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Arquivo para a ‘SocioCibercultura’ Categoria

Porque é preciso pensar?

09 jul

Sonhava em escrever um livro de filosofia, não o escreverei mais, talvez faça considerações, como as que farei aqui, mas ao encontrar inesperadamente o autor Thomas Nagel em: “Que quer dizer tudo isto? Uma introdução à filosofia” em sua 5ª. edição (Gradiva, 2018) penso que ele fez o trivial: apresentar questões fundamentais em palavras do cotidiano.

Assim, farei apenas comentários, não é um resumo, são apenas apontamentos, e talvez seja interessante dizer como o encontrei, foi até de outra obra: Como é ser um morcego? (The Philosophical Review LXXXIII, pp. 435-50, 1974), onde diz que esta pergunta pode fazer sentido, mas não faz sentido perguntar como é ser um tostadeira, atualizando para os dias de hoje como é ser a Robô Sophia, embora hajam pessoas fazendo esta pergunta.

Não é esta questão que responde diretamente, mas questões atuais que estão no pensamento cotidiano, ou seja: Como sabemos seja o que for, o que são as outras mentes, o significado das palavras, a liberdade (o livre arbítrio), a morte e o sentido da vida.

A filosofia parece não tratar disto, mas trata só que em diálogo com outros pensadores, esclarece o autor logo no início do livro: “a filosofia é diferente da ciência e da matemática … não se assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento.” (p. 8).

Todos nós pensamos, é equivocado pensar que só filósofos e cientistas pensam, a questão da filosofia é; “questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensar nelas” (p. 8), e ao fazermos isto somos levados “na onda” para onde ela queira nos levar, em tempos de crise e profundas mudanças isto pode ser fatal.

Explica o autor, entre outras coisas duas perguntas que considero essenciais: “Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes” (p. 9),

Isto é essencial porque esta é a pergunta idealista contemporânea, e o idealismo é a grande filosofia de nosso tempo, ele é a base do que convencionou-se chamar de modernidade.

NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.

 

História Oral, escrita e eletrônica de Shannon

21 mai

Há motivos bem compreensivos para um certo desconhecimento e também críticas, muitas vezes injustas, a Claude Shannon.

Há uma rara entrevista feita em julho de 1982 por Robert Price, chamada curiosamente de “Oral-History“, em que ele afirma:

”Bem, voltando a 42, os computadores estavam emergindo, por assim dizer. Eles tinham coisas como o ENIAC na Universidade da Pensilvânia …  Agora, eles eram lentos, eram muito desajeitados e enormes, e todos, havia computadores que ocupariam alguns quartos desse tamanho e eles teriam a capacidade de uma das pequenas calculadoras. que você pode comprar agora por US $ 10. Mas, mesmo assim, pudemos ver o potencial disso, o que aconteceu aqui se as coisas ficaram mais baratas e poderíamos melhorar o tempo de atividade, mantendo as máquinas funcionando por mais de dez minutos, coisas desse tipo. Foi realmente muito emocionante. Nós tínhamos sonhos, Turing e eu conversávamos sobre a possibilidade de simular inteiramente o cérebro humano. Poderíamos realmente obter um computador que fosse equivalente ao cérebro humano ou até melhor? E parecia mais fácil do que agora, talvez. Nós dois pensamos que isso deveria ser possível em não muito tempo, em dez ou 15 anos. Tal não foi o caso, não foi feito em trinta

A obra escrita de Claude Shannon é bem conhecida, ela está na sua principal obra Mathematical Theory of Communication, que começa com um artigo com o mesmo nome publicado na revista da Bell´s Laboratories em 1948, e que tem uma versão revista e corrigida no site do Departamento de Matemática de Harvard.  

Por último, a grande contribuição de Shannon, além de que seu diagrama apresentado ser sempre incompleto pois retiram dele a fonte de informação e o destino da informação, e isto torna a informação “sem significação” e sem sentido.

Porém sua grande contribuição é de fato a informação no artefacto, quais os limites de “ruído” (não é só isto) mas ele próprio afirma em sua obra que vai tratar da informação num sentido estrito, ou seja, no artefacto.

