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Arquivo para maio, 2017

Epistemologia e ciências humanas

31 mai

Do meio do século XIX até o início do século XX, as ciências humanas CienciaNaturalptviveram uma verdadeira transformação na busca de uma alternativa para os fundamentos epistemológicos do conhecimento científico, pois os velhos modelos “positivista” e “naturalista” estavam em cheque.

Dilthey, sucessor de Schleiermacher que propôs o método hermenêutico, buscou fundamentos filosóficos para uma epistemologia do conhecimento científico, assim dizia: “As ciências que têm a realidade sócio histórica como seu objeto de estudo buscam, mais intensamente do que antes, as relações sistemáticas entre elas e com os seus fundamentos.” (DILTHEY, 1989, p.59).

Gadamer vai diferenciar a paridade com as ciências naturais com as ciências humanas (Geistewissenchaften), propondo que o que ocorre com uma interpretação artística, é diferente da leitura, pois “A leitura, enquanto distintas de um ´recital´, não se coloca por si mesma; ela não é uma atualização autônoma de um padrão de pensamento, mas permanece subordinada ao texto restaurado pelo processo de leitura. ” (GADAMER, 2012, p. 11).

O modelo ideal é romântico, como chamado por Gadamer, trata consequências para a epistemologia, pois “O seu ideal é decodificar o Livro da História. Esse é o método pelo qual Dilthey espera pode justificar a auto compreensão das ciências interpretativas e sua objetividade científica. ”  (idem)

Assim como os textos possuem um “sentido puro”, também a história o teria, na análise de Gadamer entretanto ”a sua auto compreensão com relação às ciências não é “verdadeiramente consoante com a sua posição fundamental em termos da Lebesphilosophie “ (filosofia da vida) (GADAMER, 2012, p. 12).

Esclarece que ela se encontra sempre “na conexão entre ´vida´, que sempre implica consciência e reflexividade (Besinung) , e ´ciência´, que se desenvolve a partir da vida como uma das suas possibilidades” (idem).

Assim, a implicação epistemológica clara: “As ciências humanas adquirem assim uma valência ´ontológica´ que não poderia permanecer sem consequências para a sua auto compreensão metodológica.” (idem)

Assim, as ciências humanas “encontram-se mais próximas da auto compreensão humana do que as ciências naturais. A objetividade destas últimas não é mais um ideal de conhecimento inequívoco e obrigatório.” (idem).

Irá buscar na Ética a Nicômacos os fundamentos perdidos, quando no livro sexto Aristóteles distingue: “do conhecimento teórico e técnico o modo do conhecimento prático, ele exprime, a meu ver, uma das maiores verdade que permitem ao pensamento grego trazer à luz a ´mistificação´ científica da sociedade moderna em que reina a especialização.” (GADAMER, 2012, pag. 13).

Referências

DILTHEY, W. Introduction to the Human Sciences. Ed. by R. A. Makkreel & F. Rodi; trad. Michael Neville. New Jersey: Princeton University Press, 1989.

GADAMER, H.G. O problema da consciência histórica, 3ª. edição, 3ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2012.

 

Epistemologia e Ciência

30 mai

De modo amplo e filosófico episteme é um conceito daquilo que é realEpisteme e verdadeiro, assim de caráter científico, que se opõe a opiniões insensatas e sem fundamento, vem da filosofia grega, e em especial do platonismo.

Para uma definição mais ou menos consensual, no campo científico,  epistemologia é o ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento (daí também se designar por filosofia do conhecimento).

Não se pode deixar de vinculá-la com a metafísica, a lógica a psicologia

No entanto este conceito tem variado de formas, por exemplo, segundo Foucault (1926-1984) é um paradigma (portanto algo a ser investigado) segundo o qual se estruturam, em determinada época, os múltiplos saberes científicos, conforme especificidades de seus objetos.

Outra corrente metodológica importante que funda uma espectrologia moderna é a fenomenologia, ela dá importância aos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua “significação”.

Um dos fundadores da fenomenologia é Edmund Husserl (19859-1938), filósofo, lógico e matemática, que cunhou a palavra Lebeswelt (lógica da vida), a partir da qual tentou conciliar o dualismo entre historicismo e psicologismo, embora ainda preso a conceitos metafísicos.

