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Impostos, lucro e dizimo
Sempre que se aponta ao horizonte uma crise a tentação mais comum é sobrecarregar a sociedade e a questão da tributação está em pauta não só no Brasil, mas no mundo todo.
Os problemas no país são enormes, o mais comum é a bitributação (impostos em serviços sobre os quais já há imposto, taxa rodoviária por exemplo), mas os governos são insaciáveis, precisam alimentar as mesas fartas daqueles que os sustentam no poder.
Para que benefícios sejam incorporados a vida civil, o estado necessita de impostos, porém eles não devem servir para regalias do estado uma vez que é um serviço prestado a sociedade, e impostos incorporados aos custos e preços distorcem e podem estrangular os investimentos, a poupança pública e privada e inibir à exportação.
O lucro deve ser pensado como tendo três finalidades, a manutenção dos serviços sociais que servem também as empresas, os bens e a seguridade social que servem a todos cidadãos, em especial aos trabalhadores e ao crescimento da própria empresa e do país em investimentos.
Por último a contribuição aos interesses culturais, sociais e religiosos de grupos específicos, tanto podem ser vistos como uma sociedade, ao qual todos optam livremente, como de caráter compulsório desde que haja um prévio acordo para isto.
O importante é entender que relações de fraternidade que são espontâneas, diferem de obrigatórias que implicam num tipo de sociedade que uma vez rompida se perde o vínculo, e este deve ser o caso do dízimo, da doação espontânea e da ação “entre amigos”.
No campo filosófico, Paul Ricoeur escreveu sobre estas relações do sócio e do próximo (Le socius et le Prochain, 1954) e
Aqueles que duvidam que isto seja bíblico, recomendo a leitura de Mt 17,25 ao serem indagados se eles pagavam o imposto do templo: Pedro respondeu: “Sim, paga”. Ao entrar em casa, Jesus adiantou-se, e perguntou: “Simão, que te parece: Os reis da terra cobram impostos ou taxas de quem: dos filhos ou dos estranhos?” ao que Pedro respondeu dos estranhos, mas Jesus para “não escandalizar” mandou que se pagassem os impostos.
Os três comportamentos não estão muito distantes: lucros desonestos, tributo alto e impostos dos templos.
Perigos de expansão da guerra
Enquanto no front da Rússia e Ucrânia o perigo que a guerra se espalhe por todos continentes é cada vez mais real, o golpe de estado no Níger, na região subsaariana que já outros conflitos e rupturas com a democracia, está no limite e as próprias nações africanas ameaçam intervir.
Esta região aonde estão o Chade, o Mali e o próprio Níger, é uma das regiões mais pobres do mundo com altos índices de mortalidade infantil, analfabetismo e baixa expectativa de vida, entretanto a riqueza em minérios atrai interesses, nestes países da Rússia e França.
Os líderes da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) aprovaram a intervenção militar no Níger, uma vez que o presidente recentemente eleito democraticamente Mohmed Bazoum foi deposto e se encontra em prisão domiciliar.
Na reunião presidente da Costa do Marfim, Alassane Quattarao afirmou que a intenção é que a operação militar comece “assim que possível” então teremos novo front de guerra em outro continente, enquanto o clima entre as Coreias do Sul e do Norte aumenta a tensão no oriente.
Na Argentina e Equador, em período eleitoral as tensões aumentam, a surpresa argentina foi a vitória do anarco-capitalista Javier Milei do Libertad Avanza, enquanto dentro da proposta Juntos por el Cambio, de tendência macrista (ex-presidente Macri) Patricia Bulrrich da Proposta Republicana venceu Horário Rodrigues Larreta, há ainda o candidato Sergio Massa, economista do governo, com poucas chances pela ruína econômica da Argentina.
Na argentina os analistas avaliam que a decadência econômica fez a sociedade apostas em propostas novas, com o risco que as novidades sempre carregam, não é claro o que farão, as eleições acontecerão em 22 de outubro.
No Equador a morte por assassinato do candidato Fernando Villavicencio, do Movimento Construye mostra a ação de grupos paramilitares na política, neste domingo (13) o movimento anunciou o novo candidato Christian Zurita, mas as tensões de violência política prosseguem.
É preciso relançar o princípio de autodeterminação dos povos, o respeito a soberania e a democracia nos países e limitar as intervenções militares e suas ações no âmbito da política.
