Arquivo para a ‘Mídia Digital’ Categoria
Transformação digital além da Buzzword
Alertamos e problematizamos nos 10 anos deste blog a transformação que estava sendo encaminhada pelas mudanças digitais, aspectos sociais, educacionais, industriais e até mesmo comportamentais, boa parte dos céticos reagiam, ironizavam ou desprezavam uma mudança real que estava acontecendo.
A pandemia mostrou que as ferramentas mais do que necessárias podem construir pontes, estabelecer relações novas, dinamizar empresas e evitar desperdícios de tempo, dinheiro e principalmente nestes tempos por em perigo a saúde.
Agora todos vivem a realidade digital, empresas sobreviveram por serviços online, famílias, grupos sociais, serviços públicos e reuniões de diversos tipos dependem das ferramentas digitais, os espetáculos dependem de lives, de meetings ou postagens em ferramentas de mídias sociais.
Uma buzzword surgiu muito forte a chamada “transformação digital”, porém o perigo do oportunismo é grande de empresas e sites que exploram e mistificam estes serviços e cobram caro por ele, assim alguns conceitos são necessários, primeiro o que acontece diferente na geração Z da anterior chamada de millennials, os que são nascidos no início do milênio, portanto antes do ano 2000, que agora tem de 22 a 37 anos.
Os millenials acompanharam a evolução a Web (as páginas, sites e blogs), nasceram numa realidade em que os computadores eram uma eletrodoméstico, assim só eram usados em casa e opcionalmente na escola, enquanto a geração Z através do celular levou o mundo digital a todo lugar, criam os grupos de chats e tem um comportamento diferente com a credibilidade dos sites, blogs e mídias de redes, criam suas próprias relações e ídolos, em geral diferente do tudo que é conhecido.
Embora mais fechados e com tendência a pouca relação social, são mais críticos que os millenials, mais ansiosos, são mais eficientes e são mais exigentes.
Assim as relações com o mercado são muito diferentes, voltam a preferir as compras em lojas físicas e selecionam bem o que compram, menos impulsivos e já tem a tecnologia com um excelente apoio, embora muito conectados já conhecem os limites da tecnologia.
Grandes revistas de economia como a Forbes e a Fortune fizeram análises da geração Z para entender a transformação de mercado necessária, a Forbes diz que ela representa 25% da população mundial atual, o meio digital é parte natural da vida deles, como a TV e o rádio das gerações passadas, enquanto a Fortune afirma que 32 da geração Z se esforça para um trabalho dos seus sonhos e descartam assumirem qualquer trabalho, embora temporariamente aceite para alçar o futuro.
Assim os CRMs ( Customer Relationship Management) antigos não funcionam e muitas críticas e análises feitas para a geração millenials estão ultrapassadas.
Segundo Kasey Panetta, pesquisadora da Gartner, 5 conceitos novos são emergentes: Composite architectures, arquiteturas ágeis e responsivas, Algorithmic trust, produtos, links, sites e transações confiáveis, Beyond silicon, os limites da lei de Moore da evolução dos computadores, agora tecnologias menores e mais ágeis são procuradas, Formative Artificial Intelligence (AI) adaptação ao cliente, customização dos serviços, tempos e localização, e o conceito Digital Me, uma espécie de passaporte para o mundo digital, ferramentas e sites que já conhecem o cliente e suas necessidades, formas de comportamento e preferencias.
Portanto todo o universo digital que parecia estável também vai desmoronar e muito do que se chama “transformação digital” é só uma mistificação digital, cuidado com oportunistas.
Panetta, Kasey. 5 Trends Drive the Gartner Hyper Cycle for Emerging Technologies, 2020. Disponível em: https://www.gartner.com/smarterwithgartner/5-trends-drive-the-gartner-hype-cycle-for-emerging-technologies-2020 , Acesso em: 15 de setembro de 2020.
A crise cultural e a pandemia
A segunda grande cegueira da crise do ocidente é a cultura, o livro Qualquer Coisa Serve de Theodore Dalrymple, pseudônimo de Anthony Daniels, psiquiatra inglês que tratou de presos perigosos, é uma antologia de contos escritos de 2006 a 2009, e chamou seus estudos de declinologia (veja o vídeo abaixo) porém no livro citado há belas passagens de como ler uma cultura.
