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Arquivo para a ‘Ciência da Informação’ Categoria

O outro e o narcisismo

09 jan

O brain rot tem uma face que não é facilmente detectável, é a do narcisismo, o mito grego que deu origem ao nome a esta patologia, é que Narciso se julgava tão belo que desprezou diversas pretendentes até apaixonar-se pela própria imagem e morre de fome e sede à beira de um rio que refletia a própria imagem (na foto, desenho encontrado em Pompéia).

Ao ficarmos presos as próprias convicções, aos próprios valores e costumes vamos elaborando narrativas que justificam nossa visão de mundo, nossa posição ou mesmo a desprezar outras que possam parecer até razoáveis, mas prefiro seguir minhas próprias orientações.

O Outro é assim uma negatividade para o narcisista, na filosofia não é apenas pessoas ou ente distinto em relação a si mesmo, pode ser também a diversidade de experiências, culturas, crenças e hábitos, enfim tudo o que sintetiza uma nova visão de mundo, diferente do Narciso.

Assim trends midiáticos que enfatizam determinado comportamento e forma de pensar são um perigoso instrumento de brain rot, criam narrativas e verdades que parecem verdadeiras, mas em geral abusam do marketing, do uso de sons e imagens que prendem o seguidor.

A base de tudo, na raiz está o idealismo e a ideia de “modelos” a serem seguidos, porém já em estágio mais avançado com uso de mídias, fixar ideias e conceitos dependem de certa habilidade de marketing e de uso de coisas confiáveis, as vezes até inteligentes, mas fragmentadas, por isto já abordamos um pouco atrás, a ideia da simplicidade e dificuldade de compreensão do complexo é que permitem esta metodologia.

O Outro resumindo em poucas palavras é tudo aquilo que não é espelho, tudo aquilo que está longe de ser o que temos como modelo quer seja para a minha visão de mundo, quer seja para a minha crença e o que é mais complicado, para diferentes posições políticas.

O fato de ser necessário uma nova metodologia, como o círculo hermenêutico que propõe a fusão de horizontes antes do “diálogo”, uma nova epistemologia que escape da bipolaridade do Ser é e o não Ser não é, criando um terceiro incluído, como aquele já apontado na física quântica moderna.

Assim não é um diálogo necessariamente convergente, mas que parte de um ponto em comum, há uma inicial fusão de horizontes inicial, isto é, parte-se de uma certa “convergência” inicial.

Considerar o Outro é essencial para fugir da bipolarização e dos sensos-comuns de explicações simplistas para questões que são complexas, também aqui pode-se fazer necessário uma certa simplicidade: o Outro embora não seja um espelho, tem algo em comum, no mínimo o fato que co-dividimos o mesmo momento histórico, a mesma época e o mesmo desejo de paz.

 

Amor: o sócio e o próximo

08 jan

Um dos capítulos mais duros da queda civilizatória é a transformação do conceito de amor, há até patologias que vivem do cancelamento desta relação, porém a base é a transformação em interesse, importa mais os interesses do que qualquer tipo de empatia ou afetividade.

Paul Ricoeur foi o filósofo que abordou diretamente esta questão em seu livro “História e Verdade”, que diria é um complemento do livro de Hans-Georg Gadamer: Verdade e Método”.

O egoísmo, o fechamento em círculos viciosos, abrem separação de abismos com o Outro, não há outra palavra que defina melhor, exclusão, é ela que leva a incredulidade do amor ao próximo e abre caminho para as relações de interesses, em poucas palavras relação de dinheiro.

O que outro poderia parecer impensável, agora relações econômicas criam círculos concêntricos, estruturas de poder e até mesmo gangues urbanas relacionadas ao dinheiro, e são elas que deterioram a base social, destroem relações empáticas e criam relações de disputa e ódio entre grupos, na base do “brain rot” está o conjunto destas relações sociais.

Para explicar isto, Ricoeur discorre sobre a caridade: “A caridade não precisa estar onde aparece; também está escondida na humilde e abstrata agência dos correios, a previdência social; muitas vezes é a parte oculta do social ”, Paul Ricoeur em Le socius et le Prochain (1954), e está traduzido no livro História e Verdade de 1968.

Já no livro de Gadamer o que vamos encontrar é como fazer estas relações na leitura de um texto, ou no diálogo contínuo sobre determinado tema, é preciso uma “fusão de horizontes”, antes do diálogo, aquilo que primariamente os gregos chamavam de époque, ou seja, fazer um vazio para ouvir e dialogar com o Outro.

