RSS
 

Posts Tagged ‘paz’

Visita a Roma, Contraofensiva e Prêmio Pulitzer

15 mai

A semana foi toda protagonizada pela Ucrânia: visita a Roma e ao papa, avanços em Backhmut e fotos da guerra chamaram a atenção ao ganhar o prêmio Pulitzer, as fotos são chocantes e talvez digam mais que palavras, já que hoje há até retóricas incompreensíveis a favor da guerra.
No plano estratégico, não há o analista português Germano Almeida apontou: “aqui no Ocidente não temos ainda conhecimento dos planos, portanto há uma ideia ucraniana de isto é só o começo e ninguém sabe onde é que na verdade essa contraofensiva pode ser feita porque a questão de Bakhmut pode ser uma primeira manobra de diversão [despiste] e o essencial e a ofensiva em massa ser noutro local”, disse Germano.
A visita a Itália, além do apoio já declarado do país, as visitas ao presidente italiano Sérgio Mattarela e com a primeira-ministra Giorgia Meloni, também participou de um talk show da TV italiana, sobre o papa tudo que se sabe é de um acordo humanitário a refugiados.
As imagens que ganharam o prêmio têm também a de um brasileiro na lista: o carioca Felipe Dana que filmou e fotografou cenas de Bucha, a mais cruel e violento massacre feito pela Rússia na ucrânia (primeira foto abaixo), vale lembrar que também a guerra do Vietnã teve prêmios sobre os horrores lá.
Algumas imagens do prémio Pulitzer 2023 (no total foram 30) dada a vários fotógrafos da Associated Press, incluindo o brasileiro, se palavras não comovem talvez as imagens o façam. 

 

 

A ausência de Areté

09 mai

As virtudes e formação educacionais gregas, através da paideia referia-se a formação total do homem grego, assim a Areté era este cume (traduzido como ideal, porém o ideal moderno refere- se mais ao dualismo subjetivo x objetivo do que ao Eidos grego, que está mais ligada a ter visão, dar-se-a-ver a realidade).

Assim estão visão total (para a época, mas menos segmentada que hoje), indicava um homem cidadão da polis com atributos virtuais (este é o verdadeiro sentido, vindo de virtus), que o colocavam em conjunto harmônico com as cidades-estados e seus estatutos.

Tanto na cultura, como principalmente na política de hoje, estes atributos estão pouco em falta, trata-se mais de construir uma narrativa que justifique todo poder brutal sobre o cidadão, assim as leis são feitas de modo a proteger a oligarquia no poder, é verdade também que na época dos gregos os que eram cidadãos eram limitados aos homens livres (haviam escravos) apenas.

O agravamento da bipolarização, onde não é possível a convivência tem uma vertente perigosa para os autoritarismos exclusivistas onde uma parte da sociedade deve ser segregada.

A areté está em falta, assim é impossível pensar em estadistas, líderes que pensem no conjunto da sociedade, porque sua cultura e conceitos estão fundamentados naquela parte que pertecem e arrogam em dizer que seu modelo é universal justificando assim sua barbárie.

Já na leitura dos históricos livros “Ilíada” e “Odisséia” registramos este ideal de areté como força, destreza e heroísmo dos guerreiros, qualidades que eram incomuns aos homens daquele tempo, assim é fato que na origem serviam também ao propósito da guerra.

Porem uma areté moderna que nos levasse a honestidade, ao espirito de diálogo, não a hipocrisia de falar apenas com os que nos convém, poderia nos levar a um novo eidos civilizatório.

Uma cultura que não ignore a história e o que há de bom e de lição através dela, uma visão da polis que ultrapasse o egoísmo partidário e o jogo de interesses, uma política que pudesse “ver”.

A cegueira mundana leva mais e mais o processo civilizatório ao colapso, a barbárie e ao ódio.

Somente uma areté moderna que leve os homens a uma cultura de paz, reverterá o processo civilizatório ao bem comum. 

 

A guerra e o pão nosso

08 mai

Como uma das maiores produtoras de grãos, a Ucrânia em guerra certamente afetaria o mercado, e demorou mas aconteceu, a bolsa de Chicago registrou na última semana um avanço no preço do trigo, e logo chegará ao mercado e no nosso pão de cada dia.

Um produto em alta pode arrastar outros produtos (como é o caso do milho, por exemplo), os países mais avançados pareciam já saber disto e tomaram medidas preventivas: China, Rússia e EUA já vem reforçando estoque e tomando medida de proteção, no nosso caso confiamos na agroindústria, mas não podemos esquecer que somos parte de um comércio global.

