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A Casa de Bonecas
Escrito em 1878 e construída em 1879, o romance norueguês de Henrik Ibsen (1828-1906), Casa de Bonecas é uma das primeiras manifestações da exclusão das mulheres numa sociedade dualista e machista, feito para o teatro teve sua primeira encenação no teatro Kongelige, de Copenhagen na Dinamarca, já em 1879. Na foto dois filmes da década de 70, um com Claire Bloom outro com Jane Fonda no papel da personagem Nora Helmer.
O romance causou grande alvoroço na época, entretanto Ibsen era de família abastada e respeitada da cidade de Skien, na Noruega, é considerado um dos fundadores do modernismo.
A ambientação é o período natalino, e o casal Nora e Torvard Helmer estão se preparando para a festa, e ele comenta sobre os gastos da mulher, a qual trata com apelidos que a reduzem a infantilidade: “cotovia”, “esquilo” e “minha menininha” como uma criança peralta que ainda sabe pouco da vida adulta.
No primeiro ato chegam uma mulher viúva Cristina Linde e o Dr. Rank, que vai ao escritório conversar com Holmer enquanto Cristina que é uma antiga colega de Nora, conversam sobre a morte do marido de Cristina, antiga colega de Holmer. Enquanto Holmer vai ao escritório com o amigo, Nora e a colega Cristina conversam sobre a vida pessoal de ambas.
Nora conta que o marido receberá o cargo de gerente num banco de investimentos e isto trará estabilidade a família, enquanto Cristina também a trata como uma “criança crescida”.
A campainha toca novamente e a criada anuncia o Sr. Krogstad, que vem falar sobre negócios com o banco no novo cargo de Helmer, Cristina o reconhece como tendo “negócios de toda espécie”, o Dr. Rank sai do escritório vem a sala e também conhece a Sra. Linde.
Quando Nora fica a sós com o Sr. Krogstad que lhe fizera um empréstimo, e o Sr. Holmer não sabia, do período que a família esteve ruim das finanças, o Sr. Krogstad lhe diz que sabe que a assinatura do pai dela como avalista fora falsificada pois eram 3 dias depois do falecimento deste, e aqui o romance entra no seu enredo.
Cristina na verdade teve um romance com o Sr. Krogstad e ela poderá ajudar Nora, retomando o relacionamento com ele, que o convence a enviar a promissória a Holmer, mas já havia enviado uma carta dizendo do empréstimo que a esposa fizera com ele falsificando a assinatura do pai dela.
O final é surpreendente, Holmer abre a carta de Krogstad que conta o “segredo do empréstimo”, depois em seguida recebe a promissória e a rasga, mas a reconciliação com Nora já era impossível porque dissera palavras duras sobre o empréstimo dela, e ao final Nora vai embora deixando-os com os filhos, que ele dissera não ter capacidade e educa-los, sem dúvida um romance chocante para a época, e que recebeu duras críticas.
O padre Antunes e o Estado
Antes de repensar o Estado, Antunes parte do Portugal real, depois de delinear nas primeiras páginas a identidade e as fragilidades do povo, sem sair pelo chauvinismo ou isolacionismo que foi próprio durante certo período pós-colonial, afirma o pensador: “É fácil pôr no papel dezenas e dezenas de partidos políticos. É fácil fazer proclamações ideológicas como se elas contivessem a última e definitiva verdade. É fácil apontar programas, inumeráveis e ideais, mas que não mordem no real” (Antunes, 2011, p. 38), destaca-as de vez.
Vai repensar o estado português, conforme diz “partindo do país que somos”, não sendo possível colocar de lado: “nossos problemas mais graves: o do Ultramar, o da emigração, o dos múltiplos atrasos que nos afectam nos campos político, social, económico, científico, tecnológico e cultural.” (idem, p. 38), dizendo a constatação de que “durante cinquenta anos se viveu na hipertrofia do Estado”, e isto é válido não só na Europa, mas também em muitos modelos de estados contemporâneos.
