Arquivo para a ‘Economia’ Categoria
Tragédia natural no sul do Brasil
Acompanhamos, geralmente nas segundas feiras a grave crise civilizatória que nada mais é que uma guerra mitigada entre as grandes potências, sempre com um risco de tornarem-se uma guerra total, três grandes impérios estão ali em conflito: o americano, o Chinês e o Russo.
Porém a tragédia natural com intensas chuvas no sul do Brasil nos lança um alerta solidário.
Os dados até a tarde do dia de ontem (05/05) são tristes e alarmantes: 334 municípios afetados, 16609 pessoas em abrigos, quase 90 mil desalojados, 780.725 pessoas afetadas, 155 feridos, 103 desaparecidos e 75 mortos confirmados (mais 6 investigados se sob ação das chuvas), além disto em 839 mil imóveis não há água e 421 mil residências estão sem luz, há 113 bloqueios em estradas.
Empresários, diversas organizações humanitárias, e a maioria dos órgãos de comunicação estão em campanhas de fundos e socorro aquela população, também o governador, os prefeitos e políticos do governo federal estão empenhados em mobilizar fundos para o socorro, houve quem comparasse esta ajuda emergencial como típica de uma guerra.
Os eventos sociais e esportivos foram adiados, embora tenha havido shows milionários no país onde sequer tiveram a sensibilidade de referir-se ao desastre natural (não darei publicidade), mas o povo brasileiro é solidário, se comove, chora junto com os gaúchos e se mobiliza.
Ainda há chuva nestes dias e os rios continuam subindo, a tragédia pode ser ainda maior, e depois o processo de reconstrução não será simples, temos uma chance de sermos mais unidos e solidários e não viver uma eterna polarização de ódios e incompreensões.
Felizmente os órgãos do país estão solidários e espero que permaneçam, seria bom também talvez uma nota de setores do judiciário, por exemplo, a OAB ou tribunais estaduais.
Despertar o espírito solidário neste momento pode representar uma boa tomada de consciência sobre as nossas dívidas com a sociedade e com o povo que está sempre em dificuldades, quem vive perto da população humilde percebe um momento grave.
Todo apoio humanitário ao povo gaúcho, serão confortados se sentirem todo nosso apoio.
O homem-mundo e o provinciano
É possível que alguém tenha um sentimento capaz de abraçar a humanidade em suas diferenças e contradições, se for capaz de abraçar as enfermidades e feridas do outro.
Aquele que é capaz de entender o mundo como um todo, entendendo a complexidade das culturas, dos sentimentos e dos sistemas culturais diferentes, é capaz de abraçar e se solidarizar com as dores da humanidade, este é um homem-mundo.
O provinciano não é capaz de ver além de sua aldeia, pode-se até elogiar o espírito de aparente paz e deleite daquele que vive em um mundo pequeno, ou numa bolha, porém é dali que partem os piores preconceitos, as piores xenofobias e a incapacidade de ver além.
Se Honoré de Balzac dizia: na província se vive em público, agora na aldeia global todos vivemos em público, cada cidadão é portador de uma câmera que pode registrar tudo.
Para ser no mundo um sinal de esperança, em um tempo cada vez mais conflituoso é preciso ir além dos próprios conceitos (que são pré-conceitos) e entender que a lógica da vida social vai se mudando desde que passamos a viver numa aldeia global, a cultura entre pela TV, pelo rádio e pelas mídias sociais, e não há como retroceder, vieram para ficar.
Os pecados e incompreensões que elas deram vazão não são novos, apenas deu-se agora uma visibilidade maior e nos chocamos com uma sociedade com dificuldades de ver o outro com respeito e compreensão.
Aqueles que querem liberdade, apressam em limitá-las, aqueles que proclamam o amor, não querem o mesmo amor fora de suas bolhas, não resolvemos as nossas dificuldades e feridas e ao mesmo tempo aumentamos o clima de incompreensão na humanidade.
Os grandes impérios contemporâneos trabalham culturalmente estas dificuldades, ódio ao diferente, intolerância a cultua do outro, e assim alimentamos no microcosmo a política de um belicismo crescente e que ameaça tomar toda humanidade.