Este exercício é difícil, para não dizer quase impossível na sociedade polarizada e qualquer discurso sobre o amor não passa de mera retórica, na base está “segregar” o Outro.

Assim quem permanece na caridade, no diálogo e na compreensão, tem propriedade para falar do Amor.

 

“Brain rot” a palavra de 2024

07 jan

Segundo o site da Universidade de Oxford, uma pesquisa feita em votação publica com 37 mil pessoas, a palavra do ano escolhida foi “brain rot”, traduzida como “podridão cerebral” um estado mental produzido pelo excesso de consumo de conteúdos de baixa qualidade.

Segundo o site da imprensa de Oxford o primeiro uso registrado da palavra é de 1854, feito por Henry David Thoreau, no livro Walden, que relata suas experiências de viver um estilo de vida simples no mundo natural, o autor já criticava no século XIX a tendência da sociedade de desvalorizar ideias complexas, ou aquelas que podem ser interpretadas de maneira múltipla.

É importante por entender que esta forma de ver o simplismo do cotidiano, é muitas vezes um indicativo de declínio do esforço mental e intelectual, cita o texto de Oxford: “Enquanto a Inglaterra se esforça para curar a podridão da batata, não haverá nenhum esforço para curar a podridão cerebral – que prevalece de forma muito mais ampla e fatal”.

Isto serve para entender que as tecnologias midiáticas atuais aceleraram este processo, mas ele vem de longa data, e também a maior crítica a inteligência artificial deve-se ao fato que não elaboramos mais raciocínios e análises de questões complexas, assim a inteligência bem articulada de uma máquina torna-se superior a média de elaborações intelectuais de baixa qualidade, resultado do consumo de mídias com conteúdos sem conexão e sem veracidade.

É preciso compreender que isto é um processo mais longo que significou paulatinamente o esvaziamento de conteúdos de qualidade, de capacidade de leitura, e principalmente de metodologias e epistemologias que procuram simplificar métodos que não são simples, veja por exemplo as teorias físicas e cosmológicas, que deram um salto de newtonianas a quânticas.

No nível existencial há um esvaziamento do ser, isto em toda a literatura, Dostoievski que falamos no post anterior era também um existencialista, Edgar Morin falou do método complexo, a medicina cada vez mais fala de tratamentos holísticos que tratem todo o corpo.

Assim a visão de que isto é devido a emergência dos dispositivos digitais, é muito rasa, elas sem duvida influenciam, mas a tendência a uma cultura vazia vem de muito tempo, Nietzsche já falava nela, Theodore Dalrymple pseudônimo do psiquiatra Anthony Daniel que escreveu sobre o esvaziamento da cultura, já escria sobre isso na década de 80: Coups and Cocaine: Two Journays in South America (1986), Fool or Physician: The Memoirs of a Sceptical Doutor (1987) e Filosofa´s Republic (1989) (uso o pseudônimo Thrusday Migwa).

Enfim vivemos um declínio civilizatório, há até que fale de dificuldade comunicacional (estudos sobre alterações na escrita feito pela Universidade de Stavanger, na Noruega).

 

Quatro livros para ler em 2025

31 dez

Feliz 2025 para todos que me leem, e acompanham as minhas preocupações sociais, espirituais e intelectuais, ao meu ver é preciso ler e reler o Outro, o contraditório, o que ignoramos.

É bom fazer um propósito para o ano que se inicia, considero a leitura algo importante e agora mais do que nunca devido a um certo esfriamento cultural e espiritual deste hábito.

Todo ano me proponho a ler 4 livros, acabo lendo mais ou lendo algum dos propostos parcialmente, se considero o livro muito aquém do que esperava, mas isto é raro.

Em 2025 três livros me chamam a atenção o primeiro, ainda encontro poucas referências sobre ele, é o livro “Liberty” um romance sobre um casal apaixonado e uma intrusa, três mentes doentias, entretanto a autora Collen Hoover vem se destacando, também nas mídias sociais e uma série de TV.