Depois de desfilar as funções do Estado, vai desenvolver duas linhas de reflexões, sobre dois modelos opostos: “ uma grande linha de clivagem se ergue diante de nós: a que separa o Estado monopolista do Estado pluralista” (pag. 42), na qual também o Brasil aprenderá a lição.
Diz do primeiro: “radicalmente centralizador, burocrático, jurisdicista e, tendencialmente pelo menos, totalitário” (idem), diz da lição aprendida em 25 de maio, que nem mesmo seus partidários quiseram defendê-lo, pode-se dizer o autoritarismo já estava morto.
Já o segundo é: “o segundo radicalmente descentralizador, tomando a nação e a sociedade tais como elas são com os seus corpos intermédios verdadeiramente vivos, os seus estratos sociais organizando-se da maneira que mais lhes convier e deixando ao livre jogo do mercado”, parece melhor e menos burocrático, mas “entre estes dois extremos situa-se um amplo leque em que várias combinações são possíveis” (pag. 43) é onde desenvolve suas ideias.
Vai chamá-la de “zonas temperadas” nas quais “o homem pode construir uma existência
mais de acordo com a sua natureza de ser inteligente e livre” (idem).
Pergunta então se Portugal desejará viver nesta zona temperada, onde o “princípio ideológico-afectivo da liberdade, da igualdade e da fraternidade, constantemente em instância de revisão crítica nas suas aplicações concretas e não reduzido a slogan vazio ou a mero discurso retórico sem conteúdo” que em muitas lugares deram lugar não só ao descrédito democrático, mas principalmente cedendo a tentação autoritária.
Certamente seu pensamento serviu para Portugal ir para esta “zona temperada”.
Padre Manuel Antunes, se “calhar” é universal
A entrada de meu ambiente de estudos em Portugal, deparo com um cartaz que dizia uma conferência sobre o Padre Manuel Antunes: Repensar Portugal, a Europa e a Globalização, os dizeres eram exatamente estes, mas de relance me veio a memória um livro pego na Web para entender um pouco mais de Portugal: “Repensar Portugal” (veja o pdf), depois fico sabendo que há um livro da editora Bertrand com este todo nome do evento, publicado em 2017.
Se calhar é uma expressão portuguesa mais ampla que no Brasil, usada como poderá ser, quem sabe ou mesmo é possível.
Também revejo meus pré-conceitos, daquela que eu tinha de nossa pátria mãe não só porque chegaram ao Brasil, mas também porque nos deram os governantes imperiais, D. João VI que migrou e estabeleceu a coroa lá, D. Pedro I (aqui em Portugal, D. Pedro IV) e sua filha mais velha nascida em São Cristóvão no Rio de Janeiro, D. Maria II que dá nome a um teatro e alguns sítios (lugares) em Portugal.
A leitura inicial, sem nenhuma vivência em Portugal, era de um país isolado, um tanto acanhado, e o texto do Padre Manuel Antunes confirmava, lê-se no início de Repensar Portugal: “a possibilidade do termo do isolamento internacional, daquele “orgulhosamente sós” que é a contradição mesmo do mundo em que vivemos” (Antunes, 2011, p. 35), onde já pode ler o universal, esta obra no original é de 1979, cinco anos após a Revolução dos Cravos.
Ao falar da Revolução dos Cravos, a que pôs fim a era salazarista, disse o Padre Antunes: “Festa dos cravos de Maio, da confraternização do Povo e das Forças Armadas, do entusiasmo colectivo, de uma certa irmandade não fingida, de uma vasta disponibilidade à abertura, de uma, por vezes cândida e larga, espontaneidade” (idem pag. 35).
De início a curiosidade religiosa me movia, pensando nos sermões do padre António Vieira, mas além do pensamento erudito, foi desta leitura que entendi que devia conhecer seis datas essenciais para Portugal, a Revolução dos Cravos (1974) e: 1385, 1640, 1820, 1910 e 1926.
Destaca já no início, em busca de uma identidade portuguesa, sem chauvinismo, sem messianismos e sem isolacionismo, a vê como um “um país paradoxo vivo dos mais estranhos que a memória dos homens conhece” (pag. 36), com muitas exceções: um império colonial tão largo (Portugal é o primeiro império da era moderna de Macau, Goa até a África e o Brasil), exceção como realizou sua revolução política (a esquerda como é normal), foram as próprias forças armadas que desaparelharam o Estado e fazem voltar do exílio membros de partidos proscritos.