E se a guerra terminasse, traçamos um quadro na semana passada da contraofensiva ucraniana e da expectativa russa, que espera nova ofensiva no Norte, como foi na retomada de Kharkiv no ano passado, porém agora parece que o cenário será diferente.

A guerra cresceu em tecnologia, a Rússia tem bloqueado com frequência foguetes móveis fabricados nos EUA na Ucrânia (segundo a CNN), enquanto a Ucrânia interceptou o sofisticado míssil hipersônico russo (segundo o G1).

tem bloqueado os sistemas de foguetes móveis fabricados nos EUA na Ucrânia com mais frequência nos últimos meses,

No Norte onde estão as novas repúblicas de Donesk, sendo conta o analista Niklas Masuhr do Center for Security Studies da Escola Politécnica Federal de Zurique, a Rússia ergueu trincheiras na região, para evitar as ações ucranianas que são sempre improváveis e trocam com facilidade de lugares pois conhecem o terreno (site uol).

Porém os ataques podem acontecer ao sul, apesar de serem pequenos vilarejos em volta de Odessa, como Lazurne (3.800 habitantes), Zalisniy Port (1.500 habitantes) e Krasne (1.300) cidades praieiras e a estratégia Zaporizhzhya.

A tática ucraniana tem sido sempre a de surpreender o exército russo e mudar de estratégia onde encontra menos resistência, boa parte do exército russo foi retirado da Criméia que é próxima a esta região via Mar Negro, o comércio de grãos já olha este cenário.

A semana que se inicia dirá qual a estratégia e tática de cada lado, infelizmente a guerra prossegue e o prejuízo a toda humanidade começará a chegar a mesa de todos, e dos mais pobres em especial.

 

Contraofensiva da Ucrânia e a paz

01 mai

Na quarta-feira assada Volodimir Zelenksy da Ucrânia falou com o presidente da China Xi Jinping e algumas negociações para a paz parecem ter avançado.

Em seu twitter Zelensky afirmou: “Acredito que esse telefonema, assim como a indicação do embaixador da Ucrânia na China, dará um ímpeto poderoso ao desenvolvimento de nossas relações bilaterais.”

A narrativa de país pacificador entra em contradição com as declarações controversas de seu embaixador na França, Lu Shaye, também as forças de esquerda no exterior começam a mostrar um posicionamento pró-Putin, como uma motociata feita na Alemanha neste sentido.

Por outro lado, no campo de batalha, a contraofensiva prometida ela Ucrânia começou, diversas posições russas foram atingidas, em territórios conquistados, na Criméia e inclusive algumas vilas russas, a Rússia esperava uma ofensiva na Criméia ou no Donbass onde suas tropas enfrentaram batalhas sangrentas nas últimas semanas, como a de Soledar e Bakhmut (ver no mapa em azul as reconquistar ucranianas em vermelho a invasão russa).

Em setembro do ano passado enquanto a Ucrânia ameaçava ataques ao sul, fazendo a Rússia deslocar forças para lá, acabou atacando ao norte, onde o exército russo teve enormes perdas.

A Rússia retirou a maior arte de seu arsenal militar da Criméia, entretanto uma base de abastecimento de combustível foi atingida nesta nova contraofensiva ucraniana, assim indica que espera ataques ao norte.

O impasse de forças na região do Donbass pode indicar a verdadeira fonte de conflito neste momento, e o lugar onde a Ucrânia pretende concentrar sua contraofensiva, desta vez a Rússia parece esperar porque já deslocou as tropas da Criméia, mesmo tendo a explosão do depósito de combustíveis por drones no final de semana.  

O grave desta situação é que adia qualquer possibilidade de paz, os dois lados esperam ter territórios garantidos antes de qualquer rodada de negociação. 

 

Duas utopias em conflito

27 abr

Não há espaço para a poesia, para o encanto, para a contemplação, a sociedade da eficiência e da performance transforma o pensamento em sentidos sensuais, comerciais e lucrativos, puro viver num egocentrismo ineficiente e vazio, o Ser se esvazia e busca desesperadamente o aroma e o gosto onde não só há um nada para ser plenificado.

Não há espaço até mesmo para o deificado pensamento, frases soltas arrancam suspiros, “a vaca não dá leite” diz um bom filósofo brasileiro, mas o que é o trabalho e dá sentido ao trabalhar para produzir um leite (veja Arendt no post anterior), que é modificado que e chega alterado nas prateleiras, e atualmente muito caro.