Êxodo: realidades históricas e divina
A história do Egito Antigo é geralmente dividida em Antigo Império, das grandes pirâmides dos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos, construídas nas proximidades de Mênfis, a capital do Egito na época, depois o Médio Império (2100 a.C. a 1580 a.C.), o personagem bíblico nasce no final deste período, e Novo Império (1580 a.C.715 a.C.), quando começam a enfrentar invasões até serem derrotados pelos assírios (670 a.C.).
Na narrativa bíblica pode-se dividir o: primeira (1,1-15,21): convivência no Egito de José a Moisés; segunda (15,22-18,27): teofania e caminhada no deserto até o Sinai; terceira (19-40): opção pela proposta divina (Moisés é chamado a liderar o Êxodo) e a aliança no Sinai.
É interessante observar a sequência que se repete ao período de Abraão: saída da Ur na Mesopotâmia, caminhada até Canaã, a aliança com Abraão (Gn 17:15-17) e chamada a Deus na oferta de seu filho Isaac e a formação das 12 tribos de Israel e a venda de José aos egípcios.
É importante analisar as 10 pragas no Egito neste contexto bíblico-histórico, um famoso papiro encontrado em 1909 de um egípcio chamado Ipuwer (ou Ipuur que segundo o estudioso A. H. Gardiner era um nome típico do período de 1850 a.C. -1450 a.C.), o escrito na forma de um poema reclama que as mulheres agora tem “mobílias”, e as meninas tem “espelhos” enquanto o homem rico vivo em trapos.
O papiro é importante pela conexão com a narrativa bíblica fazendo menção à escravos fugindo do Egito e rios de sangue, porém estudiosos falam da erupção minoica, ocorrida nesse período na ilha de Santorini, próxima a ilha de Creta, que devastou um assentamento minoico.
As ondas produzidas podem ter alcançado o Egito na época, porém o efeito sobre o delta do Nilo é questionado pela maioria dos pescadores, mas o papiro de Ipuwer tem uma narrativa próximo a bíblica quanto aos acontecimentos do Egito e o mais importante narra o início da queda do Império através dos costumes, período que a história chama de Novo Império.
As 10 pragas do Egito na narrativa bíblica foram: o rio de sangue, infestação de rãs, piolhos e moscas, peste no gado, úlceras nas pessoas, chuva de pedras, infestação de gafanhotos, escuridão e a morte dos primogênitos das famílias.
Conforme descrito nos posts anteriores o povo de Israel guiado por Moisés vai atravessar o deserto, chega a Canaã após quatro guerras e ali fica até um novo exílio na Babilônia.
O Egito depois da invasão dos assírios citada acima, depois foram dominados pelos persas em 525 a.C. e por Alexandre, o Grande em 322 a.C., finalmente pelos romanos em 30 a.C.
Seja por motivos puramente históricos, decadência social ou por intervenção divina, os impérios caem pela opressão e tirania que exercem, porém há um ciclo de sofrimento.
A paz que poucos desejam
Enquanto se desenrolam batalhas sangrentas sem grandes avanços da contraofensiva ucraniana, de lado a lado, percebe-se o que a guerra produz: a falta de princípios e um crescente ódio entre as partes os envolvidos, que hoje escapam poucos países.
Do lado russo, cresce a desumanidade com as próprias tropas, o general Ivan Popov, comandante do 58º. Exercito de Armas Combinadas, que atua na frente de combate de Zaporizhzhia, foi demitido pelo ministro Sergei Shoigu por acusa-lo de traição e pouco apoio as tropas em combate, outros generais também estão afastados ou “descansando”.
Isto certamente não é contrapropaganda, uma vez que também o líder mercenário o acusou das mesmas coisas, e dizia que as tropas estão sendo mortas por pouco apoio logístico.
Do lado ucraniano, após reunião da OTAN dia 12 de julho, há um aceno claro para a entrada da Suécia no bloco, lembramos que a vizinha Finlândia já está, quanto a OTAN continua apenas o apoio e promessas futuras de adesão, no entanto o ministro da Inglaterra declarou que Zelensky deveria demonstrar mais gratidão, Zelensky reagiu perguntando ao seu ministro da defesa que estava na plateia se tem boa relação com o britânico Ben Walace, e depois pediu que fizesse uma ligação a ele.
O preocupante do lado ucraniano é a entrega de bombas fragmentadoras que são proibidas em acordos internacionais, e que os EUA se propõem a fornecer ao aliado.