Pai da psicologia social, seu volume dos Prolegomena, ou “Investigações lógicas” é uma crítica ao psicologismo, ao afirmar que um sistema associativo pode associar e dissociar ao mesmo tempo, não se pode pensar que A é “A” e ao mesmo tempo pensar que A é “não A”, pois não se refere à possibilidade do pensar, mas à verdade daquilo que é pensado.

Fará também a crítica ao historicismo, em seu artigo “Filosofia como ciência rigorosa“, de 1910-11, tema que mais tarde será retomado por hans-Georg Gadamer em sua “A Questão da consciência histórica.”

 

Hermenêutica e fanatismo

29 mai

Desde a filosofia platônica, que foi uma superação do discurso dos sofistas queComunicaçãoNãoViolenta serviam unicamente a retórica de poder, o dualismo do conhecimento entre a Doxa que é a opinião e a Episteme que seria o conhecimento verdadeiro, mas alguns autores veem a Doxa como primeiro conhecimento.

Todo o discurso e a lógica Socrática, que Platão a usa abundantemente, não é senão o diálogo entre o conhecimento como se apresenta e a sua elaboração através de perguntas.

O fato que caímos num labirinto de dúvidas e crises na modernidade, mesmo com o conhecimento sistematizado não é senão o retorno ao que de fato é a episteme, como a vida muda, a lógica da vida também seria de se esperar, deve mudar e assim muda o método de investiga-la.

Chamo a esta exigência de nosso tempo de “abertura epistemológica”, permitir que novos sistemas e novas formas de pensar sejam possíveis e passíveis de análise, assim a doxa ou a simples opinião pode não ser apenas uma forma moderna de sofisma, mas um “desvelar”.

O fanatismo é de modo geral a recusa a uma “abertura epistemológica”, é o fechamento em um esquema “que deu certo” por um período, mas pode não mais servir a lógica da vida hoje.

Claro que há diversos níveis de fanatismo, mas em essência é um fechamento ao discurso do Outro, ao circulo hermenêutico onde é possível alguma forma de fusão de horizontes, como o chama o filósofo Gadamer.

Por assim dizer é a comunicação de que outro discurso diferente ao do meu circulo epistêmico não é aceito, não é tolerável e deve ser banido, daí a chegar-se a formas violentas de comunicação não é um passo, mas é um caminho quase inevitável.

Não é um fechamento epistêmico, uma ajuda é o livro de Marshall Rosenberg “Comunicação não-violenta” vai desde a autoajuda para libertar-se de condicionamentos e experiências negativas, até os esquemas filosóficos e problemas de posicionamentos políticos tão comuns em todas esferas de nossa vida hoje.

 

A felicidade e o bem-estar

26 mai

A ideia que sempre temos uma alternativa entre o Poder, com P maiúsculo paraHappiness indicar Potência ou Vontade de Poder como querem alguns filósofos, não só Nietzsche, mas antes dele quase todos os iluministas e alguns utilitaristas, é uma ideia aparentemente convincente, mas que se a colocarmos em contato com a ideia de Felicidade, sua consistência não é tão sólida

Há uma potência entre os mansos, os silenciosos e os que sabem escutar e se envolvem num processo dialógico, o poder para eles é diferente de potência porque todo ato agápico, uma forma de amor “feliz”, é também um ato de potência que não faz o jogo maniqueísta.

Em termos bíblicos no mesmo trecho que Jesus diz aos discípulos que “toda autoridade foi lhe data entre o céu e a terra” (Mt 18, 28), também garante que estará com eles logo na sequência, “até o fim dos tempos”, significando paz agápica, que traz conforto e felicidade; mas não devem ser confundida com falta de consciência sobre as injustiças e conflitos existentes.

É justamente disto que trata a hermenêutica de Gadamer, e seu livro e principal obra Verdade e Método, não faz outra coisa que não a construção da verdadeira consciência histórica dentro de um processo dialógico e de síntese hermenêutico, é o seu método e pode muito bem interagir com outros sistemas logicistas, desde que abertos, mas não é uma Teoria de Sistemas.

O que é felicidade então ? na lógica hermenêutica a relação com os outros, a abertura a assistência propõe a capacitação de Amartya Sen, e a construção do bem-comum, como desejam pessoas de boa fé e isto é capacitar as pessoas para a vida.