O segundo livro é de dois ganhadores do Nobel em 2024, “Porque as nações fracassam” é escrito por Daron Acemoglu e James A. Robinson, que junto com Simon Johnson ganharam o Nobel de Economia em 2024, a sinopse do livro diz que eles defendem a tese original de que a probabilidade dos países desenvolverem boas instituições é quando contam com um sistema político e aberto, com disputa de cargas, eleitorado amplo e espaço para emergência de novos líderes, e isto parece explicar o cenário atual de decadência política e econômica.

O livro de David Flusser me chamou atenção desde que li a primeira sinopse, uma visão abrangente da Palestina do primeiro século quando Jesus viveu, as ideias religiosas que circulavam, as lutas políticas e antagonismos sociais do período, mostra um Jesus coerente com o Antigo Testamento (a Torah) e identificado com seu povo, o pouco que li surpreendeu.

O autor foi professor de cultura hebraica na Universidade de Israel e foi um judeu moderado e recebeu o prêmio Israel da Academia de Ciências e Humanidades de Israel, em 1980.

Li o primeiro volume da Obra Filosófica de Henrique Cláudio de Lima Vaz, que foi fruto da pesquisa relativa ao biênio 1988-1989 enviado ao CNPq quando era pesquisador-bolsista, seu projeto era: “A construção hegeliana: um paradigma da racionalidade sistêmica”, onde expõe com clareza o pensamento Hegeliano, o segundo volume é mais estruturado no cerne do pensamento Hegeliano.

Este volume conforme a sinopse vai da formação do pensamento de Hegel até a Fenomenologia do Espírito, e como Henrique Cláudio foi padre jesuíta (já é falecido) me interessa o quanto o pensamento contemporâneo religioso tem influencia do idealismo hegeliano.

Feliz 2025 a todos, façam um propósito de mudança, sejam resilientes (a felicidade não é fácil) e sejam solidários aos que precisam de você.

 

As reais possibilidades da paz

30 dez

Um balanço de 2024 sobre a guerra é desastroso, o conflito que eclodiu em Gaza, com as forças de Israel invadindo aquele território e realizando ações que são condenáveis pelos atos de crueldade e dificuldades de acesso dos organismos internacionais de socorro, o aumento do conflito no leste Europeu, agora com também agressões em território russo e as ameaças da China sobre Taiwan traçam um quadro muito triste e preocupante.

O governo eleito americano que toma posse agora em janeiro, Donald Trump prometeu que poria um fim imediato na guerra, o problema é que as 4 províncias dominadas pela Rússia pela força: Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, não estão em questão, embora a Rússia diga que é possível “alguns ajustes de fronteira”, e exige a Ucrânia fora da OTAN.

Assim a Rússia ganharia 18% do território Ucrânia, mas teme que um acordo de “cessar fogo” seja apenas para a Ucrânia tomar folego e se rearmar, a continuar na atual escalada um maior envolvimento das nações europeias pode tonar o conflito fora dos limites de negociações.

O outro polo preocupante é a escalada da guerra no Oriente Médio, Israel não recua de suas pretensões em eliminar seus inimigos na região, porém o faz fora dos limites humanitários e daquilo que é considerado abominável, mesmo sabendo que a guerra já um desastre humanitário, o bombardeio de escolas, hospitais, o último que funcionava precariamente parece também fora de operação em Gaza, ultrapassa o limite e torna os responsáveis acusados de crime de guerra, claro o ataque terrorista de 8 de outubro com reféns de Israel ultrapassou também qualquer limite do razoável.

Há motivos para se cogitar a paz, sim pois isto gera uma tensão mundial, enfraquece a economia e atinge os povos mais vulneráveis trazendo mais miséria e fome, a rigor não deve interessar a ninguém, mas há um raciocínio trágico das guerras que é saber “se o meu inimigo perdeu mais”, já que todos perdem, e os mais frágeis são os primeiros a serem atingidos.

O mundo se encontra polarizado, até mesmo aqueles que deveriam ser os mais ardentes defensores da paz se entregaram ao jogo bipolar do ódio ao inimigo, sem possibilidade de diálogo e de entender um ponto de vista diferente, todos dizem “isto não é razoável”.

Assim buscamos freneticamente nas mídias sociais aqueles julgamentos e ódios que nos favorecem, sem perceber que nos tornamos influenciados por esta bipolaridade e este clima hostil entre povos, posições políticas e um diálogo racional sobre suas posições e ideias.

