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As tensões de uma 3a. guerra mundial
Os limites do horror de uma 3a. guerra mundial existem.
Em 2011 a Rússia instalou mísseis Iskander em Kaliningrado, mísseis Iskander em Kaliningrado, exclave russo antiga Konigsberg antes da 2ª. Guerra e depois Stalingrado, isto foi parte de sua resposta ao escudo antimísseis norte-americano. Acredita-se sem dados concretos que ambos os lados já se reforçaram.
Na outra ponta de uma possível guerra está a China que faz exercícios no mar de Taiwan e nas ultimas horas de ontem fez exercícios aéreos como demonstração de força em resposta as provocações do governo Biden, Taiwan relatou 30 aeronaves na Zona de Defesa Aérea da ilha.
O Japão provável aliado americano tem litígios com a Rússia, sobre as ilhas Curilhas, tomadas na segunda guerra mundial, e o Japão tendo perdido a guerra assinou um acordo a contragosto.
Fora desta zona de confronto estão a Moldávia, que tem uma região lutando por independência e aliada dos russos, a Transnídria, enquanto Suécia e Finlândia já pediram para entrar para a Otan, e aí há uma terceira peça do xadrez da guerra que é a Turquia, que tem acordo com os russos e não quer a entrada destes países na OTAN.
Enquanto a Europa decidiu o embargo do petróleo russo, a Holanda deixou de receber o gás de lá.
A guerra na Ucrânia tem como frente de batalha mais sangrenta a região de Severodonesk, está em jogo importante estrada que liga a Karkhiv e Zelensky esteve na região, ela é estratégica para isolar as tropas ucranianas, ao sul há batalhas perto de Odessa, porto da Ucrânia depois que Mariupol foi tomada.
Uma 3ª. Guerra seria um horror para todo o planeta e é questionável se haverá vencedores.
Guerra em fase de propaganda
Rússia anuncia conquistas em Mariupol e ataque a quartel de treinamento no Norte da Ucrânia, Zelensky fala em Davos e é aplaudido, mas a guerra fica cada vez mais longe do fim.
Novidade mesmo no caminho da paz é um novo caminho trilhado pela Alemanha e muito criticado porque não tão duro com a Rússia, longe de dar sinal de qualquer adesão, a Alemanha busca uma via de negociação onde se possa pensar na paz, falando a um canal de notícias no Fórum Mundial em Davos, Robert Habeck, vice-chanceler da Alemanha insistiu que “nada é inevitável, somos seres humanos e podemos mudar o curso da história”, vendo que pode eclodir uma guerra mundial.
No caminho oposto, a China ameaça invadir Taiwan, que possui um dos maiores exércitos per capita do mundo, com submarinos e robôs militares de última geração, um exército de mais de 300 mil homens e uma base aérea de 600 caças, incluindo 141 F-16V Block 70 na Base de Chiayi.
É pequeno se pensada a força e a dimensão continental da China em caso de uma guerra, porém na última semana os Estados Unidos declararam uma defesa incondicional de Taiwan em caso de guerra com a China, enfim mais lenha na fogueira do tenso ambiente mundial.
A China tem um pessoal da ativa militar passando de 2 milhões, com mais de 3 mil aeronaves se destacando 120 Xian X-6, versão do Tupolev Tu-16 e 388 Chengdu J-7 versão do MIG-21.
Porém o principal caça é a versão chinesa do SU-27, 450 Shenyang J-11, além dos Sukhoi russos.
Assim uma guerra com a China faria a guerra da Rússia parecer pequena pela proporção e forças envolvidas, porém as ameaças com treinamentos e exercícios militares tem se intensificado.
O mundo parece a beira de um caos generalizado e terrível, porém como disse o chanceler alemão: “somos humanos e podemos mudar o curso da história”, a partir da defesa da paz.
Serenidade e paz verdadeira
Já postamos um histórico da paz: Pax dos romanos, paz da Vestfália acordo entre católicos e luteranos sobre a laicidade do estado e a Paz Perpétua de Kant, cada um que pensa em estruturas e acordos de paz que não demonstraram pela ineficácia de poder estabelecer a paz.