Nunca foi tão urgente o amai-vos uns aos outros, há até os que o proclamam, mas para sua pequena aldeia ou sua bolha provinciana.
Os grandes impérios na antiguidade
Há sempre uma narrativa histórica e outra bíblica, as datas coincidem, mas as batalhas não.
Um dos grandes impérios da antiguidade foi a Assíria, do século VII a.C. (aproximadamente 721 a.C. até o século 630 a.C. o início de sua queda, eles dominaram grande parte da arábia, conquistando as terras babilônicas, que dominavam o povo hebreu e os caldeus, o Egito, os medos e elamitas.
A narrativa bíblica concentra-se principalmente no período de Sargão e Senaquerib (745-661 a.C.) é desta época que o profeta Isaías narra as palavras de Senaquerib para Ezequias: “eis o que direis a Ezequias: Assim fala o grande rei, o rei da Assíria de onde te vem tanta Confiança , o rei ironiza-o pela aliança que possuía com o Egito e conquistará também aquele povo.
Em Isaías 37, há a seguinte narrativa sobre os anos de sofrimento, seguido da vitória, “este ano se comem restolhos; o ano que vem, aquilo que nascer sozinho; no terceiro ano porém, plantarei e colhereis; plantareis vinhas e comereis seus frutos” e depois mais a frente narra uma batalha na qual “o anjo do Senhor apareceu nos campo dos assírios e feriu centro e oitenta e cinco mil homens”, mesmo para os dias de hoje um número bastante alto.
O certo é que no ano de 630 a.C. os assírios se retiram do Egito e depois da Babilônia, que dominará também as terras hebraicas em Isaías 39, inicialmente o rei da Babilônia, Merodac-Baladã, envia ao rei Ezequias que estava doente mensagens e presentes, mas depois alerta o profeta Isaías ao rei Ezequias: “Escuta a palavra do Senhor dos Exércitos! Aproxima-se o tempo em que se levará para a Babilônia tudo aquilo que há em teu palácio, tudo o que se acumularam os teus pais até este dia”, e assim aconteceu nos 50 anos do exílio da Babilônia.]
Quem libertou os judeus. Foi o rei Dario, que governou o Império Persa e que era inimigo da Babilônia, através do profeta Daniel a quem venerou por suas profecias, concede ao povo judeu reconstruir seu templo e retornar a sua terra.
O império Persa durou até o ano 330 a.C. sendo bastante conhecido pela historiografia oficial por causa das guerras “médicas” entre os gregos e os persas, mas veja que historicamente os medos eram um povo ao leste da Assíria, enquanto os gregos a oeste e já no continente europeu, acontece que foram simultâneas no período de 500 a 448 a.C. mais de 50 anos.
Entre guerras e desafios, oráculos e profetas auxiliaram o povo a caminhar nestes períodos.
A lição histórica possível é grandes impérios ruíram por sua soberba e opressão, a lição espiritual é não se intimide o vosso coração, o mal morre por sua própria maldade.
O grande e o pequeno
Na política, na filosofia e até mesmo na religião a ideia de Grande é sempre vista como poder.
Pode parecer estranho o uso do termo Grande de Sloterdijk ao se referir a grandes teorias políticas, econômicas e imperialistas, mas ele é mais adequado para aquilo que era finalidade dele falar no seu livro “Se a Europa despertar”, pouco lido inclusive na Europa, apesar dele ser reconhecimento como um dos maiores pensadores vivos.
Diria que ser pensador já é Grande, usando seu próprio termo para a filosofia, já que como ele afirma: “não é um tempo próprio para pensar”, temos que escolher entre ditadores e narrativas, ao invés de tomarmos o fio da história para uma civilização equilibrada e feliz.
Até mesmo no mundo religioso isto é confundido, Jesus não proclamou nem insistiu em qualquer corrente política de seu tempo, apesar de ter o grupo rebelde ao seu lado, Simão o zelote e Judas Iscariotes eram zelotes, grupo que era rebelde ao império romano.