Perguntava na época, fazendo um paralelo ao ano da revolução liberal de 1820 (feita pela coroa), “prefácio às Cortes Constituintes do mesmo ano. Seguir-se-á 1823?” (pag. 37) e teria relação com nossa “independência” de 1822.
Diz em sua obra como que definindo uma identidade portuguesa, após dizer que fizeram várias imitações (1820, a Espanha; em 1834, a Inglaterra; em 1910, a França jacobina com o regicídio e 1926 Itália fascista), foi com o assassinato do Rei Carlos I e o herdeiro que se fez a república.
Porém destaca traços peculiares no povo português: “Povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico, mas pouco pragmático” (idem) e destaco o traço mais essencial que difere-o de toda Europa: “povo convivente, mas facilmente segregável por artes de quem o conduz ou se propõe conduzi-lo” (ibidem), mas o convívio reservado na privacidade como todo europeu, é prazeroso e alegre diferente de toda europa e parte do mundo onde a indiferença já impera.
Este erudito português, falecido em 1985 não viu Portugal integrar-se a Comunidade europeia e a crise que se sucedeu, mas deu uma sentença fundamental: “A hora lírica está a passar. Começou a suceder-lhe a hora da acção” (ibidem), alertando para modelos de mudança que se estagnaram, que é um alerta para muitos que estão em passos de retrocesso.
Site: http://centenariopadremanuelantunesj.pt/
Democracia e Informação
Em meio a um quadro dramático da democracia brasileira, o perigo de radicalização é visível, volto a abrir o livro “Política nós também não sabemos fazer”, o não é propositalmente tachado, que tem como coautores Clovis de Barros Filho, Oswaldo Giacóia Junior, Viviane Mosé e Eduarda La Rocque, prefaciado por nada menos que Mario Sérgio Cortella.
Todo livro é interessante, mas destaco o capítulo de Eduarda La Roque, que além de propor claramente uma terceira via (nesta eleição quase impossível), inicia citando o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley: “o futuro imediato deverá parecer-se ao passado imediato, em que as mudanças tecnológicas rápidas, verificadas numa economia de produção em massa e entre uma população predominantemente destituída de posses, … “ (op. Cit. Clovis et al., 2018, p.87).
Explica como a terceira via vê o combate a desigualdade, propõe usando Michel Porter, uma medida alternativa ao PIB que seria o Índice de Progresso Social (IPS), só explicando diferente do IDH (Desenvolvimento Humano) porque prevê a sustentabilidade de progresso em regiões mais pobres, e chega ao ponto que consideramos central: O Centro de Qualificação da Informação.
Em sua própria definição. “é uma instituição autónoma, da sociedade civil, que busca aproximar e articular diversos saberes da sociedade, de forma democrática e direta, sem a predominância de um saber ou setor sobre o outro, tentando convergir as pautas, os interesses, hoje tão esgarçados da sociedade … “ (Roque In Clovis et al., 2018, p. 107-108).
Propõe a governança pública e citando José Padilha constata que “a maioria das instituições publicas brasileiras desenvolve culturas organizacionais informais que trivializam a corrupção e a transformam em hábito.” (idem, p. 117)
E cita o gigantismo do estado (não defende o estado mínimo não), afirmando “o setor público que toma mais de 40% do PIB torna-se tão grande e poderoso que escolhe vencedores e compra a sociedade civil, num processo muito bem descrito por Saramago em A ilha do desconhecida” (ibidem, p. 117-118).
O modelo que estabelece descrito como uma mandala tem no centro o desenvolvimento humano, acrescentaria a este modelo apenas o aspecto espiritual, já descrito em muitas cartas sobre transdisciplinaridade, como a Carta de Arrábida e por autores como Byung-Chull Han e Edgar Morin.