Entramos em aspectos ontológicos com a questão da Serenidade proposta por Heidegger, que inclui aspectos originários e de territorialidade dos povos, quase sempre são estes os fatores que são determinantes para povos entrarem em guerra, porém pouco pensados nos acordos de paz.
Se vivemos quase sempre sob alguma tensão é importante entender se é possível uma paz além das questões humanas, que é claro que devem ser resolvidas, pois elas precisam de homens que sejam verdadeiramente pacíficos e tenham ontologicamente esta questão resolvida interiormente e ajudar a humanidade os caminhos que levem a uma paz duradora.
A filosofia de Heidegger desenvolve o quanto o homem avançou em razão, técnica e ciência, mas perdeu a fundamentação própria de Ser reduzido ao Ente (a coisa sem alma), perde sua originariedade (diferencio de originaridade apenas por que ela trata mais de povos originários das américas), ele assim principia sua própria essência (a vê só como subjetividade) e perde a força de re-presentação que dela vem, perde uma essência que não é secundária, mas primordial.
Em sua conclusão de Serenidade, Heidegger contrapõe a imediatez e falta de meditação que temos na atualidade: “Existem, portanto, dois tipos de pensamento, sendo ambos à sua maneira, respectivamente, legítimos e necessários: o pensamento que calcula e a reflexão (das Nachdenken) que medita. […] um pensamento que medita surge tão pouco espontaneamente quanto o pensamento que calcula. O pensamento que medita exige, por vezes, um grande esforço. Requer um treino demorado. Carece de cuidados ainda mais delicados do que qualquer outro verdadeiro ofício. Contudo, tal como o lavrador, também tem que saber aguardar que a semente desponte e amadureça” (HEIDEGGER, 1955, p. 13-14).
A serenidade, a meditação sobre a necessidade dela para entender a originariedade de cada Ser, de sua presença em determinada Região, requer mais que um exercício momentâneo é preciso que ele seja durador e mire a eternidade.
Na leitura bíblica encontra-se a mais profunda lição de Jesus aos seus discípulos sobre a paz (Jo 14: 27): “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração”, é uma lição também para os pacíficos e para os amantes da paz.
HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Tradução de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, versão original é de 1955.
Serenidade, originário e paz
Serenidade remete a ideia de uma super qualidade do Ser, vem do latim serenus, que é diferente de paciência que vem de patientia, “resistência e submissão” e é antes confundida com sereno.
Três qualidades do Ser podem ser diretamente ligadas a serenidade: tranquilo, significa resolver os problemas com a paz, calmo que significa manter seu interior em Paz e claro significa expressar e comunicar a paz com clareza.
Heideger escreveu um opúsculo sobre Serenidade, no início termina o capítulo com uma frase que expressa em filosofia uma síntese da serenidade: “quando a serenidade para com as coisas e a abertura ao mistério despertarem em nós, deveríamos alcançar um caminho que conduza a um novo solo. Neste solo a criação de obras imortais poderia lançar novas raízes” (HEIDEGGER, 1959, p. 27).
Falta-nos na concepção de Ser e que Heidegger destaca em sua ideia sobre o originário a ideia de Região, assim como foi traduzido do alemão, mas poderia ser o locus (horizonte)de pertencimento uma nação como Ser em sua verdadeira identidade originária, escreveu Heidegger:
“Não estamos nem nunca estamos fora da Região, uma vez que como seres pensantes […] permanecemos no horizonte […] O horizonte é, porém, o lado da Região virado para o nosso poder de re-presentação (Vor-stellen). A região rodeia-nos e mostra-se-nos como horizonte” (HEIDEGGER, 1959, p. 48).
Aqui é preciso voltar a um dilema do pensamento de Heidegger, tendo em vista que estar em meio à Região é permanecer no horizonte: estar, mas não estar nessa senda originária, significa que é uma re-velação da Região, que se faz visível ao ente, nela seu Ser é.