Claro que não é a felicidade do consumismo e do poder como os homens a entendem não deve ser confundida com esta felicidade agápica, afinal não é bom misturar poder e religião, diz a sabedoria popular, então é o poder de estar sempre livre, o capacitado pode ser feliz se dentro de uma estrutura social que favoreça sua capacitação para a vida social.

 

Vontade de Potência (ou poder)

25 mai

Se desejamos penetrar na lógica do poder, e o poder é tudo que nos convém VontadeDePodere não a felicidade apenas, Nietzsche é o mestre.

Vontade de Potência ou de Poder (“Der Wille zur Macht”) é um conceito da filosofia de Nietzsche que é usado como base na construção de todo seu pensamento, para ele ela esá em tudo na vida, não se limita somente na vida orgânica, indo desde reações químicas até a psique humana.

Teilhard Chardin dava outro nome que era a ideia de vitalização, ou seja, a vida cada vez mais complexa, e o homem é o máximo da complexificação da vida, ocorre por um processo de cerebralização, e assim significa que estamos em “evolução”, mas não necessariamente em potência ou poder.

Tomás de Aquino, falava em ato e potência, e potência e o que “virtualmente” está contido no ato, por exemplo, plantamos uma semente e virtualmente é uma árvore.

O nosso problema contemporânea, reflexo em toda civilização ocidental em particular, mas em todo planeta é se o nosso atual processo de empoderamento no sentido de desenvolvimento está correspondendo a uma felicidade geral, ou seja, somos felizes?

Certamente toda a humanidade diria que não, uma das doenças contemporâneas era o stress, tornou-se a sindrome do pânico, e a depressão dá sinais de crescimento tão assustadores quanto outras doenças físicas, como o câncer e a AIDS.

Mas a hipótese de Nietszche contrasta com a física quântica moderna, já que sua primeira suposição é que total da força que existe no universo é determinada, não infinita, enquanto a astrofísica se depara com um universo em expansão e com forças potências ainda não mensuradas devidas aos buracos negros.

Mas da teoria de Nietzsche reduz-se que o número de situações, e as combinações dessas forças são mensuráveis, ou seja, também determinada e finita, como se supõe no universo laplaciano, e não é o mesmo Universo de Einstein e Heisenberg.

Na terminologia de Nietzsche a Vontade de Poder é uma lei originária, sem exceção nem transgressão.

Assim no dizer do filósofo a Vontade de potência não é algo criado, ou que dependa de condições especiais, como na religião ou em teorias precedentes, mas ela advém da própria realidade das coisas, é preciso assim, como pressupõe a fenomenologia de Husserl voltar as coisas mesmas, para determinar o que de fato elas são.

NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de Poder. RJ: Editora Contraponto, 2008.

 

O que é capacitar em sociedade ?

24 mai

A reconstrução dos argumentos de Adam Smith, em sua “A Teoria dosCapacitar sentimentos morais”, os quais aplicava à economia, fez Amartya Sen (1988) desenvolver alguns aspectos críticos de quais seriam os princípios duradouros da teoria econômica convencional para criar uma teoria que poder-se-ia chamar de uma teoria econômica sustentável, que ao mesmo tempo que garante a liberdade não permite que alguns cidadãos permaneçam a margem do processo.

Essa visão fez Amartya Sen desenvolver o que é chamado de “abordagem das capacitações” (1880 com desenvolvimentos posteriores (1985, 1988a e 1988b) e com trabalhos correlatos como o de Martha Nussbaum (1986, 2009), colocando-a no centro da questão da distribuição de renda e também a valorização de pessoas sem nenhuma privação de liberdade.

O princípio que move um auto interesse é o descrito assim por Sen (1988, p. 11):  “O reforço das condições de vida deve ser claramente um objectivo essencial – se não o essencial – de todo o exercício econômico e que a valorização [da pessoa]  é parte integrante do conceito de desenvolvimento (abordagem das capacidades) .” (SEN, 1988a, p. 11).

Nesta perspectiva a busca do bem-estar social é meta privilegiada, única capaz de dar pleno sentido às escolhas sociais envolvidas nas estratégias de desenvolvimento, assim a chamada base na “abordagem das capacitações” (capabilities approach), colocado o desenvolvimento como tendo um conjunto de expansão das capacitações das pessoas para fazer aquilo que valorizam, sem eliminar as liberdades que permitam as escolhas e as oportunidades destas de exercerem atividades como agentes econômicos capacitados.

