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Arquivo para a ‘Filosofia da Informação’ Categoria

Consciência e Informação

31 out

O evento EBICC recebe hoje (31 de outubro) a palestra de Gregory Chaitin, Chaitinmatemática e cientista de informática que apresentou o Theorema da Incompletude de Gödel e ele é considerado um dos fundadores da atual complexidade de Kolmogorov (ou Kolmogorov-Chaitin) juntamente com Andrei Kolmogorov e Ray Solomonoff.

Hoje, a teoria da informação algorítmica é um assunto comum em qualquer currículo de ciência da computação.

Resumo:

Ele faz uma revisão das aplicações do conceito de complexidade ou informação algorítmica em física, matemática, biologia e até mesmo do cérebro humano, e propõe a construção do universo de informações e de computação, em vez de matéria e energia, o que seria uma visão de mundo muito mais amigável para discussões sobre a mente e a consciência do que o permitido pelo materialismo tradicional.

Os fundamentos de seu pensamento pode ser encontrado no livro: Meta Mat – Em Busca do Omega. SP: Editora Perspectiva, 2009.

 

Uma constante e um possível Nobel da Física

28 ago

Constantino Tsallis (1943- ), do Santa Fé Institute é um grego que está no Brasil,AentropiaMaxBoltz e é candidato ao Nobel da Fisica deste ano, ele também tem nacionalidade brasileira e argentina, como ele gosta de dizer: “ele e a torcida do Flamengo torcem para este Novel da Física”.

Ele retrabalhou a constante de Boltzmann a ponto de torna-la mais genérica, mais aplicável e a ponto de mudar o nome dela (ou criar uma constante mais geral) chamada de Tsallis.

A constante de Boltzmann (k ou kB) é a constante física que relaciona temperatura e energia de moléculas, os kMols como aprendemos (ou não) nas aulas de Física.

O nome deve-se ao físico austríaco Ludwig Boltzmann (1844-1906), que fez as mais importantes contribuições para a mecânica estatística (sendo até considerado seu fundador), na qual a sua constante tem um papel fundamental. O seu valor experimental, em unidades SI, determinado em 2002, é:

k = 1,3806503. 10^-23 J/K

A forma mais simples de chegar à constante de Boltzmann é dividir a constante dos gases perfeitos pela constante de Avogadro.

Mas a contribuição não para aí, o mais importante conceito que vem da física é o da entropia, e juntamente com Maxwell (embora nunca tenham trabalhado junto), constituíram o que é chamado de distribuição de Maxwell-Boltzmann para visualizar a distribuição da velocidade das partículas em temperaturas diferentes.

Constantino Tsallis, um físico grego-americano que atualmente trabalha no Brasil, ao revisar a constante de Boltzmann, segundo ele próprio apenas pela beleza das equações,

Formulada em 1988 por Constantino Tsallis como uma base para generalizar a mecânica estatística padrão, pode-se dizer quase a refundando, é uma generalização da Entropia de Boltzmann–Gibbs, já que a Particúla de Gibbs foi recentemente confirmada experimentalmente e é também um resultado fundamental para a Física Padrão.

A relevância física da teoria de Tsallis já é amplamente debatida no cenário da literatura física mundial, mas foi só na década passada, que pesquisadores mostraram que a matemática de Tsallis descreve mais precisamente os comportamentos em lei de potência em uma larga gama de fenômenos, desde a turbulência de fluidos até os fragmentos criados nas colisões de partículas de altas energias.

Constantino Tsallis é candidato ao Nobel da Física e estará no evento EBICC da USP-SP.

 

 

Confiança, fé e autonomia

11 ago

Conforme estabeleceu Giddens, há um limite entre a fé e a confiança, mas fatalmente JesusNasÁguasquem tem confiança precisará de algum “tipo” de fé para ampliar sua segurança e com isto sua autonomia, sem que ela desande para o individualismo ou isolacionismo.