O filósofo afirma que a serenidade pressupõe o estar liberto (Gelassensein) e a Região a-propria (Ge-eignet) e confia ao ente sereno (gelassen) a guarda da serenidade. ora, se o aguardar é então fundamental e decisivo do qual falamos é a a-propriação ao qual “nós pertencemos àquilo que aguardamos” (HEIDEGGER, 1959, p. 50)
Não ignora o autor a ausência deste conceito no Ocidente, um desconhecimento histórico: “a essência do pensamento não pode ser determinada a partir do pensamento, isto é, a partir do aguardar enquanto tal, mas sim a partir do outro de si mesmo (Anderer seiner selbst), ou eja, a partir da Região, que é na medida em que se religionaliza” (HEIDEGGER, 1959, P. 51).
Nisto de fundamentam as guerras contemporâneas, sem esquecer que muitas delas tiveram origem na disputa dos territórios de povos originários onde seu Ser foi completamente ignorado.
HEIDEGGER, M. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, 1959.
Guerra avança sem perspectiva de paz
Finlândia e Suécia já pediram adesão a OTAN e a Rússia ameaça com retaliações, já tendo cortado o fornecimento de energia para a Finlândia, cresce o temor de um conflito na fronteira dos países.
Vários esforços foram feitos de negociações, o presidente da Finlândia Sauli Niinistö falou com Putin, também o chanceler da Alemanha Olaf Scholz, ambos sem resultado prático algum.
Já o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin conversou com o ministro chinês de Defesa Nacional, general Wei Fenghe, na quarta feita de abril, a primeira ligação feito no governo Biden, e o general chinês afirmou que ninguém pode negar que Taiwan pertencia a China, as relações também são tensas com a China.
As possibilidades de paz na Ucrânia são pequenas, tanto a Ucrânia como os países aliados da OTAN não aceitam a anexação da Criméia e não há possibilidade de aceitar a separação a região do Donbass da Ucrânia.
Internamente a Ucrânia retomou a região de Kharkiv e chegou a fronteira, agora os combates seguem em direção a Izium que é próximo a Donbass e assim atacam a retaguarda russa na região.
Por outro lado, as forças russas praticamente controlam a região de Mariupol, restando a última resistência na siderúrgica Azostal onde se tentava a retirada de civis e combatentes feridos (na noite de ontem foi feito), além de Odessa que se torna o próximo objetivo de guerra, isolando a Ucrânia de acesso ao mar.
Também vários graneleiros russos se apropriaram de grãos da Ucrânia e é importante lembrar que um dos maiores produtores de grãos do mundo é a Ucrânia e isto aperta mais a situação de crise na distribuição de grãos pelo mundo, o cenário aponta para uma alta também de grãos, além do impacto que já está acontecendo nos combustíveis.
A esperança de paz é sempre renovada, apesar do cenário tenso, e há forças lutando pela paz.
Não violência e ágape
A história contada até nossos dias é uma história de poder, onde a falta de respeito impera e por isso o amor agápe parece algo altruísta e heróico, e o é, porém é mais que isto é a segurança de uma humanidade mais pacífica, mais segura onde as nações e povos podem expressar sua cultura livremente.
Lembra Byung-Chul Han que a primeira palavra da Ilíada de homem é menin (cólera): “a primeira palavra da Ilíada é menin, a saber cólera, [Z o r n] . ´Cantem, deusas, a cólera de Aquiles, filho de Peleus´, assim começa a primeira narrativa da cultura ocidental” (HAN, 2018, p. 22)
Lembra logo de início que somente o respeito é simétrico (recíproco): “O poder é uma relação assimétrica. Ele se fundamenta numa relação hierárquica. O poder de comunicação não é dialógico. Diferentemente do poder, o respeito não é necessariamente uma relação assimétrica.” (Han , 2018, p. 18), assim somente poderá haver ágape, uma reciprocidade de amor sem interesses e sem condicionamentos, se for aprendido o respeito e o amor sem interesses.