Oral, written and electronic history of Shannon.

There are good reasons for a certain lack of knowledge and criticism, often unfair, to Claude Shannon.

 

A clareira do ser

01 mai

O entendimento da posição de Heidegger sobre o que considera a “clareira” depende da compreensão adequada dos conceitos de transcendência, mundo e formação de mundo, que pode ser simplificado como visão de mundo (Weltanschauung), porém é explicitado  em suas obras o Ser e tempo (1927) e Conceitos fundamentais da metafísica (1929/30).

Assim é a descrição feita por Sloterdijk em suas Regras para o parque humano (2000), pois tende a justamente a simplificar este horizonte de questões que Heidegger transita ao enunciar uma diferença radical entre o animal e o homem, numa tentativa de superar a dicotomia infernal entre cultura e natureza, que vem na modernidade sobre o homem “lobo do homem” ou “bom selvagem”, entre outras possibilidades.

O posicionamento de Heidegger acerca da diferença entre animais e homens está ligado a sua interpretação sobre o existir humano, sua transcendência (Transzendenz) na qual o homem, e somente o homem é formador de mundo.

Numa conferência de inverno, em 1929/30, elaborou o que mais tarde seria “Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo – finitude – solidão”, ele trata diretamente da questão da diferença entre o animal e o homem.

Avesso à tese tradicional, que seria a racionalidade diferença especial do homem, Heidegger não aceita também que questionamento esteja numa teoria da evolução das espécies, justamente por haver diagnosticado que toda teoria deste gênero já pressupõe determinações prévias tanto do que seja o homem como também do que seja o animal.

Não é nem criacionista nem evolucionista o que ele quer saber é quais caracteres ontológicos dependem do enunciado que perfaz a vitalidade do vivente ante o sem-vida: a pedra e os materiais minerais em geração, a poeira cósmica num sentido mais cosmológico.

Com isso vai formular três teses para criar uma caracterização da essência da vida: 1) a pedra é sem mundo; 2) o animal é pobre de mundo, e, 3) o homem é formador de mundo.

Heidegger tem claro em sua reflexão filosófica, que a relação entre metafísica e ciência positiva ainda precisaria ser pensada em sua ambiguidade característica a de sempre diferenciar sujeito de objeto, assim sua transcendência não é idealista, no método fenomenológico-hermenêutico, as diferenças modais que se explicitam nos distintos modos de ser nelas considerados, o ser-pedra, o ser-animal e o ser-homem, tendo claro, cada um é ser.

Resolvem ainda duas outras premissas da modernidade, uma religiosa que é a crise entre criacionismo x evolucionismo, há uma evolução porque o homem é formador do mundo e há uma criação porque se distingue do animal que não é formador do mundo.

Não se trata de fortalecer a tese do antropocentrismo, então a crítica de Sloterdijk é válida, uma vez que para ele é preciso “esclarecer a clareira”, mas tanto para ele como para Heidegger o humanismo tornou-se anti-humanismo, e chega a afirmar como “a mais miserável’ da “história da Europa” (Sloterdijk, 2000, p. 20) e basta lembrar o horror das duas guerras mundiais.

 

O século das luzes kantianas

30 abr

O século XVIII foi comemorado por muitos filósofos como século da Filosofia, parecia que o iluminismo tinha triunfado de maneira irreversível, sua ideia de estado, a ciência como forma de retirar o homem das trevas, enfim tudo parecia ir de vento em popa.

Antes de tudo o que era esclarecimento para Kant, sem dúvida o maior precursor, assim como Hegel a síntese de toda a filosofia idealista do iluminismo, o esclarecimento (Aufklarung) seria a saída do homem de sua menoridade, do qual ele própria seria culpa, veja que culpa aqui não é o conceito cristão de desvio, mas aquela própria da qual o estado seria o guardião.

Assim a menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo, é o individualismo perfeito, o homem sem a direção de qualquer outro indivíduo, por isso só ele é culpado de essa “menoridade”, depender do outro.