Seja por interesses ideológicos e econômicos, seja por não acreditarem numa escalada de uma terceira guerra mundial, que seria o maior desastre civilizatório da humanidade, há pouco desejo e empenho pela paz, alguns países e liderança que tentaram não conseguiram ser resilientes a decisão e transparece que também eles têm interesses ocultos nesta guerra.
Os sinceros e verdadeiros humanistas não podem desejar que a escalada desta guerra continue, e não é “mais uma guerra” uma vez que envolve pesados interesses e ameaças.
Reunião do G7 e avanço russo
Reunidos em Hiroshima realizou-se a reunião do G7: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Itália, Japão, França e Alemanha, para o qual foram convidados alguns países entre eles Brasil, a Austrália, a Índia, Indonésia, Coréia do Sul, Vietnã, Ilhas Cook (presidente do Fórum das Ilhas do Pacífico) e Comores (presidente da União Africana), a presença de Zelensky foi como convidado especial.
Os países reafirmaram o apoio a Ucrânia condenando a invasão, mas a esperada reunião de Zelensky com o presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva não aconteceu, de concreto sobre a guerra apenas o apoio americano prometendo mais financiamento para as armas.
No campo de batalha, a Rússia registrou avanço em Bakhmut com apoio do grupo mercenário Wagner, que foram elogiados por Putin, porém a tomada real da região ainda é polêmica, a Ucrânia afirma que ainda há batalhas nos arredores, enfim a guerra continuará e não s e sabe de fato os limites que ainda terá.
Os ucranianos haviam comemorado a intercepção dos temíveis mísseis hipersônicos, sendo que apenas um atingiu o solo do país, ainda é incerta que tipo de contraofensiva será feito, a batalha de Bakhmut pode ser apenas uma isca já mordida pela Rússia, os caças e tanques poderosos ainda não foram usados.
O que preocupa é tanto do lado russo quanto do lado ucraniano há um perigo real de uso de armas químicas e até nucleares, Zelensky disse que ganharia a guerra antes “daquele acontecimento” e do lado russo se fala abertamente da batalha de Armagedon, a Rússia condenou a entrega de caças à Ucrânia.
No campo diplomático poucos avanços, a Rússia quer os territórios que já conquistou, incluindo Mariupol e uma faixa do leste da Ucrânia, além da Criméia que já é considerada território sob administração russa desde 2014.
Os mísseis hipersónicos com cargas nucleares, o maior recrutamento de efetivos do exército, a segurança alimentar e o alinhamento da China preocupam.
O cenário ainda é de guerra e não houve uma proposta mais enfática para a paz, o mundo segue com temores de uma guerra mais ampla.
O que é de fato a guerra atual
Cada vez mais a guerra Rússia e Ucrânia se revela com os contornos de claros interesses de grandes impérios em choque: de um lado a Rússia que não aceitou a redução de seu território e influência a partir do final da segunda guerra mundial, de outro a OTAN como braço das forças capitalistas e sua influência mundial.
Na verdade, o grande império emergente é a China, e tem raízes na grande revolução cultural, uma tentativa feita por Mao Tse Tung, o primeiro líder da revolução chinesa, porém a tentativa de industrializar o país retirando gente do campo na década de 50 foi um fracasso causando a morte de fome de mais de 20 milhões de pessoas.
Os opositores liderados por Liu Shao-Chi, em 1959, afastam Mao, a família e seus aliados, que estavam isolados dentro do partido Comunista Chinês, e promovem uma reeducação da população preparando uma nova revolução industrial, desta vez atraindo capital e empresas do exterior, a mão de obra barata e a ideia que poderia ser uma abertura ao capitalismo, Hong Kong até recentemente não era controlada pela China, impulsionou este modelo.
Falando sobre o que seria a paz desejada para a Rússia, Putin declarou que seria uma “nova ordem mundial”, e nela estão envolvidas as conversas com a China e explicam as recentes manobras militares da Rússia no Oceano pacífico próximo ao Japão, as ilhas Curilhas que é disputada pelo Japão.
Foi um aceno claro para a parceria com a China, embora ela junto com o Brasil tenta formar um terceiro bloco para negociar a paz, pelo Brics estão mais próximos da Rússia, e isto inclui Índia e África do Sul que são também parte deste bloco econômico.
Do lado do ocidente, os países escandinavos: Finlândia, Suécia e Noruega realizaram manobras em conjunto com as forças da Otan, o quadro geopolítico se desenha com um quadro bélico perigoso.
Há uma fratura no bloco europeu, já que Macron diz que a França não será “vassalo” dos aliados americanos, entretanto pode também ser uma força para o terceiro bloco da “paz”.