É possível então qualificar a fé, recorramos aos místicos, e como civilização ocidental-cristã a figura de Jesus, a passagem em que caminha sobre as águas assustando seus discípulos que acham que é um fantasma, é bastante ilustrativa e pode nos dizer algo da fé, está assim em Mateus 28 a 30:

Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”.

E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus.

Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”

Mesmo um de seus principais discípulos após achar que era um fantasma, reconhece-lo e desejar andar sobre as águas afunda, faltou confiança, fé e principalmente autonomia.

O fato que seguidores de diversas correntes místicas tenham pouca autonomia os torna um pouco infantís, e dependentes de quase tudo do mestre, por isto é que muitas vezes morre o mestre, morrem os discípulos, mas Jesus não morreu … é outra história, e será preciso outro tipo de fé, embora muitos proclamem o Deus vivo, apresentam-no morto.

Um qualificador importante para a fé é sua irmã-gêmea a esperança, e ambas são filhas do amor, então a fé deve ter origem em algo que seja amor, precisa distribuir a confiança e o bem desejado com as outras pessoas e com o ambiente, para torna-lo “confiável” então este tipo de fé não é cega, mas uma fé que tem um “agir agápico”, que sana o ambiente.

O fato que a grande maioria dos grupos religiosos funcionam como sistemas fechados e não proporcionem ao ambiente que vivem uma melhoria sensível, primeiro nas relações e depois nas ações, e finalmente na fé; é que as torna um campo minado de preconceitos e maldades, querem ser ouvidos como mestres, mas são pequenos na escuta e na abertura.

Caminhar sobre as águas, a metáfora mais usada é dizer que é um mundo revolto e agitado por injustiças e desamor, não deve se opor a uma fé interior ativa e profunda.

Confia quem tem fé, mas a fé deve partir de uma alma aberta ao mundo e aos outros.

 

Uma filosofia inesperada

03 jul

Já falamos em um post da questão da intransparência levantada por Habermas NonTransparencyem um artigo, e também citamos brevemente o autor da Sociedade da Transparência, Byung-Chul Ham, mas agora ao receber o livro e abri-lo deparo-me com uma filosofia inesperada, profunda embora não acabada como todo discurso pós-moderno, mas heidegeriana e humanista.

Vê a questão da transparência por um ângulo novo, próprio de sua cultura oriental, desvela a questão com uma frase capital: “os eu se referem a transparência somente à corrupção e à liberdade de informação desconhecem a sua envergadura” (Han, 2017, p. 12).

Revela-a como violenta na página seguinte: “A coação da transparência nivela o próprio homem até acabar por torntornaelemento funcional de um sistema. Tal é a violência da transparência.” (pag. 13)

Revela logo a seguir porque somos vítimas deste novo anátema da modernidade: “a espontaneidade, o que é do registro de um acontecer e a liberdade, traços que constituem a vida em geral, nada comportam de transparência” (idem), e citando von Humboldt explica que: “ … e seria atentar contra a verdade histórica da sua origem e das suas transformações querermos desterrar dele a possibilidade destes fenômenos inexplicáveis” (Humbold apud Han, pag. 13).

Não deixa de apontar caminhos, que já traçamos aqui por diversas ocasiões da alteridade, mas apresenta-a numa roupagem nova, contrapondo à sociedade da transparência que não “permite lacunas de informação nem de visão”, explica que na língua alemã “lacuna” (Lücke) e a “sorte” (Glück), citando R. Sennet em seu “Respect in a World of Inequality”.

Faz uma nova frase repentinamente forte: “O amor sem lacuna na visão é pornografia”, tema que retornará e tema de outro livro seu “A agonia do eros”, outro tema certo deste tempo.

Mas não dá a isto uma explicação rasa, afirma que esta “sociedade positiva” afirmando que esta sociedade não é nem hermenêutica nem dialética, mas “uma sociedade que não admite do mesmo modo qualquer sentimento negativo” (pag.16), não faz esta afirmação porém é minha reflexão que tal é a função platônica do idealismo contemporâneo.

