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Fenomenologia, o Outro e o Diálogo
A psicologia fenomenológica também usa várias concepções vindas da tradição filosófica, e imaginar que é puramente filosófico o que deriva da virada ontológica ou apenas uma linguagem psicológica, ambas não são verdades, pois pode tanto pode estar ligadas na teoria e a prática psicológica, como estar presente em vários campos, por exemplo, na comunicação.
Se deseja-se alcançar maior rigor e coerência no Ser ontológico, é preciso recorrer à concepção de homem desta proposta, explicitando-a. de modo claro para a fenomenologia, cada ser possui uma especificidade ontológica, o que implica diferentes formas explicar e visões de mundo (Weltanschauung de Heidegger), que implica num “dasein” assim escrito por Heidegger: “este ente que é em cada caso nós mesmos e que tem, entre outras características, a possibilidade de Ser” (Heidegger em O Ser e o Tempo).
Tudo que existe é ser, mas o homem é ontologicamente diferente de outros seres, sendo recebido, em sua humanidade num mundo de relações concretas, sem separar o seu ser natural de sua esfera espiritual, deve desenvolver atitudes e ações para sustentar a própria vida, pode-se dizer ele é um dasein que tem vários raios de possibilidades, então como encontrar seu próprio raio, eis onde se coloca a psicologia e o seu Ser mais profundo.
Por mais que busque a estabilidade e a segurança de diversas formas ao longo da história, o homem está sempre diante de questões existenciais que o desestabilizam e o colocam em movimento, o livro A condição humana de Hanna Arendt pode ajudar muito.
Singularidade e pluralidade convivem lado a lado na difícil tarefa de habitar o mundo e transformá-lo (Arendt, 2002), isto parece muito atual e paradigmático neste tempo global.
Enquanto Ser o que delimita uma ontologia, que se mostra na sua totalidade, a singularidade mostra uma estrutura humana que é compreendida como biopsicossocial e espiritual.
A dimensão biológica se expressa na corporeidade, à qual o homem está definitivamente atrelado enquanto vive, portanto não pode separá-la da sua “substancialidade”.
Esta substancialidade é a forma singular entre os demais da mesma espécie, sendo ao mesmo tempo limite e abertura para o mundo, através da percepção (Arendt, 2002
Já na perspectiva de Martin Buber (1923/2001), não é através da transcendência da realidade mundana que se chega ao nível espiritual, mas justamente estando imerso nesta, a partir da relação com o Outro.
Arendt, H. A vida do espírito: o pensar, o querer, o julgar (5a ed.). Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
Me perdoe Todorov !
Descubro só hoje, que faleceu dia 7 de fevereiro deste ano em Paris, Tzvetan Todorov, filósofo e crítico literário bulgáro, pouco conhecido , mas não menos importante para nosso século.
Tenho como sua frase mais contundente, uma que o fez profeta da invasão de islâmicos na Europa, afirmou ele muito antes da crise da emigração: ““Pode-se medir nosso grau de barbárie ou civilização por como percebemos e acolhemos os outros, os diferentes.”
Uma entrevista que deu na França (rádio France Culture, em 2009), ajuda a ver este profetismo de Todorov: ““Escrevi meu primeiro livro de História das Ideias, que se chama ‘Nós e os Outros’. Era uma obra sobre a pluralidade das culturas analisada sob o ponto de vista da tradição francesa. Estudei autores desde Montaigne (…) até Lévi-Strauss. Tentei ver como esses autores trataram esta questão difícil para nós ainda hoje: a unidade da humanidade e a pluralidade das culturas. Nessa série de autores, descobri que aqueles de quem me sentia mais próximo eram os humanistas”.
No Brasil, concedeu uma entrevista ao Fronteiras do Pensamento, em 2012, no qual afirmou: “Percebi que, tanto como historiador como ensaísta, aproveitei mais a literatura em si que os estudos sobre literatura, e que lia com mais prazer romances, poesias e histórias diversas do que análises literárias ou teses escritas sobre a literatura, que me parecem hoje em dia se dirigir quase exclusivamente aos outros especialistas de literatura. Enquanto que o romance interessa a todo mundo, e me sinto mais próximo de todo mundo que dos especialistas”.