A ideia é uma rede de propagação a prosperidade, chamaria de um circulo virtuoso que interrompe o circulo de mais concentração e mais corrupção do estado moderno, e que a autora descreve como flor da vida: “concentrada em suas pétalas a congruência de projetos de maior capital humano com três outros capitais, ou seja, seriam os projetos de maior valor compartilhado … para a sociedade” (Clovis et al., 2018, p. 129-130).
Acrescenta “as sete capitais podem se fazer representar através dos vértices dos triângulos de 17 gols de desenvolvimento sustável (GDSs)”, existe uma versão detalhada no Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil.
Utopia, pode ser, palavra foi cunhada por Thomas Morus previa o reino Utopus, quem sabe um país não fique “deitado eternamente em berço expendido”, enfim há uma 3ª. via.
CLOVIS, Barros Filho, Giacóia Jr, O., Mosé, V. e La Rocque, E. Política que nós também não sabemos fazer, Petrópolis, Vozes Nobilis, 2018.
Veredas onto-antropotécnicas
Já postamos aqui, sobre as Veredas da Salvação, peça maldita do tempo da ditadura militar, e também já postamos sobre o romance de João Guimarães Rosa: Grande Sertão: Veredas, onde o capataz de fazenda Riobaldo é apaixonado por Diadorim, um amor que se confunde com beleza e medo, que fala de uma simbólica travessia de um rio, e dos “diabos” entre um ser e um não ser, dito assim no romance:
“… o diabo existe ou não … e vai dizendo (…) Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens, até nas crianças – eu digo. (…) E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemoinho…” (Rosa, 2001, p. 26).
Podia-se ver a Páscoa na tradição oral brasileira, sim o romance é um exercício de oralidade em meio a cultura popular, como esta travessia de um rio, e encontraríamos muita significação não só para a cultura nacional, para a política, preocupação constante de Guimarães Rosa, e um novo tempo, onde a passagem significa uma “Páscoa Nacional”, dá para sonhar com isto?
Curiosamente e até paradoxalmente, podemos encontrar a mesma preocupação na definição da antrapotécnica de Petr Sloterdijk, como prova que isto é um ponto nacional e universal.
Esclarece Sloterdijk ao dar três dimensões da antropotécnica: o lado ilusionista, rigidamente organizado, em que os membros devem se exercitar, o lado psicotécnico que é o roteiro de treinamento para exploração da luta da sobrevivência, e o terceiro, um lado irônico, radicalmente flexível para todos, um espécie de business-trainer (Sloterdijk, 2009, p. 168).
A dimensão religiosa, não aquela religiosa em que se pensa uma religação dos seres e destes com Deus, considerando e respeitando a especificidade e personalidade de cada um, mas aquela dogmática, dona da verdade (tema de nossa semana passada) e algo “inescrupulosa”.
A antropotécnica como desvelamento do ser, é descobrir estas máscaras e manipulações que existem em todos os âmbitos da sociedade, da religião à política, do senso comum ao científico, e que no fundo não tem nada a ver nem com o ser e nem com qualquer tipo de humanismo.
Claro todos desejam a integração da humanidade, até o Trump vai falar com o coreano, porém o conjunto das relações antropotécnicas estão longe de uma onto-antropotécnica, usam e abusam da pós-verdade, manipulam fatos e narrativas, da mentira pública a mentirinha diária.
Não é possível que um ambiente assim desperte o humano, a relação do Ser e o humanismo.
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.
SLOTERDIJK, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik (Você pode mudar sua vida: sobre a antropotécnica). Frankfurt, Suhrkamp, 2009.
O mal simbólico e o paraíso perdido
A reflexão do mal simbólico feita pelo filósofo francês Paul Ricoeur remete ao estudo da linguagem e o uso da hermenêutica para dizer o que é a manifestação do mal na realidade, não se trata só da violência, mas essencialmente do mal em diversos níveis da realidade.
Ao explorar a função simbólica do mal, recorreu aos mitos primários como a queda de Adão que se revela na necessidade de reconhecer o símbolo como meio de compreender a realidade, no caso do mito adâmico, as três grandes religiões monoteístas: judaísmo, islamismo e cristianismo.