Grandes impérios sucumbiram e desapareceram, um que até é esquecido e pouco analisado pelos historiadores são os mongóis, dos séculos XIII e XIX (veja no globo acima) sendo um dos maiores em extensão e hoje reduzido a um pequeno país dividido e dominado pela China.
A Europa não despertou, Makron disse em tom dramático a semana passada na Sorbonne: “A nossa Europa, hoje, é mortal. Ela pode morrer, e isso depende unicamente das nossas escolhas!”, o discurso está certo, mas a intenção errada, porque pouco depois fala de suas armas nucleares.
O Grande na espiritualidade, em tempos de religiões desespiritualizadas, são de narrativas em torno da religiosidade que pouco ou nada fala deste Grande “megalopata”, como chama-o Sloterdijk, e sim da capacidade de solidariedade, de amor verdadeiro levado a prática, de acolher e buscar os pequenos e sofredores que vivem a margem da sociedade desumana.
Francisco de Assis, era filho de Pedro Bernardone, rico e prospero comerciante que o filho o rejeitou, Catarina de Sena era analfabeta e seus seguidores escreviam por ela obras sábias e santas, teve influência na volta do papa Gregório XI de Avignon para Roma, sendo embaixadora de Florença, uma cidade em guerra com o papa e que ela pacificou.
O ocidente vivia um grande cisma, e ela foi junto ao papa até Roma, enviando numerosas cartas a príncipes e cardeais, para promover obediência ao Papa Urbano VI (sucessor).
Os pequenos homens e pequenos reinos fizeram a história, veja a Grécia antiga, os gauleses durante o império romano, o Grande quase sempre imperial, belicista e cego apesar de uma imposição brutal temporária, sempre sucumbiu ao desejo legítimos de povos e nações.
SLOTERDIJK, P. Se a Europa despertar. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
A força dos laços fracos
A teoria das redes, não no enfoque das mídias de redes sociais, mas dos laços entre atores tem algumas propriedades curiosas e duas são muito especiais: os seis graus de separação e a força dos laços fracos (Weak ties) que parecem estranham aos que desconhecem a teoria.
Os seis graus de separação indicam que vistos como redes as relações entre atores sociais, na realidade, estão mais conectadas do que se imagina, e isto não é apenas no mundo das mídias sociais (o que é incorretamente colocado equivalente com redes sociais).
Um experimento clássico, chamado de Experimento de Milgram devido o trabalho do psicólogo Stanley Milgram, que enviou cartas para determinadas pessoas distantes, e identificou de laços de conhecimento pessoal existente entre duas pessoas quaisquer, e descobriu uma distancia média de 5,5 de pessoas até as cartas chegarem ao destino.
O experimento teve falhas, como cartas que não foram enviadas para frente parando em algum intermediário e o desconhecimento do objetivo de determinadas pessoas no experimento, por exemplo, não ter entendido que a carta deveria ir o mais próximo do destino final.
Já o experimento de laços fracos que foram feitos por Mark Granovetter (1973) leva em contato o contato mais fracos e distantes em redes sociais, pode dentro de determinados contextos significar que os laços entre duas pessoas que tem interesses similares são fortes, mesmo que passe por algum intermediário C, e isto torna C também parte do laço forte.
Assim o laço fraco será justamente o oposto, A e B tem interesses e rotas de ligação distantes, que pode significar interesses diferentes ou apenas distantes, entretanto na teoria das redes estes laços são importantes para o funcionamento da rede e sua dinamização, ao contrário do que diz o senso comum.
O que Granovetter pesquisou é que quanto maior a força do laço entre duas pessoas, maior a chance de que o círculo de amigos e laços seja comum e que a mensagem fique apenas naquele círculo, não atingindo outros círculos de relacionamentos e ampliando a rede.
Neste sentido limitar ou proibir redes socais significa diminuir e tornar a rede social (que não é necessariamente feita via mídia) limitada, entretanto, existem redes que praticam determinados crimes e não devem ser legitimadas e quando possível proibidas.