Seus livros mais famosos são: A conquista da America: a questão do Outro, São Paulo, SP: Martins Fontes, 1982 (pdf), O Homem Desenraizado. São Paulo: Editora Record, 1999, O Medo dos Bárbaros: para além do choque das civilizações. Petrópolis: Editora Vozes, 2010, Os Inimigos Íntimos da Democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, A vida em comum: ensaio de Antropologia geral. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
Livros menos conhecidos, mas não menos importantes: considero um clássico o livro Teorias do símbolo. São Paulo: Editora Unesp, 2014, Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora Unesp, 2014 e Teoria da literatura: textos dos formalistas russos. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
Morreu aos 77 anos, na cidade de Paris, era búlgaro nascido em 1 de março de 1939, embora considerado dentro da corrente estruturalista, sem pensamento transcendeu a ela e é um de nossos contemporâneos importantes de serem lidos.
Comungo com ela a ideia que tanto o fascismo quanto o estalinismo foram decorrentes da ideia que temos de estado dando-lhe poderes acima dos cidadãos, que tem dificuldade de controla-lo.
Recebeu em 2008 o Premio Príncipe de Asturias de Ciencias Sociales, segundo o documento por representar «el espíritu de la unidad de Europa, del Este y del Oeste, y el compromiso con los ideales de libertad, igualdad, integración y justicia».
Nem sol e nem trevas
O que vemos com Trump, o pensamento conservador britânico (BRExit) e francês (eleições este ano com chances até mesmo da extrema direita chegar ao poder), pode no plano econômico significar uma volta ao período das Riquezas das Nações (obra clássica de Adam Smith no ano de 1776), mas há outras análises possíveis e Sloterdijk é uma delas.
Li e tive que paralisar a leitura da Crítica da Razão Cínica pela contundência da obra, mas aos poucos retornei compreendendo que seu principal empreendimento era uma crítica a “falsa consciência esclarecida” da teoria habermasiana, e também vejo-o agora como o melhor dos pós-frankfurtianos, escola pós-marxista nascida nos EUA que influenciou os anos 60, também anos de chumbo não só no Brasil, mas nas manifestações contra as guerras no oriente e em boa parte da Europa, como as manifestações de Paris de 68.
No final dos anos 80 Peter Sloterdijk lançou Crítica da Razão Cínica, duas décadas depois de ir para a Índia estudar filosofia oriental, seguiu de forma atualizada os passos de Schopenhauer (1788-1640) e Niezstche (1844-1900) que fora também para lá, e com obras filosóficas igualmente “pós-iluministas” e críticos do racionalismo moderno.
Agora interesse dos seus leitores estão em seus livros sobre política e globalização em sua trilogia das já está publicado em português Esferas I: Bolhas, obra de 1998; e os próximos lançamentos serão Esferas II: Globos e Esferas III: Espumas de 2004.
Em Neither Sun nor Death (Nem sol nem a morte, mas sem tradução para o português), Sloterdijk responde ao seu compatriota escritor alemão Hans-Jürgen Heinrichs, comentando sobre questões como a mutação tecnológica, desenvolvimento de meios de comunicação, tecnologias de comunicação, questões bastantes presentes em seu percurso intelectual, como a relevante questão antropotécnica.
Neither Sun nor Death é uma boa introdução a teoria filosófica de Sloterdijk sobre a globalização, e uma boa crítica as correntes francesas representadas neo-iluminisas de Giles Deleuze, Paul Virilio e Gabriel Tarde, e também faz conexões com Heidegger e o místico indiano Osho Rajneesh.
A comunidade insuflada
O livro na tradução brasileira de Esfera I – Bolhas, saiu aqui em 2016, na Alemanha em 1998 (Spheren I: Blasen), fala na Introdução da inspiração para bolhas, mas o título todo é: OS ALIADOS ou a Comunidade Insuflada (a maiúscula é do autor), mas eu inverti a análise para seguir como o autor escreve.
O título tem várias inspirações esféricas, mas a mais importante é o quadro de G.H. Every, de 1887, Bubbles, uma tela a óleo de Sir John Everett Millais (1829-1896), onde o autor fala do balão oval feito pelo seu “insuflador” e no tempo que de vida de uma bolha, acompanha-a vida que deixa escapar até que estoure “ao mesmo tempo um suspiro e uma exclamação de júbilo”.
A bolha, o objeto criado e seu “insuflador vigora uma solidariedade que exclui o resto do mundo” (Sloterdijk, 2016, p. 20), e “existem conjuntamente em um campo tensionado pela simpatia atenta” (idem).
Mas aos poucos ele vai delineando o objetivo desta metáfora, “a criança que segue suas bolhas de sabão no espaço aberto não é um sujeito cartesiano aferrado a seu locus pensante sem extensão, a observar uma coisa extensa em sua trajetória no espaço” (ibidem), num referencia clara à dicotomia cartesiana entre a coisa e a coisa extensa (res extensa).