Há sempre esperança de uma renovação no processo civilizatório, no momento parece encalhado e retrocedendo a níveis absurdos educação, saúde, cultual, político e até mesmo espiritual, que se tornou um negócio e sem nenhum exercício de analisar sequer o patrimônio sobre o qual a maioria das religiões foram construídas: solidariedade, socorro aos vulneráveis, maior equilíbrio social e ambientes de valores e virtudes verdadeiramente espirituais.

 

O que não foi dito do nascimento de Jesus

27 dez

Não é parte da narrativa bíblica, porém além do recenseamento romano, da perseguição de Herodes (dados históricos) ao colocar Jesus numa manjedoura envolto em panos e a vinda dos “reis magos” pode ser esclarecida a luz de relatos da época.

Era hábito judeu separar um cordeiro recém nascido para o sacrifício da Páscoa judaica, lembrando o sacrifício que Abrão faria com seu filho e que um anjo intercedeu oferecendo uma cordeiro, o fato que Jesus foi envolto em faixas lembra também um costume judaico da época de ao separar o cordeiro, envolve-lo em faixas e coloca-lo numa manjedoura, com cuidados especiais.

Assim este é já uma preparação da páscoa, pois ele nasce e se faz pequeno para ser como o homem terreno, ainda que fosse um Deus, um Emanuel, o divino entre nós.

Porém lembrando os fatos astronômicos de ontem, queremos lembrar também dos “reis magos”, que talvez fossem reis e não magos, isto se referem ao fato de terem dons videntes de profecias e se informaram sobre uma estrela “E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo” (Mt 2;10-11) e assim a seguiram e encontraram o menino em Belém como era esperado pelos judeus.

A estrela que anuncia evento cósmico que prevê a chegada do “rei do universo” e não apenas o “deus dos judeus” tanto pode ser a passagem de um cometa, evento já conhecido na época, embora confundido com uma “estrela cadente”, pode muito bem ser uma explosão de uma Supernova como a Betelgeuse que está para acontecer, como de uma Nova, como a T Coronae Borealis que deve ocorrer este ano, se tivesse que escolher (ver o post anterior), escolheria a Nova que é o nascimento de uma estrela, enfim a famosa “estrela guia” pode ser um destes fenômenos.

A imagem da Adoração dos Magos, numa pintura em pedra datada do século III d.C. (foto) mostra apenas uma estrela, sem a calda típica dos cometas, podendo assim ser qualquer um dos fenômenos celestes que provocam grande brilho.

Não é dispensável lembrar, que os reis que vieram adorar Jesus não eram judeus, e mesmo assim tiveram um sinal e seguiram suas vidências (não se tratava de magia é claro) e o adoraram.

 

O Natal e Herodes

16 dez

O rumor que nasceria um Messias e um Salvador enfurecia Herodes que governava a Judéia sob domínio do Império Romano, ele mandou matar crianças inocentes, perseguia os rebeldes e vivia de fúria, luxúria e poder, as guerras hoje se assemelham a este personagem do início da era cristã.

Por causa dos conflitos da colonização dos judeus, a interpretação de Herodes e de alguns religiosos era que o Messias seria um guerreiro, um “rei” e por isto ordena que procurem o recém-nascido e sem o encontrar manda matar recém-nascidos daquele tempo.

Os judeus se manifestavam por causa dos altos impostos, e depois da morte de Jesus no ano 70 d.C.  o segundo templo foi destruído, segundo o site Heritage Daily há provas históricas que isto ocorreu (foto).

Não é diferente hoje, procuram interpretações políticas para o advento que anuncia não só o fato que Jesus nasceu, mas também a sua segunda vinda (Parusia) e não faltam Herodes que instigam guerras e violências, grandes ou pequenas, e o ódio está disseminado em nosso tempo, mas para cristãos verdadeiros e também religiosos que a sua forma celebram o Natal, sempre será tempo da verdadeira Paz e da vinda de Jesus.

No leste europeu, na faixa de Gaza e em muitas outras partes do mundo o espírito de Herodes vive, caçam e matam inocentes, justificam atrocidades com narrativas adocicadas e até com palavras que inspiram paz e socorro as populações carentes, mas são só narrativas.

O espírito de Amor e Paz é resiliente para aqueles que realmente desejam um mundo melhor, sempre haverá aconchego e harmonia em lares daqueles que vivem segundo o respeito e terão mais carinho e afetividade do que comidas, bebidas e exageros luxuosos.

