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Arquivo para a ‘Linguagens’ Categoria

O meio divino e a missa sobre o mundo

26 dez

Completaram 100 anos da Missa sobre o Mundo de Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), era filósofo, paleontólogo, padre jesuíta e místico francês, entre suas obras de destaque estão “O lugar do homem na natureza”, “O meio divino” e dias comemorou-se 100 anos da Missa do Mundo.

No mundo científico depois de formar-se em Paleontologia, no Museu de História Natural de Paris, deu-se pela tese de doutorado: “Os mamíferos do eoceno inferior francês e seus sítios”, foi professor de geologia no Instituto Católico de Paris em 1920 no período do doutorado feito na Sorbonne.

Para Chardin depois de surgir a vida no período da cosmogenesis e geogenesis (formação do universo), forma-se a biosfera curso período avançado aparece o homem dando origem a homogenesis e nela o desenvolvimento do pensamento humano em meio ao divino: a noosfera (gráfico).

Numa ocasião que estava no deserto de Ordos, na Mongólia, e não tinha nem pão nem vinho, disse que sem poder celebrar a missa, em vez disso compôs a Missa Sobre o Mundo, um relato místico em certos trechos, mas não distante da doutrina cristão, onde remete ao “Ponto Òmega” e ao “Cristo Cósmico”, aspectos essenciais de seu pensamento.

Há trechos da Laudato Si que lembra esta “missa”: “No apogeu do mistério da Encarnação, o Senhor quer chegar ao nosso íntimo através de um pedaço de matéria. Não o faz de cima, mas de dentro, para podermos encontrá-Lo a Ele no nosso próprio mundo. Na Eucaristia, já está realizada a plenitude, sendo o centro vital do universo, centro transbordante de amor e de vida sem fim. Unido ao Filho encarnado, presente na Eucaristia, todo o cosmos dá graças a Deus. Com efeito a Eucaristia é, por si mesma, um ato de amor cósmico’ (Laudato Si’, 236)

 

A verdadeira alegria

22 dez

A palavra utilizada para “alegria”, no original grego, é χαρά (chara), que está relacionada com as palavras χάρις (charis), que é normalmente traduzida por “graça”, e χάρισμα (charisma), que significa tanto um presente de graça, sem custo, quanto proveniente da graça.

Assim há algo da “graça” na alegria que a diferencia da felicidade, devido a distância na compreensão deste termo com um aspecto pouco natural e objetivo, há os que preferem a felicidade como algo mais “sólido” em tempos de reducionismo líquido consagrado por um certo tipo de pensamento e que entrou até em ambientes religiosos e assim procurá-la e o que é objetivo, sólido e que é proveniente do idealismo e do pensamento eurocêntrico.

A alegria, a paz e verdadeira ascese só se encontra nos corações que encontraram a verdadeira e divina sabedoria.

O apelo aos bens terrenos, as conquistas humanas e a todo tipo de felicidade passageira, cada vez mais frequente na narrativa idealista nada tem a ver com alegria, e se há felicidade ela é passageira e terá um custo.

O Natal e as festas de final de ano podem fazer parte desta felicidade passageira ou dar espaço nos corações e almas que já encontraram a alegria perene e eterna: o divino em meio ao humano.

 

Confiança e humildade

21 dez

Em filosofia moral há dois tipos de confiança: a confiança que se caracteriza pela relação interpessoal mais profunda, a qual envolve boa vontade e vulnerabilidade, e a fiabilidade, um tipo de confiança mais básica que se refere ao funcionamento do mundo e das coisas.

Não estabelece uma boa relação interpessoal sem o respeito, e o respeito exige humildade, simplicidade e relações verdadeiras, também a fiabilidade envolve humildade para aprender o funcionamento do mundo, das coisas e encontrar equilíbrio nas relações sociais.

Há um conceito epistemológico que trabalha a questão da confiança, envolve o testemunho, ele auxilia o conhecimento tanto nas relações pessoas quanto na fiabilidade.

As concepções interpessoais propõem um uso do conceito de confiança fundamentado em analogias, e pode ser aplicada aos debates epistemológicos sem negligenciar a questão moral.