Assim levanta seus primeiros questionamentos: “e o que sucede com quem não é o sopro de ninguém? Toda vida que emerge se individualiza, estaria ela enquanto tal contida em um sopro solidário? ” (Sloterdijk, 2016, p. 21), o autor vai para a pergunta de Schopenhauer: “é legítimo pensar que tudo o que existe e é tematizado estaria envolto do cuidado de alguém?” (idem).
A pergunta a que pretende chegar é referência a Heidegger: o que queremos dizer quando dizemos que estamos no mundo? mas a atualiza e reformula-a usando a questão da necessidade: “De fato, é conhecida a necessidade (Schopenhauer denominou-a necessidade metafísica) de que tudo o que pertence ao mundo ou ao ente em seu todo esteja contido em um sopro, como em um sentido indelével. Pode ser essa necessidade satisfeita? Pode ser justificada?” (Sloterdijk, 2016, p. 21).
Antes de chegar ao ponto central de seu delineamento, a modernidade, fará a pergunta que é uma referência direta ao Tratado lógico-filosófico de Ludwig Wittegestein: “Quem primeiro concebeu a ideia de que o mundo não seria absolutamente nada mais que a bolha de sabão de um alento que tudo engloba? A qual exterior pertenceria, então, tudo o que é o caso?” (idem).
Está delineada a questão da modernidade e os SEUS ALIADOS, que por isso deixei-a para depois.
SLOTERDIJK, Peter – Esferas I: Bolhas, São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 2016.
Livros para ler em 2017
Já tenho 2 na minha pilha: Esferas I: Bolhas de Peter Sloterdijk e Verdade e Método (Wahrheit und Methode), a obra de Otto-Hans Gadamer de maior impacto, onde tenta responder a pergunta de Heidegger: “Onde estamos quando dizemos que estamos no mundo?”.
Em Bolhas, o primeiro da trilogia Esferas, Peter Sloterdijk, recém publicado no Brasil, oferece uma investigação filosófico-existencial a questão questão de Heidegger, mas também diz sobre o homem e sua relação com seus semelhantes e o seu entorno, a partir da noção de “espaços íntimos” como “bolhas”, estamos presos em “bolhas” que são nossos círculos “fechados” ?
Motivado pela conjuntura econômica, a autoajuda deve ceder a livros mais “psicológicos” e sobre questões alternativas de saúde, talvez leia dois que vejo na lista de mais vendidos: o trabalho da psicóloga Angela Duckworth, que vale para educadores, atletas e até negócios, onde indica que talento, é preciso paixão e perseverança para conquista: Garra – o Poder da Paixão e da Perseverança, já é bem vendido e pode bombar em 2016.
Na linha de cuidar da saúde, o já conhecido Drauzio Varella dá sinais que vai bombar agora nos livros: Palavra De Médico – Ciência, Saúde E Estilo De Vida, onde dá dicas de descobertas bem recentes de medicina e diz como cuidar bem da saúde, sem “modismos”.
Claro sempre pode haver surpresas, alguém que explique melhor a confusa situação mundial de guinada para o conservadorismo patriótico e populista, novas questões sobre a ecologia e alguém que aponte com otimismo perspectiva para o futuro.
Ah para quem aprecia a arte clássica, o livro de Martin Gayford: Michelangelo – Uma Vida Épica, lançada pela editora Cosac Naify. vale a pena, mas as 754 páginas em tom compilador pode desanimar.
O que foi bom ler em 2016
Falei muito de livros sobre a Hermeneutica, o Outro e questões de política e ética que bombaram em 2016, mas há livros menos “densos” e igualmente bons, são leituras fáceis e que podem ajudar muita gente, o primeiro deles é de Mario Sérgio Cortella: Porque fazemos o que fazemos ? curtinho, barato e muito interessante.
O que nos tira o prazer do dia a dia ? falta de tempo para tudo ? você tem um propósito para a vida ? parece auto ajuda, mas não é, é um livro de filosofia muito prática, sem “teorias”.
Baratinho e muito simples também é o Ansiedade e Autocontrole, do já conhecido e famoso Augusto Cury, dá dicas importantes sobre o estresse de nossas vidas e como é gerada a ansiedade, gostei principalmente porque desmistifica o fato que seria muito ou muita informação, o problema é “autocontrole”, passamos a fazer muita coisa no impulso.
