RSS
 

Arquivo para a ‘Economia’ Categoria

Guerras, narrativas e crueldade

18 dez

Foi assustador que em tempos de pandemia haviam grupos, pessoas e até mesmo líderes que pouco se importavam com a morte repentina de pessoas que eram contagiadas pelo vírus da COVID-19, era de se esperar um aumento da solidariedade e da compaixão, mas não ocorreu.

Agora com as guerras que vão se escalando e atingindo países que orbitam em torno de ideologias despertam um sentimento de ódio, vingança e terror que beiram a psicopatia, não ter condolência com a morte brutal de um ser humano, seja quem for, tem certa psicopatia.

As narrativas não faltam, atém mesmo o fatalismo apocalíptico, como se justificasse a maldade humana por algum sentimento religioso sincero, tudo aquilo que não é amor e compaixão jamais deveria estar ligado a uma ligação divina ou a um sentimento humanitário sincero.

A gigante de mídia social chinesa Tik Tok divulgou dados de contas falsas que disseminaram desinformação sobre a guerra da Rússia com a Ucrânia na quarta-feira passada (13/12) com a tentativa de “ampliar artificialmente narrativas pró-russas” diz textualmente o relatório.

O site direcionava vídeos a usuários ucranianos, russos e da Europa, falsamente rotulados como veículos de notícias oficiais, procurando confundir os reais dados da guerra.

Também sobre a guerra contra o Hamas os dados divulgados nem sempre são aquilo que realmente testemunhas, não apenas pró-palestina, mas de órgãos presentes para ajuda humanitária em Gaza dão conta que há mortes de civis e crueldades também contra a população que não é toda muçulmana e nem pró-Hamas, não significa de forma alguma justificar os atos terroristas do Hamas e sim apenas estabelecer a verdade.

Felizmente as conversas entre os presidentes da Venezuela e da Guiana (foto), apesar de não haver nenhum acordo sobre o território de disputa de Essequibo, foi acordado a disputa no campo diplomático sem envolver forças militares, esperamos que a palavra se mantenha.

Os Estados Unidos voltam a mover forças marítimas próxima a Coréia do Norte devido a disparos com mísseis balísticos intercontinental o que causou reação imediata americana.

O cenário de final de ano é preocupante pelas forças envolvidas, até o momento países como Irã, Turquia, Catar, Síria e Iêmen potenciais aliados contra Israel se mantém nas ameaças diplomáticas, já países árabes como Arábia Saudita,  Iraque e Egito ainda se mantém em pressão diplomática, uma guerra total na região seria catastrófica e desencadearia uma guerra global.

 

Ucrânia sem avanços, Hamas em apuros e Guyana

11 dez

O inverno está só no início e a Ucrânia vive em constantes bombardeiros feitos por drones em Kiev, no front poucos avanços a chamada contraofensiva não aconteceu devido a estratégia da Rússia de instalar minhas no front de combate, único avanço da Ucrânia foi atravessar o rio Dnipro ao Norte, no campo das negociações pouco ou nada se faz.

Com o domínio da Rússia e o recuo na ajuda à Ucrânia, não só nos países do ocidente, mas também nos EUA, onde as promessas de apoio são barradas no congresso, crescem o número de governos nacionalistas e que preverem manter as reservas nacionais do que apoiar uma guerra externa, já a Finlândia e Suécia que temem um ataque russo reforçam seu arsenal, e no caso da Finlândia fechou-se a fronteira.

Com um ataque em meio a guerra, o Hamas viu Israel sair das negociações de tréguas e a guerra reiniciou, não há perspectiva de paz e os países árabes tentaram aprovar uma resolução na ONU de trégua, porém os Estados Unidos, aliado de Israel, vetou.

O Hamas segue sofrendo pesadas baixas com Israel presente maciçamente ao norte da faixa de Gaza (foto), certamente os líderes devem estar fora do país, porém sua estrutura bélica em Gaza vai sendo destruída, mesmo o complexo de túneis construídos que davam ao Hamas segurança e mobilidade, alguns feitos debaixo de hospitais que usavam como escudo humano.