Isto está consumado na máxima do imperativo categórico: “age de tal forma que o seu agir possa ser universal”, e não deve ser confundido com a regra de ouro: “faz aos outros aquilo que gostaria que fosse feito a você”, porque esta inclui o Outro.

É também equivocada a ideia que o idealismo tenha um fio de ouro que o conduza ao platonismo, que por sua vez não pode ser isolado do “materialismo” de Aristóteles, estes equívocos estão explicitados em Gadamer: “O problema da consciência histórica”, cujo ponto central é justamente separar a consciência idealista e romântica de história, para a real.

O texto a Sétima Carta de Platão, favorece o diálogo com o Outro, a dialética dialógica de enfrentar contrários e saber como completar o chamado círculo hermenêutico, onde os pré-conceitos podem passar por uma fusão de horizontes e um posterior esclarecimento que leva a novas reformulação.

Platão afirma na Sétima Carta: “… só depois de esfregarmos por assim dizer, uns nos outros, …. nesses colóquios amistosos de perguntas e respostas …  é que brilham sobre cada objeto a sabedoria e o entendimento … “ (Platão 344 b-c)

Para Gadamer o Círculo Hermenêutico, verdadeiro método de filosofar, é a-letéia, pois: “Qualquer Insight que podemos possuir emerge em um discurso humano finito, e por isso, apenas parcialmente … Nossos insights, em outras palavras são marcados por nossa discursividade.  O que nos é dado nos é dado do ocultamento [léthe] e em um lapso de tempo de volta a ele. Daí porque nossa verdade humana é a-letheia, jamais absoluta”. (GADAMER, 1980, p. 103-104)

PLATÃO, Carta VII (Trad. Do grego e notas de José Trindade Santos e Juvino Maia Jr). Rio de Janeiro: PUC-Rio/Loyola, 2008.

GADAMER, H.G. Dialogue and Dialectic, eight hermeneutical studies on Plato, Binghamton, NY: Yale University, 1980, p. 91-123.

 

A vida e a videira

27 abr

A árvore que dá os frutos da uva é particular, primeiro pelo sou nome videira pois dá a vida a um dos frutos mais enraizados nas culturas devido o vinho, e também é curiosa porque seu tronco e sua sombra são de pouco valor, e há ainda o aspecto que ela seca e deve ser podada.
Se os processos civilizatórios são cíclicos usam a metáfora da videira parece propício para entender os caminhos da humanidade, uma geração cresce sobre determinada cultura, mas quase sempre a questiona exatamente por que os jovens olham para o futuro, o seu futuro.
Quem diria que o sólido império romano decairia antes os persas, os conquistadores portugueses, as guerras napoleônicas, a união soviética e agora os resilientes americanos.
Analista de diversos níveis tipos, correntes e pensadores de diversas especialidades estão convictos, a civilização passa por uma destas mudanças e é uma hora crítica de opções.
Há a nossos ver três pontos essenciais: o combate a centralização de capitais e a corrupção em escala mundial, a mudança dos paradigmas educacionais e a questão ecológica.
O centro destas discussões ainda são os poderes econômicos e os governamentais, e muitas vezes confundidas pela influência da tecno-ciência que nada pode sem estes poderes, mas o centro da discussão deveria estar na valorização da dignidade humana e na questão ecológica.
O certo é que não se pode discutir a vida, sem aqui que é origem da vida, a responsabilidade e a dignidade da “videira” humana que as vezes parece secar com a árvore da uva, mas em seguida vem a primavera e ela floresce, se o agricultor estiver atento.
Como diz a passagem bíblica Jo, 15,1-3: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.”

 

Uma forma de avançar na educação

19 abr

As educações básicas precisas como disseram no primeiro postde empatia, capacidade de resolver conflitos e não será possível com a educação on-line atingir os níveis de escolarização para as faixas etárias mais baixas, mas a partir da primeira escolaridade.