Outro pede professores e diz que “ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente”, mas que de qual doença fala, se não houveram pessoas sãs e serenas em quem as pessoas simples podem se inspirar, é preciso ser são para poder falar do saudável e do louvável.

Não há ética sem seres éticos, é verdade que as grandes metanarrativas falharam, mas a polarização obriga os novos sofistas a se justificarem nas narrativas vencidas e datadas historicamente, nenhuma delas foi capaz de evitar a guerra, e qual ciência é capaz de evitá-la?

Li uma frase de Morin, e já postei aqui que a ideia de paz exige uma certa utopia, em entrevista no ano 2000 à Rede Cultura (abaixo), ele fala de duas utopias:  uma negativa que promete um mundo perfeito, em que todos se reconciliam e há uma perfeita harmonia, esse é impossível (e diria mentiroso) e a outra a positiva é realizar o mundo mais perfeito, não é “O admirável mundo novo” de Aldous Huxley (não por acaso, o chatGTP escolheu com um dos 10 maiores filmes), ela diz algo é impossível porém pode se realizar: um mundo de paz e um mundo sem fome, são realizáveis.

Sem liberdade e fraternidade a utopia humana não se realiza, autoritarismo é utopia negativa.

Tentar reduzir as desigualdades, aumentar a tolerância entre culturas diferentes, respeitar direitos dos povos, raças e gêneros, o que falta afirma Edgar Morin, é aumentar “o estado da consciência e do pensamento que permita a realização”

Sabe que existem forças extremamente negativas que ao ajudar um país que sofre de inanição a ajuda é desviada pela burocracia e pela corrução, ele explica que a fraternidade deve vir dos cidadãos e diria que a vigilância também, se justificamos a corrupção e a burocracia não ajudamos a resolver problemas essenciais a vida humana.

Há soluções utópicas possíveis, conforme afirma Morin que as chama de positivas.

 

https://youtu.be/op82x8u4ORI

 

A Guerra e suas consequências

24 abr

Já enfatizamos aqui, dando contornos de uma crise (anteriores a guerra) que esta se inicia numa forma de pensar o mundo e consequentemente a economia, a política e a sociedade como um todo, assim não se trata deste ou daquele mundo, mas de todos mundos em conjunto.

A econômica não está separada deles, no entanto é a mais sensível e a que mais é pensada em termos da imprensa e das mídias.

Os oligarcas da Rússia, aqueles que não migraram ou foram mortos em situações estranhas, lembro das notícias de Sergey Protosenya, encontrado enforcado na Espanha e Pavel Antov que caiu do terceiro andar de um prédio na Índia, oligarcas lá em geral não criticam o governo.

Entretanto em reunião do Fórum Econômico de Krasnoyarsk, em março na Sibéria, Oleg Deriaska declarou que a econômica ode aguentar pouco mais de um ano e que depois haverão muitas quebras, no Ocidente não é diferente, a economia Europeia e a americana já sentem os reflexos, como líderes mundiais dos países capitalistas, toda economia deve enfrentar sérios problemas.

A Departamento de Defesa americano, acaba de pedir um orçamento de 842 bilhões de dólares, aumentando os já altos 816 bilhões do ano anterior, que significa um aumento de 3,2% e uma perspectiva de guerra ainda maior no horizonte deste ano, e a economia já acusa sérios danos.

A tentativa de formar um terceiro bloco, do qual o Brasil é um dos protagonistas e Makron da França tenta ser outro, é um fogo cruzado, já que os dois lados querem adesões unilaterais, há analistas, como Rodrigo Ianhez, que afirma que os russos têm uma leitura da posição brasileira que é “superestimada” para uma posição bilateral, a China ao contrário é claramente unilateral.

Não há inocentes nestes fatos, isto é a ação política de nossos dias, confundir ou até distorcer os fatos, uma imprensa realmente séria, arte dela é chamada de imprensa investigativa, por ser independente, procura fazer este trabalho, mas até ali as vezes se encontram notícias suspeitas.

Ninguém é apolítico é claro, porém é preciso encarar a verdade através dos fatos que ela revela.

Se analisarmos as consequências de uma guerra, no aspecto econômico que gera mais pobreza e fome e os mais frágeis são os mais atingidos, começamos a ter uma posição séria diante da verdade.

 

Olhar as coisas do alto

21 abr

Não são necessários milagres ou profecias para entendermos que mesmo nas realidades mais terrenas há coisas do alto, e elas respondem as realidades mais terrenas, sem elas não encontramos saídas e caminhos para uma vida plena, feliz e pacífica. É mais difícil pensar assim, mas é mais seguro.