O perigo que o Hamas não contava era o apoio estratégico e militar dos EUA, porém é cada vez mais forte a oposição do Irã e de alguns países árabes, onde há grupos parecidos ao Hamas, como é o caso do Hezbollah no Líbano, nas últimas oras Hassan Fadlallah, liderança política do grupo disse que os ataques aéreos de Israel são uma nova escalada de guerra contra o grupo.

Há mais de 70 pequenos conflitos em todo globo, não são esquecidos aqui, falamos dos golpes e violência na África Subsaariana, no oriente há sempre tensão entre China e Taiwan, porém na escalada de uma terceira guerra entra em cena a disposição da Venezuela de invadir a região de Essequibo, hoje pertencente a Guyana que é rica em petróleo.

O Brasil já enviou tropas para a fronteira, no momento trata-se apenas de preservar o território nacional, porem Lula oscila entre apoio e crítica a Maduro que aprovou uma consulta popular sobre o assunto, os Estados Unidos mandaram aviões para a região em exercício militar aéreo em apoio a Guyana.

A boa notícia é que há uma rodada de diálogo marcada para a próxima quinta-feira (14/12) entre Guyana e Venezuela, porém para a Guyana não está em questão ceder parte do seu território, a região de Essequibo representa mais de 70% do território e é rica em petróleo.

 

O problema da água

22 nov

Uma das graves diferenças entre os países desenvolvidos os em desenvolvimento é a grave crise mundial dos recursos hídricos ela tem uma correlação direta com as desigualdades sociais.

Em regiões onde a situação de falta d´água estão em índices críticos, como alguns países árabes e até mesmo da américa latina e principalmente no continente africano, onde a média de consumo de água por pessoa é de dezenove metros cúbicos/dia, ou de quinze litros/pessoa pode parecer exagerada, mas deve-se considerar banhos e lavagem de utensílios e roupas.

Só para efeito de comparação em Nova York há um consumo de água doce trata e potável de dois mil litros/dia por pessoa, claro que é um exagero, lava-se roupas e utensílios com água potável.

Segundo a Unicef menos da metade da população mundial tem acesso à água potável, a irrigação corresponde a 73% do consumo de água e 21% vai para a indústria, apenas 6% é para o consumo doméstico enquanto um bilhão e 200 milhões de pessoas (35% da população mundial) não tem acesso a água tratada.

Na America Latina onde o problema de uso dos recursos hídricos é tratado, há uma grande negligencia com o saneamento básico em regiões carentes. 

Um bilhão e 800 milhões de pessoas não contam com serviços adequados de saneamento básico e assim tem a constatação que dez milhões de pessoas morrem em decorrência de doenças intestinais transmitidas pela água, um recurso básico para a vida a água é negligenciado.

Dar de beber a quem tem sede não é uma frase de efeito, é uma necessidade vital.

 

Ações concretas contra a miséria

21 nov

A primeira vista as soluções podem parecer simplistas: injetar capitais e distribuir bens aos pobres, porém a médio e longo prazo é preciso medidas concretas e políticas públicas.

Os recursos humanos necessários para produzir, combater e socorrer em casos extremos de pobreza são necessários e isto significa produção, como se houvessem equipamentos muito avançados, mas sem pessoas que saibam operá-los, avançados neste caso é distribuição.

Necessitamos melhorar os recursos humanos, ou melhor a nossa humanidade em torno de problemas sérios de seguridade social, dado ao estado de miséria em valores bastante altos para um mundo que pode ter problemas de escassez de alimentos, de açúcar por exemplo devido ao aquecimento e de grãos devido às guerras.]

Os números são altos, no Brasil dados divulgados na imprensa afirmam 32 milhões de pessoas, na Argentina em crise os jornais afirmam 40% da população, e injetar recursos é pouco se não houver projetos de média e longa duração que sejam sustentáveis.