É comum esta negligência por uma concepção excessivamente objetiva e até positivista que ainda influencia fortemente os enfoques epistêmicos, uma proposta interessante para ser analisada é a partir de Richard Foley (2001).

O uso de conceitos morais em epistemologia (LOCKE, 1975; CHISHOLM, 1966) trabalharam na filosofia moral para resolver questões epistêmicas, mas é questionável se a simples redução de conceitos epistêmicos a moral é válido, Firth (1978) defende a irredutibilidade de conceitos epistêmicos, dizendo que embora possam ser concebido de maneira análoga, podendo ser até similares, não são irredutíveis um ao outro, o que pode causar uma confusão teórica.

Então porque são análogos e relevantes, porque muitas das nossas crenças diárias (não são necessariamente os conceitos objetivamente científicos) são adquiridas pelos atos de fala de outros seres humanos nas relações do dia a dia, o problema então é justamente saber aceitar esses atos de fala como fontes epistêmicas, já que eles o são em diversas culturas e em larga escala social.

Foley utiliza o conceito de autoconfiança (self-trust), mas a relação que estabelecemos com nossas próprias faculdades é uma relação de fiabilidade (reliability). Se buscarmos as origens de ambos os conceitos, encontraremos diferenças consideráveis entre fiar-se (rely)e confiar (trust), porém usa-os como sinônimos e ignora as diferenças.

O equívoco de Foley é justamente por desconsiderar as características morais da confiança, e é importante de ser estudado por isto, no cotidiano esquecemos de confiança envolve aspectos morais, entre eles um fundamental que é a humildade em reconhecer a fala do Outro.

 

CHISHOLM, R. Theory of knowledge. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1966.

FIRTH, R. Are epistemic concepts reducible to ethical concepts? In: GOLDMAN, A. I.; KIM, J. Values and Morals. Dordrecht: D. Reidel, 1978.

FOLEY, R. Intellectual trust in oneself and others. Cambridge, New York: Cambridge University Press, 2001.

LOCKE, J. An essay concerning human understanding. Oxford: Clarendon Press, 1975.

 

Humildade e poder

20 dez

Crescem as polarizações e as afirmações de poder, isto não leva a simetria, ao respeito e vai na direção oposta da humildade, não aquela piegas de textos próprios do poder, mas a daquela sabedoria de quem sabe o que é e de onde vem, do pó ou de húmus, de ondem vem a palavra.

Humus é a palavra grega que significa terra e que atualizada no português tornou-se terra fértil, deste mesmo vocábulo se originam às palavras “homem” e “humanidade”, e se pode ser oposto a uma ideia de poder, por outro lado não é oposta a ideia de fortaleza e sabedoria.

Para Hannah Arendt o poder é inerente a qualquer comunidade política, porém verdadeiros líderes resultam da capacidade humana para agir conjuntamente, sob o consenso de todos, e Byung Chul Han, que é um leitor de Hannah Arendt, estabelece que só a simetria onde o respeito existe, que é o alicerce da esfera pública, e onde ele desaparece, ela desmorona, escreve no seu livro “O enxame” que examina a cultura nas novas mídias sociais.

Fundamentado nestas receitas de poder exercito a favor e com a esfera pública, é possível pensar numa relação de poder com humildade, um verdadeiro empoderamento não é o exercício da força ou até mesmo da violência, mas sua supressão e o restabelecimento do equilíbrio, do diálogo e se possível, do consenso, verdadeiros líderes buscam isto.

Sim é contrário a tudo que estamos vendo e assistindo na esfera pública, a imposição de pessoas, estruturas e formas de oprimir uma parcela da população em resposta a outra que alega ser dona dos verdadeiros privilégios em função da violência sofrida, porém, isto é, um circulo vicioso onde a violência se justifica e se perpetua.

Não por acaso crescem as guerras com armas ou sem elas, porém considerar que é possível por este meio submeter o grupo oposto é um delírio, uma vez que aquele que é submetido a algum tipo de privação, sem a humildade que resulta da sabedoria e da fortaleza, responderá na mesma moeda e o princípio de toda guerra é exatamente isto.