Sem valores éticos, morais e responsáveis encontrar caminhos seguros para sair de conflitos, situações de insegurança ou de injustiça é quase impossível, pois um erro não corrige outro erro, e somente uma ação de amor e solidariedade resolve um conflito de ódio e divisão.

De divisão em divisão, de ódio em ódio, caminhamos num olhar apenas terreno sobre nossas dificuldades, não significa que devemos tirar o pé do chão e termos racionalidades nas decisões, significa que sem serenidade e atitudes sérias e proativas apenas pioramos o que está errado.

É comum mesmo em pessoas de boa vontade apelar para a violência e a força, ainda que o lado da justiça e da solidariedade seja o lado certo, agir com imprudência e crueldade tira o valor deste ato de força, o maior ato de força responsabilidade é agir com firmeza, educação e verdade.

Se estamos atribulados, ansiosos e sem equilíbrio não conseguimos encontrar o caminho da sabedoria, ouvir aquela voz interior do bom senso, da clareza e da verdade.

Também serve assim como para questões de justiça e direito para os verdadeiros valores culturais e religiosos, o uso do autoritarismo, que significa neste contexto falsa autoridade que muitos querem ter diante do cargo ou posição que possuem cometem o erro do argumento de autoridade e caem na armadilha fácil do poder em excesso.

Querem estar imbuídos de uma aureola de bondade quanto se investem contra as pessoas simples porém a graça de elevar os corações a valores do alto e retirar da situação difícil não é alcançada.

Para os cristãos uma das passagens mais significativas após a pascoa de Jesus que rememoramos a pouco na cultura cristã, é o episódio de Emaús em que enquanto Jesus caminhava entre eles e não percebiam, ainda ruminavam a morte violenta do Mestre, mas estavam cegos e não entenderam direito a vitória daquele que crucificaram.

Jesus pergunta: “o que ides conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias ?” (Lucas, 24, 15-18) e deram sua versão terrena da pascoa.

E Jesus (ainda sem ser reconhecido) como explicar o sentido, já revisto elos profetas: “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” (Lucas 24,26).

Aos poucos os corações deles foram se aquecendo e ao final entendem que estavam caminhando com o Mestre e depois pedem que fiquem com ele pois a noite chegava, mas Jesus desapareceu.

Não é preciso ter esta visão ou mesmo ter esta fé, é preciso escutar a voz do alto, dos valores sãos.

 

Se deseja a paz colabore com seus valores

20 abr

Não foram poucos os tiranos que disseram que para manter a paz faça a guerra, isto é muito antigo que será difícil determinar seu autor, o filósofo contemporâneo Jean Paul Sartre disse algo importante sobre isto: “Quando os ricos estão em guerra, são os pobres que morrem”, atualizaria não há nenhum interesse nos mais fracos quando impérios se digladiam.

O livro Arte da Guerra de Sun Tzu (século V a.C.): “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz” é em si já uma frase paradoxal, os três tipos de paz sobre este conceito historicamente foram desmascarados: a pax romana era a submissão dos vencidos, a paz Eterna kantiana supunha um equilíbrio interno entre os três poderes republicanos, o equilíbrio entre as nações e o respeito a direitos humanos, basta ver o quadro internacional atual em que estes pressupostos foram violados e não garantiram a paz. O terceiro é a paz de Vestfália (1648) de tolerância religiosa.

É de Sartre também a frase: “nunca se é homem se não se encontra alguma coisa pela qual estaria disposto a morrer” e certamente para ele não seria a guerra, talvez algo valor do Alto, já que não disse “alguém pelo qual estaria disposto a morrer”.

Estaríamos dispostos a morrer para pedir paz e um progresso sustentável dos povos, sem valores que edifiquem este edifício, Edgar Morin diz de certa forma até utópicos, não criamos um modelo duradouro e sustentável de paz que não nos coloque em novas encruzilhadas e armadilhas.

Uma utopia é realizável se pensar que sem ela não estamos trilhando um caminho seguro, estamos sentados em um barril de pólvora, não só as armas nucleares, como também o número de usinas nucleares em todo globo, mais de 440, lembremos que Fukushima foi um desastre natural e Chernobyl foi um descuido humano.

Assim não só a guerra, como o desenvolvimento de tecnologias e equipamentos que não foram criados para destruição, mas sem códigos e valores éticos, morais e sociais realmente altruístas, não caminharemos para uma paz duradoura e seguro, primeiro é preciso desarmar as bombas.