Também as celebrações verdadeiras de Natal buscarão palavras e ações de fraternidade mais concretas e encaminham mentes e corações para o espírito de resiliência da paz do Natal.

 

História, falsos profetas e parusia

10 dez

O Natal está próximo e o nascimento de Jesus é um fato histórico, pois houve um Censo ordenado pelo imperador de Roma César Augusto, e José e Maria foram a Belém porque as pessoas deviam ser contadas em suas cidades de nascimento, quanto a data há controvérsias por seriam entre 4-5 a.C., quando Quinino era Governador da Síria como está descrito na Bíblia (Lc. 2,2), porém é certo que o censo foi realizado e este foi justamente o motivo de Maria e José terem ido a Belém, onde Jesus nasceria.

Há controvérsias de datas e da precisão das datas (não dos fatos), uma vez que o calendário foi modificado pelo Império Romano e haveria esta defasagem de 3 anos.

A história também está pontuada de intervenções divinas, na decadência de Roma nascem os mosteiros, onde a cultura da culinária, os primeiros grêmios e ofícios e também uma fase anterior da escrita impressa é realizada, o período final em que ocorre a peste negra no final do século XIV, provocada pelo bacilo Yersinia Pestis que dizimou grande parte da população na época.

Esta doença, porém, dizimou parte do exército mongol que combatia com os genoveses na cidade de Caffa (atual Teodósia) que fica na Península da Criméia, e foi o início da decadência do grande império Mongol (1209-1368).

Entramos na modernidade, fizemos algumas leituras pontuais nos nossos posts de Todos no mesmo barco e Se a Europa acordar de Sloterdijk, onde menciona a obra clássica Decamerão de Boccaccio (1353) como “pequena comunidade em meio ao desastre da grande” (Sloterdijk, 1999, p. 75), faz uma análise da peste negra e que devastou a Europa com mais de 100 milhões de pessoas mortas (imagem acima) quando a população era muito menor que hoje, e sua influência política e espiritual daquele tempo pode ser analisada.

Em nota de rodapé cita da obra cita Henrik Siewierki (traduzida pela Estação Liberdade em 2001) “Uma missa para a cidade de Arras” onde analisa as consequências tanto psicológicas quanto políticas da peste, também o psicólogo Franz Renggli, em seu livro Autodestruição por abandono, desenvolveu a hipótese da influência na modernidade da peste, e também da degradação da relação mãe-filho que teriam provocado uma espécie de fraqueza imunológica, coletiva e psicossomática que favoreceu o vírus daquela peste.

Alguém poderia pensar na época: é o fim dos tempos, mas era uma grande mudança e também o significado bíblico é que (quando ouvires falar de guerras, revoluções): “é preciso que tudo isto aconteça, mas ainda não é o fim” (Mt 24,6).

Toda esta análise é interessante, pois em meio a Pandemia recente (a peste atual), ao mesmo tempo que era sem dúvida um flagelo, pode ele alimentar uma nova clareira sobre a nossa comunidade (palavra usada por Sloterdijk), ou seja, a ideia de uma defesa mútua e solidária em vista de uma catástrofe ainda maior do que a que aconteceu.

Serve para “aplainar os caminhos”, como diz a leitura bíblica quando João, o filho de Zacarias e Isabel, anunciava no deserto usando as palavras do profeta Isaías: “esta é a voz daquele que grita no deserto: ´preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4) e parece propícia a este nosso tempo de flagelo e deserto.

É importante lembrar que as duas primeiras semanas do Natal comemoram não a vinda de Jesus em Belém, mas a Parusia, ou seja, a preparação de sua segunda vinda de Jesus.

 

Fim das guerras e o Natal

09 dez

Pode esta época do ano, contagiar o mundo de forma a dar uma virada na escalada bélica, o cenário desta primeira semana de dezembro parece dizer que sim.

Caiu o ditador da Síria, Bashar al-Assad que governou a Síria por quase um quarto de século, enquanto o Observatório de Direitos Humanos de Londres diz que ele fugiu num avião particular, o Ministério do Exterior da Rússia, tradicional aliado, declarou que ele “renunciou”.

O líder de uma coalisão de opositores Abu Mohammed al Jolani (agora já adota seu verdadeiro nome Ahmed Al-Shara), liderou a Organização para a libertação do Levante (Hayat Tahir al Sham, ou apenas HTS), de origem extremista (foi ligado a Al Qaeda) adotou uma postura mais moderada conseguindo aliados.

