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Arquivo para junho, 2017

Escatologia em tempos de crise

16 jun

Quando o império Romano dava sinais de decadência, muitas pessoas se desesperaramReinoDeDeus e diziam o fim está próximo, também no final da idade média, no período da peste negra os sentimentos eram iguais, toda cultura e todo processo civilizatório tem uma escatologia, quer dizer, o que aconteceu no seu fim, que não quer dizer necessariamente o “fim do mundo”.

Na escatologia cristã o Reino de Deus está próximo (Mt 3,2) e mesmo sua presença entre os homens (Mt 12,28) é uma escatologia dizem os teólogos e exegetas, do “já”e também do “ainda não”, já porque Jesus-Deus veio habitar entre os homens, ou seja entrou na história, mas não ainda porque é preciso que um conjunto de fatos históricos se desenrolem para que o homem tenha “vida plena”, que significa tão somente condições mínimas de dignidade.

O tempo presente é lugar dos homens, é preciso portanto consciência histórica, mas aquela romântica de Dilthey, já postamos isto, é romântica no sentido que apenas condições ideais e não factuais para que a consciência histórica nos impulsione a construir uma vida digna.

Na escatologia cristã, para aqueles que não atingem a profundidade dos acontecimentos históricos, o Reino de Deus vai crescendo sem que o homem saiba como (Mc 4,26-27), mas as contradições da vida cotidiana interpelam a ausência de profundidade, ou a consciência mais romântica que apesar de crê que os fatos “são vontade de Deus”, acrescento na história, não podem olhar numa lógica histórica porque creem “idealmente” deslocados de sentido.

Em face a lei judaica, Jesus agirmou a liberdade e o a dignidade humana (Mc 2,27: Mt 12,8-12; lc 11,37-42), em face ao sistema “religioso” ele afirma que todos são filhos de Deus (Mt 12,6; 12,12-13; 24,1-2) e inclui a TODOS (Mt 8,5-10, Mc 7,24-30), mas talvez o que todos devam ler em relação a política com mais atenção são os direitos de TODOS os homens (Jo 19,11); Lc 22,25-26; sem dúvida sem excluir os pobres, mas guarda a fraternidade em lugar sério em (Mt 6,9; Mc 14,37), e com questionamentos profundos (Mt 27,49; Mc 15,34).

É por isso que será condenado a morte, porque quer colocar o homem além das estruturas e sistemas puramente humanos, os detentores de poderes políticos e religiosos não podiam e não podem aceitar um não-poder que é feito por Amor, com Humildade e sem hipocrisia; quem quiser segui-lo tome sua cruz, mas terá o Reino dos Céus já aqui, mas não ainda.

 

Substância do universo: o corpo sagrado

15 jun

Ao contrário do que se supõe, substância é aquilo que há de permanente nas AlfaOmegacoisas que mudam e, portanto, o fundamento de todo acidente, e tudo está em mudança no universo então qual a substância primordial, qual a gênese de todo universo ?

As interpretações podem se dividir em três correntes: há aqueles que reconhecem apenas uma substância (monistas) destacam-se Spinoza e Leibniz, os que reconhecem duas substâncias (dualistas) que é fundamento do idealismo moderno, ou a mais comum que são os pluralistas, as correntes “puras” que vem do platonismo e do aristotelismo.

Tudo que existe é ser para monistas e pluralistas, então o ser é constituído de uma pluralidade de elementos que o fundam como substâncias, mas para estes elas podem ser hierarquizadas ontologicamente, para monistas há somente uma hierarquia que é a monada inicial, na interpretação de Spinoza e Leibniz ela é Deus, na concepção da ciência moderna, um corpúsculo de concentração eletromagnética onde ocorreu o Big Bang.

Há quem conteste o Big Bang, o filósofo Nick Bostrom de Oxford afirmou que “A probabilidade de estarmos vivendo dentro de uma simulação é próxima de 100%”, algo parecido ao Matrix, mas negar a substancialidade do universo é negar uma evidencia apodítica (aquela que se aceitar sem demonstração).

O filósofo Franz Brentano, recuperou uma categoria da escolástica chamada intencionalidade, para definir o que é consciência como aquilo que é dirigido a algo, seu aluno Edmund Husserl usou isto para definir consciência como algo intencional.

Se pensamos assim, mas importante que existir o universo, e ele ter sua substancialidade (o seu corpus), é que algo ou alguém teve intencionalidade deste primeiro objeto, ou seja, o criou de maneira “consciente” e chame-o como quiser, ele é um Ser, pois existe.