Desde os primórdios da cultura humana, a descoberta da Caverna de Chauvet (datada de 32 mil a.C.) prova isto, o homem constrói e registra sua cultura, e aqui um paralelo com o #StayAtHome esta é feita numa caverna, provavelmente local de encontro e proteção de famílias.
Pode parecer demasiado o termo usado por Peter Sloterdijk, mas a domesticação humana não é outra coisa que não a estruturação da vida “doméstica”, e também a origem grega da palavra oikos-nomicus (já fizemos um post) significa oikos – casa.
Acrescentamos aqui o diálogo de socrático de Xenofonte, que se refere ao termo como ser um bom cavalheiro, o Kalokagathos (bom em belo, em grego), que é assim referência a cultura.
Byung Chul Han, que escreveu a Salvação do Belo, onde critica a cultura do liso e em particular a de Jeff Koon e suas esculturas de “baloons” (figura) que muito ou nada dizem, o desejo de uma total imunidade, sem procurar a co-imunidade, conceito de seu mestre Sloterdijk, que pode ser aplicado a pandemia atual.
Um artigo duro, mesmo para mim como apreciador de Byung Chul Han, sobre a atual crise pandêmica, publicado no El País, afirma que: “parece que a Ásia controla melhor a epidemia do que a Europa”, cita os dados de 20 de março quando a epidemia ainda não tinha atingido o auge na Europa e dá como razão a estrutura disciplinada e ancestral do oriente.
Mais cedo do que nós eles apostaram no Big Data afirma o autor, e “suspeitam que o big data pode ter um enorme potencial para se defender da pandemia” diz no artigo de El País, porém alerta que isto pode caminhar para uma ditadura digital, como na China e isto não é mudança.
Sobre a cultura atual autor afirma “hoje não só se volta o polido ao belo, mas também o feio” na obra A Salvação do Belo (pag. 19), esperamos que o flagelo do vírus nos comova os coração e nos faça ir da descoberta da interdependência, como diz Morin, para a solidariedade.
Porém esta solidariedade exercida em conjunto, numa co-imunidade, necessita de um novo conceito do doméstico, da religação, além da conexão digital e do “isolamento” social.
Uma aula de “decliniologia”, com Theodore Dalrymple
A mulher e as novas mídias
O dia da mulher foi ontem e a perspectiva de uma sociedade não-machista está muito distante, mesmo em países europeus contatei com tristeza que o machismo ainda é cultura geral, por exemplo, o assédio na França tem índices elevados e em Portugal há casos recentes, onde até um juiz do Supremo manifestou seu machismo num caso de violência doméstica que julgava.
O Wikipedia é o 5º. Site mais acessado no mundo, possui mais de 6 milhões de verbetes, e apesar de ter problemas de edição e corrupção nos seus verbetes, o que é tratado mas pode ficar online e causar confusões, sua importância é inegável, e negá-la é não estar vivendo a realidade presente.
Nas novas mídias não é diferente, o Wikipedia o 5o. site mais lido no mundo, teve recentemente a divulgação que a maioria das mulheres influentes em investigações científicas são ignoradas pelo site.
O artigo escrito por James Vicent em agosto de 2018 na Revista The Verge, consta que 82% das biografias são escritas sobre homens, cita o exemplo de Teresa Woodruff, uma cientista que não tinha entrada no Wikipedia (agora tem), e foi nomeada uma das pessoas mais influentes em investigações e Inteligencia Artificial pela revista Time em 2013.
Outra influente investigadora citada é Jessica Wade, física do Imperial College London que escreveu a nova entrada de Pineau, um sistema chamado QuickSilver, e falou sobre o Wikipedia:
“… é incrivelmente tendencioso e a sub-representação de mulheres na ciência é particularmente ruim”.
O artigo teve como foco as pesquisas na área de IA e citou ainda a investigadora de robótica Joële Pineau.