O primeiro-ministro da Síria, Mohamed Ghazi al-Jalali, declarou-se disposto a colabora com os insurgentes afirmando que estenda a mão a “qualquer sírio que se interesse pelo país para preservar suas instituições”, mas o provável é que também renuncie ou seja retirado do cargo.

Também conversas avançam com o patrocínio do presidente eleito nos EUA: Donald Trump, um encontro com o presidente Makron da França e Zelensky da Ucrânia e tomou conta do cenário internacional pela perspectiva de paz aparentemente possível agora.

Na América Latina, em reunião em Montevidéu na última sexta-feira (6/12), após 25 anos de negociação, os líderes do bloco sul-americano assinaram acordo com a União Europeia, para o Brasil o acordo tem sentido estratégico de promover um aprendizado e aperfeiçoamento de como nossos setores produtivos geram commodities, que são as mercadorias primárias no setor de produção: agrícolas, pecuárias, mineral e ambiental, na qual o país é abundante.

Enfim, tudo parece construir uma harmonia nova e favorecer o clima de Natal, porém é preciso uma paz duradoura onde os setores envolvidos não se sintam “derrotados”, é preciso uma economia global equilibrada sem protecionismo ou concorrências desleais e é preciso sobretudo um ataque frontal as sérias questões sociais e ambientais.

O Natal existe, as belas iluminações como a de Lisboa (video)e muitas outras pela Europa tentam retomar um clima de esperança e paz, há até um filme da indústria cinematográfica (não é um filme teológico) sobre a Virgem Maria (bombou no lançamento dia 06/09) e por consequência do nascimento de Jesus.

https://youtu.be/FnV5RxjwvtI

 

Sabedoria e Humildade

06 dez

Não são grandes aqueles que se arrogam grandes, ou que recebem grandes honrarias, na verdade estão mais ligados a um poder temporal que a uma sabedoria divina, são apenas os que se contentam com alegrias e honrarias passageiras e muitas vezes ligadas só ao interesse.

Outras palavras correlatas à verdadeira humildade incluem: naturalidade, simplicidade, singeleza, despretensão, despojamento e desafetação, o mundo contemporâneo de narrativas imediatistas e passageiras são claramente ligadas à pretensão e à afetação, pela visibilidade fácil que conseguem imaginam que são “sábios” porém tem um público imediatista midiático.

Um outro equívoco mais difícil de compreender são correlatos de humildade de interpretação cotidiana, como por exemplo: submissão, obediência, respeito, acatamento, sujeição e passividade, isto refere-se a pessoas humildes sim, mas com dificuldade de discernimento, mesmo a obediência sendo uma virtude elogiável, ela pode tornar-se subserviente e danosa.

No livro Perto do coração selvagem, a escritora Clarice Lispector escreveu: “aceito tudo o que vem de mim porque não tenho conhecimento das causas e é possível que esteja pisando no vital sem saber, é essa a minha maior humildade”, assim pode-se ser obediente conscientemente.

A ex-primeira ministra de Israel (1969-1974), Golda Meyer, disse certa vez a Moshé Dayan, militar e político da época: “Não seja humilde, você não é tão importante como imagina”, isto dá uma conotação muito boa do valor da humildade.

O que se opõe a humildade é a soberba, não são poucos os orgulhosos, vaidosos, falsos profetas, fariseus ou apenas mundanos que possuem este vício, em termos bíblicos foi a soberba que fez um dos arcanjos da alta hierarquia querer se igualar a Deus, a parte contém parte do Todo, mas não é o Todo, e também é falso a narrativa que tudo é fragmentário.

Em todas passagens bíblicas que Jesus realiza milagres, sempre diz ao interlocutor: “tua fé te salvou”, os soberbos, fariseus e idólatras querem atribuir a si ou ao seu grupo as intervenções divinas das quais apenas participam na invocação, por sinal, muitos deles não acreditam que a invocação seja válida e assim condenam os intercessores, embora façam o mesmo.

A soberba explica muitos males: a guerra, a ganância, a desobrigação de cuidados com os que precisam, o desrespeito a natureza (pretender dominá-la) e especialmente o poder e o desrespeito.

Assim a humildade é o antídoto eficaz para todos estes males, é preciso empatia e respeito com todos, porem cada um tem uma singularidade própria e um propósito próprio.