De modo análogo o Ulysses de Joyce começa com “Buck” Mulligan e Stephen Dedalus na torre do Martello (foto) ao amanhecer do dia 16 de junho de 1906, o assunto é Haines o hospede de Mulligan e incômodo para Stephen, discutem nas entrelinhas, isto passa desapercebido para muitos interpretes, a filosofia protestante dos unionistas (os que querem a Irlanda unida a Inglaterra) e os católicos que querem a Irlanda independente, que Stephen se alinha.
Mulligan o chama ironicamente de jesuíta, e está logo no início da parte I: “Elevou o vaso (de barbear) e entoou: – Introibo ad altere dei. Parando, prescrutou a escura escada espiral e chamou asperamente: – Suba, Kinch, Suba, jesuíta execrável” (Joyce, 1983, p. 6)
O filósofo Han começa seu livro sobre o que é a cultura de massas de hoje, a cultura do “shitstorm”, um bullying de massas, ou literalmente: “O respeito está ligado aos nomes. Anonimato e respeito se excluem mutuamente. A comunicação anônima que é fornecida pela mídia digital desconstrói enormemente o respeito. Também o Shitstorm é anonimo” (HAN, 2018, p. 14).
Byung-Chul Han acredita que uma sociedade do futuro é possível a partir desta massificação atual onde ainda a ideia da guerra e do ódio estão presentes, mas se modificarão: “A sociedade do futuro terá que contar com um poder, o poder das massas.” (Han , 2018, p. 25).
Um poder das massas deve ser pacífico e solidário, as guerras são disputas de poderes verticais.
Não se trata de definir uma superestrutura de poder e uma lógica de estado e sim um novo e verdadeiro humanismo agápico, aquele que pode ser definido como o amor divino do “novo mandamento cristão (Jo 13, 33-34): “Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. 34Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.
HAN, Byung-Chul. No Enxame: perspectivas do digital. São Paulo: Trad. Lucas Machado. Ed, Vozes, 2018.
JOYCE, J. Ulysses. Trad. Antonio Houaiss, Portugal: Difel, 1983. pdf
Ulisses, o drama moderno e a guerra
Toda estrutura do romance moderno se desenrola quase sempre em torno do herói romântico moderno, assim é preciso que ao final ele se realize dentro de seu objetivo pessoal e que tem a aparência de universal, o aforisma kantiano da ética: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal”, mas ela parte do indivíduo e não do todo.
O todo fica para o holístico, e de certa forma para o místico, assim devem ser entendidos desde os personagens míticos de Ilíada e Odisséia do Ulisses de Homero (928 a.C.-898 a.C.) aos personagens de Ulisses de James Joyce (1882-1941).
Em ambos há um herói o Ulisses de Homero e Leopold Bloom de Joyce, uma mulher Penélope de Homero e Molly Bloom de Joyce, um filho Telêmaco de Ulisses de Homero e Stephen Dedalus no romance de Joyce, que vai estudar em Paris e quando volta vai morar numa forte circular chamado Torre do Martello, com um rival e Malachi Buck Bullighan, o romance é escrito no período da guerra entre 1914 e 1921 e uma visão de fim de mundo é um cenário para Joyce.
Na Odisséia Ulisses ficará 10 anos fora do lar, deixando Penélope e Telêmaco, no romance de Joyce coloca Leopold Bloom em crise com as traições da mulher e a distância do filho, atualizando o amor filial (filia) e erótico (eros), porém o problema do amor agápe é colocado no centro da crise o que pode ser um fio condutor entre o romance clássico e o moderno.
Outro fio condutor é o tipo de herói, o herói épico é um guerreiro que vai a guerra por amor a seu povo enquanto o moderno enfrenta a guerra de modo individual, a moda de Dom Quixote e diante da ética Kantiana, a semana passada foram feitos post da Paz Perpétua de Kant e suas limitações, porém a raiz está no distanciamento dos ágape, um mundo de conquistas e poder onde o interesse prevalece sobre o bem comum.