A ideia é que cada agente tem “atividades” (doings) e “existências” (beings), chamadas genericamente de “funcionamentos” (functionings), cada um com uma importância para a avaliação da natureza do desenvolvimento e a liberdade de escolha (SEN, 1988a).

A ideia de capacitação, apresentada no trabalho de Sen (1982 [1980]), é justamente um reflexo da liberdade para realizar funcionamentos que tenham valor, e neste sentido são também são características onde cada indivíduo na situação real tem de “ser” e de “fazer”.

Referências:

NUSSBAUM, Martha. A fragilidade da bondade: fortuna e ética na tragédia e na filosofia grega. São Paulo, Martins Fontes, 2009.

SEN, A. K. Equality of What ? In: SEN, A. K. Choice, Welfare and Measurement. Oxford: Basil Blackwell, 1982. ch. 16. 25, 1980.

____. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. (em inglês The Concept of Development. In: Handbook of Development Economics, vol. 1. Amsterdam: North Holland, 1988 (1988a). p. 10-26.)

____. On Ethics and Economics. Oxford: Basil Blackwell, 1988 (1988b).

 

O Bem e as Capacidades

23 mai

Para olhar a questão da capacidade de Martha Nussbaum e Amartya Sen, CapacidadeModelocomeçamos pelo olhar da “distribuição política” de Aristóteles que a utilizou extensivamente na análise do “bem dos seres humanos”, onde esse bem está ligado ao exame que faz das “funções do homem” e da “vida no sentido de atividade”, ou seja, a função como capacitação humana para uma atividade.

Pensando a vida como “atividades e modos de ser” e por que são tão valiosos, a avaliação da qualidade da vida toma a forma de uma avaliação dessas efetivações e da capacidade de efetuá-las, ou seja, se levamos em conta apenas as mercadorias ou os rendimentos que auxiliam no desempenho daquelas atividades e na aquisição daquelas capacidades, como ocorre na maioria das teorias do valor, que vem de Adam Smith e Marx, acabamos tendo uma confusão de meios e fins, e nisto concordam Amartya Sen e Martha Nussbaum.

Retomando a teoria aristotélica, pode-se que a vida “é vivida sob compulsão, e a riqueza não é evidentemente o que buscamos, pois, a riqueza é meramente útil na consecução de outros bens”.

Então nossa tarefa é a de avaliar as várias efetivações na vida humana, superando o que, num contexto diferente, embora relacionado, aquilo que Marx chamou de “fetichismo da mercadoria”, nelas o consumo de mercadorias só podem ser examinadas pela capacidade da pessoa de realizá-las terá de ser apropriadamente avaliada não quantitativamente, mas como uma combinação das efetivações.

Sen e Nussbaum apontam como primeiro ponto fundamental as ambiguidades e relevância no quadro conceitual do enfoque da capacidade, Sem afirma: “natureza da vida humana e o conteúdo da liberdade humana são conceitos problemáticos. Não pretendo varrer essas dificuldades para debaixo do tapete”.

Os segundos pontos são qualidade de vida e necessidades: “Há uma ampla literatura sobre o desenvolvimento econômico que trata da avaliação da qualidade de vida, do atendimento das necessidades básicas e de temas correlatos”, Sen afirma citando Lipton (1968).

Os terceiros pontos são bens primários e liberdades, onde o trabalho de Rawls deve ser analisado, pois o “foco nas mercadorias e nos meios de realização pessoal neste trabalho contrastado ao enfoque da capacidade é também influente na moderna filosofia moral” afirma Amartya Sen.

Sen, Amartya. O desenvolvimento como expansão das capacidades. (veja o Link).

Sen, Amartya. “Development as Capability Expansion”, Jounal of Development Planning, nº 19, 1989 (encarte especial sobre “Desenvolvimento humano a partir dos anos oitenta”) Tradução Regis Castro Andrade (veja o  Links ])

Lipton, Michael, Assessing Economic Performance, Londres: Staples Press, 1968.  