Falamos no post anterior do matris in grêmio, gerador de divina sabedoria e fortaleza, no texto bíblico diz que o poderoso olhou para “a humildade de sua serva”, mas até mesmo líderes e correntes religiosas compreender este “poder” como aquele mundano que oprime o Outro, é daí a origem de tantas apostasias e más doutrinas, não por acaso acabam em abuso de poder.

O anjo que anuncia a divindade da concepção de Maria (o nome Conceição vem daí), é Gabriel que significa fortaleza de Deus, numa sociedade que predomina o poder prepotente, arrogante e que se transforma em ditatorial é compreensível que o poder de uma virgem frágil e dócil a vontade divina seja incompreensível, nada mais contrário ao falso “poder” opressor.

 

Aplainar os caminhos

15 dez

Toda a realidade parece uma enorme confusão, e de fato o é sem um olhar de meditação (a vita contemplativa que postamos na semana passada) e sem uma visão profética que vai além da realidade factual que quase sempre é dualista porque enxerga só por um víeis pessoal.

Acontecerão guerras, revoluções, povos contra povos, tudo o que assoberba os falsos profetas, adivinhos de plantão e maus leitores bíblicos, anunciadores de si próprios e não da realidade divina.

Sim a leitura bíblica é esta Mt 24,7-8: “Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores” sim, mas isto “não será o fim” e a leitura não para aí: “levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos”.  

Embora vivamos uma grande crise civilizatória, a bíblia fala na “grande tribulação”, tudo isto é na realidade um “aplainar dos caminhos”, como fazia João Batista no período da vinda de jesus.

Perguntavam a ele se o messias ou Elias (Jo 1,22-24): “Perguntaram então: ´Quem és afinal afinal? Temos uma resposta para aqueles que nos enviaram. O que dizes de ti mesmo?’ Então João declarou: “Eu Sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” conforme disse o profeta Isaías”, que profetizou que Deus enviaria luz e alegria por meio de uma criança, e que quebraria o “jugo da sua carga” (Isaías 9:4) e seria chamado de “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da paz” (versículo 6).

É de fato uma crise civilizatória, modelos de sociedade em choque, perigos de guerras em limites e proporções jamais imaginados, porém tudo isto é também “aplainar os caminhos do Senhor”, a vinda de uma Nova Civilização, não aquela das falsas profecias, mas o reino da paz.

Cuidado com falsos profetas, com promessas de paraísos que não se realizam, eles também se alimentam das crises, das crueldades e das guerras, mas não constroem a paz e a justiça.

 

O último profeta e sua cultura

14 dez

João Batista era filho de Isabel, casada com Zacarias e prima de Maria, que ao receber o sinal de um anjo que conceberia vai visita-la, apressadamente diz a narrativa bíblica, mas também porque o anjo diz a ela que está cheia de dúvidas: “sua prima que era estéril concebeu na velhice” (Lc 1:36-40), passagem cheia de interpretações, mas isto fica para depois.

Quem era João Batista foi melhor esclarecido nos manuscritos do mar morto (ver referencia) encontrado no mar morto, muito recentemente, mas que leitores bíblicos e exegetas ignoram completamente.

O manuscrito do Qumran muitas polêmicas surgiram, até mesmo de que Jesus era na verdade um essênio, outra que alguns fugiram para a Índia e lá teriam fundado comunidades com seus princípios, alguns destes manuscritos estavam dentro de jarros de barro e falavam da vida de Jesus Cristo e diziam sobre a importância de curas com medicinas alternativas e a importância da cultura vegetariana.

Os essênios também defendiam a unidade e a paz, pois era um período de divisão entre os judeus, vários tiveram contato com Jesus e estão presentes em passagens bíblicas, e assim já tinham uma cultua diferente dos saduceus e fariseus.
Os saduceus eram pessoas da alta sociedade, membros de famílias sacerdotais, cultos, ricos e aristocratas; os fariseus não acreditavam na vida após a morte e por isso não diziam nada sobre sua visão escatológica (do princípio e fim) ficando mais preocupados com as regras e as “leis” judaicas.