O amor ágape não é apenas religioso ou mesmo altruísta, ele existe em instituições de acolhimento de pobres, exilados, tóxico-dependentes, emigrantes e esforços na Pandemia, sem eles o número de mortos e excluídos na sociedade já teria causado maiores crises sociais que as atuais e deixaria a civilização sem uma perspectiva e sem esperança.
JOYCE, J. Ulysses, Trad. António Houaiss. Portugal: Difel, 1983. (pdf)
HOMERO. Ilíada e Odisseia, trad. Carlos Alberto Nunes. Editora Nova Fronteira, 2015. (pdf)
Um especto ronda a Europa
Este era o texto inicial do Manifesto Comunista escrito em 1848 quando os operários não tinham os atuais direitos trabalhistas, com horas de jornadas de trabalho desumanas, sem férias, sem qualquer auxílio por doença e com contratos precários de trabalham com poucas garantias.
Há hoje um outro espectro, o de uma nova guerra mundial que teria efeitos devastadores devido a potência das atuais armas nucleares e uma escala de envolvimento realmente mundial, onde poucos países poderiam ficar fora do esforço de guerra.
A Ucrânia é apenas o primeiro cenário de uma disputa econômica, militar e até mesmo civilizatória que envolvem a Rússia e a China de um lado, com aliados menores como a Coréia do Norte, Bielorrússia, Cuba e Venezuela e certa simpatia de forças de esquerda mundiais.
O Dia da Vitória comemorado ontem na Rússia, sob o qual havia expectativas que se mostraram exageradas, a Rússia de fato foi decisiva na derrota da Alemanha nazista pela sangrenta Batalha de São Petersburgo (na época Leningrado), porém o desfile de aviões tão aguardado pelos caças e pelo chamado “avião do Apocalipse” (Tu-95MS) que transportaria armas atômicas, não aconteceu.
Vale lembrar que um ensaio foi feito antes do desfile e talvez não tenham ocorrido por estarem em posição de combate em outras regiões.
A Rússia alegou condições de tempo, mas as fotos (veja a foto acima) mostra um tempo bom, pelo discurso mais ameno, embora reivindica a guerra atual como um prolongamento da guerra que derrotou o nazismo, não teve nem a declaração formal de guerra a Ucrânia nem as ameaças esperadas a OTAN, também Zelensky, presidente da Ucrânia, declarou que “o mal voltou”.
Tradicionalmente o Dia da Vitória é bastante efusivo, em 2015 participaram 16.000 militares, 200 blindados e 150 aviões, mas em 2020 devido a pandemia a fez foi adiada e reduzida de tamanho para apenas 14.000 militares.
O discurso de Putin no desfile desse ano tratou de justificar a guerra na Ucrânia tentando cooptar a vitória sobre o nazismo, porém há nisto certa fragilidade, uma vez que ainda é preciso fortalecer a moral e justificar a guerra, que antes era chamada de “operação especial”.
Como analisa Hannah Arendt em “As origens do totalitarismo” este poder não segue uma lógica, assim o espectro da guerra ronda diversas nações da Europa e a pergunta é quem será a próxima.
A guerra em novas fronteiras
Conforme já afirmamos no último post a paz exige pacíficos, mas todas as nações parecem subir o tom na medida em que o governo russo vai ampliando as fronteiras de seus conflitos, agora cortou o gás da Polônia e Bulgária, ameaça a Moldávia que tem uma pequena região de conflito (chamada de Transnístria e reivindica sua independência), enquanto a OTAN aumenta o apoio.
Uma gafe na narrativa de colocar a Ucrânia como nazista, do chanceler Serguei Lavrov dizendo que o presidente Ucraniano Zelensky ser um judeu não significaria nada, afirmou que “Hitler também tinha sangue judeu”, e imediatamente foi repudiado pelos governos de Israel e Alemanha.
