Pandemia já dava sinais de recuo a notícia permanecia, desta vez em destaque maior aparecendo em canais de alta visibilidade, como a CNN.
Quando se iniciou a guerra na Ucrânia pareceu algo mais evidente, e o reflexo na economia é grande, porque ocorre algo chamado de comoditização do mercado, ou seja, a referência maior passa a ser diversas comodities, como os fertilizantes por exemplo, que a Rússia é grande produtora, além dos alimentos como referências mais fortes do que as moedas.
Para entender a guerra do ponto de vista do mercado, já postamos que a pior origem é a xenofobia, que significa o ódio fomentado entre os povos, olhemos os maiores produtores mundiais de alimentos, a China era de longe a maior produtora agrícola mundial em 2020, a India o segundo maior produtor em termos populacionais, sua produção em 2020 era estimada em US$ 403,5 bilhões e depois vem os Estados Unidos.
Brasil e Russia seguem logo atrás o que tem garantido o aumento significativo e a diversificação da produção do campo nas últimas décadas, já postamos (o post anterior) a importância da Ucrâni e o estrangulamento destes mercados pela guerra é preocupação crescente, o que explica por exemplo, o interesse da Russia nos portos do mar Negro e da OTAN agora na já entrada admitida da Finlandia e Suécia no bloco.
Pulverização com drones (foto), uso de sensoriamento remoto e máquinas com controles digitais sofisticados como GPS e sensores diversos, incrementam a chamada agricultura digital, mas isto não impedirá que países com baixa produção e dependentes de exportação sofram.
Já é inevitável que países pobres e dependentes de exportação de alimentos sofram, saimos da cultura de solidariedade de socorrè-los, para a de sobrevivência devido a guerra, são os flagelados invisíveis da guerra, os povos e populações pobres do planeta.
A guerra e a fome
A guerra não é apenas a disputa de mercados e “ideais” medindo, ela é antes de tudo uma atrocidade em escala, se um assassinato é condenável porque não seria uma guerra ? durante a guerra da Sérvia/Bósnia perguntei a uma ativista sérvia porque queria dizimar a Bósnia, ela me disse que eram fatores históricos que seriam difíceis de explicar, porém dizia que o país dela era “vítima” de bombardeios que não tinham nenhuma justificativa.
Assim é o ódio, a intolerância e a ausência de diálogo, muitas vezes escamoteados com palavras dóceis para ganhar a opinião pública, mas toda guerra tem como princípio alguma atrocidade, algum ódio injustificável e alguma intolerância cultural (pode ser de muitos tipos), não há outro caminho de retrocesso a não ser o arrependimento (de ambas partes é claro) e o reconhecimento que escolheram o pior caminho, claro e depois sentar-se a mesa.
Umas das consequências, já inevitáveis, ainda que haja um acordo para as exportações de grãos da Ucrânia, será a falta de grãos no mercado mundial, conforme o gráfico acima, o país em guerra é responsável por 42% do óleo de girassol nas exportações globais, 16% do milho, 10% da cevada e 9% do trigo (dados de 2019, veja o gráfico) assim como a Russia exporta fertilizantes e o gás para a Europa.
Houve um acordo mediado pela Turquia, porém em função da guerra é fato que parte da produção se perdeu e o preço dos alimentos já subiram no mundo todo, a safra atual será exportada, mas pouco ou nada pode-se dizer das safras futuras, boa parte da população deixou a Ucrânia, inclusive na área rural.
É difícil um processo de retrocesso, aparentemente em todo mundo o confronto e o ódio cultural e social se expandiu, até mesmo entre aqueles que deveriam proclamar a paz.
Explicamos na semana passada (em post) a importância da amizade e empatia entre os homens para uma verdadeira espiritualidade, que pode ajudar a civilização neste processo difícil.
Só há um caminho, modificar o clima de empatia, de paz e de solidariedade entre as pessoas, assim os políticos e líderes que crescem em torno do ódio poderão perder espaço.