 

A questão da justiça social

22 mai

A corrosão em que se encontram a maioria das instituições ocidentais, mas tambémAIdeiaJustiça boa parte das orientais, é o fermento onde cresce o fanatismo político e o fundamentalismo, o que se vê é um grande número de candidatos oportunistas em eleições de países ditos “centrais”.

Em sua obra, Amartya Sen mostra que o pensamento sobre as instituições já é bem antigo, e as separa em duas grandes correntes de pensamento o “institucionalismo transcedental” (Hobbes, Rousseau, Kant e Rawls) e a “realização baseada na comparação” (Karl Marx, Jeremy Bentham, Mary Wollstonecraft e John Stuart Mill).

Conforme já postamos aqui em diversos tópicos, a base do pensamento idealista, o qual se supõe em transcendentais institucionalistas, infelizmente incluo boa parte do pensamento religioso contemporâneo, e como Sen enfatiza duas características são comuns: trata-se do foco numa sociedade perfeita e no olhar sobre perfeitas e justas instituições, neste sentido ideal, um ideal quase platônico e que supõe se não justas, o menor mal.

Outra eminente autora que faz incursões sobre a Teoria da Capacitação é Martha Nussbaum, que faz a seguinte diferenciação sobre a obra de Sen: “Amartya Sen está preocupado com comparações acerca do padrão de vida dos indivíduos, já ela estaria conectada ao debate sobre “como capacitações”, …, podem prover uma base para princípios constitucionais centrais, em que cidadãos tenham o direito de fazer exigências para seus governos”, assim pode-se observar que ela não se separa do institucionalismo idealista, embora seu trabalho se aproxime quanto a “capacitação” do trabalho de Sen.

Já o trabalho de Amartya Sen vem, a mais de 30 anos, esboçando o que é uma verdadeira Teoria da Justiça, num sentido bem amplo, tendo como objetivo clarificar o que podemos pensar em termos de superação das injustiças,                 ao invés de oferecer resoluções de como tratar de uma justiça perfeita”, conforme escreve Sen em um trabalho recente.

A abordagem que pretendemos, deve respeitar cada pessoa como uma finalidade e uma fonte de agência e valor em seu próprio direito, se é que podemos dizer assim, uma justiça ontológica.

Ora não por acaso o trabalho de Paul Ricoeur sobre o Justo (2008), inicia-se justamente com uma crítica a Rawls, embora em sentido diferente ao de Nussbaum e Amarthya Sem, ele também o define como

Ao defender a importância de proporcionar felicidade as pessoas, a sentença de Amarthya Sen na Teoria da Capacitação é mortal: ““Capacitação é um tipo de poder. Felicidade, não.”

NUSSBAUM, Martha.  Non-Relative Virtues: An Aristotelian Approach, 1990. In NUSSBAUM, Martha e SEN, Amartya (Eds.), The quality of life. Oxford: Clarendon Press, 1993.

Ricoeur, Paul. O justo 1: a justiça como regra moral e como instituição. BENEDETTI, Ivone G. [Trad.]. São Paulo: Martins Fontes, 2008, vol. I.

Sen, Amartya. A ideia de justiça. SP: Cia das Letras, 2011.

 

Existe então espírito da Verdade

19 mai

No processo hermenêutico ele brota do diálogo e ação de pessoas que não EspiritoVerdadeapenas desejam a Verdade e a Justiça, mas são capazes de dialogia de acordo com a consciência histórica.

Teilhard Chardin estabeleceu em sua Noosfera como este processo de interação se dá dentro da Noosfera, uma esfera do espírito segundo a qual o conjunto dos vetores da Vida, Chardin era além de padre um paleontólogo, que já opera desde o início do Universo, mas dentro do qual um ramo da vida, que ele chama de “mancha dos antropoides” um ramo os organismos vivos que possui consciência e podemos dentro desta consciência determinar uma consciência histórica agora ampliada pela Noosfera de Chardin, como consciência histórica na flecha da evolução do universo.

Claro que este ponto “factual” histórico é preciso e determinado, mas se o vermos ao longo da história do universo e de uma cosmogonia mais ampla podemos entender que fazemos parte de uma gênese deste Universo e de uma escatologia da qual não podemos escapar, nossos espíritos estão conectados dentro de uma Noosfera na qual evoluímos ou a deterioramos.