Se admitirmos sua materialidade, mesmo a luz pode ser observada em sua influência num corpo gravitacional (veja nosso post sobre a observação da Nasa), mesmo as existências do homem podem ser demonstradas em sua evolução agora sabemos de mais de 300 mil anos, temos que admitir a substancialidade e considerar como plausível a ideia da mônada inicial, então há um “corpo” formado deste Ser original consciente.

Teilhard Chardin, paleontólogo e padre jesuíta, considerava todo o universo o Corpo de Cristo, mais que um corpo místico, um corpo cósmico substancial, se de alguma coisa é feita este universo, ela está guardada na sua fonte e consciência primária inicial;

As evidências apodíticas que precisamos para admitir um Corpus Divino, alfa e ômega, princípio e fim, talvez precise pouco para ser admitido, mas na falta deste pouco ainda resta aquilo que chamamos de fé, nunca cega e nem contrária a razão.

 

MIT explica Blockchain

14 jun

O famoso instituto americano MIT explicou em seu site, de maneira objetiva umBlockChain2 conjunto de tecnologias para o dinheiro digital, de maneira objetiva e clara, eis um resumo das questões respondidas, a primeira é claro é o que significa o termo.

Em um nível alto, a tecnologia blockchain permite que uma rede de computadores concordem em intervalos regulares sobre o verdadeiro estado de um livro gerencial distribuído”, diz o professor adjunto do MIT Sloan, Christian Catalini, especialista em tecnologias de cadeias de blocos e crypto-currency. “Esses livros contabilísticos podem conter diferentes tipos de dados compartilhados, como registros de transações, atributos de transações, credenciais ou outras informações. O livro de contas é muitas vezes protegido através de uma mistura inteligente de criptografia e teoria de jogos, e não exige nós confiáveis como redes tradicionais. Isto é o que permite que bitcoin transfira valor em todo o mundo sem recorrer a intermediários tradicionais, como os bancos “.
O prof. Christian Catalani do Instituto acrescentou: “A tecnologia é particularmente útil quando você combina um contabilidade distribuída junto com uma crypto-token.”

A segunda questão também óbvia e´a ligação entre BlockChain e BitCoin, em um artigo recentemente publicado ele afirma: Catalini explica por que os líderes empresariais devem ser entusiastas do Blockchain e pode economizar dinheiro e pode aumentar conforme a forma como os negócios são conduzidos.

Cada empresa e organização se envolve em vários tipos de transações todos os dias e cada uma dessas transações requer verificação.

Em muitos casos, essa verificação é fácil. Você conhece seus clientes, seus clientes, seus colegas e seus parceiros de negócios. Tendo trabalhado com eles e seus produtos, dados ou informações, você tem uma boa ideia de seu valor e confiabilidade.

“Mas de vez em quando, há um problema, e quando surge um problema, muitas vezes temos que realizar algum tipo de auditoria”, diz Catalini. “Podem ser auditores reais entrando em uma empresa. Mas em muitos outros casos, você está executando algum tipo de processo para se certificar de que a pessoa que reivindica ter essas credenciais tinha essas credenciais ou a empresa que vendeu a mercadoria possuía a certificação. Quando fazemos isso, é um processo oneroso e intensivo em mão-de-obra para a sociedade. O mercado diminui e você deve incorrer em custos adicionais para combinar a demanda e a oferta “.

“A razão pela qual os ledgers distribuídos se tornam tão úteis nesses casos é porque, se você gravou esses atributos, agora você precisa verificar com segurança em uma cadeia de blocos, você sempre pode voltar e encaminhá-los sem nenhum custo”,

O artigo e o paper são mais longos e claros é claro, mas o objetivo aqui era reduzir um pouco as questões técnicas e e explicar as ferramentas BlockChain.

 

 

Observada a relatividade no espaço

13 jun

Em raro fenômeno observado em telescópios, cientistas do  Space Telescope Science Institute, em Baltimore, Maryland, observaram a posição de uma estrela distante girar ligeiramente, enquanto sua luz se inclinava em torno de um anã branca na linha de visão de observadores na Terra, fenômeno causado pela Teoria Geral da Relatividade, o resultado foi publicado na revista Nature.