Expurgar o mal além do sentido ontológico que tratamos nos posts anteriores, e caminhar para o entendimento das implicações éticas que se pautam pela busca da tomada de consciência de si, parecem vazias e mal explicadas, são as raízes da violência, quando não reconhecem o “símbolo”.
A ideia presente no mito adâmico da expulsão do paraíso, e que isto se dá pelo uso do “fruto proibido” já foi cantado em prosa e verso em livros (Eça de Queiroz escreveu Adão e Eva no paraíso), músicas e até mesmo tratados filosóficos como o de Paul Ricoeur na atualidade, porém a incompreensão desta presenta no “ser” ou nas esferas de imunologia como quer Petr Sloterdijk, parecem desconhecer os conceitos de “valor” e “riqueza” como querem Edgar Morin e Patrick Viveret (Como viver em tempos de Crise).
Longe de apelos apocalípticos é preciso compreender a complexidade do percurso atual da história humana, é sim uma crise com aspectos profundos, mas são aqueles momentos em que uma grande virada se anuncia, a nosso ver a “virada ontológico”, uma mudança de raízes profunda em nosso ser, e isto não tem nada de líquido e será bastante sólido.
A humanidade já deu grandes saltos, nos períodos das grandes civilizações do oriente: os Persas, os Babilônicos e os Egípcios, mas nas civilizações latino americanas também: Astecas, Incas e Maias.
Estas civilizações descaíram, mas outras a seguiram por caminhos diversos, o que parece falso é o paradigma desenvolvimentista, pois ainda que seja desconhecido o humano é prevalente ao desenvolvimento e às novidades, fizemos muito no período da modernidade, mas suas idealizações do Indivíduo, do Estado e da propriedade individual parecem agora falsas, e não significa necessariamente uma saída pelo modelo socialista, mas sem dúvida significará alguma saída coletiva, o ser-aí individual parece do-ente, e algo mais presente na relação ser-com-outro ética parece um caminho viável para o desenvolvimento de uma humanidade nova.
O que ler no ano novo
Um dos livros na minha pilha de novas leitura é Sapiens – uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari, a edição original em inglês é de 2015, mas a edição em português que chega ao Brasil, pela editora de Porto Alegre LP & M, é de 2017 com tradução de Janaína Marcoantonio, só folheie até agora, mas já sinto o peso do livro como desde o capítulo inicial A revolução cognitiva, com o tópico um animal insignificante, até a Revolução Científica, com o primeiro tópico: a descoberta da ignorância.
Já pontuamos em diversos posts sobre a descoberta da Caverna de Chauvet, o livro abre A revolução cognitiva com uma mão humana nesta caverna de 30 mil anos atrás (foto ao lado), uma pintura o primeiro capítulo que já comecei a ler.
Quem quiser fazer um contraponto, um livro clássico (meu irmão me indicou) é o livro de H.G. Wells, ele recua até os primórdios do universo. Publicado em 1922, Uma breve história do mundo é um panorama sobre o planeta e a humanidade, desde o surgimento dos seres vivos, passando pela origem dos povos, das religiões, as grandes navegações, as guerras, a Revolução Industrial até chegar à Primeira Guerra Mundial, o livro é de 1922, e curiosamente também é da LP & M, as versões que se encontram a venda.
Vou para Portugal o ano que vem, ao menos quero ir (sim é a grana), lançado em novembro o livro de Ricardo Araújo Pereira: “Reaccionário com dois cês”, fala da onda conservadora em Portugal, mas acredito que deva falar também da Europa e do mundo todo, seu livro “A doença, o sofrimento e a morte entram num Bar” foi um pleno sucesso com 40 mil exemplares vendidos, este novo não deverá ser diferente.
Um livro que já li e vou reler, é a “Sociedade do Cansaço” do coreano-alemão Byung-Chul Han, num prisma totalmente novo ele traça o perfil de uma sociedade que não consegue por mais bens que produza levar o ser humano a uma maior felicidade e fala de uma ausência de sentido da vida, o final que a crítica não gosto é muito bom, vale a pena ler.