Afirma que esta sociedade positiva não é a causa, “mas a consequência de um fim da teoria (destaque do autor), no sentido autêntico, que s aproxima. A teoria não pode ser substituída sem mais pela ciência positiva” (pag. 17), em clara referencia aos apelos de praticidade da pragmática contemporânea.

Surge então neste plano, sem deixar de apontar o caminho que a política traça nesta perspectiva ideal-positiva, “A política é a ação estratégica (novamente  destaque do autor). E por esta razão, há uma esfera secreta que lhe é própria. Uma transparência total paralisa-a” (pag. 18).

Paro aqui a análise, porque não é possível em neste espaço apontar os novos caminhos que o autor trilha, mas apenas neste começo do primeiro capítulo vê-se a largueza de sua análise.

 

Twitter vai remunerar uso de Periscope

26 jun

Uma reação do Periscope do Twitter, que permite transmissão de vídeos no microblog, aoTwitterLikeLogo concorrente Alphabet do Youtube que lançou transmissões de vídeo ao vivo para dispositivos móveis com usuários de mais de 10 mil seguidores, pode alavancar a remuneração em moeda digital com uso dos aplicativos.

Em 2015 quando o Twitter lançou o Periscope, o crescimento de transmissões foi progressivo, segundo a empresa o volume chegou a 77 milhões de horas de vídeos ao vivo nos três primeiros meses de 2017, volume alto, mas não há informações sobre visualizações.

O Alphabet do YouTube, da Alphabet, além do requisito de mais de 10 mil seguidores, expandiu sua própria oferta para ajudar os artistas on-line a ganhar dinheiro, mas o Twitter quer remunerar usuários comuns, porém a remuneração de fãs para os artistas apenas, entretanto a monetarização digital destes sistemas poderá incidir no uso da moeda digital, alavancando-a para outros serviços.

Como alavancar negócios ? Segundo o The Verge, o Periscope vai permitir que marcas sejam adicionadas aos corações personalizados do aplicativo nas transmissões em tempo real, ao lado dos corações multicoloridos normais que aparecem quando o espectador aperta o botão “like” usual.

A primeira franquia americana é a Fast and Furious, com “like” adicionando seu logotipo colorido “F8”, outras marcas poderão utilizar, o serviço por enquanto só nos EUA poderão chegar logo aqui e outros países.

 

Substância do universo: o corpo sagrado

15 jun

Ao contrário do que se supõe, substância é aquilo que há de permanente nas AlfaOmegacoisas que mudam e, portanto, o fundamento de todo acidente, e tudo está em mudança no universo então qual a substância primordial, qual a gênese de todo universo ?

As interpretações podem se dividir em três correntes: há aqueles que reconhecem apenas uma substância (monistas) destacam-se Spinoza e Leibniz, os que reconhecem duas substâncias (dualistas) que é fundamento do idealismo moderno, ou a mais comum que são os pluralistas, as correntes “puras” que vem do platonismo e do aristotelismo.

Tudo que existe é ser para monistas e pluralistas, então o ser é constituído de uma pluralidade de elementos que o fundam como substâncias, mas para estes elas podem ser hierarquizadas ontologicamente, para monistas há somente uma hierarquia que é a monada inicial, na interpretação de Spinoza e Leibniz ela é Deus, na concepção da ciência moderna, um corpúsculo de concentração eletromagnética onde ocorreu o Big Bang.

Há quem conteste o Big Bang, o filósofo Nick Bostrom de Oxford afirmou que “A probabilidade de estarmos vivendo dentro de uma simulação é próxima de 100%”, algo parecido ao Matrix, mas negar a substancialidade do universo é negar uma evidencia apodítica (aquela que se aceitar sem demonstração).

O filósofo Franz Brentano, recuperou uma categoria da escolástica chamada intencionalidade, para definir o que é consciência como aquilo que é dirigido a algo, seu aluno Edmund Husserl usou isto para definir consciência como algo intencional.

Se pensamos assim, mas importante que existir o universo, e ele ter sua substancialidade (o seu corpus), é que algo ou alguém teve intencionalidade deste primeiro objeto, ou seja, o criou de maneira “consciente” e chame-o como quiser, ele é um Ser, pois existe.