Usando o telescópio espacial Hubble observou a dobra leve devido à gravidade de uma estrela anã branca próxima, liderada por Kailash Sahu, um astrônomo no Space Telescope Science Institute, em Baltimore, vendo que sua luz se inclinava em torno de um anã branca, calculando a quantidade de distorção foi possivel aos pesquisadores calcular diretamente a massa da anã branca que é 67% a do Sol.

A equipe de Sahu estudou uma anã branca conhecida como Stein 2051 B, na constelação Camelopardalis, ela está  a 17 anos-luz da Terra, sendo a 6ª. anã branca mais próxima da terra.

Em oito observações entre outubro de 2013 e outubro de 2015, a estrela observada por Sahuparecia mudar ligeiramente e para trás, seu deslocamento era pequeno o equivalente a uma pessoa em Londres assistindo uma formiga rastejar em uma moeda em Moscou, mas foi o suficiente para confirmar que a gravidade de Stein 2051 B estava dobrando a luz da estrela de fundo.
Em 1919, o astrônomo britânico Arthur Eddington e seu time observaram a luz dobrando ao redor do Sol durante um eclipse solar total, confirmando a teoria de Einstein.

Desde então, os pesquisadores viram a luz de galáxias distantes se dobrando em torno da gravidade das galáxias intervenientes, mas o novo trabalho é a primeira vez que alguém observou um único objeto – a anã branca – aparentemente faz com que uma estrela de fundo mude.
A equipe do Sahu já iniciou outro projeto para procurar este fenômeno usando Proxima Centauri, que a 4 anos-luz, sendo a estrela mais próxima da Terra.

 

 

Elo perdido ou novo homo sapiens ?

12 jun

Em artigo publicado na Nature de 7 de junho, um novo esqueleto de um humanoide,HommoSapiens o fato de ser um homo sapiens é controverso, sugere que a uma raça de humanídeos viveu no Norte da África, região onde é o Marrocos, há mais de 315 mil anos atrás.

Isto muda a concepção anterior que afirmava o surgimento do homo sapiens cerca de 100 mil anos atrás, as medidas foram feitas por equipamentos de laser em diversos institutos da europa, incluindo a Alemanha, onde o estudo no Max Planck Institute se originou.

Jean-Jacques Hublin, autor do artigo da Nature e diretor diretor Instituto para Antropologia Evolucionária em Leipzig, explicou:” Até agora, o conhecimento comum era que nossa espécie surgiu provavelmente, bastante rapidamente, em algum lugar do ´Jardim do Éden´ que se localizava provavelmente na África subsaariana”, mas agora completou: “Eu diria que o Jardim do Éden na África é provavelmente a África – e é um grande e grande jardim”, indicando uma área mais extensa para o surgimento do homem.

Hublin visitou o sitio arqueológico de Jebel Irhoud pela primeira vez na década de 1990, mas não tinha tempo nem dinheiro para escavar até 2004, depois de ter se filiado a Sociedade Max Planck Society, alugou um trator para remover cerca de 200 metros cúbicos de rocha que bloqueavam o acesso a parte mais profunda do sitio.

Inicialmente, uma liderada pelo cientista arqueológico Daniel Richter e o arqueólogo Shannon McPherron, também no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, dataram do site e todos os restos humanos encontraram entre 280.000 e 350.000 anos usando dois métodos diferentes, mas depois outros países também fizeram medidas usando métodos com uso de laser e a data aproximada é de 315 mil anos.

Hublin diz que sua equipe tentou e não conseguiu obter DNA dos ossos de Jebel Irhoud.

Esta análise genômica poderia ter estabelecido claramente se os restos moram na linhagem que leva a humanos modernos, mas tudo indica que pode ser um elo mais que humanóides claramente identificados com a raça humana, podendo ser o elo perdido entre nós e os primeiros primatas.

 

 

Crise, ontologia e kénosis

09 jun

Desenvolvida a ideia da crise em uma visão mais profunda, e usando o método daEsvaziarSe decadialética de Mario Ferreira dos Santos, é possível buscar um caminho pela: “abstração de um dos opostos, cuja positividade passa a ser negada ou reduzida a outra.” (SANTOS, 2017, p. 75)

É preciso também, como indica o filósofo caminhando em seu método: “salvamo-nos do ceticismo e do dogmatismo, que são duas posições de crise sobre a possibilidade gnosiológica do homem.” (p. 79)

Queremos ir além do pensamento para apontar a superação da crise, não que o pensamento em essência de Mario Ferreira não seja suficiente em essência, mas uma atualização é necessária, para superar o que ele chama pensamento de crise, para estruturar uma filosofia da crise: “e, consequentemente, de se ter uma visão crítica da crise do existir finito.” (idem)

A diferença essencial é que Mário Ferreira vai para um caminho de síntese o que ele chama de Filosofia Concreta, que aponta no livro em diversos trechos como uma leitura complementar para entender seu pensamento, o que se propõe aqui é uma retomada ontológica radical.