No passado os planos de reconstrução da Europa do pós-guerra bastou a injeção de capital, já que a mão de obra disponível era adequado, foi o período que se criou o Banco Mundial, cujo nome era Banco Internacional de Reconstrução e Fomente (BIRF), o resultado foi alcançado, mas é preciso saber que a Europa explorava as colônias, aliás este era um conflito oculto.

Já os recursos de fomente no chamado “terceiro mundo” através do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) não conseguiram grandes resultados e vez outra há países em crise, com inflação alta e perda de recursos nos setores produtivos.

A pobreza tem aumentado e continua aumentando, por duas razões: o crescimento em regiões mais pobres é maior que em países ricos, sem uma política de pleno emprego e maior distribuição de renda, e a falta de capacidade de ajuste as novas condições de mudanças tecnológicas ampliam o fosso entre países pobres e ricos.

Assim é necessário política públicas concretas para reduzir a pobreza e capacitar os recursos humanos e estabelecer políticas de combate a pobreza em escala mundial, se há tanto dinheiro para armas (vejam os preços de aviões, navios e munições das guerras), porque não haveria para o combate à pobreza?

Este problema é o que agrava a polarização política, uma ausência de planos de combate a miséria a curto e médio prazo.

 

Uma história da história

31 out

Este é o nome do primeiro capítulo do livro Terra-Pátria (Ed. Sulina, 1995) de Edgar Morin, a tentativa do autor era na época entender os diversos processos civilizatórios para encaminhar o mundo para um momento em que nos veríamos todos como cidadãos da mesma casa.

Escreve ali: “Mas, por diversas que tenham sido, constituíram um tipo fundamental e primário de sociedade de Homo sapiens. Durante várias dezenas de milénios, essa diáspora de sociedades arcaicas, ignorando-se umas às outras, constituiu a humanidade” (pag 15) e isto parece muito atual.

A história “impiedosa para com as civilizações históricas vencidas, foi atroz sem remissão face a tudo que é pré-histórico. Os fundadores da cultura e da sociedade do Homo sapiens são hoje vítimas definitivas de um genocídio perpetrado pela própria humanidade, que progrediu assim no parricídio” (pag. 15), pontua 10 mil anos na Mesopotâmia (os semitas), quatro mil anos no Egito, indo ao oriente “do Indo e no vale do Haung Po na China” (pg. 16) a 2.500 anos.

Esta história inicial é “o surgimento, o crescimento, a multiplicação e a luta até a morte dos Estados entre si; é a conquista, a invasão, a escravização, e também a resistência, a revolta, a insurreição; são batalhas, ruínas, golpes de Estado e conspirações […]” (pg. 16) e que parece se repetir nos dias atuais.

Depois esta história “começou a se tornar etnográfica, polidimensional. Hoje, o acontecimento e a eventualidade, que irromperam em toda parte nas ciências físicas e biológicas, aparecem nas ciências históricas”, nela aparece o que Edgar Morin chama de “homo sapiens-demens”.

Este “homo sapiens-demens. Deveria considerar as diversas formas de organização social surgidas no tempo histórico, desde o Egito faraónico, a Atenas de Péricles, até as democracias e os totalitarismos contemporâneos, como emergências de virtualidades antropo-sociais” (pg. 17), volto a esta reflexão porque o que deveria ser repensado, repete-se como ciclo cruel.

Coloca o autor: “Hoje, o destino da humanidade nos coloca com insistência extrema a questão chave: podemos sair dessa História? Essa aventura é nosso único devir?” (pg. 17).

O espírito sábio e profético de Morin anuncia: “Assim, uma fermentação múltipla, em diversos pontos do globo, prepara, anuncia, produz os instrumentos e as ideias do que será à era planetária” (pg. 18), mas com contornos graves e ameaças civilizatórios.

Fica sua pergunta essencial: “podemos sair dessa História?”, é preciso sabedoria e uma compreensão histórica que parece fugir das grandes lideranças mundiais.

MORIN, E. e Kern, A.B. Terra-Pátria. Trad. por Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre : Sulina, 2003.