Entretanto as novas mídias deram poder e voz também as mulheres, é inegável que um número de grupos sociais excluídos, culturas quase desaparecidas, e muitas minorias tem voz agora graças as novas mídias.
Nas mídias de redes sociais, facebook e instagram são inúmeros os casos de exposição de imagens e conteúdos machistas, nem sempre denunciados e punidos por práticas ofensivas.
Vicent, James (2018) AI spots 40,000 prominent scientists overlooked by Wikipedia, The Verge, Disponível em:
https://www.theverge.com/2018/8/8/17663544/ai-scientists-wikipedia-primer, Acessado em: 20/10/2018.
Influenciador digital, a potência nas novas mídias
Influenciador digital é uma nova área de atuação nas mídias, desde os primeiros blogueiros eles existem, falam de coisas curiosas desde temas sérios, até culinária, fitness, esportes ou qualquer coisa que esteja em alta em determinado momento, os que fazem sucesso significam muito em termos de estatísticas e financiamentos, mas pouco em termos de conteúdos sérios e políticos.
Cito um brasileiro Felipe Neto, em torno dos 32 anos, não fui conferir apenas li em algum lugar, as vezes é inteligentes, as vezes comediante e irônico, fala de tudo em especial de fatos culturais inéditos, como a família Passos que formou uma “trupe” que ganhou com uma marchinha de sátira de carnaval “A culpa é do PT” que na rádio CBN venceu o concurso.
Dizem que ele tem milhões de seguidores, não fui conferir e pois também existem “robôs” e “influencers” capazes de produzirem valores juntos, mas as visualizações são mesmo astronômicas.
Você deve desconhecer Christian Figueiredo que tem em torno de 21 e já lançou um livro “Eu fico loko” e já fez marketing para Colacoca (algo assim) e Disney, e se for num shopping vai enlouquecer adolescentes, pergunte ao seu filho, sobrinho ou neto quem ele é, chance de 50% que saberão.
O catarinense Luba, Lucas Feurschütte. tem em torno de 25 anos, e já fez um vídeo de sucesso com Christian Figueredo perguntando: “Você é um gay”, tem um terceiro que não conheço que participa, mas talvez também seja de sucesso, o seu sucesso é o Luba TVGames (em torno de 230 mil seguidores), não vou esgotar a lista, apenas aponto um universo desconhecido de quem tem mais de 30 anos, pelo menos a imensa maioria, os jovens estão sob enorme influência deles.
Se seu filho é um adolescente preste atenção nestes nomes: Júlio Cocielo que se envolveu numa polêmica por fazer um comentário racista do jogador Mbappé, ah este você conhece, outro nome é Luccas Neto, 25 milhões de inscritos e bilhões de visualizações, Kéfera Buchmann do canal 5inco Minutos, não sei de é ironia com o programa americano 60 minutes, mas fala de beleza, esquetes, paródias e tem um humor bem fino e 11 milhões de seguidores, Whindersson Nunes, que uma vez em palestra fiz uma brincadeira com ele e todas adolescentes reagiram, e o adulto que dirigia a conversa não entendeu nada, e claro, o Felipe Neto.
De outros países tudo que sei é o youtuber PewDiePie, um comediante sueco em torno dos 30 anos, descobri que seu nome é Feliz Arvid Ulf Kjellberg, e também os do Instagram, mas lá surgem nomes “comuns” midiáticos como Cristiano Ronaldo e Messi jogadores de futebol, Beyoncé e Selena Gomez cantoras, Justin Bieber cantor e outros, pessoalmente sou seguidor de amigos e familiares.
É tudo que conheço, me dedico pouco a estas conversas, mas a vontade de potência me fez ir atrás do que os jovens estão preocupados, daqui 3 ou 4 anos estarão na faculdade e não quero perder a piada, ou a conversa, ou o “poder” que gente da nossa idade perdeu com os jovens.
Ah é tudo gente midiática, sim, mas também os novos filósofos das mídias não são outra coisa.
Entre a Vertigem e Dois Papas
A democracia brasileira de fato ainda não tem profundidade e maturidade, tudo é polarizado entre dois pontos de vistas exclusivos e ambos autoritários, mas nem é o caso de Democracia em Vertigem com uma clara interpretação dos fatos da jovem diretora Petra Costa, nem Dois Papas sob a direção de Fernando Meirelles, são bons diretores e tem uma visão dos fatos.