Assim propõe para além da ontologia a Kénose, segundo Valodomer Koubetch, “Kenose: Kénosis, kenótico, de kenoo, esvaziar, extenuar, reduzir a nada; estado de humilhação” e isto é necessário porque devemos admitir que não temos a resposta pronta, não temos o discurso ou se preferirmos a narrativa única para o pensamento de crise, e nos amparamos no auxílio dado pelo filósofo brasileiro, para falar na Filosofia da Crise, identificando –o em essência.

Pode-se então enumerar a saída como uma ontologia trinitária, se há uma tensão entre polos opostos de discursos descritos na decadialética, pode-se pensar numa lógica do Outro, do não-eu, ou radicalmente do vazio kenótico onde pode emergir no duplo vazio, um terceiro estado.

A comparação coma trindade é inevitável, pois no discurso teológico a realidade de Jesus Cristo, Filho/Verbo de Deus que, sendo Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, aniquilou-se, humilhou-se e assumiu a condição humana, fez sua kénosis, abrindo uma nova realidade.

Pode-se esgotar o discurso do diálogo, do dialogismo e da polifonia, porém todos não são suficientes se não há a possibilidade nas tensões opostos de abrir uma Kenosis, se feito por dois discursos ou duas pessoas convictas, emerge um terceiro não-eu-tu como uma ontologia trinitária, uma superação do dualismo, não sem tensão ou sem contraditório, mas novo.

SANTOS, Mario Ferreira. Filosofia da Crise, 1ª. ed. São Paulo: É Realizações, 2017.

 

Dualismo e ontologia

08 jun

Se tudo que há no mundo é relacional, se como diz o filósofo Mário FerreiraDecadialéticaPt dos Santos: “não dizemos tudo de uma coisa, nem muito, quando apenas a classificamos em um conceito, pois sabemos que, na coisa, há muito mais, que não é do conceito que a assinala.” (pag. 56)

Portanto ver ontologicamente significa ver a relação entre os vários aspectos do ser e a relação entre os seres, o que Mário Ferreira vai chamar de decadialética, dez campos de análise da dialética, entre as quais encontramos a idealista oposição entre sujeito x objeto, “e no sujeito o campo da razão e da intuição.” (pag. 64)

A maneira única de nosso filósofo é romper o dualismo por dentro, ou seja, não refutá-lo mas incluí-lo então estabelece “um esquema fáctico-noético da coisa:, que é uma representação, com imagem, um esquema sensível do que a coisa é; ou melhor, do que a coisa simboliza em esquemas sensíveis. O esquema abstrato-noético, construído pela razão, é o conceito.” (pag. 64).

Sempre considerando as contradições, “o terceiro e quarto campo o do desconhecimento e conhecimento racionais, que operam na captação dos esquemas abstratos, que, ao mesmo tempo, implicam os que são desprezados, inibidos, ou seja, o da atualização e da virtualização racional e o da atualização e da virtualização intuitivas.” (idem)

Faz uma constatação fundamental para os dias de hoje (ele morreu em 68): “O objeto, não sendo totalmente captado por nós, podemos considerá-lo como atualidade e virtualidade.” (pag. 65)

Então atualidade e virtualidade são campos de tensão do objeto, afirma o filósofo.

Destes campos “um ser só pode atualizar o que está na sua forma. Outras possibilidades só poderão estar mais próximas se sofrerem uma mutação substancial, como ainda veremos adiante.”

É justamente neste campo que surgem os três novos campos: sétimo, oitavo e nono campos, onde vai analisar os aspectos intensos e extensos, que surgem da tensão do objeto.

O quantitativo é sempre extensivo ao objeto, enquanto o qualitativo é intensivo, e usando uma analogia, afirma que a qualidade é vertical, enquanto a extensividade é horizontal, exemplifica com a qualidade cor verde, “o verde é mais verde ou menos verde, tomando-se como medida um verde perfeito, embora sem posse atual por nós, mas apenas virtual.” (idem)

O mecanicismo, explica, é justamente a redução das intensidades à extensidade, neste caso deduz Mario Ferreira: “não há solução da crise aberta entre essas antinomias, porque a redução é meio abstrato de fugir a ela, e não compreendê-la dialeticamente”, neste caso, decadialeticamente.