Meu terceiro lugar está na ordem invertida, porque preciso sempre de livros mais profundos foi a garota do trem: audacioso e muito inteligente, conta a história de Rachel que todos dias anda de trem até Londres, certo dia ela segue um casal e descobre que a jovem está desaparecida, vai até a política e conta tudo, ah virou filme sim, é o que esteve em cartaz, mas não vi, a autora é Paula Hawkings, ela mudou como vejo o meu dia a dia e as pessoas ao lado.
Meu segundo lugar é Peter Kreeft, foi uma descoberta quase ao acaso, mas me fez muito bem, ele faz filosofia a moda socrática, isto é dialogando, li as Melhores Coisas da Vida, vejam meu post e seguintes, e Sócrates encontra Hume, mas há outros para ler.
O primeiro e último nesta lista foi o livro de Edgar Morin: Para onde vai o Mundo ? o livro é antigo, mas esta virada de 2016 para o nacionalismo e o pensamento conservador me pareceu oportuna, segundo o prefácio de de François L´Yvonnet, Morin “resiste a qualquer reconciliação ou otimismo beato” e propõe um “humanismo planetário, que comporta uma conscientização da ´Terra-Pátria´como comunidade de destino de origem de perdição” (seja meu post e os seguintes).
Minha pilha para 2017 está pronta, mas sempre os acontecimentos desviam minha leitura.
Machado e o cânone literário
Sempre achei insuficiente a maioria das análises de Machado de Assis, faltava olhar um Machado culto e como todo bom intelectual capaz de sofrer influências, sem perder a sua brasilidade de mulato, carioca e político, tendo assumido diversos cargos públicos.
Muito já se escreveu e falou das influências de Shakespeare e Eça de Queiroz num dos maiores autores nacionais, também já se falou de sua brasilidade, mas Sonia Salomão revela uma face ainda pouco vista e por isso pouco explorada.
A autora Sonia Netto Salomão, escreveu o livro lançado este ano Machado e o cânone literário (Eduerj, 434 pp.; R$ 60), ela é brasileira, porém é professora na Universidade de Roma La Sapienza, e aprofundou os estudos no contexto italiano do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, com forte influencia de Dante, Machiavel, Leopardi e o destacou sua condição de frequente espectador das operas e de teatro dramático no Rio de Janeiro, e a forte influencia italiana no livro Dom Casmurro.
Esta análise vai passar despercebida por certo tempo, porque oscilamos em boa parte da mentalidade nacional ora por um xenofobismo europeu (o americano é pior), sem perceber nossas fortes influencias europeia, ora por uma adesão acrítica de leituras estrangeiras sendo incapazes de ver as nuances da adesão na cultura nacional do pensamento ocidental.
O livro custa em torno de R$ 60,00 e foi publicado pela Eduerj.
A estética de hegel
Estava interessando em estudar a questão da religião em Hegel, motivado pelo livro de Paul Ricoeur “A ideologia e a utopia” (Ed. Autêntica, 2005), e também pela questão da Misericórdia e Fraternidade que veio a ser publicado em um livro sobre “Fraternidade e Misericórdia” feito por um grupo de intelectuais que desejosos de colocar uma luz acadêmica sobre a Bula papal “Misericordiae Vultus”, lançada a propósito do ano jubilar da Misericórdia.
Me depara com uma citação num velho volume de Hegel da coleção pensadores, sobre a estética: “Para nós, a arte já não é a forma mais elevada que a verdade escolhe para afirmar a sua existência” (pag. 126), e mais “Na hierarquia dos meios que servem para exprimir o absoluto, a religião e a cultura provindas da razão ocupam o grau mais elevado, superior ao da arte” (pag. 43) e depois numa sentença quase de morte: “As condições do tempo presente não são favoráveis à arte” (pag. 44).
Mas então não seria o caso de perguntar: que tipo de arte sobreviveu, ou melhor, que estética podemos dizer que é a estética dos dias de hoje ? consigo ver duas respostas apenas esboçadas, uma parafraseado o próprio Hegel é partir do “verdadeiramente real”, embora este separasse a realidade sensível e a realidade da arte, e a segunda existencial: pois não se pode decretar a morte da arte uma vez que mesmo no silêncio de nossa existência, ela permanece viva no interior de poetas, artistas e cantores, ainda que mambembes, estão aí.
O que é limitação para Hegel, uma vez que “consiste numa representação com um significado que não se conjuga com a expressão, com a representação mantém-se sempre uma diferença entre ideia e forma” (pag. 101), mas que no fundo é o problema idealista da arte.
