Arquivo para fevereiro 10th, 2017
Me perdoe Todorov !
Descubro só hoje, que faleceu dia 7 de fevereiro deste ano em Paris, Tzvetan Todorov, filósofo e crítico literário bulgáro, pouco conhecido , mas não menos importante para nosso século.
Tenho como sua frase mais contundente, uma que o fez profeta da invasão de islâmicos na Europa, afirmou ele muito antes da crise da emigração: ““Pode-se medir nosso grau de barbárie ou civilização por como percebemos e acolhemos os outros, os diferentes.”
Uma entrevista que deu na França (rádio France Culture, em 2009), ajuda a ver este profetismo de Todorov: ““Escrevi meu primeiro livro de História das Ideias, que se chama ‘Nós e os Outros’. Era uma obra sobre a pluralidade das culturas analisada sob o ponto de vista da tradição francesa. Estudei autores desde Montaigne (…) até Lévi-Strauss. Tentei ver como esses autores trataram esta questão difícil para nós ainda hoje: a unidade da humanidade e a pluralidade das culturas. Nessa série de autores, descobri que aqueles de quem me sentia mais próximo eram os humanistas”.
No Brasil, concedeu uma entrevista ao Fronteiras do Pensamento, em 2012, no qual afirmou: “Percebi que, tanto como historiador como ensaísta, aproveitei mais a literatura em si que os estudos sobre literatura, e que lia com mais prazer romances, poesias e histórias diversas do que análises literárias ou teses escritas sobre a literatura, que me parecem hoje em dia se dirigir quase exclusivamente aos outros especialistas de literatura. Enquanto que o romance interessa a todo mundo, e me sinto mais próximo de todo mundo que dos especialistas”.
Seus livros mais famosos são: A conquista da America: a questão do Outro, São Paulo, SP: Martins Fontes, 1982 (pdf), O Homem Desenraizado. São Paulo: Editora Record, 1999, O Medo dos Bárbaros: para além do choque das civilizações. Petrópolis: Editora Vozes, 2010, Os Inimigos Íntimos da Democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, A vida em comum: ensaio de Antropologia geral. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
Livros menos conhecidos, mas não menos importantes: considero um clássico o livro Teorias do símbolo. São Paulo: Editora Unesp, 2014, Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora Unesp, 2014 e Teoria da literatura: textos dos formalistas russos. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
Morreu aos 77 anos, na cidade de Paris, era búlgaro nascido em 1 de março de 1939, embora considerado dentro da corrente estruturalista, sem pensamento transcendeu a ela e é um de nossos contemporâneos importantes de serem lidos.
Comungo com ela a ideia que tanto o fascismo quanto o estalinismo foram decorrentes da ideia que temos de estado dando-lhe poderes acima dos cidadãos, que tem dificuldade de controla-lo.
Recebeu em 2008 o Premio Príncipe de Asturias de Ciencias Sociales, segundo o documento por representar «el espíritu de la unidad de Europa, del Este y del Oeste, y el compromiso con los ideales de libertad, igualdad, integración y justicia».
Traduzir em coisas simples, pode complicar
As redes são simples, mas qualquer análise mesmo usando conceitos simples como “elos fracos”, “pontes”, “centralidade” e “graus de separação” poderá na medida que o número de atores de uma rede aumenta, aumentar exponencialmente sua complexidade.
Diversos são os raciocínios cotidianos que levam a este pensamento equivocado, a simples ideia que a vida, a sua origem no universo, o que fazemos e o que somos, tem respostas simples leva a um raciocínio simplista equivocado, desde o científico até o religioso.
A ideia que Deus exista ou não por exemplo é complexa, pois seus três elementos estruturantes não são simples: fé que é a crença no que não é evidente (porisso não tão simples), esperança cujo elemento muitas vezes pode chegar ao absurdo que é te-la mesmo em situações de desespero, guerra ou qualquer extrema gravidade; e por último: a caridade (no sentido de amor ágape) que é talvez a coisa mais impossível de se codificar, embora fácil de sentir quanto realmente está na presença dela.
Mas o raciocínio científico é o mais complexo, pois vem de formulas reducionistas como a de Wilhem Ockham, nominalista inglês do século XI que criou a famosa Navalha de Ockham, que se estiver entre duas explicações de determinado objeto, fico com o mais simples, mas fica a pergunta: quem garante que a explicação correta não é a complexa.
O nominalismo foi combatido pelos realistas, e o problema de fundo é saber se existem ou não universais, que são realidades em si, e transcendentes em relação aos particulares, ou seja, as qualidades (Platão enunciou a formula universais ante rem*), ou as propriedades uma vez que são coisas imanentes as qualidades (para Aristóteles: universidade in re**). (* antes do existente), (**universalidade na coisa).
A partir de Duns Scoto, que chamava a navalha de princípio da economia (de raciocínio?) e posteriormente Descartes e Kant, ainda que a obra prima de Kant fosse uma crítica a Descartes: A crítica a razão pura, mas o que está na base desta discursão, é por vezes esquecido, ou negligenciado: a subjetividade, o transcendentes e a fé.
Duns Scoto que está na origem deste pensamento, curiosamente afirma que as verdades da fé não poderiam ser compreendidas pela razão, o contrário que tinha dito Tomás de Aquino, que era realista, e o que Kant deseja ao criticar a “razão pura” é o fato que ela não pode subsistir por si própria, precisa “transcender” até o objeto, cria um subjetivismo próprio ao qual alguma correntes fundamentalista se associarão, Kant era descendente de protestantes puritanos.
Sua tarefa no nível epistemológico era tentar fazer uma síntese entre o racionalismo de Descartes e Leibniz e o empirismo de Hume, Locke e Berkeley, mas ele será especialmente útil ao liberalismo nascente, embora esta ligação seja complexa, pode-se simplifica-la ao gosto do simplismo: separar sujeito e objeto.
Sim não é só isto, mas Hegel finalizará a tarefa do idealismo liberal: construir uma ideia eterna de Estado, organizar a religião de modo conveniente ao “subjetivismo” retirando-a das coisas concretas e objetivas, e finalmente criar uma “Fenomenologia do Espírito”.
Os que desejam fazer desta compreensão uma tarefa reducionista e simplista, lerão a história como aqueles que desejaram escrevê-la o fizeram, separar o subjetivo: religioso, histórico, política e até religioso, da consciência histórica concreta: os fatos, as misérias e corrupções.
A apologia da ignorância, da ausência de um pensamento profundo, servem a quem ? A pós-verdade.