Chamo isto a idade até os 10 ou 12 anos, já é possível observar que o ensino on-line ajuda e pode ser de grande avanço, em especial para crianças que vivendo em países periféricos tenham capacidade de rendimento escolar acima do que seria próprio da sua idade, claro esta criança deve desfrutar de canais de empatia e sociabilidade normais da sua idade.

Porém no nível superior é que podemos ter saltos maiores de qualidade e propiciar uma alta escolarização em escala mundial, só para dar um exemplo, a Índia que ainda tem níveis de saúde e pobreza alarmante é um país gerador de cérebros e estudantes de alto nível.

Os MOOCs (Massive Open Online Curses) é um tipo de curso aberto oferecido por meio de ambientes virtuais de aprendizagem, ferramentas da Web 2.0 ou redes sociais que visam oferecer para um grande número de alunos a oportunidade de cursarem sem a presença física em universidades e sem custos de moradia, transportes, etc.

Um fake News rodou este universo dizendo que os MOOCs nasceram em 2012 e faleceram em 2014, mas isto não é verdade, os números comprovam isto: os números atuais segundo o site Central-Class, o número de estudantes online é de 58 Milhões, distribuídos em mais de 700 universidades, em 6850 cursos, também os gráficos deste site mostram valores crescentes.

No Brasil grandes universidades já possuem cursos on-line, por exemplo: a FEA, da USP, tem um curso de  Fundamentos de Administração (FEA/USP), disponível na plataforma Veduca, de educação online do Brasil, o curso gratuito é destinado a quem deseja aprender a administrar, outro curso é Responsabilidade Social e Sustentabilidade das Organizações (PUC/RS), curso da PUC do Rio Grande do Sul disponível na Miríada X, a Fisica de São Carlos tem o curso Física Básica (IFSC/USP), o curso tem carga horária de 59 horas divididas em 26 aulas e a UnB tem o curso Bioenergética (UNB),  que permite ao interessado optar por apenas assistir às aulas ou obter o certificado.

 

Os falsos tecnoprofetas

10 abr

A ideia que a máquina é má, além de ser uma concepção anti-progresso evidente, procura sem conhecê-las desmentir a primeira lei de Kranzberg: a tecnologia não é boa, nem má nem neutra, mas em geral, desconhece-se as suas outras 5 leis: 2 – a invenção  é a mãe da necessidade, 3ª – a tecnologia se desenvolve em “pacotes”, 4ª  – as políticas tecnológicas são decididas, prioritariamente, com base em critérios não-técnicos,  5ª. – toda história é importante, mas a História da Tecnologia é a área mais relevante, e, 6ª. – a tecnologia é uma actividade humana, a História da Tecnologia também.

Jean-Gabriel Ganascia, em seu livro “O mito da singularidade: devemos temer a inteligência artificial?“ (Lisboa: Círculo de Leitores, 2018) desmascara a ideia que num futuro previsível, alguns marcam o ano de 2045 a máquinas possam vir a sempre completamente autónomas e substituir a inteligência humana que em ultima instância é o que as programa e governa.

Cita entre vários outros que acreditam nesta profecia, cujo ponto de ultrapassagem é chamado ponto de singularidade, Raymond Kurzweil, que a parte de sua precoce genialidade, com 15 anos escreveu um programa que partituras musicas para piano, prepara seu corpo e sua mente para serem “carregados” (um download cibernético) numa máquina futura.

Outro tecnoprofeta citado por Ganascia é Hans Moravec, que escreveu “Homens e Robots: o futuro da Inteligência Humana e Robótica” (1988) e “Robot: more machines to Transcendent Mind” (1998) que conduziria a uma transformação radical da humanidade.

Um último, que vale citação, Kevin Warwick escreveu I, Cyborg numa clara alusão a Eu, Robot  e que tornou-se conhecido do grande público por ter introduzido na pele um chip encapsulado num vidro dentro da própria pele, para comandar uma série de accionadores remotos, mas parece que seu projecto foi um fracasso, afirma Ganasci (pag. 13).