 

Eclipses do processo civilizatório

13 out

A harmonia entre os povos, a aceitação e tolerância das diferenças, o diálogo e a diplomacia sobre questões em conflito parecem estar mais longe do que nunca, como um eclipse anular, obscurece a luz e deixa passar somente um anel de fogo, e como são diversos pontos de fontes de Luz, também existem regiões de penumbras que ficam confusas parecendo uma noite.

Diversas pesquisas apontam que isto acontecem com os pássaros diante de um eclipse, veem que está escurecendo e se comportam como no anoitecer, diminuem as atividades, se recolhem e chegam quase a dormir, como o eclipse é rápido depois voltam as atividades normais.

Assim são processos civilizatórios, há períodos de obscuridade e parecem que poderão ser uma noite interminável, porém passado este momento vendo o equívoco do “sono” durante a penumbra, redescobrem a vida e voltam as atividades normais, no caso humano com uma nova perspectiva de paz e tolerância, claro deixa marcas sempre terríveis: mortes inocentes, destruição e miséria.

Podíamos ter preparado uma festa, o concerto e a harmonia entre os povos, não faltaram educadores, profetas e futuristas que tentaram desenhar este cenário, mas os homens têm sempre o livre arbítrio, no nosso caso, podemos escolher entre o eclipse e a penumbra e o dia.

Eclipse porque seja pelas forças naturais ou seja por intervenção divina, os que creem desejam e esperam este dia, ainda que pereça milhões de inocentes, o desejo de triunfo do bem, do bom senso e da paz entre os homens é sempre um caminho irreversível, ainda que sofram.

Há uma parábola bíblica que desenha bem este cenário, um homem preparava uma festa e como os convidados não vinham (escolheram outros caminhos), ele mandou buscar homens na rua, mas entre eles também havia um com trajes inadequados (atitudes anti festa) e pediu que fosse retirado, diz a leitura (Mateus 22, 10-12):

“então os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala de festa ficou cheia de convidados.  Quando o rei entrou para veros convidados, observou aí um homem que não estava usando traje de festa e perguntou-lhe: ´Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu” e o rei pediu que o retirassem.

O processo civilizatório é assim, quem vencerá uma situação de conflito, todos perderão e ao final aqueles que estavam a margem do processo de conflito prepararão um novo caminho.

 

Walter, Jennifer. Lunar eclipses have one weird effect on birds. Inverse. 17 de março de 2022, Disponível em: https://www.inverse.com/science/lunar-eclipse-bird-flight

 

O verdadeiro compromisso com o bem comum

06 out

Maus gestores e ditadores também prometem trabalhar pelos excluídos e pelo bem comum, o que acontece é que seus verdadeiros interesses pessoais permanecem ocultos.

Ninguém diz abertamente que vai fazer o mal, a não ser psicopatas declarados que já estão num grau de enfermidade mental que não conseguem mais disfarçar seus desejos.

As análises políticas e sociais escondem interesses de violência, de ódio e de guerra aos opositores, não faltam justificativas, porém qualquer iniciativa de exclusão já é um indício de que nenhum bem comum será bem gerenciado por estes gestores.

Começam com pequenas ações que inicialmente confundem as pessoas de boa fé e que querem de fato o bem comum a todos, a vida pacífica e equilibrada para todos, porém aos poucos os verdadeiros desejos pessoais de posse pessoal dos bens vão se revelando.

A corrupção também começa assim, pequenos furtos não coibidos levam aos grandes quando não há impunidade, pais que corrigem e educam sem filhos sabem disto, é preciso estar sempre atento as ações e ao que cada pequeno gesto leva, educadores também sabem disto.

Como diz uma leitura bíblica, um dono de uma vinha arrendou-a e viajou, depois de certo tempo mandou os empregados cobrarem a parte do arrendamento (Mt 21,33) bateram nele e o mandaram de volta, mandou outros e também apanharam e voltaram sem nada e finalmente mandou o filho, então os arrendatários pensaram matamos ele e ficamos com a vinha, e Jesus lembra ao final da parábola de si próprio: a pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se a pedra angular.