‘O décimo campo, de grande importância no exame dos fatos, é o do variante e do invariante” (pag. 67), que é a consciência que devemos ter da historicidade, embora Mario Ferreira não se refira a Gadamer, provavelmente nem conheceu sua obra pelo ano que morreu, faz sua análise baseada na relatividade de Einstein.

 

A crise, as coisas e o nada

07 jun

A crise, as coisas e o nada separamos agora com as coisas, e faz a perguntaNada essencial: entre as coisas existe o nada ?

Alguém desavisado poderia fazer a falsa perguntar não deveria perguntar antes pelo Ser do que pelas coisas e pelo nada? Sim o nosso filósofo esclarecerá isto, mas a modernidade coloca a questão da relação entre as coisas e nela nasce o dualismo de separação entre as coisas.

Esclarece Mário Ferreira, que “os escolásticos como Tomás de Aquino que seguem a linha aristotélica, afirmavam que tempo e espaço são entes da razão (entia rationis), mas fundados nas coisas com fundamento in re [coisa], pois há entre as coisas distâncias e suceder, que permitem generalizar os esquemas da experiência, até formar os conceitos abstratos de tempo e espaço, que o racionalismo moderno separou totalmente dos fatos, esvaziando-os destes, que neles se dão.” (pag. 32)

Esclareceu que espaço e tempo serão conceitos fundamentais para o pensamento moderno: “mas esvaziados de todo conteúdo fáctico, são entes conceituais, cujo conteúdo implica o despojamento de tudo que acontece facticamente … “ (idem).

Para analisar estes esquemas Mario Ferreira recorre a psicogênese, porque dirá que o fato que os esquemas serem construídos, pela experiência, à posteriori irá remeter no esquema Kantiano conforme sua psicogênese, a existência de positividade à priori, “o que é inegavelmente uma positividade do pensamento Kantiano.” (idem)

Então fará a pergunta essencial sobre o nada: “se as coisas se dão no espaço e elas se separam, como o limite o revela, entre elas se interpõe o espaço. Mas que espaço?”

Aqui se separa conforme afirma o modelo de Demócrito em há um vazio entre as coisas e o de Lorentz, um espaço cheio.  Também no início da modernidade Leibniz propôs a monadologia.

Estamos, portanto entre duas afirmativas (pag. 33) uma que afirma a presença do nada, de um ausente absoluto, e outra que afirma a presença do ser, no qual não há interstícios nem fronteiras, porque enche tudo, e esta psicogênese cria “um esquema de relacionamento das coisas, sem que se lhe dê uma presença real, de per si.” (idem).

Assim esta é a tensão, não o dualismo, entre o nada e o ser, ou se preferirmos a separação entre as coisas e a relação entre elas, a primeira é racionalista e “é um agravamento da crisis”.

Descobrindo a relação entre o finito que “a finitude só se pode dar onde há alguma coisa, pois permite medir. O nada é imensurável, o nada seria um abismo sem fim.” (pag. 34)

Em nota de rodapé esclarece: a impossibilidade de um nada absoluto, entre ilhas do ser, é por nós demonstrada apoditicamente (por evidência), em Filosofia Concreta.

O importante deste argumento, é que por ele pode-se afirmar “a eterna presença do ser, no qual estamos imersos e que nos sustente, o qual nos permite comunicação …” (pag. 35) e então a crise não é tão profunda, ela tem graus, afirma nosso filósofo.

SANTOS, Mario Ferreira dos. Filosofia da crise, São Paulo: É realizações, 2017.

 

Crise, os limites e o conhecer

06 jun

Estamos lendo Mário Ferreira dos Santos, e no final do primeiro capítulo da IsleOcean“Filosofia da Crise”, aponta que temos consciência do limite que há com o Outro e o nós, para apontar 5 pontos desta separação antes de mergulhar sobre o que é o nada entre as coisas (e seres).