Se admitirmos sua materialidade, mesmo a luz pode ser observada em sua influência num corpo gravitacional (veja nosso post sobre a observação da Nasa), mesmo as existências do homem podem ser demonstradas em sua evolução agora sabemos de mais de 300 mil anos, temos que admitir a substancialidade e considerar como plausível a ideia da mônada inicial, então há um “corpo” formado deste Ser original consciente.

Teilhard Chardin, paleontólogo e padre jesuíta, considerava todo o universo o Corpo de Cristo, mais que um corpo místico, um corpo cósmico substancial, se de alguma coisa é feita este universo, ela está guardada na sua fonte e consciência primária inicial;

As evidências apodíticas que precisamos para admitir um Corpus Divino, alfa e ômega, princípio e fim, talvez precise pouco para ser admitido, mas na falta deste pouco ainda resta aquilo que chamamos de fé, nunca cega e nem contrária a razão.

 

A crise, as coisas e o nada

07 jun

A crise, as coisas e o nada separamos agora com as coisas, e faz a perguntaNada essencial: entre as coisas existe o nada ?

Alguém desavisado poderia fazer a falsa perguntar não deveria perguntar antes pelo Ser do que pelas coisas e pelo nada? Sim o nosso filósofo esclarecerá isto, mas a modernidade coloca a questão da relação entre as coisas e nela nasce o dualismo de separação entre as coisas.

Esclarece Mário Ferreira, que “os escolásticos como Tomás de Aquino que seguem a linha aristotélica, afirmavam que tempo e espaço são entes da razão (entia rationis), mas fundados nas coisas com fundamento in re [coisa], pois há entre as coisas distâncias e suceder, que permitem generalizar os esquemas da experiência, até formar os conceitos abstratos de tempo e espaço, que o racionalismo moderno separou totalmente dos fatos, esvaziando-os destes, que neles se dão.” (pag. 32)

Esclareceu que espaço e tempo serão conceitos fundamentais para o pensamento moderno: “mas esvaziados de todo conteúdo fáctico, são entes conceituais, cujo conteúdo implica o despojamento de tudo que acontece facticamente … “ (idem).

Para analisar estes esquemas Mario Ferreira recorre a psicogênese, porque dirá que o fato que os esquemas serem construídos, pela experiência, à posteriori irá remeter no esquema Kantiano conforme sua psicogênese, a existência de positividade à priori, “o que é inegavelmente uma positividade do pensamento Kantiano.” (idem)

Então fará a pergunta essencial sobre o nada: “se as coisas se dão no espaço e elas se separam, como o limite o revela, entre elas se interpõe o espaço. Mas que espaço?”

Aqui se separa conforme afirma o modelo de Demócrito em há um vazio entre as coisas e o de Lorentz, um espaço cheio.  Também no início da modernidade Leibniz propôs a monadologia.

Estamos, portanto entre duas afirmativas (pag. 33) uma que afirma a presença do nada, de um ausente absoluto, e outra que afirma a presença do ser, no qual não há interstícios nem fronteiras, porque enche tudo, e esta psicogênese cria “um esquema de relacionamento das coisas, sem que se lhe dê uma presença real, de per si.” (idem).

Assim esta é a tensão, não o dualismo, entre o nada e o ser, ou se preferirmos a separação entre as coisas e a relação entre elas, a primeira é racionalista e “é um agravamento da crisis”.

Descobrindo a relação entre o finito que “a finitude só se pode dar onde há alguma coisa, pois permite medir. O nada é imensurável, o nada seria um abismo sem fim.” (pag. 34)

Em nota de rodapé esclarece: a impossibilidade de um nada absoluto, entre ilhas do ser, é por nós demonstrada apoditicamente (por evidência), em Filosofia Concreta.

O importante deste argumento, é que por ele pode-se afirmar “a eterna presença do ser, no qual estamos imersos e que nos sustente, o qual nos permite comunicação …” (pag. 35) e então a crise não é tão profunda, ela tem graus, afirma nosso filósofo.