Os zelotas, outros que se agregaram a Jesus, rejeitavam o pagamento de tributos ao império romano, sob a alegação de que tal ato era uma traição contra Deus, entre os apóstolos de Jesus, Simão era um zelotes e Judas, o traidor também, e também o apóstolo tardio Paulo de Tarso, refere a si mesmo como um zelote religioso (At 22:3; Gl 1:14).
isto dá um contexto mais cultural e político sobre Jesus e seus apóstolos, não tira em nada sua divindade, mas explica as polêmicas e contradições com a cultura judaica mais ortodoxa da época.

Sobre esta polêmica, o acadêmico judeu Dr. Israel Knohl, presidente do departamento Bíblico da Universidade Hebraica de Jerusalém, e convidado das universidades de Berkeley e Stanford, apresenta em seu livro: “The Messiah Before Jesus”, escreve baseado nestes pergaminhos, a tese de que por volta do ano do nascimento de Jesus falecera um suposto messias Menahem, o essênio, em circunstâncias semelhantes às de Jesus e isto era de conhecimento de Jesus.

Polêmicas a parte, não enfraquece as narrativas bíblicas de Jesus e João Batista, mas esclarece melhor aspectos culturais e históricos.

«The Weirdo Cult That Saved the Bible» (em inglês). Slate. 17 de janeiro de 2008. Consultado em julho de 2015.

 

As narrativas do nascimento de Jesus

13 dez

Muitas foram as profecias sobre a vinda do Messias, embora a de Isaias seja a mais citada (Isaías 7,14): “portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”.
Que significa Deus conosco, assim é o primeiro argumento que Jesus era Deus”, porém as oito visões de Zacarias são interessantes por dois motivos: o que mais falou de profecias messiânicas e o seu nome ser o do pai, do último e maior dos profetas João Batista, Zacarias significa “lembrado por Deus”.
Assim o profeta Zacarias, que não é o marido de Izabel, entre suas várias profecias, previu a vinda do Messias a Jerusalém e a rejeição pelo Seu povo (Zacarias 9,11).
Belém era uma pequena vila, a terra natal do rei Davi, e o profeta Miquéias (5:2) que previu a cidade Natal de Jesus foi dito de Belém, de Judá (uma das doze tribos de Israel) : “Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos”.
Sim porque uma profecia no primeiro livro bíblico, que afirma que do povo judeu (hebreu na época de Abraão), nascerá um povo nove, está no Gênesis (12:2-3):
“Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma benção. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados”, veja que a profecia vai além dos povos abraamicos, embora haja judeus e cristãos que o façam.
E por último a profeta feita a David no Salmo 89:3-4: “Fiz aliança com o meu escolhido, jurei ao meu servo David: “estabelecerei a tua linhagem para sempre e firmarei o teu trono por todas as gerações”.
José marido de Maria foi a Belém (profetizada por Miquéias) porque era da linhagem de David e seu filho deveria ser recenseado lá, então é também fato histórico, pois houve um senso quando Jesus nasceu.
Alguém que conhece a Bíblia poderá pergunta e João Batista, sim ele batizou Jesus e não profetizou e sim anunciou (ou se preferir a última e a maior das profecias), depois de mim virá aquele “que não sou digno nem de desatar as sandálias” (João 1:27), oras quem desatava as sandálias para lavar os pés eram os escravos e João Batista nem mesmo disto se julgava digno.
São tantas profecias, e o encaixe é tão divino e lógico (o senso que contou Jesus, por exemplo), que o sinal de seu nascimento é divina e humanamente claro.

 

Narrativas, Palestina e Israel

12 dez

A oralidade primária, período anterior a escrita impressa, era a forma de transmitir histórias e a cultura e tradição dos povos através da narração, vivemos na modernidade a cultura impressa e agora emerge uma cultura chamada por Byung Chul Han de “pós-narrativa”.

Diz Han: “hoje todo mundo fala em narrativa. O paradoxal é que o uso inflacionário das narrativas revela uma crise da própria narração”, diz no início de seu livro “A crise da narração”, estabelecendo uma oposição entre narrativas e narração.