Uma paz sem rendição e sem vencedores parece a única saída possível, difícil, porém possível.
Documentos vazados e retórica de tensão
Um documento vazado que conteria supostas informações secretas dos EUA sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia pode conter parte das informações verdadeiras e algumas falsas, segundo fontes militares americanas, seria falso a avaliação do número de mortos na guerra na Ucrânia.
Já os jornais como o The New York Times avaliam que é um esforço de Moscou em provocar mais desinformação do que notícias já conhecidas como as entregas antecipadas de armas, assim como a formação de tropas e batalhões conforme as estratégias de guerra, entretanto isto já mostra que há algumas falhas na inteligência dos EUA no esforço de apoio a Ucrânia.
A porta-voz do pentágono Sabrina Singh afirmou “Estamos cientes dos relatos de postagens nas redes sociais, e o departamento está analisando o assunto”.
O departamento de justiça Americano abriu investigações sobre estas divulgações onde também aparecem informações de aliados importantes como Israel, Coreia do Sul e Emirados Árabes.
A retórica americana e de líderes ocidentais segue afirmando que a Rússia tem praticado crimes de guerra, entre eles a “deportação” de crianças ucranianas para a Rússia, condenado pelo tribunal de Haia, enquanto a retórica russa continua sendo a de insegurança em suas fronteiras.
O que os documentos revelam, porém sem dados precisos é uma provável ofensiva ucraniana no próximo mês, a entrada oficial da Finlândia na OTAN cria outra fronteira de conflito e é esperado também lá alguma resposta russa.
No aspecto da paz a proposta brasileira de ceder a Criméia que já era território russo antes da guerra em troca da retomada dos territórios ocupados na guerra atual não foi aceita pela Ucrânia.
Assim tanto Rússia como Ucrânia parecem levar a guerra nos limites do desgaste, da morte de inúmeros soldados e das consequências econômicas que começaram aparecer na economia mundial.
A China rebateu a retórica de que ela não faz o devido esforço para a paz, afirmando que o “ocidente não estão em posição para ditar o que devemos fazer”, disse o embaixador chinês na Rússia Zhang Hanhui à Izvestia.
A esperança que negociações possam avançar a partir de países fora do conflito permanece.
Paixão civilizatória: crise e clareira
Não é a primeira crise civilizatória a que passa hoje a humanidade, se ela tem raízes no pensamento que desenvolveu uma forma de polis nacional e chauvinista, os impérios são a expressão multinacional desta forma de olhar as nações, esta, porém tem um agravante: a possibilidade de uso de armas nucleares e biológicas de extinção em massa.
Porque uma paixão comparando-a com a paixão de Jesus, já traçamos durante toda semana passada a questão da inocência e os aspectos trágicos e jurídicos que ela envolve, o Brasil viveu esta semana um drama na cidade de Blumenau a morte de crianças inocentes, o aspecto mundial é aquele que a partir de concepções e visões de mundo ideológicas se promova uma crise sem limites, este é o lado passional (na foto a tragédia na cidade de Bucha, Ucrânia).
A entrada que anunciamos no início da semana, da Finlândia na OTAN cria uma grande área de fronteira da OTAN com a Rússia permitindo uma guerra por via terrestre em uma área onde é sensível e existem resquícios de intolerância histórica recente, a chamada “guerra do inverno” de 1939.
Se a Rússia fizer o que chama de “contramedida” e ela pode ser no campo militar, já que no campo econômico e de comércio não há nada que possa ser mais grave que o quadro atual entre as nações, uma retaliação militar dispara um gatilho perigoso que terá uma resposta da OTAN.
É possível uma clareira, aquela que Heidegger reivindicava em meio a floresta destas hostilidades, a clareza que não haverá vitórias unilaterais, a própria guerra com a Ucrânia não parece ter final possível este ano, a menos que haja uma rodada de negociação de paz.
A China tomaria posição ofensiva em sua retomada da ilha de Taiwan que julga parte de seu território, o Irã está cada vez mais próximo da Rússia e boa parte da América Latina tem governos mais a esquerda atualmente, enfim este complicado quadro mundial político, pode ser o motivo para abrir uma clareira em meio a floresta de ódio e hostilidades que vai se abrindo a cada passo da guerra.
Será uma grande paixão da humanidade, como todo sofrimento, este numa escala inimaginável trás um trauma e depois uma reflexão ao ver as enormes perdas que a situação envolve, será sem dúvida num possível quadro trágico jamais visto, uma nova “clareira” da consciência civilizatória.