Também o fato que a Ucrânia teria bombardeado uma cidade russa Belgorod (outras duas também teriam sido alvos), foi desmentido pelo prefeito local Vyacheslav Gladkov, assim a narrativa russa vai se complicando e cresce a convicção de objetivos expansionistas.
Na prática isto significará uma declaração formal de guerra à Ucrânia e o fim das negociações, já que a única condição aceitável para Kiev é a retirada de tropas russas da região de Donbass.
A entrada de forças da OTAN no conflito é eminente, e o envio de armas já está decidido, por enquanto apenas tropas ucranianas usarão, muitos voluntários foram para lá lutar, mas não há notícias de nenhuma organização ou país que tenha recrutado soldados.
O que preocupa é a inexistência de forças pacifistas que efetivamente haja no conflito, até mesmo o número de manifestações é limitado, em geral, como aconteceu na Sérvia há grupos pró-Ucrânia e pró-Rússia num alinhamento crescente também da opinião pública.
A Alemanha declarou que as sanções econômicas continuarão até que se assine um tratado de paz, é uma pressão, porém a entrada na guerra através da OTAN ela tem um papel decisivo.
Os combates seguem intensos na região de Donbass, enquanto Mariupol está totalmente sitiada e com dificuldades de retirar civis e soldados feridos, Kiev foi bombardeada mesmo com a presença do secretário geral da ONU, que também teve conversas com Putin.
Não há uma perspectiva nas negociações de paz, a Rússia exige cada vez mais na medida que suas forças avançam, quer um corredor por terra de Donbass passando por Mariupol até a Criméia já anexada na guerra anterior de 2014.
A sempre esperança porque disto depende o futuro civilizatório, o momento é sombrio.
A paz dos pacíficos
Há diversos equívocos sobre a paz, alguns foram apontados por Kant tais como pactos que escondem futuros conflitos, a justa revolta contra regimes totalitários, porém não há como se construir a paz sem pacíficos, as ideias que se deseja a paz prepare-se para a guerra é um equivoco ou com os violentos haja como violento, etc. escondem pequenas e grandes guerras.
Todo exercício de poder é assimétrico aponta Byung-Chull Han (O enxame), no livro que faz um ensaio exatamente sobre as novas mídias, e que diz que só há simetria se há respeito.
Então o respeito as culturas, a diversidade de opiniões e ideias, de liberdade religiosa, de opções pessoais de diversos tipos, claro que não impliquem no desrespeito ao Outro, é um ponto de partida para a paz, assim é preciso que haja pacíficos para se construir a paz.
A ideia de mais armas, de mais agressões que possam intimidar adversários escondem que não há princípio pacífico nestas atitudes, que não há respeito como pede Chul Han, e para aqueles povos, países e nações que tem princípios pacíficos, como Finlândia e Índia por exemplo, é preocupante ver atitudes belicistas evoluindo.
Por outro lado, a vitória de Makron na França é um alento principalmente devido a derrota de um pensamento totalitário no país que é fonte da democracia republicana moderna.
A paz deve ser também a base de qualquer pensamento religioso, admitir que há algo ou alguém superior deveria nos despir de orgulho de se julgar superior a alguém, a algum povo, raça ou gênero, mas a história mostra que não foi sempre assim, lembro aqui o Paz da Vestfália que foi um pacto para que as religiões não incentivassem o ódio entre os estados, com isto a ideia de estado laical.
Em várias passagens bíblicas Jesus faz a primeira saudação aos seus discípulos: “A paz esteja convosco”, claro fala da paz dos pacíficos, e no versículo das bem-aventuranças diz que serão chamados de “filhos de Deus” (Mt 5,9), ou seja, não são cristãos se não desejam a paz.
Também para seus discípulos Jesus que aparece ressuscitado em sua terceira aparição e pergunta insistentemente a Pedro (Jo 21, 15-17): “Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” e Pedro chega a ficar triste e diz “tu sabes tudo”.
Sim Jesus sabia que mesmo entre religiosos haveria dificuldade de entender a paz e a unidade.