Não alimentar nenhum tipo de ódio (onde há inimigos há dois lados), voltar a discussão séria sobre as armas e uso de energia atômica, controle ambiental seguro e durável, enfim a pauta é extensa para perdermos tempo com ódio improdutivo e que trabalha no sentido oposto.

 

Uma chance para a civilização

19 abr

No auge de quase 102 anos (completará em julho) em entrevista dada a Cesare Martinetti no jornal La Stampa, Edgar Morin fala de seu novo livro Di guerra in guerra (De guerra em guerra, editora Rafaello Cortina, 2023) onde faz suas reflexões sobre um interminável século XX que vive como testemunha, para ele ainda há coisas para serem digeridas:

“Queria recordar não só os terríveis males físicos, mas também os males intelectuais causados pelas guerras, ou seja, mentiras, visões unilaterais, maniqueísmo, ódio por todo o povo inimigo, por sua cultura, sua língua, suas obras literárias e artísticas e quis ajudar a mim mesmo e aos leitores a desenvolver essa consciência, diante de uma guerra que corre o risco de nos levar ao pior, através do processo de escalada e de radicalização.

Sua síntese desta guerra é que é militarmente localizada, mas mundialmente globalizada, porem tem esperança que podemos escapar dela.

Lembra que nos primeiros anos pós queda do muro o próprio Putin veio a Alemanha e chegou a fazer um discurso muito pró-europeu, porém os avanços da OTAN nas fronteiras da Rússia o irritaram e já em 2015, quando houve um acordo sobre a Criméia, a região do Donbass eclodiu em hostilidades.

Ressalta por outro lado “as guerras de reconquista lideradas pela Rússia na Chechênia e na Geórgia trouxeram os Estados Unidos, aliás a pedido dos países próximos da Rússia, a estender a OTAN até um cerco que os dirigentes perceberam como ameaça”.

Um Donbass compartilhado sugere o centenário pensador, sabe que sua posição parece mais utópica do que realista, mas pensa que esta é a função dos pensadores: misturar utopia e realismo, afinal é preciso despertar a esperança e a serenidade.

 

A frieza: da essência para a aparência

18 abr

Empatia, paciência, amor verdadeiro e sentimentos verdadeiros parecem distantes, corpos enfeitados, maquiados e tatuados, mentes distantes e frias, vazias e de pouca ideias inspiradas.

Li no livro “A menina que roubava livros” (The book Thief, 2005): “talvez esse seja um castigo justo para aqueles que não possuem coração: só perceber isso quando não pode mais voltar atrás”, é uma frase dura, porém foi importante para analisar o meu contexto social, pessoal e de amizades.

Minha inspiração para ler, escrever e procurar dentro de instituições, ambientes e mídias sociais algo inteligente, inspirado e doce, produtivo onde possa encontrar caminhos diferentes do que vejo e sinto a minha volta, me fez entender e admirar o livro de Markus Zusak, pelo menos que lembro da edição de 2013, ela procurava um refúgio, um escape para a situação contextual.

Me pergunto se esta situação sobre a tensão de uma possível guerra em larga escala é diferente, vejo muita hipocrisia e manipulações no ar, enquanto inocentes morrem numa guerra estúpida, outros se preparam para um confronto ainda maior que aos poucos se espalha por todo globo.

Lembro de uma passagem bíblica (Tessalonicenses 1,5:3) quando disserem: “Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão”, mas para os apressados lembro que está escrito que isto não significará o fim.

Faltam esforços sinceros pela paz, espíritos armados não podem promover paz alguma, querem aliados para seu poder temporal, falta uma mensagem atemporal, além os interesses imediatos.

Assim caminham os corações, e já chegaram as escolas e ao cotidiano da vida mais simples e fugaz via uma dona de casa de uma cidade pequena exaltada no supermercado falando contra aquele tal político que pôs tudo a perder e uma criança que chorava por uma situação política que nem bem entendia.

Não se apaga fogo com gasolina, diz a sabedoria popular, porém a poesia não está mais no ar, não há canções que falam de amor puro, só interesses imediatos de pulsão erótica, numa sociedade que na verdade vive “A agonia do Eros”, um livro profundo de Byung Chul Han.

Não é determinada cantora popular que fala contra o ensino e a boa educação, a sociedade ecoa estes hinos e quase não há como fazer sucesso sem apelos emocionais e passionais fora do tom.

O desmanche da visão humana como Ser e sua transformação na visão utilitária do Ter teve uma origem histórica no pensamento ocidental e agora penetra e tenta destruir o seu significado.

ZUSAK, Markus. A menina que roubava livros. Trad. Vera Ribeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.