É assim que o bem se estabelece, com aqueles que os maus rejeitaram, oprimiram e depois de muito sofrimento é possível estabelecer a paz e o bem comum.

A resiliência e o desenvolvimento do bem é maior que as grandes maldades, embora evita-las significa também evitar injustiças, desiquilíbrios sociais e principalmente mortes inocentes.

 

Exercícios para a reflexão política

03 out

Quando ingressamos no maniqueísmo percebemos apenas forças opostas sem discernir com clareza onde está o mal e a ética, todo exercício filosófico sobre o mal é visto a partir da moral.

Entretanto o que é moral ficou confuso, justamente porque o poder se confundiu com a violência, e a reflexão de Hannah Arendt sobre isto é bastante esclarecedora: “Poder e violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro está ausência (ARENDT, Entre o passado e o futuro: Oito exercícios para a reflexão política, 1961).

O argumento da filósofa é simples, difícil de ser entendido num mundo polarizado, mas diria é a primeira de suas reflexões sobre a política quando o poder é exercido de forma legítima, a violência é ausente. Isso significa que, em um sistema político saudável, o poder deve ser baseado no consentimento e na cooperação voluntária, em vez de recorrer à violência para impor a vontade de um grupo sobre outros, pois não há consentimento pelos outros.

Boa parte do raciocínio político hoje é exercer a violência contra os opostos, isto é sua própria negação, Arendt argumentava que liberdade e ação política são sinônimas, já que política não tem sentido enclausurada em si mesma, as famosas bolhas, ser livre é condição necessária para o exercício político, o exercício de cidadania, qualquer limitação torna-se violência.

A liberdade existe como condição plural do homem, em termos religiosos é o livre-arbítrio, em termos sociais é a possibilidade de agir livremente enquanto cidadão e ter proteção para tal, se esta condição é retirada não há outra definição ao sistema que não seja o autoritarismo.

Assim como nas artes: a música, a dança e o teatro a ação política é valorada como uma “virtude” todas teorias sérias desde Platão visavam esta participação na “polis”, mesmo o conceito amoral de virtú de Maquiavel, a performance necessita de uma “audiência” e de um espaço para que o espetáculo possa se realizar, na visão de Arendt, a pólis grega foi “uma espécie de anfiteatro onde a liberdade podia aparecer (ARENDT, 2001, p. 201).

Escutar o contraditório, permitir que ele se expresse é condição necessária para a política, o modelo de exclusão dos opositores não é senão um eufemismo para os ditadores.

Arendt não deixa de analisar a violência defendida por Marx, e retorna ao zoon politikon de Aristóteles e mal lido por leitores apressados: “… o qual pode ser difícil de perceber, mas do que Marx, que conhecia Aristóteles muito bem, deve ter sido cônscio” (ARENDT, 2001).

E continua: “A dupla definição aristotélica do homem como um zoon lógon ékhon, um ser que atinge sua possibilidade máxima na faculdade do discurso e na vida em uma pólis, destinava-se a distinguir os gregos dos bárbaros, e o homem livre do escravo. A distinção consistia em que os gregos” (Arendt, 2001, p.50), convivendo em uma polis […] conduziam suas ações por intermédio do discurso, através da persuasão, e não por meio da violência e através da coerção muda.

Para a filosofia teria sido uma contradição em termos “realizar a Filosofia” ou transformar o mundo em conformidade com a Filosofia sem que ela fosse precedida de uma interpretação, assim alertou Heidegger que a afirmação de Marx “os filósofos interpretaram o mundo, agora cabe transformá-lo” é contraditória, porque deve ser pensada qual transformação que se quer.

ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro Trad. Mauro W. Barbosa de Almeida. 5.ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001. (um resumo, pdf)

 

Entre o falar e o fazer

29 set

Longe da aporia (desconhecimento do mal) está a realização do bem, o bem universal, o bem comum, o bem que vê e explicita a vontade do Outro, aquele que elimina a simbólica do mal.