Falando em felicidade de Augusto Cury, mas desta vez com vários autores, o homem mais feliz da História – vários autores, não sei se ele vai comentar outros autores ou se vai inclui-los em sua reflexão, mas isto pouco importa, parece que o já consagrado autor chegou a maturidade na busca de um discurso coletivo, já está entre os mais vendidos no Brasil.
Entre estes quatro não há uma sequência, mas diria assim para os mais preocupados com a política, e eles tem razão, começaria pelo português Ricardo Araújo Pereira, e terminaria com Augusto Cury, para os preguiçosos terminaria com o Sapiens – uma breve história da humanidade, porque ele é denso e grande também, tem 448 páginas sem contar o índice.
Os preguiçosos podem ainda começar pelo livro do Byung-Chul que são apenas 128 páginas em formato pequeno (este que dá quase meio A4).
Claro que existem muitas outras leituras, mas se ler 4 livros por ano, no fim da vida será um pensador, vivendo em média 70 anos e descontados os 14 da adolescência, ainda que possamos ler livros infantis e para jovens, 56×4 = 224 livros, com certeza será um intelectual, tenham certeza que muitos doutores não leram isto a vida toda.
Algumas razões para ser cientista
O livro gratuito com este nome, reúne trabalho de diversos cientistas nacionais conhecidos, tais como Marcelo Gleiser, José Leite Lopes que conta um pedaço da história da física no Brasil, e o trabalho que destaco aqui de Constantino Tsallis, apesar de grego é praticamente um brasileiro, e assim como Marcelo Gleiser destaca o aspecto da beleza que deve ser destacado com uma das melhores razões para ser um cientista, no caso deles, pesquisadores em física.
Tsallis é candidato ao Nobel da Física, e o próprio trabalho que provavelmente o premiará ele fala de beleza, queria deixar a constante de Boltzmann, fundamental para a entropia, para a mecânica estatística e principalmente para o problema do equilíbrio da energia, já neste trabalho dizia que queria deixar o resultado mais elegante e acabou ampliando e modificando.
No seu capítulo do livro começa contando sua história: “apesar de se considerar totalmente latino-americano, Tsallis conta que herdou dos pais, gregos, o amor pelo conhecimento e pela beleza. Ele está sempre em busca da forma mais bela possível em seu trabalho de pesquisa.”
Ainda criança a família mudou para Argentina, e gostava de todas matérias, menos “contabilidade”.
O desenvolvimento do importante trabalho que poderá dar o Nobel da Física, conta Tsallis que desenvolveu em 1988 uma generalização da estatística da constante Boltzmann-Gibbs e da Termodinâmica, atualmente usada em diversas aplicações, que pode lhe dar um Nobel.
A curiosidade, segundo ele, é característica necessária para um bom pesquisador. “Algumas pessoas olham aonde o rio vai parar; outras de onde aquele rio vem. Para fazer física é preciso ter a curiosidade de saber de onde vem o rio, não muito para onde ele vai.”.
Afirma que segue uma intuição estética: “sempre que escrevo equações, a forma final é a mais estética”.
Quando procurava na estatística uma equação que generalizava a entropia de uma forma tão bonita que deveria estar certa.
Foi assim que chegou à forma final de sua teoria como é conhecida hoje. “A maneira que você apresenta predispõe a uma espécie de sonho que vai além daquela equação”, afirmou Tsallis à entrevistadora Carolina Cronemberger.
O livro Algumas razões para ser um cientista, está disponível online, e foi publicação pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Física, instituição de nosso provável Nobel: Constantino Tsallis.
Oréstia: a tragédia desconhecida
Oréstia foi encenada pela primeira vez em 458 a.C., e foi vencedora do primeiro prêmio nas festas dionisíacas de Atenas, embora tenha sido escrita por Ésquilo, e vencedora do primeiro prêmio nas festas dionisíacas de Atenas, ela é desconhecida e pouco apreciada hoje.
Tragédia está associada em nossos dias, e não por acaso, a dores, catástrofes, algo onde há muitas vítimas, ou ainda o desenrolar de alguma ação violenta como um assassinato, uma guerra ou um grave acidente natural, para os gregos era outra coisa.