SANTOS, Mario Ferreira dos. Filosofia da crise, São Paulo: É realizações, 2017.

 

Crise, os limites e o conhecer

06 jun

Estamos lendo Mário Ferreira dos Santos, e no final do primeiro capítulo da IsleOcean“Filosofia da Crise”, aponta que temos consciência do limite que há com o Outro e o nós, para apontar 5 pontos desta separação antes de mergulhar sobre o que é o nada entre as coisas (e seres).

Sobre esta separação, afirma que “as coisas também sofrem dos seus limites, mas caladas, intrinsecamente caladas, silenciosas até ante si mesmas, porque nelas, não há um que que perscrute a si mesmo. ” (pag. 20)

Temos consciência da crise, as coisas também sofrem a separação, e a crise se agrava “se aceitarmos essa separação como irremediável, um abismo insuplantável, traçado entre nós e os outros”,  o quarto limite é o da individualidade, o em si de outros filósofos, e deste se origina o quinto limite: “do eu ante o limite da individualidade.” (pag. 29)

“E não há em nós algo que sempre coloca além de todo o nosso conhecimento, algo qe conhecemos, sempre distante, sempre cada vez mais distantes, que marca uma presença sempre se separa de tudo quanto delimitamos, pois conhecer é sempre delimitar? ” (pag. 29), termina a longa reflexão sobre a separação e a crise com uma questão cognitiva central.

É algo como afirmava o filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951): “o conhecimento é uma ilha cercada por um oceano de mistério. Prefiro o oceano à ilha”, para indicar que a crise é na maioria das vezes um ir além, e penetrar no oceano do mistério.

Termina o capítulo de conceito da crise com duas constatações: “entre os limites de todo o nosso conhecer, não há sempre em nós, algo que conhece, que os vence, porque deles não se deixa apreender? E que sempre se separa, distante, sempre o mesmo?” (pag. 30), e que mesmo em crisis, “há também já um apontar de uma vitória que vivemos em nós.” (idem)

Finaliza o capítulo com esperança: “Portanto, não há razão para não desesperar. Mas é preciso encontrar o caminho prometido.” (idem)

SANTOS, Mario Ferreira dos. Filosofia da crise, São Paulo: É realizações, 2017.

 

Epistemologia e crise do pensamento

01 jun

O filósofo britânico David Hume, no século XVIII, escreve no Tratado da naturezaQuestionar humana, um questionamento da indução como mecanismo válido para a descoberta científica, foi a parte desta questão que Karl R. Popper, em A lógica da pesquisa científica, de Karl R. Popper (1902-1994), trouxe a “novidade” no debate da filosofia da ciência repetindo a ideia humeana.

O problema formulado por Popper tinha em sua base a separação, já feita também em todo idealismo, entre a metafísica (pseudociência) e a verdadeira ciência, a “ciência empírica”, mas Thomas Khun (1922-1996) em A estrutura das revoluções científicas vai questionar isto.

A história da ciência já demonstraria isto, ou seja, que periodicamente, um paradigma era substituído por outro, entretanto isto não se dá por uma simples observação incompatível com a teoria, conforme atestava o princípio da falseabilidade popperiano, o que ocorre é uma mudança de pensamento, ele cita Copérnico, mas Heisenberg com o princípio quântico e Albert Einstein com a Teoria da Relatividade são mais gerais.

O matemático e filósofo húngaro Imre Lakatos (1922-1974) seguiu as ideias de Popper, e o princípio da falseabilidade, amenizando-o: a história da ciência demonstraria que as teorias nunca eram completamente abandonadas, mesmo quando refutadas.

Paul Feyerabend (1924-1994) desenvolveu uma argumentação radicalmente inovadora em sua obra sugestivamente intitulada Contra o método, afirmando que nunca houve a possibilidade de estabelecer critérios objetivos para a avaliação das teorias científicas. Negando todo o método  do positivismo lógico, que defendeu um padrão metodológico único.