Profetas e oráculos eram os responsáveis por narrativas no período anterior ao da escrita, é bom lembrar que os escribas e as tabletas de barro estavam presentes em culturas arcaicas, entretanto, foi a narrativa que sustentou tradições nas culturas orais, incluindo as originárias.

Uma interpretação moderna, feita por Walter Ong, discípulo de Marshal McLuhan, é que os mitos foram usados como um processo mneumotécnico, ou seja, “ganchos” para que a narrativa não se desviasse da narrativa inicial, mantendo culturas e tradições, assim grandes obras da cultura ocidental como Ilíada e Odisseia podem ser relidas neste aspecto.

Os profetas não se diferenciam destes aspectos cultuais, tem a pretensão ou de fato podem ser revelações divinas, já que inúmeros fatos nestas narrativas revelam a intervenção divina, a saída de Abrão (só depois será chamado Canaã) da região da Caldéia, dando origem ao povo hebreu, que significava do outro lado do rio, até a chegada a região onde nascerá seu filho Isaque, mas também terá um filho com a escrava Hagar, chamado Ismael, e só depois terá um filho com Sara, Isaque o qual terá dois filhos Esaú e Jacó (depois chamado de Israel, aquele que lutou com Deus).

Já no ventre da mãe os dois lutavam e diz a narrativa bíblica, Genesis 25:23: E o Senhor lhe disse: Duas nações  no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas: um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor”.

Desde a concepção a narrativa bíblica revela dois povos em luta, Rebeca era estéril e quando gerou os gêmeos, Esaú nasce primeiro por alguns minutos e deveria herdar as tribos, mas Jacó usando uma artimanha de se passar pelo irmão que era peludo, vai ao pai que está quase cego e pede que o abençoe, o que é feito, mas depois vendo que teria que lutar com o irmão, diz a narrativa, numa região chamada vau Jaboque (afluente do Jordão) ele luta com um anjo para Deus o abençoar, e a partir daí é chamado de Israel, que significando aquele que luta com Deus.

Porém os ismaelitas continuarão a existir e não se confundem com os Palestinos, que vem dos antigos povos chamados filisteus, inicialmente estavam na costa sudoeste de Canaã, formando a Filístia, apesar de terem adotado a cultura local Cananéia, estudos apontam uma origem indo europeia por inúmeras palavras e também nas primeiras guerra já sabiam fazer o aço, enquanto os israelitas dominavam ainda o bronze (na foto o mapa de 830 a.C.).

 «Origem dos filisteus pode ser finalmente revelada por DNA antigo». National Geographic. 15 de julho de 2019

 

O beato Duns Scotus

08 dez

A sabedoria e profundidade dos ensinamentos deste frade franciscano do século XIII, no entanto, levou 9 séculos para ser reconhecido e venerado pela Igreja Católica, somente no Pontificado de João Paulo II é que ele foi beatificado e reconhecido como santo.

O Papa Francisco em recente homilia exaltou as qualidades de Scotus afirmando: “Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, mestres da fé, que nos ensinaram muitas coisas. Penetraram nos pormenores da Sagrada Escritura (…), mas não puderam ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo (…). O essencial permaneceu escondido! (…)”.

Dotado de uma inteligência brilhante e levado a especulação, essa inteligência pela qual mereceu o título de Doctor subtilis “Doutor sutil”, Duns Scotus foi dirigido a fazer estudos de filosofia e teologia nas célebres universidades de Oxford e Paris e sua obra

Dotado de uma inteligência brilhante e levada à especulação – essa inteligência pela qual mereceu da tradição o título de Doctor subtilis, “Doutor sutil”, Duns Scotus foi dirigido aos estudos de filosofia e de teologia nas célebres universidades de Oxford, Cambridge e de Paris, e assim suas obras receberam os títulos de Opus Oxoniense (Oxford), Reportatio Cambrigensis (Cambridge), Reportata Parisiensia (Paris).  

Entre suas obras místicas se encontram fez estudos sobre a encarnação, na Reportata Parisiense escreveu: “Pensar que Deus teria renunciado a esta obra se Adão não tivesse pecado seria totalmente irracional. Digo, portanto, que a queda não foi a causa da predestinação de Cristo, e que, ainda que ninguém tivesse caído, nem o anjo, nem o homem, nesta hipótese Cristo teria estado ainda predestinado da mesma forma” (in III Sent, d. 7,4).