Os filósofos não ficam parados, deixo de lado aqui os críticos das tecnologias digitais atuais, para ir aos tecnoprofetas futuristas, digno de destaque e citado por Ganascia, Nick Bostrom, físico de formação, faz profecias em seus escritos, e particularmente num sucesso de vendas:
Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies, prevendo entre outras coisas a trans-humanity.

Entre os catastróficos tecnoprofetas, Ganascia cita Bill Joy, co-fundador da Sun Microsystems, que escreveu um artigo: “Por que o futuro não precisa de nós”, o autor vai de Leibniz a Lyotard para mostrar porque estas teses parecem reais em nosso tempo, mas não nos estudos e resultados da Inteligência artificial.

São de fato tecnoprofecias, mas fora do tempo, o tempo de oráculos e profetas é da cultura da oralidade, que faz sentido no seu tempo ou nos herdeiros desta cultura: tribos e povos ancestrais que ainda tem esta forma de saber.

 

A natureza e o homem: transubstanciação

29 mar

Toda crise ocorre tendo um vínculo profundo da relação do homem com a natureza, e em função desta mudança, mudam as relações sociais entre os homens.

Foi assim no início com o plantio e a domesticação dos animais, que tornou possível ao homem nómade tornar-se mais sedentário, mas o tempo actual, o da modernidade, o homem perdeu a capacidade de identificar o que o liga ao animal, ao que é vivo, à natureza, paradoxalmente justamente quando a ciência e “filosofia mais falaram de “dominar a natureza”

Já a crise, no limite actual, +e incapacidade de percepção do que na natureza se diferencia dele, problemas ecológicos, de transgénicos e de bioengenharia.

O homem sendo um pedaço da natureza, e em contrapartida, a natureza produz a hominização, Teilhard Chardin afirmou que o homem é a complexificação da natureza, Edgar Morin (2005) afirma que o homem guia e segue a natureza.

A questão histórica nos leva a refletir sobre o tipo de relação que estabelecemos com a natureza, incluindo a nossa própria natureza, é o que somos como substância do universo, e o enigma eucarístico: porque Deus se fez substância: pão e vinho, nesta data cristã que relembra este último e maior milagre de Jesus.

Podemos ver nesta realidade física (a substância) a paisagem deve ser entendida como realidade física estendida como construção social? A resposta lógica é sim.

Mas num mundo constante transformação, dos costumes sociais, de artefactos e de locais indeterminados, a paisagem entre natureza e sociedade evoluiu; ela tanto já é simultaneamente natureza-objeto como natureza-sujeito, esta dicotomia evolui ?

Talvez estejamos mais pertos de entender o milagre da transubstanciação, Deus se fez artefatos do homem, dois artefatos universais: pão comida e vinho bebida.

 

MORIN, E. O método II: a vida da vida. Porto Alegre: Sulina, 2005. 

 

Por uma filosofia do Design

22 mar

Vilém Flusser foi um tcheco naturalizado brasileiro, falecido em 1991, que atuou por cerca de 20 anos como professor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor no Brasil e depois de volta no seu país de nascimento a Republica Tcheca.

Seus livros estão sendo republicados no Brasil, incluindo todos os seus escritos, e comecei relendo O mundo Codificado – por uma filosofia do Design.

Sua obra vai além das influências que recebeu de Roland Barthes, Marshall McLuhan, pois sua filosofia é própria com elementos de fenomenologia e existencialismo.

Na introdução do livro, feita por Rafael Cardoso, é destacada sua mudança de pensamento sobre as modernas mídias que apenas viu nascer: “ao contrário da maioria dos filósofos modernos, que costumam concentrar suas análises na linguagem verbal ou nos códigos matemáticos, Flusser dedicou boa parcela de seu gigantesco poder de reflexão às imagens e aos artefatos, elaborando as bases de uma legítima filosofia do design e da comunicação.” (FLUSSER, 2017, p. 10)