Entretanto esta crise já se aprofundou, já citamos Edmund Husserl, que perscrutava a crise das ciências europeias no desenvolvimento de sua fenomenologia, entre várias afirmações encontramos: “Com o despertar da reflexão da relação entre o conhecimento e o objeto, abrem-se obstáculos abissais.  O conhecimento, a coisa mais óbvia no pensamento natural, aparece de repente como um mistério”, e terá entre notáveis influencias posteriores como Heidegger e Gadamer, que retomam a questão ontológica, onde a consciência é essencial.

O sociólogo português Boaventura de Souza Santos, em seu escrito Um discurso sobre as ciências, revaloriza a polêmica introduzindo que a atenuação da distinção entre orgânico e inorgânico, humano e não-humano seria inútil, mas a questão da consciência não é tocada.

Edgar Morin, H.G. Gadamer, Lévinas e Ricoeur, além de outros pensadores contemporâneos concordam que é preciso uma virada no pensamento, envolto em complexidade e vivências

 

Epistemologia e ciências humanas

31 mai

Do meio do século XIX até o início do século XX, as ciências humanas CienciaNaturalptviveram uma verdadeira transformação na busca de uma alternativa para os fundamentos epistemológicos do conhecimento científico, pois os velhos modelos “positivista” e “naturalista” estavam em cheque.

Dilthey, sucessor de Schleiermacher que propôs o método hermenêutico, buscou fundamentos filosóficos para uma epistemologia do conhecimento científico, assim dizia: “As ciências que têm a realidade sócio histórica como seu objeto de estudo buscam, mais intensamente do que antes, as relações sistemáticas entre elas e com os seus fundamentos.” (DILTHEY, 1989, p.59).

Gadamer vai diferenciar a paridade com as ciências naturais com as ciências humanas (Geistewissenchaften), propondo que o que ocorre com uma interpretação artística, é diferente da leitura, pois “A leitura, enquanto distintas de um ´recital´, não se coloca por si mesma; ela não é uma atualização autônoma de um padrão de pensamento, mas permanece subordinada ao texto restaurado pelo processo de leitura. ” (GADAMER, 2012, p. 11).

O modelo ideal é romântico, como chamado por Gadamer, trata consequências para a epistemologia, pois “O seu ideal é decodificar o Livro da História. Esse é o método pelo qual Dilthey espera pode justificar a auto compreensão das ciências interpretativas e sua objetividade científica. ”  (idem)

Assim como os textos possuem um “sentido puro”, também a história o teria, na análise de Gadamer entretanto ”a sua auto compreensão com relação às ciências não é “verdadeiramente consoante com a sua posição fundamental em termos da Lebesphilosophie “ (filosofia da vida) (GADAMER, 2012, p. 12).

Esclarece que ela se encontra sempre “na conexão entre ´vida´, que sempre implica consciência e reflexividade (Besinung) , e ´ciência´, que se desenvolve a partir da vida como uma das suas possibilidades” (idem).

Assim, a implicação epistemológica clara: “As ciências humanas adquirem assim uma valência ´ontológica´ que não poderia permanecer sem consequências para a sua auto compreensão metodológica.” (idem)

Assim, as ciências humanas “encontram-se mais próximas da auto compreensão humana do que as ciências naturais. A objetividade destas últimas não é mais um ideal de conhecimento inequívoco e obrigatório.” (idem).

Irá buscar na Ética a Nicômacos os fundamentos perdidos, quando no livro sexto Aristóteles distingue: “do conhecimento teórico e técnico o modo do conhecimento prático, ele exprime, a meu ver, uma das maiores verdade que permitem ao pensamento grego trazer à luz a ´mistificação´ científica da sociedade moderna em que reina a especialização.” (GADAMER, 2012, pag. 13).

Referências

DILTHEY, W. Introduction to the Human Sciences. Ed. by R. A. Makkreel & F. Rodi; trad. Michael Neville. New Jersey: Princeton University Press, 1989.

GADAMER, H.G. O problema da consciência histórica, 3ª. edição, 3ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2012.