Isto é discutido dentro da questão do poder, porque a teoria das redes contradiz a ideia de um poder cada vez mais forte e centralizado como solução para problemas sociais, porque ainda que proibidas, as redes sociais continuam funcionando conforme estabelece a teoria dos seis graus de separação e a distancia entre atores é menor do que supõe o poder centralizado, que ele é muitas vezes isolado em sua “bolha” social ou ideológica.
As redes sociais dinamizam as estruturas de laços sociais e ignorá-las pode ser uma fonte de empoderamento de diversos grupos sociais e ajuda a crescer a verdadeira vontade popular.
GRANOVETTER, Mark S. The Strenght of Weak Ties. The American Journal of Sociology, vol. 78, n. 6, p. 1360-1380, may 1973.
Uma peça perigosa no xadrez da guerra
Desde a queda da monarquia no Irã, na época o xá Reza Pahlavi, que era tradicional aliado dos EUA, a república islâmica do Irã passou a ter hostilidade com os EUA, que impôs sanções por causa do beneficiamento de urânio indispensável para bombas nucleares, fazendo com que o Irã buscasse apoio e fizesse alianças com a Rússia.
Em 1º. de abril deste ano Israel lançou (não assumido) um ataque a Síria matando generais do Irã, que desde então promete uma retaliação e recentemente atacou com drones e mísseis o território de Israel, segundo o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz militar israelense: “o irá lançou mais de 300 ameaças, e 99% foram interceptadas”, e concluiu: “isso é um sucesso”.
Pouco antes da notícia do lançamento neste sábado (13/04), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu disse que “os sistemas defensivos” estão funcionando, e que a FDI (Força de Defesa de Israel), em uma represália que já era esperada, os bombardeiros continuaram no dia de ontem (14/04).
Como há conexões fortes com o Hezbollah e os houthis ao sul no Iêmen e o Hezbollah ao norte no Líbano também há notícias de ataques a Israel, tanto o comando militar de Israel, como o G7 e o conselho de segurança da ONU já convocaram uma reunião no dia de ontem.
A Itália e a Alemanha já se manifestaram contra o Irã condenando os ataques, os EUA e a França ajudaram a intercepção dos mísseis (há notícia que a Jordânia também ajudou a defesa), assim o Irã está isolado no Ocidente.
O objetivo no momento é impedir um ataque em escala maior ao Irã, que desencadearia uma escalada de guerra na região, Netanyahu deve atacar alguns pontualmente alvos no Irã.
A Rússia não se manifestou até o momento, mas é tradicional aliada do Irã, inclusive os drones usados no ataque a Israel são do mesmo tipo ao usado na guerra na Ucrânia.
Os ataques russos seguem em escalada na Ucrânia com objetivo principal de esgotar as fontes energéticas do país, a fragilidade progressiva da defesa das forças militares da Ucrânia, tornam a situação do país e de certa forma dos países da Otan, bastante dramática.
A paz sempre é possível, aquilo que as forças éticas chamam de responsabilidade poderá ter um papel decisivo para tomada de decisão, já que as lideranças envolvidas no conflito cada dia mais parecem não entender a gravidade de um conflito em meio a uma crise civilizatória.
Depois da II Guerra Mundial, as forças em conflito entenderam a necessidade de paz, agora o agravamento da crise, por paradoxo que seja, pode fazer os líderes serem chamados a paz.
Policrise e esperança
Rumores de confronto Rússia e Otan se agravaram nas últimas horas, entretanto, a esperança de paz e a resistência do Espírito, como protagonizava Edgar Morin, permanecem de pé.
Além da policrise de Morin (assim como poli é múltiplo e também é polis de cidade, Krisis tem também o significa de poder de decisão) o professor Adam Tooze (artigo do Financial Times), de história da Universidade de Yale (EUA) ampliou e atualizou: pandemias, secas, inundações, mega tempestades, incêndios florestais, guerra na Ucrânia (e agora na faixa de Gaza0, preços de energia e alimentos, etc.