Lançou perguntas profundas sobre o mundo virtual: “Se uma árvore cai no espaço virtual, e não há ninguém on-line, será que ela gera uma mensagem de aviso?” retomando a famosa questão da árvore que cai na floresta, e também “Qual a diferença entre o material e o imaterial? Podemos trocar coisas por não coisas?” (idem) e conclui com uma pergunta ainda mais fundamental: “Que destino devemos reservar para os detritos gerados por nossa frenética atividade de transformação da natureza em cultura?” (FLUSSER, 2017, p. 15)

Aproxima-se do paradigma da informação, base essencial para o conhecimento e a educação, “o fim da história parecer ser o fim de nossa capacidade coletiva de lutar contra a entropia, contra a desagregação do sentido e da forma. Se a base daquilo que entendemos por cultura reside na ação de in + formar, então não é paradoxal que o excesso de informação nos conduza à desagregação do sentido ? “ (idem)

A importância do “conceito de virtualidade talvez seja a melhor e mais elegante prova do quanto Flusser tinha razão.” (idem), e não se pode mais fugir a esta questão, o uso em diversas formas de informação, comunicação e das artes exige a abertura desta “caixa preta”, nome de um ensaio publicado no ano de 1985.

Flusser ao contrário de apocalípticos, admite que “ao menos em tese”, o que deveria transformar-se em bem estar, ““humano torna-se escravo das forças de uma outra “natureza” que ajudou a gerar artificialmente”.

Aspectos da virtualidade e de um mundo codificado são desenvolvidos de maneira única pelo autor e contribuem para um debate mais sereno sobre as novas mídias.

FLUSSER, V. O mundo codificado: por uma filosofia do design. São Paulo: Ubu editora, 2017.

 

O ser, as coisas e os gadgets

15 mar

Este nome para os dispositivos digitais apareceu muito antes da internet e da explosão digital, está no livro de Marshall McLuhan da década de 60: Understanding Media.
Muitos lembram dele apenas pelas frases: “a aldeia global” e “o meio é a mensagem”, mas poucos conhecem sua abordagem do mundo digital, e menos ainda se conhece sobre a profunda influência que teve no seu pensamento a Noosfera de Teilhard Chardin.
Algumas das ideias principais de McLuhan consistiu em antever de forma de um mundo mais consciente e até “mesmo em um mundo hiperconectado, onde todos têm a capacidade de regular sua própria experiência”, leitura diferente dos apocalípticos.
As ideias que muitos aprendem bem, mas continuam esquecendo-as são os avanços e as possibilidades de um mundo cada vez mais uma “aldeia” e que os problemas antes velados, como o próprio ser estava velado, agora estão expostas pelas “mídias”.
Nós só precisamos optar por excluir estes avanços, se estamos escondendo de alguma forma em nossas mentes, nossa consciência do ser, de cada coisa que existe além dos rótulos e dispositivos que usem, isto não é para internet, mas para carros, roupas de grifes, enfim, uma série de objetos de consumo que parecem qualificar o ser, e porque há tanto vazio?
Foi o que tentamos responder nos posts anteriores, acadêmicos demais talvez, porém sem revisitar o pensamento humano podemos ficar na superficialidade das “coisas”.
Para fugir de um discurso difícil sobre o ser, mas é preciso reconhece-lo como “ser-do-ente” leio uma página de Presente do mar (Gift from the sea), Anne Morrow Lindbergh que escreve:
“A vida hoje na América baseia-se na premissa de círculos de contato e comunicação cada vez maiores. Envolve não apenas as demandas familiares, mas as demandas da comunidade, as demandas nacionais, as demandas internacionais sobre o bom cidadão, através de pressões sociais e culturais, através de jornais, revistas, programas de rádio, analistas políticos, apelos ´caridosos´ e assim por diante. Minha mente está com isto … Não traz graça; Destrói a alma “.
Mas ela não estava falando da Internet, a Makron Books lançou um livro comemorativo de 50 anos do livro, o livro é de 1975, portanto isto já era uma realidade anterior da internet, assim como o nome gadget foi usado por McLuhan na década de 60.
Este é uma realidade do Ser, já observada no início do século passado, o mundo digital é um componente a mais na complexidade do homem contemporâneo