Começo por Fernando Meirelles pois foi sua entrevista no Roda Viva que me incentivou a falar sobre as indicações brasileiras ao Oscar, que devia nos orgulhar a todos, ainda que possamos discordar, precisamos aprender este direito democrático, ambos têm fundamentos culturais.
Meirelles explicou sua visão de Francisco, que seria o roteiro original do filme, que aos poucos tornou-se o diálogo e a admissão de erros papais, ambos cometeram erros, como todos nós os cometemos na vida, mas ambos conseguem dialogar e olhar para o futuro da igreja e do homem.
Falta a democracia brasileira isto admitir os erros do passado, mas é claro antes de tudo conhece-lo bem senão isto jamais será possível e neste sentido valorizo e gostei do filme de Pedra Costa.
Aliás sobre ela mesmo é preciso conhecer sua história, Elena seu primeiro filme tem aquilo que a caracteriza e parece ser o fio condutor de seu estilo, coloca o seu “olhar”, o que está claro ao por no documentário ela faz uma dança em rodopios, lembrando a irmã falecida e fecha num close-up do seu olho, quero dizer, ela própria vê que está colocando sua visão nos fatos.
Vendo o debate, e lembrando dos filmes de Meirelles: O Fiel Jardineiro (2005) e Cidade de Deus (2002), vejo que os debatedores conhecem pouco a obra dele e se fixaram nas próprias opiniões polarizadas sobre o filme, destaco ainda o pouco badalado mas excelente filme “Ensaio sobre a cegueira” (2008) que caberia muito bem para o que acontece na cultura brasileira.
Ambos o documentário de Petra e o filme de Meirelles tem emoção, tem boas imagens e fotografia, enfim são bons, mas a maioria ficará com a polarização e não com o diálogo que a arte procura.
Ganhadores do Globo de Ouro
O destaque é o vencedor de melhor ator Brad Pitt em Era uma vez em Hllywood, que tinha duas justas indicações Anthony Hopkins em Dois Papas e Al Pacino em O Irlandês, melhor atriz foi para Awkwafina (A Despedida) que tinha a indicação de Emma Thompson (Late Night), os prêmios podem inverter no Oscar, embora o Globo de Ouro seja sempre considerado uma prévia.
Melhor filme dramático foi para 1917, que ganhou melhor diretor também Sam Mendes,
onde concorriam O Irlandês, Coringa e Dois Papas, não assisti o vencedor, mas havia postado que esperava uma surpresa, que aconteceu, melhor filme cômico ou musical foi para Era uma vez em Hollywood, que assim merece ser visto pois ganhou também melhor roteiro.
Coringa ganhou um prêmio de consolação com melhor trilha sonora, não vi o filme em protesto pelo elogio a violência e uma tentativa de justificar a maldade humana, em tempos de autocratas e perigos de guerra, considero impróprio para todas idades.
O Globo de Ouro traz uma inúmera lista de premiados, melhor atriz em séries foi para Phoebe Waller-Bridge, melhor atriz em minissérie Michelle Willaims, Melhor ator em minissérie para Russell Crowe, etc. parece aquelas competições entre crianças que dão medalhas a todos.
Um último destaque é o melhor filme estrangeiro para Parasita, quem assistiu realmente fica impressionado com o filme.
Diálogo Ausente
Faltaram diálogos, sobraram abismos, e nem sempre fomos bem esclarecidos, não há clareiras, mas abismos, poucas pontes seguras e muito desamor e descrédito.
A escritora brasileira Elisa Lucinda diz: “minha literatura é cheia desse assunto de injustiça do mundo, o amor como grande antídoto é um dos meus temas preferidos” (entrevista Diálogos Ausentes, Itaú Cultural, 2017).
Escreveu sobre Fernando Pessoa: “O cavaleiro de Nada”, junto com Rubem Alves: “A Poesia do Encontro”, sobre sua plenitude em “Vozes guardadas”, são os que conheço, mas há outros na minha pilha para quando os afazeres obrigatórios me deixarem espaço para os prazeirosos.