Este Espírito na escatologia bíblica é descrito assim em João 14, 15-17: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece.”

Longe de uma interpretação fundamentalista, que por si só jamais seria parte de uma verdadeira hermenêutica, a solidariedade com o conjunto da humanidade, a interpretação de seus caminhos num momento aparentemente confuso da história, é possível lançar luz sobre o pragmatismo utilitarista e idealista que vigora no pensamento contemporâneo, alguma luz que brota de uma Sabedoria Universal, onde a própria história dos seres vivos pode ser contata.

Um Espírito da Verdade, significa a clareza de princípios, valores e principalmente, de um comportamento sempre reto nas pequenas coisas do dia a dia, solidário e atento aos infelizes, respeitoso com os diferentes e generoso com os mais humildes; não há como se enganar, só tem consigo o Defensor aqueles que cooperam concretamente para o avanço da “flecha” da vida, num sentido construtivo e amplo, sempre aberto aos que são diferentes, sem fechamento epistêmico e com abertura hermeneutica.

 

Noosfera: uma esfera do espírito

18 mai

Teilhard de Chardin nasceu em 1881 numa família religiosa provincial da NoosferaFrança, entrou para a ordem religiosa Companhia de Jesus (Jesuítas) onde estudou geologia e paleontologia, desenvolveu estudos de paleontologia e usando uma teoria de Vernadsky, segundo a qual a Terra se desenvolveu em três fases a geosfera (a matéria inanimada), a biosfera (a matéria biológica) e a noosfera ( a vida inteligente no planeta).

Paleontologia é o ramo das ciências que estuda o desenvolvimento da vida no planeta.

Sem entrar em detalhes no desenvolvimento da Geosfera, que sem dúvida é também apaixonante estudar a formação e o esfriamento do planeta, a formação de continente e oceanos, os rios e planícies até o surgimento da vida, mas não é o foco central do seu trabalho.

Desenvolve isto sim, em detalhes e num longo percurso do desenvolvimento da Biosfera desde organismos monocelulares e pluricelulares, desenvolvendo um processo de vitalização, que vai desde a filetização até o que chama de complexidade e cerebralização, onde uma “mancha antropóide” dá origem ao homem que seria o ponto máximo desta complexidade.

Chardin faz uma importante comparação no desenvolvimento dos equídeos com os humanos, mas lamenta que são poucos os fósseis de equídeos uma vez que viveram mais em campos e cavernas e grutas são jazidos mais ricos em fósseis, devido as possibilidades de conservação.

Ao perceber que a cerebralização dos equídeos é parecida aos homens e deve ter ocorrido na mesma era, a o Eoceno Inferior (rápida elevação da temperatura favoreceu a formação de flores, bosques e animais herbívoros), mas o fato do homem estar ereto criou uma diferença tanto no uso das mãos quanto na capacidade do cérebro de ter consciência, de refletir.

Chardin parece se configura, fazendo sobre o motivo de aprofundamento sobre a questão da origem da vida se pergunta: “mas de onde convêm pôr a sua força profunda ?” (Chardin, p. 43) e levanta três atitudes intelectuais possíveis: a) a seleção natural da Matéria, no jogo estatístico de hipóteses, em uma complexidade sempre crescente, b) a via espiritualista, uma “expansão da consciência”, tendo a consciência como sendo uma “complexidade preparada”, não diz, mas um deus demiurgo como na cosmogonia de Platão onde este deus dá forma a uma matéria desorganizada imitando as essências eternas, tendo os deuses inferiores, criados por ele, como tarefa a produção dos seres mortais, por isto ele vê a reflexão como essencial no processo de hominização, ou seja, o homem tornar-se um ser reflexivo como ele é.

Entretanto é na Noosfera, o espaço de interação entre as diversas reflexões humanas, definição minha, que o processo de humanização acontece, Chardin e define assim: “O homem, surgido como uma simples espécie,mas gradualmente elevado, melhor que um Reino, nem mais nem menos que uma “esfera” – a Noosfera (ou esfera pensante) sobre-imposta coextensivamente (mas quanto mais ligados e homgenea !) à Biosfera.” (p. 102)

Chardin, T. O lugar do homem na natureza, Lisboa: Instituto Piaget, s/d. (original 1959