Duns Scotus, ainda consciente de que, na realidade, por causa do pecado original, Cristo nos redimiu com sua Paixão, Morte e Ressurreição, reafirma que a Encarnação é a maior e mais bela obra de toda a história da salvação e que esta não está condicionada por nenhum fato contingente, mas é a ideia original de Deus de unir finalmente todo o criado consigo mesmo na pessoa e na carne do Filho.

Também o papa Paulo VI declarou esta visão da encarnação afirmada em Scotus: “fortemente “cristocêntrica”, abre-nos à contemplação, ao estupor e à gratidão: Cristo é o centro da história e do cosmos, é Aquele que dá sentido, dignidade e valor à nossa vida.” (homilia de 19 de novembro de 1970).

Não somente o papel de Cristo na história da salvação, mas também o de Maria é objeto da reflexão do Doctor subtilis. Na época de Duns Scotus, a maior parte dos teólogos opunha uma objeção, que parecia insuperável, à doutrina segundo a qual Maria Santíssima esteve isenta do pecado original desde o primeiro instante da sua concepção: o dogma da Imaculada concepção de Maria, defendido por Scotus séculos antes da igreja católica declará-lo.

Tamanha a convicção de Scotus deste dogma, que foi enterrado em igreja da Imaculada Conceição da Virgem Maria (foto), em Colônia, na Alemanha, onde morreu em 8 de novembro de 1308.

 

Duns Scotus e o realismo moderado

07 dez

Duns Scotus é o mais típico pensamento do realismo moderado, já que unia a questão da linguagem como parte da essência do ser (como é apresentada a questão hoje) para a existência dos universais, porém sabia que também admitia o nominalismo em parte.

Foi um filósofo e teólogo do século XIII, sua principal tese teológica é que Deus existe através da questão: “se há entre os entes um ente infinito atualmente existente” (Ordinatio I, parte 1, qq. 1-2) e para ele universais como “verdade” e “bondade” existem realmente.

Duns Scotus sustentava um fundamento universal nas coisas (alguns filósofos irão chamar de quididade) que era mais forte que aqueles sustentados por Tomás de Aquino, e a entidade própria da natureza comum que serve de base para a individuação (assim existem cavalos e existe o “cavalo” particular de uma raça, cor, etc.) como para a universalidade que ela se acrescenta, deixando-a como que intocada (o cavalo específico continua “cavalo” universal).

O argumento que separa o “contemplativo” do “activo” é nesta origem do pensamento, a ideia que o Universal está fora do intelecto com o mesmo modo de ser que está no intelecto e era aquilo que os escolásticos chamavam de “realistas ingênuos”, retornando a Platão, há dois mundos a saber: o mundo sensível e o mundo das ideias (eidos).

Ainda que eidos possam ser diferente do idealismo pós-kantiano, permanece no interior deste pensamento uma concepção do mundo “das ideias” diferente do mundo real, ou seja, um nominalismo radical cujas categorias de Aristóteles foram transformadas em “conceitos”.

A ideia fundamental de Platão, e não se assustem está na base do pensamento da modernidade, é que a verdade está lá fora e não no interior do homem, onde a vê por um processo de meditação ou contemplação, conforme já argumentamos Arendt (e outros interpretes da filosofia) veem o mito da caverna de modo diferente, argumentou Byung-Chul.

Não é este tipo de “parreheia” (abertura da Verdade) que Duns Scotto fala, e já falava também Agostinho de Hipona, mas sim aquela verdade que habita no interior de todo homem.

É no quinto argumento que Scotus usa Agostinho: “Se ambos vemos que é verdade o que tu dizes, e se ambos vemos que é verdade o que eu digo, onde, pergunto eu, o vemos nós? Nem eu, sem dúvida, o vejo em ti, nem tu em mim, mas vemo-lo ambos na imutável Verdade que está acima de nossas inteligências”.

Algo parecido é dito por Sócrates: “a verdade não está com os homens, mas entre os homens”.

SCOTUS, John Duns. Seleção de Textos. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.