No seu raciocínio, sem apontar diretamente o professor “descobre” a complexidade e uma nova visão transdisciplinar do “todo”: “Um problema se torna uma crise quando desafia nossa capacidade de lidar e, assim, ameaça nossa identidade. Numa multiplicidade de crises, os choques são diferenciados, mas interagem de modo que o todo é mais ambíguo do que a soma das partes”, afirma no artigo (na imagem o quadro de Tsherin Sherpa (Nepal), Espíritos Perdidos, 2014.).
Assim sentenciava Morin: “Ligado ao domínio do cálculo num mundo cada vez mais tecnocrático, o progresso dos conhecimentos é incapaz de conceber a complexidade da realidade e em particular das realidades humanas. O resultado é um retorno aos dogmatismos e aos fanatismos, e uma crise da moral enquanto se espalham os ódios e as idolatrias” (Jornal La Repubblica, entrevista), entretanto além da policrise há sinais de esperança.
Enquanto a Resistência do Espírito invoca uma compreensão da gravidade e das questões que envolvem a crise atual, a Esperança (aqui maiúscula) significa este Espírito colocado em ação e assim a obtenção de uma espiritualidade contracorrente que invoque valores de mudança.
Aqueles que mergulham de diversas formas nesta Esperança, estão sempre dispostos a abraçar os problemas que todos fogem, a abraçar os fragmentos de um mundo polarizado, e a lembrar o que une ao contrário daquilo que desune e polariza, felizmente há estes espíritos e chamaria de Espíritos da Resistência através da Esperança.
Ide pelo Mundo e Levai a Boa Nova, não pode ser só uma chave bíblica, é a Esperança Viva.
Guerra declarada e perigos
Após a Rússia declarar abertamente que está em guerra com a Ucrânia em uma semana de fortes ataques com mísseis sobre Kiev, usando inclusive o espaço aéreo da Polônia, que gerou tensão, a Ucrânia respondeu com outro grande ataque a Criméia e as refinarias de petróleo.
O ocidente ficou em alerta porque o preço do petróleo deverá subir, e a tensão com a Otan e a Europa já está em níveis elevados, as declarações de Putin e Macron com provocações de ambas partes, a colocação de tropas russas na fronteira da Finlândia, e um atentado do Estado Islâmico a uma casa de shows em Moscou.
Desde o início o clima de tensão é o mais alto nesta semana da semana santa, não faltarão os falsos profetas e insufladores de ódio para piorar a situação, como disse Eduardo Galeano sobre a guerra aquilo que o ódio da guerra não fez a mídia completa, sempre houve analistas frios que pensam a guerra como política desde Sun Tzu sobre a arte da guerra, até Carl von Clausewitz foi ressuscitado para justificar a injustificável “arte” da Guerra.
O pequeno território autônomo da Transnístria (imagem) foi abalado pela derrubada de um helicóptero militar, está dentro da Moldávia e governado por forças pró-Rússia e é causa de temor da Moldávia que é membro da OTAN.
No outro fronte perigoso, dentre as muitas guerras pelo planeta é a crise na Palestina, é outra guerra de forte polarização, onde a solução da crise parece distante, com ódio cada vez maior de parte a parte e que pode se alastrar por todo oriente médio.
Além do problema do petróleo, o crescente perigoso na circulação marítima de grãos e produtos industrializados pode gerar uma crise de abastecimento e afetar o problema da fome que já é comum em muitas áreas do planeta.
Não se trata de visão apocalíptica nem profética, se ela existe é para poucos e a maioria são charlatães e especuladores, porém a crise civilizatória já tem um horizonte bastante visível.
Edgar Morin e outros analistas serenos e com bom senso clamam pela “resistência do espírito”, não deixar-se contaminar por este clima de ódio, violência e terror que assola quase todos os 4 cantos do planeta.
Conservar a alma e o coração puros e um espírito forte que enfrente as tempestades.
A verdade e as boas obras
Não há verdade ontológica onde não ocorre o desvelamento do ser, e isto depende de sua realização mais profunda em contato com sua essência e deve produzir frutos para a vida, para o bem-estar pessoal e social e para os que creem para uma eternidade.