A ideia que é possível abstrair da realidade o sublime, como se este fosse inexistente na representação sensível, é contrastado pela sua “existência” uma vez que a arte expressa o Ser ainda que de forma inexistente e paradoxal, pois se existe como expressão, é sensível, eis sua condição de existência.
Somos obrigados a concordar com Hegel: “Para tornar a matéria adequada, vai-se até o monstruoso, desfigura-se a forma, produz-se o grotesco” (idem), mas todos estes traços colocados por Hegel não são senão sua negação do sublime, a tentativa de destruição da arte e do belo, que confirmam a existência “no íntimo de tudo o que, em arte, se pode com direito chamar de harmonioso, sobrevive o absurdo e contraditório” (Adorno, T., Teoria Estética, p. 130).
HEGEL, G.W. Estética. Coleção os Pensadores, 1999. (domínio público download)
Software para textos didáticos
Os recursos para produção e material didático em ensino público podem ser reduzidos, isto é comprovado em 38 faculdades lá chamadas “comunitárias” em 13 estados, que abrange um universo de 76.000 estudantes, em 13 estados americanos.
Os casos analisados e citados no Washington Post, é o de Maryland e outros seis da Virgínia, onde os preços de livros didáticos subiram de 82% entre 2003 e 2013, que lá é três vezes a taxa de inflação e portanto é mesmo um aumento real de preço.
O software OpenStax, uma organização de software livre sem fins lucrativos introduziu livros didáticos open-source com revisão por pares, estima-se que economizou mais de US$ 66 milhões para cerca de 700.000 estudantes, mais da metade destas no ano passado.
Embora alguns alunos que frequentes estas faculdades comunitárias (community colleges ) em no máximo quatro anos, os programas concentrados em dois anos, estão alcançando o sonho de fazer faculdade, não apenas em escolas pagas, mas em outras que podem fazer cursos com alto nível, em menor tempo, onde o material didático é essencial.
Reforma política: qual democracia
Os reformadores do sistema político brasileiro, com dificuldade de reconhecer a podridão do chamado “governo de coalização”, para alguns “natural” com as compras e vendas de cargos, propõe que olhemos para o sistema norte-americano como se fosse uma maravilha.
Quem a estudou foi Alexis de Tocqueville, jovem francês que chegou a New York em 1831 com 26 anos de idade, com o amigo Gustave de Beaumont, para estudar o sistema penitenciário, mas acabou estudando o funcionamento do regime político e da vida americana.
Vindo do país da famosa “Revolução Francesa” encanta-se com o sistema americano, escreveu sua principal obra A democracia na América (La Démocratie en Amerique), cujo primeiro volume foi impresso em 1835 e o segundo em 1840, para ele a questão da participação e das associações (valores cívicos) são os fundamentos da democracia norte-americana.
Tocqueville atribui um caráter “sagrado” à democracia ao afirmar que querer detê-la seria como lutar contra o próprio Deus, e só restaria às nações acomodar-se ao estado social que lhe impõe a Providência, não é a toa que tanta gente “religiosa” acha isto maravilhoso.
Mas o objetivo não é maior participação, e sim esvazia a democracia para perpetuar grupos no poder, Tocqueville afirma: “(…) A igualdade produz, com efeito, duas tendências: uma conduz os homens diretamente à independência e os pode impelir de repente para a anarquia; a outra os conduz por um caminho mais longo, mais secreto, mais seguro, para a servidão” (1987: p. 512), assim o objetivo oculto é manter determinados grupos no poder (não só econômicos).
Embora manipule a ideia de povo, ignorando o poder econômico e dos grupos editorais, veja o Donald Trump nas eleições, afirma: “O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo”, afirma Tocqueville (1987, p. 52).
O estado como “mediador” das classes é elogiado: “não haverá independência para ninguém “[…] nem para o burguês, nem para o nobre, nem para o rico, mas uma tirania igual para todos; […] se não se chegar mesmo com o tempo a fundar entre nós o império pacífico da maioria, chegaremos […] ao poder ilimitado de um só” (TOCQUEVILLE, 1987: p. 242), mas um só pode ser uma minoria que manipula a opinião pública.
A reforma que se propõe ao sistema brasileiro, ignora que lá Trump poderá chegar ao poder, que Nixon e Reagan, governaram de modo quase imperial com congresso e câmara aprovando guerras pavorosas em todo planeta, a reforma que precisamos é a moral e a social, mas …
TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1987