Sobre esta separação, afirma que “as coisas também sofrem dos seus limites, mas caladas, intrinsecamente caladas, silenciosas até ante si mesmas, porque nelas, não há um que que perscrute a si mesmo. ” (pag. 20)

Temos consciência da crise, as coisas também sofrem a separação, e a crise se agrava “se aceitarmos essa separação como irremediável, um abismo insuplantável, traçado entre nós e os outros”,  o quarto limite é o da individualidade, o em si de outros filósofos, e deste se origina o quinto limite: “do eu ante o limite da individualidade.” (pag. 29)

“E não há em nós algo que sempre coloca além de todo o nosso conhecimento, algo qe conhecemos, sempre distante, sempre cada vez mais distantes, que marca uma presença sempre se separa de tudo quanto delimitamos, pois conhecer é sempre delimitar? ” (pag. 29), termina a longa reflexão sobre a separação e a crise com uma questão cognitiva central.

É algo como afirmava o filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951): “o conhecimento é uma ilha cercada por um oceano de mistério. Prefiro o oceano à ilha”, para indicar que a crise é na maioria das vezes um ir além, e penetrar no oceano do mistério.

Termina o capítulo de conceito da crise com duas constatações: “entre os limites de todo o nosso conhecer, não há sempre em nós, algo que conhece, que os vence, porque deles não se deixa apreender? E que sempre se separa, distante, sempre o mesmo?” (pag. 30), e que mesmo em crisis, “há também já um apontar de uma vitória que vivemos em nós.” (idem)

Finaliza o capítulo com esperança: “Portanto, não há razão para não desesperar. Mas é preciso encontrar o caminho prometido.” (idem)

SANTOS, Mario Ferreira dos. Filosofia da crise, São Paulo: É realizações, 2017.

 

Filosofia da crise

05 jun

Há diversos sentidos para a crise, do grego crisis, significa separação, abismoValleyMontain e, também juízo e decisão, alerta-nos o filósofo brasileiro Mario Ferreira dos Santos (1907-1968).

Tomaremos dele emprestados alguns pensamentos, pois muitos pensamentos que se julgam atuais, Mario Ferreira viveu só até 68, já estavam presentes em seus raciocínios, e, portanto, nem a crise, nem o que pensa sobre ela é tão novo assim.

Em seu livro, relançado este ano pela editora paulista É Realizações, nosso filósofo conceitua logo no início do livro: “quem tem uma visão de mundo presa apenas ao devir, no quaternário, como o chamavam os antigos filósofos, não poderá deixar de reconhecer que todo o existir é um separar-se, bem como todas as combinações ônticas de existir finito são sempre seletivos. ” (pag. 11)

Será assim que Mário vê nas separações as crisis, e se as cavarmos mais fundo chegamos aos abismos, e dirá sobre as separações: “se todas as combinações são possíveis, nem todas são prováveis, muito menos se atualizam. ” (idem)

Portanto conclui: “há assim, em todo  o existir, um separar-se, uma crisis, um abismo”, mas este existir tem também uma função intelectiva, e então coloca-a intelecção justamente nesta capacidade formada pelas raízes inter lec, que significa captar entre, sendo portanto uma das capacidades do nosso espírito, entre muitas outras a capacidade de selecionar, o que une.

Usa o que propôs Tomás de Aquino, que afirma termos uma capacidade de captar dentro (pag. 12), num captar seletivo “porque preferirá isto àquilo.” (idem)

Dirá como “não podemos viver sem a crisis, e não podemos viver com ela” (pag. 12), e faz uma analogia com “os cumes das montanhas que é possível unir, sem negar os vales, que não esqueçamos, são também positivos, e nada adianta esquecê-los.” (pag. 13)

Questiona sobre a crisis “mas porque crescem os abismos, porque se distanciam cada vez mais os cumes das montanhas? ” (pag. 14), e reflete sobre a separação “não somos nós os coveiros da crisis?” (idem)

Diz sobre o fanatismo: “e quando não crê e procurar crer, fanataza-se” (pag. 15), e dirá sobre o imediatismo de seu tempo (década de 60) “decepcionado de suas crenças e de suas utopias, sempre malogradas, aceita a proposta daqueles que se decepcionaram antes dele. Pactua com o imediato, porque o mediato não surgiu: por isso vive os meios que lhe estão próximos, e não mais os fins.” (idem), vejam a analogia com as mídias e a vida de hoje, mas na década de 60 !!!

E recomenda para a crise; “não aprofundeis o abismo com as vossas ideias, as vossas atitudes, as vossas religiões, as vossas crenças, as vossas artes.” (pag. 17)

Dá uma receita para todas crises: “desconfiai do abismo, quando ele falar dentro de vós. Procurai ouvir o uivo agudo dos ventos que sopram nos cumes.” (idem)

SANTOS, Mario Ferreira dos. Filosofia da crise, São Paulo: É realizações, 2017.