A paz é sempre possível, é sempre possível evitar perdas de vidas inocentes se houver prevenção.
O pensamento do alto e a comunhão
Que tipo de saber é este que engloba um saber “do alto”, do além-do-humano, mas sem contradizê-lo, a resposta de Morin e de outros como Martin Buber, Emannuel Lévinas e Paul Ricoeur parecem conduzir a um mesmo ponto, ir em direção ao Outro sem reservas.
Duas falsificações místicas são possíveis nesta direção, uma que nega a consciência e o respeito ao Outro, aqueles que apelam para uma falsa religiosidade cristã, a Bíblia é clara: “Se alguém declarar: “Eu amo a Deus!”, porém odiar a seu irmão, é mentiroso” (1 João, 4:20-21), mas há os que clamam pelo extremo oposto da materialidade da fé, a estes a resposta bíblica também é clara: “Não só de pão o homem viverá” (Mateus 4,4), curiosamente se opõe e não dialogam.
Curioso porque a visão da ceia derradeira de Jesus com seus discípulos, o seu grande memorial e seu presença eternizada em sua materialidade (carne e sangue), é causa de muita controvérsia e divergência, tanto é verdade que ele fracionou o pão, como é verdade que declarou sua divindade.
Pensar as coisas do alto assim não pode deixar de ter sua concretude, sua materialidade, vejam que o pão não é o trigo, mas o trigo transformado por mãos humanas em pão, assim como o vinho.
Não deixa de ter o aspecto mais sagrado e divino ao pedir aos discípulos que façam isto em sua memória e em seu nome, assim ele é renovado e divinizado pelas mãos humanas que o repetem.
Como entender a comunhão sem a presença do Outro, sem a dialógica com o contrário, sem este paradoxo de entender que mesmo havendo oposição é possível novos horizontes como preconiza o círculo hermenêutico, que pede que antes sejam deixados “entre parêntesis” os pré-conceitos.
Temos uma visão de verdade, de lógica e de racionalidade, porém a verdadeira comunhão só é possível com um passo além, a crença que algo divino também pertence ao Outro, ao diferente e ao oposto a minha visão de mundo, não há comunhão sem isto, há apenas tolerância.
Sempre me perguntei porque guerras, fome, miséria, injustiças entre os homens, minha resposta hoje é que não há verdadeira comunhão entre homens, talvez alguma pequena tolerância, algum respeito que esconde verdadeiros interesses, talvez um respeito até humano porém não divino.
Bem vindo a policrise
Isto foi escrito o artigo de Adam Tooze, professor de história da Universidade de Yale (EUA) escrito no Financial Times em 2022 que chamou bastantes a atenção: pandemias, secas, inundações, mega tempestades, incêndios florestais, guerra na Ucrânia e preço elevado de combustíveis e alimentos, como é próprio da revista e do mundo atual o aspecto econômico se sobressai.
Mas a policrise de Edgar Morin via mais a fundo, o autor reconhece a origem do termo, mas desconhece o que de fato é o pensamento de Edgar Morin e de muitos outros filósofos que apontam para a raiz mais fundamental destes males: o nosso modo de pensar e a visão de mundo que criamos a partir dele e implantamos em nossas sociedades.
O termo citado por Morin foi dito a primeira vez em 1990, porém em entrevista ao Le Monde em 20 de abril 2020 o educador francês atualizou a palavra: “A crise da saúde desencadeou uma engrenagem de crises que se concatenaram. Essa policrise ou megacrise se estende do existencial ao político, passando pela economia, do individual ao planetário, passando pelas famílias, regiões, Estados. Em suma, um minúsculo vírus em um vilarejo ignorado na China desencadeou a perturbação de um mundo”.
Em sua visão a policrise atravessou os nossos modos de ser, de conviver, de produzir, de consumir e de estar no mundo, desafiando a pensar todos os nossos paradigmas, muito do que escreveu fala em métodos novos como hologramático e o perigo da hiperespecialização da ciência que conduz “a um novo obscurantismo” que é nossa incapacidade de enxergar o todo na modernidade.
É verdade que atravessamos outras crises, mas o artigo de Tooze mostra as implicações da guerra da Ucrânia e da pandemia em acelerar estas crises (Mapa), no aspecto pragmático do econômico ela é clara, no aspecto espiritual e ontológico ela ainda não é tão clara, porém poderá estar mais clara em breve.