Elisa Lucinda é atriz, cantora, jornalista, professora, cantora e poeta, pouco conhecida pela grande mídia, até por gente engajada e consciente, mas é uma “farra de inéditos”, como gosta de se referir aos seus livros, os livros que ela ama e venera.
Faz a defesa mais bela, des-preconceituosa e autêntica dos livros: “As crianças vão à escola e saem sem saber que livro é arte, que o escritor é um artista, sem saber que quando elas amam Harry Potter, Branca de Neve e Dom Quixote no cinema, tudo isso foi livro”.
Em tempo de diálogo ausente é bom lembrar esta brilhante escritora, que escreveu no livro última moda:
“Nos mares doces e nas difíceis águas da vida crua, minha alegria prossegue, continua.
Despida de armas e de medos, sou mais bonita nua” escreveu Elisa.
Se muitos tem medo, se a notícia é dura e crua, não nos calaremos nem temeremos porque arrancaremos do peito o medo e combateremos com os loucos pelas ruas.
Faltam pontes, erguem muros, fecham portas e falam de escuro, quanto a nós continuamos buscando clareiras.
Revolucionário método para vídeos
Os pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon desenvolveram um método que sem a intervenção humana, modificam um conteúdo de um vídeo, de um estilo para outro.
O método é baseado num tratamento de dados conhecido como Recycle-GAN que pode transformar grandes quantidades de vídeo tornando-os úteis para filmes ou documentários.
O novo sistema pode ser usado por exemplo para colorir filmes originalmente em preto-e-branco, alguns já feitos como o que mostramos no vídeo abaixo, mas as técnicas eram dispendiosas e necessitavam de grande esforço humano em horas de trabalho.
O processo surgiu de experiências em realidade virtual, que além das tentativas de criar “mudanças profundas” (alterar objetos ou distorcer conteúdos, podiam aparecer uma pessoa inserida numa imagem, sem que houvesse permissão para isto, nas cenas cotidianas quase sempre acontece isto e muita gente não aceita.
“Eu acho que há muitas histórias para serem contadas”, disse Aayush Bansal, um estudante de Ph.D. do Instituto de Robótica da CMU, dizendo de uma produção cinematográfica que foi a principal motivação para ajudar a conceber o método, explicou, permitindo que os filmes fossem produzidos de forma mais rápida e barata, e acrescentou: “é uma ferramenta para o artista que lhes dá um modelo inicial que eles podem melhorar”, conforme o site da CMU.
Mais informações sobre o método e vídeos podem ser encontradas em Recycle-Gan website.
Breve história da mentira
Desde sempre as pessoas contam estórias de maneira que sua história parece um pouco melhor do que é, entenda história com h não são aquelas dos livros, mas dos fatos para os quais há artefactos, o que em direito chama-se prova instrumental.
Poder-se-ia ir na antiguidade clássica, onde encontraríamos Diógenes a procurar um homem honesto com uma lanterna, diria hoje um homem verdadeiro.
Em tempos de partidarismo, que mais parecem torcidas fanáticas de futebol ou algum tipo de crença fundamentalista, a verdade se distorce para todo lado, o fato recente no Brasil da facada do Bolsonaro haviam desde teorias conspiratórias de um crime mal-executado, até quem defendesse que era tudo uma encenação, isto dito por intelectuais … pasmem.
Na história recente encontro o pensador e poeta do Modernismo espanhol António Machado y Ruiz, que escreveu La verdade también se inventa, portanto fake news são mais antigos, o que mudou agora é que intelectuais de pouca notoriedade e gente ignorante mesmo também o pode fazê-lo e com isto ganhar notoriedade mentirosa, mas é de fato notoriedade.
Encontro de Antonio Machado y Ruiz três frases muito interessantes: “Nunca percas o contato com o chão porque só assim terás dimensão uma ideia aproximada de sua estatura”, e “se é bom viver, ainda melhor é sonhar, e o melhor é despertar”, mas devemos despertar sempre e as vezes isto exigem podas, cortes diria, que quanto mais maduro mais profundos.