Tragikós definia uma forma artística inovadora, ou algo que somente ocorria entre os grandes eventos que mudavam a história. Na visão de Aristóteles, um dos primeiros a estudar o impacto dos espetáculos teatrais, a tragédia seria “uma representação imitadora de uma ação séria, concreta, de certa grandeza, representada, mas não narrada, era provocadora da Katarsis, a catarse, que é a purgação das emoções dos espectadores.
Oréstia, de Ésquilo é porisso uma grande representante desta modalidade de teatro, a peça pode ser dividida em três partes: na primeira Agamênon mostra a volta desse personagem da guerra de Tróia, onde foi bem sucedido em matar a própria filha, Ifigênia, em sacrifício aos deus, mas isto não é bem recebido pela mãe Clitemnestra que quer vingar a morte da filha com ajuda do amante Egisto.
Na segunda parte Coéforas, narra a volta de Orestes, filho de Agamênon, orientado pelo deus Apolo, para vingar a morte do pai, ele é ajudado por sua irmã, Electra, que era mantida como serviçal no sótão do castelo pela sua mãe, Clitemnestra, e, na terceira parte, Eumênides, traz a ira de Clitemnestra, já morta, materializada nas Fúrias, que são vistas somente por Orestes e responsáveis pela sua loucura. Narra também o julgamento do crime de Orestes: o assassinato da própria mãe, que será analisado pela deusa Atena.
Embora daí tenha surgido o complexo de Electra, que não é propriamente o amor dos filhos pela mãe, mas o desejo do matricídio, observado em sociedades machistas, o problema na verdade é de justiça e de política representado pela deusa Atena, proclama um tribunal para julgar o homicídio cometido por Orestes, e ficará instituído para sempre, mas a pergunta que resta é porque deuses precisam de sacrifícios ?
Tentamos responder no próximo post.
A República ou Politeia
A principal obra de Platão foi escrita por volta de 380 a.C., é um discurso desenvolvido em termos filosóficos, políticos e sociais.
Seu problema é a busca de uma fórmula que assegure harmonia à uma cidade, tentando desde aquele tempo desvencilhar de interesses e disputas particulares, como queriam os sofistas.
Este diálogo se realiza na casa de Polemarco, irmão de Lísias e Eutidemos, filho do velho Céfalo, e ali se encontra os dois irmãos de Platão, Glauco e Adimanto; Nicerato, além do anfitrião Polemarco, Lísias, Céfalo e Trasímaco.
Trasímaco é o sofista, o método dialético de Platão é do diálogo e não da contenda, o sofista argumenta que a força é um direito, e que a justiça é garantida pelo mais forte, determina assim que o injusto pode transgredir suas regras, pode-se dizer então que elas não existem.
Os livros I e II são a primeira tentativa de definição do que seria realmente a aplicação da justiça perante a comunidade, no diálogo de Sócrates com Gláucon e Adimanto, explica que a justiça é superior a injustiça, e que só ela conduz a felicidade.
Assim dos livros II a V os diálogos evoluirão para afirmar quais são os princípios da justiça, ou seja, o que constitui a verdadeira justiça administrada à população, princípio de sua Republica.
Dos livros VI e VII evoluem os princípios do que são as necessidades da justiça em si, é onde aparece a famosa alegoria da Caverna, onde estão os procurando mostrar que a verdade pode ser atingida por meio do conhecimento, e portanto, a justiça depende do conhece-la, assim o mito é principalmente o fato que os homens “na caverna”, somente veem sombras.
Os livros VIII e IX, desenvolvem os temas sobre a decadência da cidade, que para Platão é devido a concentração do poder nas oligarquias e o surgimento da tirania.
O livro X faz uma crítica à poesia como meio educativo, isto não é secundário, mas fundamental para entender que o problema desde o princípio da modernidade, é este conflito defendido por Platão colocando-o na boca de Sócrates que a poesia deve ser substituída pela filosofia, meio educativo, diríamos hoje mais “objetiva”, mais real.
O restante do livro traz uma exortação à prática da justiça e demais virtudes, isto são apenas indicações para a leitura, que não é senão olhar nossas “raízes” profundas.
PLATÃO. A República, (pdf online).