Os sofistas na antiguidade criavam verdades que podiam até ser lógicas, mas o objetivo era o do poder e de ter benesses junto aos que detinham fortuna e influencia, e isto não foi eliminado da vida cotidiana até os dias de hoje, grande parte da política é a negociação dos bens públicos, da fraude e para isto usam a não-verdade, e isto não é monopólio de um grupo.
Não há como manter esta lógica sem o autoritarismo, o cerceamento da liberdade e a calar a voz dos que sofrem com a ganância pelo poder e pela riqueza, grande parte da crise atual vem destes valores, ainda que culpem as mídias, elas estão também sob o controle destes poderes.
As mídias seguem a lógica ôntica na diferença ontólogica, desenvolvemos brevemente esta questão do modo como Heidegger e outros seguidores das diversas correntes ontológicas a veem, no âmbito da interpretação e do diálogo a lógica não podem ser ôntica, deve seguir a verdade ontológica que segue da fusão de horizontes no círculo hermenêutico (ver o post anterior).
O dualismo e a polarização seguem a verdade ôntica, culpar as mídias que nada fazem que não tenha sob controle de alguma forma, podendo ser até de algoritmos, o próprio homem, assim a lógica dual ôntica usada é instrumental e de certa forma sofismática porque visa o poder.
No domingo inicia-se para os cristãos a semana santa, a verdade ontológica que foi manifestada como ser na pessoa de Jesus tinha que ser destruída pelo discurso do poder, até mesmo o poder religioso da época que não podia acreditar que a verdade é lógica do Ser e do homem, quando ele manifestava suas boa obras, quase sempre confrontava o poder.
É preciso ser contra a corrente para inverter a lógica da facilidade, do dinheiro fácil através da corrupção, do poder pelo poder e do desserviço a sociedade.
Fim da história ou retorno das potências
Quando Francis Fukuyama escreveu sobre o “O fim da História” estava sob o impacto da queda do Muro de Berlim em 1989, três décadas após Jim Sciutto disse na CNN que quando a guerra na Ucrânia começou, estávamos vivendo um “momento de 1939”, de fato, há uma ligação entre a primeira e a segunda guerra, o fim da segunda e a possibilidade de uma terceira.
O livro de Jim Sciutto “The Return of Great Powers”, fala sobre isto, “A invasão da Ucrânia pela Rússia faz parte disso, mas, na realidade, esta luta pelo poder tem impacto em todos os cantos do nosso mundo – de Helsinque a Pequim, da Austrália ao Pólo Norte. Esta é uma batalha com muitas frentes: no Ártico, nos oceanos e nos céus, nas ilhas artificiais e nos mapas redesenhados, e na tecnologia e no ciberespaço”.
Em primeiro lugar detectamos este fator secundário, mas fundamental ver a tecnologia não sob o prisma da dominação das mentes, do capital ou do socialismo, mas seu uso negativo em função das guerras e da luta pelo poder.
O Retorno das Grandes Potências analisa esta nova condição histórica, analisa esta nova realidade pós-guerra fria e pós queda do muro de Berlim, os governos russo e chinês cada vez mais alinhados e o ponto crítico de uma nova corrida armamentista nuclear global, e nos coloca uma questão: ao considerarmos resultados incertos, até mesmo aterrorizantes, será possível ao Ocidente, à Rússia e à China evitar uma nova Guerra Mundial?
Não é tão importante a análise feita por Jim Sciutto quanto os fatos e realidades que trás a tona para novos questionamentos e preocupações com resultados externos desta nova realidade mundial, um momento de forte turbulência no qual as possibilidades de paz vão se esgotando com o passar do tempo e o envolvimento cada vez maior de diversas nações.
O quadro da última semana aponta para isto, a Rússia não descartando um enfrentamento com o Ocidente e os Estados Unidos se preparando para um cenário de confronto nuclear, o retorno ao bom senso e ao desarme de espíritos exaltados passa por perdas e danos a algumas nações, não se trata de rendição, mas aceitação do quadro atual de “novo equilíbrio” para a paz.
Conforme afirma Edgar Morin é preciso neste tempo um espírito de resistência para um retorno ao caminho da fraternidade universal e a paz.