Lembro-me da frase de Cecília Meirelles: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira“, lembro também do Poema de Mário de Andrade, O valioso tempo dos Maduros.
No romance O Caminho Menos percorrido, Scott Peck faz uma afirmação para pensar: “Pode parecer menos censurável enganar os ricos do que os pobres, mas não deixa de ser um engano. Perante a lei, existem diferenças entre cometer uma fraude num negócio, entregar a declaração de rendimentos falsa, usa cábulas num exame ou dizer em casa que se ficou a trabalhar até tarde quando se é infiel. É certo que uns enganos são piores que outros, mas na realidade não passam todos de mentiras e traições”, diria em politica, aos “crentes”.
Lembro mais uma vez Antonio Machado y Ruiz: “É próprio de homens de cabeças medianas investir contra tudo aquilo que não lhes cabe na cabeça”, os que mais se investem contra os outros tem verdade dogmáticas, sabedoria mediana (se as tem) e arrogância aos quilos.
Poderia fazer um longo tratado sobre o círculo hermenêutico e Verdade e Método (vols I e II) de Hans-Georg Gadamer, mas não.
Continuo a investir na educação que não seja a dogmática, nem a pragmática, mas a hermenêutica daqueles que sempre duvidam e sempre estão abertos ao pensamento do Outro.
Porque é importante ler Sloterdijk
Informei no último post que além das esferas de Sloterdijk, li somente as Esferas I que foi publicada em português, que tenho minha própria esfera emprestada de Chardin: a noosfera, e as outras de Sloterdijk tenho comentários do próprio autor e de leitores e interpretes dele.
Um resposta que li recentemente de uma entrevista dele, me deu uma síntese importante de minha proximidade do pensamento dele, ao ser perguntado sobre o que esperava do mundo acadêmico, afirmou em tom cerimonial: “A partir do século 19 (pensemos em Kierkegaard, Schopenhauer ou Nietzsche), o mundo dos filósofos se divide entre aqueles que, como eu, buscam uma aliança com os meios de comunicação de seu tempo (naquela época, a literatura; hoje, a imprensa, o rádio e a televisão), e aqueles que não o fazem, apostando no clássico vínculo entre a universidade e as editoras de livros como seu único biótopo cognitivo”, entre muitas coisas que li, esta é a mais genial.
Não aposto nas Mídias de redes sociais, blogs como este que escrevo a dez anos, por modismo ou afirmação do meu pensamento, mas porque penso que é importante dialogar com o que é hoje mediático, me recusei a algum tempo, por exemplo, ao Twitter que é impulsivo e colérico.
Outro ponto de contato é sua visão da zona de conforto, na mesma entrevista veiculada no caderno Mais+ da Folha de São Paulo de 2003, mas que fortuitamente encontrei num site para reler o que havia me influenciado na época, que me fez logo comprar o livro: Regras para o Parque Humano, publicado pela estação Liberdade na virada do milênio, mas logo parei de ler.
Só retomei anos mais tarde alertado por um aluno para a importância de seu pensamento.
Esse ponto de segurança, portanto não é zona de conforto, explica: “Estamos pensando como o ser humano arquiteta a segurança de sua existência. Como ele vive? Como previne futuras eventualidades e catástrofes? Como se defende? Como se integra em suas culturas, entendidas como comunidades de luta? É uma mudança de paradigma: da filosofia para uma imunologia geral”, isto é, procuramos um “lugar” para estar seguro, há ai uma analítica do lugar, diria na minha análise, em frontal oposição ao pragmatismo niilista e kantiano.
Uma antevisão de Sloterdijk não pode deixar de ser percebida nesta entrevista, ao prever o fascismo nos EUA: “Do ponto de vista da teoria dos meios de comunicação, o fascismo é o monotematismo no poder. Se uma opinião pública se estrutura de tal maneira que a uniformização aumenta demais, temos um sintoma pré-fascista”, há vários pontos do planeta com este sintoma, e é claro, podemos mergulhar numa nova era fascistóide da pré-guerra.
Não há como deixar de ver isto em posições na America Latina, e no Brasil em particular.