De boa vontade o inferno está cheio, mas não é bem assim, porque se for uma reta intenção ele pode sim produzir frutos na hora certa, porém há um bem não feito e mal feito, isto é mal.

Há uma determinação na vontade, que é a intenção, o tema já foi tratado por inúmeros filósofos, mais claramente na fenomenologia onde é uma categoria essencial, porém a intenção requer um hábito, e torna-la hábito requer coragem e determinação.

Uma confusão sobe a intenção é confundi-la com propósito, os psicólogos não gostam muito do termo porque envolve o futuro e coloca a causa dos comportamentos nos indivíduos e não na sua história de vida, muitos julgamentos apressados e equivocados, partem do “propósito”.

Porém um propósito feito de modo a conseguir superar traumas, condicionamentos maus ou algo que perturbar uma mente saudável e intencionalmente ativa ao bem pessoal e social, é um propósito que leva a uma intenção ligada a consciência.

Na filosofia o termo intenção está vinculado e é uma subcategoria da consciência, e isto é muito diferente da ação mágica que alguns defendem como “lei da atração”, por isto que os psicólogos não gostam, trata-se de ativar a consciência e com isto tornar a intenção saudável.

Esta intenção consciente leva a um fluxo de aprendizagem que este sim reelabora e torna a consciência mais clara das possibilidades e perspectivas saudável para a vida e torna o futuro presente em ações que levam a esta aprendizagem e elaboração da intenção.

Assim é possível que alguém vou e não vai, como é possível que alguém diga talvez não vou, mas acaba indo supondo é claro, uma direção saudável de uma reta intenção.

Um parábola bíblica que explica o que é a vontade num sentido mais pleno, é aquela que conta que um pai dono de uma vinha convida os dois filhos para ir trabalhar na vinha (Mt 21,28-30), o primeiro disse vou e não foi, o segundo disse não vou e foi, qual dos dois cumpriu a vontade do pai, todos responderam que foi o segundo, assim intenção é diferente de propósito e está relacionada a consciência.

 

Narrativa e coerência ética

27 set

A polarização levou ao relativismo ético e o relativismo ético leva a instabilidade social, não há coerência entre o que se diz e o que se faz, tudo é feito para justificar esta ou aquela visão.

A coerência ética deve acompanhar todos primas de nossas vidas ou não é ética, apenas um comportamento conveniente, precisamos cultivá-la na visão social, profissional, religiosa e no âmbito familiar, não é apenas numa área porque o comportamento se torna um hábito.

A nudez de um jogo de vôlei universitário (evento esportivo numa universidade), a discussão sobre o aborto, a lógica da punição política ideológica e os discursos emblemáticos nos órgãos oficiais do país não são mera coincidência, não são tentativas autocráticas, são a falta resultado de um longo processo social onde a ética não predomina.

Um professor de ética de uma universidade após discutir um assunto em sala de aula, pediu que no intervalo os alunos anotassem na cantina ao menos um ato antiético: pés na parede, papéis no chão, fura filas, etc, na volta do intervalo todos alunos tinham algo a contar.

Não se trata também no exagero ou na ausência de punição, mas a medida justa, aquilo que no direito é chamado de punição desproporcional, mas também a ausência de punição é perigosa.

O problema é que Vigiar e Punir é um processo que pode levar a lógica do hospício, Foucault no seu famoso livro mostra que a justiça já no seu tempo deixou de aplicar torturas mortais e passou a buscar a “correção” dos criminosos, mas as práticas educativas são raras e hoje pior ainda, tornou-se unilateral, ou seja, a punição depende da condição e situação do réu.

É aquilo que Byung Chul Han chamou da psicopolítica, uma espécie de volta a tortura por meio de propaganda e visão distorcida dos verdadeiros problemas sociais, trata-se de combater o “inimigo”, e se aplica a lei somente neste caso.

As narrativas confundem a sociedade, criam buracos religiosos e animosidades, não é favorável a nenhum processo social saudável, cria mais divisão e injustiças.